Ato Vlll: O Evangelho Segundo Winchester

O ônibus avançava pelas estradas rumo a Duwinch, transportando o grupo heterogêneo de magos em sua busca pelo Evangelho dos Winchesters. Matheus, o Corista Celestial cuja magia provinha do poder do Deus Uno, observava a paisagem com serenidade, sentindo a presença divina em cada aspecto da jornada.

Ao seu lado, King, o hermético chinês, mergulhava em pensamentos profundos, sua mente em sintonia com os princípios herméticos de alquimia e busca pelo conhecimento arcano. Ele ansiava por desvendar os mistérios que envolviam Nathicana e os segredos ocultos da cidade.

Ronald, o xamã moderno descendente dos segredos da Nathicana, estava absorto em suas próprias conexões espirituais. Seu vínculo com os espíritos e a magia da natureza o impulsionava nessa busca, buscando desvendar os enigmas que envolviam os Winchester e sua conexão com Duwinch.

Camile, conhecida como a Punk, recentemente retornara da dimensão dos espíritos ao lado de Matheus. Anarquista cristã, ela se inspirava nas ideias de Leon Tostói, buscando justiça e liberdade em seu caminho. Seus olhos brilhavam com a energia rebelde e o desejo de descobrir a verdade oculta que os esperava na biblioteca.

Gorbachev durante a conversa com os demais, revelou ser um filho do Éter, enquanto tagarelava e observava a paisagem passar pela janela do ônibus, sentindo as energias sutis do cosmo ao seu redor. Sua sabedoria e compreensão das forças ocultas o impulsionavam na busca pela conexão entre política e magia, buscando desvendar os mistérios que permeavam Duwinch.

O mago conhecido como Escorpião, apelidado de Nick, não era confiável aos olhos do grupo. Sua lealdade e motivações eram incertas, e os magos mantinham uma cautelosa distância em relação a ele.

O vento uivava através das árvores, criando uma sinfonia sombria que ecoava pela noite escura. A lua, oculta por nuvens negras, lançava sombras distorcidas sobre a pequena cidade de Duwinch. Sob essa cobertura de escuridão, algo maligno estava prestes a despertar.

Quando o ônibus finalmente chegou a Duwinch, o grupo desembarcou com determinação. Juntos, eles se dirigiram à biblioteca, templo de conhecimento e sabedoria, o grupo desembarcou com determinação, ansiosos para começar sua busca na biblioteca.

Matheus, King, Ronald, Camile e Gorbachev estavam diante do majestoso prédio, suas fachadas antigas emanando um ar de conhecimento acumulado ao longo dos séculos que faziam a quintessência do lugar quase ser palpável tamanha sua ressonância.

Ela ficava no coração da cidade, tinha sido colocada dentro da antiga mansão Winthrop, uma construção sinistra que despertava medo e curiosidade em igual medida. Suas paredes de pedra desgastada e janelas quebradas eram testemunhas silenciosas de séculos de segredos sombrios.

Enquanto se preparavam para entrar, o Escorpião, apelidado de Nick, falou com uma voz suave e enigmática:

—Esperem um momento, meus amigos. Há algo que devo fazer antes de entrarem na mansão e na biblioteca. Peço que aguardem aqui por um instante enquanto eu vou buscar o Evangelho dos Winchesters. Não se preocupem, estarei de volta em breve.

Camile ergueu as sobrancelhas e cruzou os braços, sua expressão demonstrando clara insatisfação.

—Espere aí, Escorpião. Por que você acha que pode ir sozinho pegar o Evangelho? Somos uma equipe, devemos estar juntos nessa busca. Não vou aceitar essa ordem de ficarmos aqui esperando enquanto você faz tudo sozinho. Depois de você ter abandonado o Matheus e eu, não vou te deixar sozinho mais.

Camile estava pronta para protestar ainda mais, mas Gorbachev interveio, colocando uma mão em seu ombro.

—Camarada Camile, devemos manter a calma. O Escorpião tem suas razões, mesmo que não as conheçamos completamente. Vamos confiar em sua sabedoria por enquanto e aguardar sua volta. Acredito que ele tenha um plano em mente.

A punk soltou um suspiro de frustração, mas decidiu ceder à sugestão de Gorbachev. Ela lançou um olhar desconfiado na direção do Escorpião, mas concordou em esperar, embora sua relutância ainda fosse visível.

Os demais é quem deveriam decidir se aceitariam tal proposta dele ou não.

Uma cidadezinha que eu nunca tinha tido a menor vontade de conhecer era Dunwich. Porque a fama da zona rural desse município era péssima, com muitas histórias sobre certas famílias assentadas no lugar havia gerações, mas que, a partir de algum momento, empobreceram, decaíram moralmente e se entregaram a cultos obscuros de criaturas umbrais - não necessariamente nessa ordem. Logo, não foi no melhor dos espíritos que eu rumei para lá.

Mas a viagem até que surpreendeu, pois a paisagem rural que emoldurou o caminho feito pelo ônibus, se não era propriamente bela, nada tinha de pobreza decadente. Acabou sendo uma viagem agradável, no final das contas, e o núcleo urbano estava bem cuidado.

Logo depois que descemos, em frente da biblioteca, surgiu uma certa tensão quando começaram a debater os próximos passos que deveríamos dar. Simpatizei com a punk de butique porque ela, assim como eu, desconfiava do Escorpião, e já vinha demonstrando isso reiteradamente desde a mansão. Por outro lado, o Gorbachev, para minha surpresa, parecia ter muita confiança no cara…

Mas por que digo que fiquei surpreso? Porque essa atitude dele contrastava com a visão que eu tinha de suas ideias políticas e do seu papel histórico? Na verdade, eu era totalmente desinteressado por política, mesmo quando se tratava de tentar entender o modo como Magos e Vampiros, agindo nas sombras ou diretamente, influenciam a história dos adormecidos. Assim, eu não sabia patavina das ideias do cara. A surpresa vinha do fato de que, para mim, qualquer um que já tenha sido chefe de governo é alguém que preza ordem, planejamento, estratégia, e nada pode estar mais distante de tudo isso do que um Desaurido.

Seja como for, o russo já havia dado seu voto de confiança, e Camile cedeu, ainda que de maneira visivelmente contrariada. Tínhamos que nos posicionar também, e o primeiro a falar foi King, que expôs seu absoluto desinteresse pelo livro que buscávamos e se encantou com a fachada antiga do prédio da biblioteca. Eu admito que o prédio era charmoso mesmo, mas, poxa, pensei que o King daria mais importância ao que tínhamos ido fazer ali. Decerto o Akon seria mais objetivo e pragmático, mas foi só ao pensar nisso que me dei conta de que o hermético não estava entre nós… Aliás, eu não conseguia me lembrar nem de ele ter estado no ônibus!

- Gente, uma coisa importante: cadê o Akon?!

Essas palavras foram dirigidas a todos, mas meu olhar estava fixo no Escorpião.

O Escorpião voltou-se para Ronald em sua surpresa e apontou para onde estava Matheus e nessa hora o Orador do Sonho pode ver que era na verdade Akon quem estava ali.

—Ali, oras... Ele veio conosco.

Era estranho, Matheus parecia nunca ter estado ali... Isso nem cutucou fundo a mente tanto do hermético que estava maravilhado com os livros e com o lugar que se ateve apenas a caminhar, mas era bem nítido que havia sido usada uma ilusão mental por parte do Escorpião, era dificil dizer qual era o objetivo.

À medida que o hermético explorava detalhes da mansão, ele sentia uma presença maligna ao seu redor, uma presença que no pequeno instante de susto que o fez desviar de suas anotações parecia se alimentar do medo e da escuridão pela qual ele sentiu-se em um instante.

Ele então encontrou uma pequena caixa de correios destruída escrita Whateley.

O Escorpião vendo que ninguém protestou por ele entrar sozinho continuou em direção à porta, mas a estranha cena da transformação ilusória entre Matheus e Akon incomodou profundamente Ronald.

Quando olhei para onde Matheus deveria estar e vi Akon, fiquei aturdido. Por um instante, achei que Akon nos daria uma explicação relacionada aos seus poderes na Esfera da Mente, mas ele ficou concentrado no edifício, nos arredores, nem parecia ter consciência da troca de identidades. Então, só podia ser mais uma do Escorpião…

- Ora, mas… o que é isso!? Então é o Matheus quem não está conosco? Esquecemos ele na casa dos esquecidos? Onde ele está, então?

Aquelas perguntas não foram dirigidas a ninguém em particular, pois eu já previa que era inútil pedir explicações ao Desaurido. Eu apenas estava externando minhas dúvidas e preocupações. Mas a pergunta seguinte foi direcionada pelo objetivo de conhecer melhor as intenções e alinhamentos dentro do grupo.

- Senhor Gorbachev, o senhor já sabia que o Matheus não veio? Sabia dessa ilusão de troca de identidades?

Não sei por que fiquei chamando ele de "senhor", já que não nutro nenhuma admiração ou simpatia por políticos em geral ou por qualquer um deles, em particular. Acho que me deixei levar pela fama do sujeito, pela posição que ele já ocupou como líder de um país muito grande, e tal. Anotei mentalmente que, dali em diante, eu ia tratá-lo como "você" mesmo, e pronto. Mas isso era secundário, pois minha cabeça estava concentrada em tentar entender a que tinha vindo aquela ilusão. Enquanto isso, Nick foi caminhando para a porta do prédio, e Akon se concentrava em examinar uma caixa de correio semi-destruída…

Gorbachov levanta as mãos meio dando de ombros, como quem não entendeu o que Ronald estava perguntando.
Para piorar tudo, o hermético chinês saia do seu extase para dar lugar para um lado mais racional em meio a toda aquela confusão.

King percebia que aqueles textos, escritos místicos al que eram bem conhecidos de Ronald e que ele já havia visto antes com seus descendentes... mas ele ainda estava chocado com a transformação de Matheus, porém em seguida, uma nova imagem se forma e luzes começam a aparecer brilhando com intensidade e cegando a todos , eram veículos diversos, na maioria jipes que cercavam o ônibus e com isso novamente Akon mudava de forma diante dos olhos do Orador do Sonhos e ele se transformava em um homem usando um taco de basebal enrolado em arame farpado.



O homem golpeava em seguida pelas costas o Gorbachov em sua nuca e o último presidente da URSS caia ao chão de joelhos tentando segurar sua nuca cheia de sangue, só então King e Ronald novatavam que estavam ambos sozinhos diante da entrada da casa.

Ao que parecia nem o Escorpião e nem Camile estavam ali... O homem então diante do sangue com um sorriso sarcástico comentava.

—Então, seu bando de mestiços safados, estão de olho no evangelho dos meus filhos?

Ele virava agora o taco ameaçadoramente para os dois.

Com os Oradores dos Sonhos, aprendi que o mundo dos sonhos e o mundo dos Espíritos são um só, e que esse mundo transcendental coexiste com o mundo material, mas é distinto dele. Minha visão pessoal, porém, é a de que toda a Tellurian é sonho, e o que diferencia um Plano de Existência do outro é o grau de previsibilidade dos acontecimentos, já que alguns Planos são organizados por leis mais rígidas de causa e efeito, enquanto em outros os acontecimentos se sucedem de forma mais abrupta, não linear e sem causas claras. Teoricamente, nosso grupo estava dentro desta realidade que, especialmente por culpa da Tecnocracia, segue regras mais padronizadas e previsíveis. Mas o que testemunhamos depois de descer do ônibus foi tão louco que comecei a duvidar disso.

Matheus era Akon, Gorbachov mostrou-se tão surpreso com isso quanto eu, King pressentiu medo, caos e insanidade permeando o edifício da biblioteca e, então, exatamente como acontece nas experiências que os Adormecidos têm quando sonham, tudo mudou do nada: um bando chegou em vários jipes e nos cercou, Camile desapareceu como se nunca tivesse existido, Akon virou John Winchester e, antes que pudéssemos reagir, atingiu Gorbachov com uma violência inusitada!

Enquanto o político ficava de joelhos gemendo e lutando para permanecer acordado, o Winchester nos ameaçou com aquele taco, chamando-nos "mestiços safados"! Estávamos cercados, então talvez fosse precipitado atacar, especialmente se o Winchester fosse um mago. Mexi os braços num movimento amplo, que parecia apaziguador, e disse:

- Ser mestiço é um problema por si só ou você só rejeita quem tem magia nas veias? Porque parece que estamos cercados por Adormecidos, mas você surgiu de uma transformação da qual só um Desperto seria capaz.

Usei uma entonação levemente mais vivaz nas palavras "Adormecidos" e "Desperto" porque, com aquele gesto e aquelas frases, tentei criar um efeito de magia coincidente para perscrutar as auras daquela gente.

OFF:

Akon virou Mathues, que virou um sujeito que atacou com um taco o último presidente da URSS que caiu ao chão em dor agonizante.
As questões sobre Mestiço não incomodavam Ronald, mas soaram uma pesada ofensa para King... Questionado pelo hermético sobre se ele veio ajudar, o homem continua.

—Meus filhos escreveram o livro, se não o quer e não sabem quem eu sou, então meu aluno agiu com discrição. Mas esse mistério já durou tempo demais... Eu sou o mentor do Escorpião... Tive de fazer o que fiz...

Ele falava enquanto andava lentamente pousando o taco sobre o ombro direito e se tornando mais ofuscado pelas luzes dos carros que se lançavam sobre os olhos do Orador dos Sonhos e o Hermético.

—Eu sei bem de onde vocês são... Em numa noite tempestuosa, me deparei com a majestosa Casa da Bruxa, uma mansão ancestral oculta nos recantos sombrios da cidade Arkham. Os rumores da cidade falavam de segredos ocultos e poderes além da compreensão humana. Desafiando os murmúrios de precaução dos habitantes locais, eu, John Winchester, caçador destemido de criaturas sobrenaturais, decidi alugar um quarto na Casa da Bruxa.

Ao entrar naquela construção imponente, senti uma energia inegável, uma presença mágica que reverberava pelos corredores seculares da casa. Quartos abandonados revelavam vestígios de rituais passados, enquanto manuscritos antigos, envoltos em enigmas e poeira ancestral, desvendavam um conhecimento esquecido em uma intricada rede de sabedoria arcano que ligava a casa a entidades cósmicas. Exatamente como vi que você, "china", sentiu aqui!

Minha busca incessante por respostas me levou a uma câmara secreta, um espaço onde Keziah Mason, uma bruxa do século XVII, realizava seus rituais proibidos. O ambiente exalava uma presença maligna, e o ar estava impregnado com o aroma de incenso antigo. Sobre uma mesa de madeira entalhada, encontrei um grimório antigo, contendo feitiços que desafiavam a própria essência da lógica humana.

Enquanto explorava os mistérios do Evangelho Winchester, entidades cósmicas adormecidas despertavam. Sombras dançavam nas paredes e sussurros ancestrais ecoavam pelos corredores, indicando que a barreira entre o real e o sobrenatural estava desaparecendo.

Em minha busca por compreender a extensão dos perigos da Casa da Bruxa, descobri que, no passado, uma bruxa fora morta por nossas armas. Assim como tantos outros que morreram e querem nos atormentar...nos tormamos caçadores para matar

O espírito da bruxa, vinculado à casa e aos nossos próprios erros do passado, buscava liberar sua ira e desespero sobre nós. Entendi que apenas o sangue mestiço dos Winchester poderia mantê-la contida dentro das paredes dessa biblioteca onde o Evangelho que escrevemos estava guardado. O espírito, em busca de vingança, agora habitava a biblioteca que vocês estão vendo, alimentando-se da escuridão acumulada ao longo dos séculos.

Minha dor atingiu seu ápice quando, enfrentando o terror cósmico e os segredos insondáveis da Casa da Bruxa, os Winchester confrontaram Keziah Mason e as entidades despertas. A batalha entre dimensões era iminente, e a bruxa, com sua fúria ancestral, ameaçava ultrapassar os limites do que poderíamos enfrentar.

Ao final, com a compreensão dos perigos iminentes e a necessidade de conter o espírito vingativo, nós, os Winchester, escrevemos o Evangelho. Este não era apenas um relato dos mistérios da Casa da Bruxa, mas uma explicação detalhada de como manter a bruxa aprisionada.

Agora, enquanto os murmúrios sombrios ecoam nos corredores da Casa da Bruxa em sua cidade maldita, nós trouxemos a alma dela para essa biblioteca e nela o Evangelho serve como um guardião dos horrores que habitam entre as páginas e como uma bússola para futuras gerações de Winchester, que devem enfrentar o desconhecido e manter a chama da coragem acesa diante das trevas entrelaçadas em nossa própria linhagem.

Foi para isso que mandei meu mensageiro, o Escorpião, para ver qual de vocês será sacrificado para manter Keziah Manson presa...


Ele apontou o taco para o Ronald

-Pelo visto, você é quem deve ser sacrificado, certo?

A magia que eu usei para perscrutar as auras daqueles que nos cercavam funcionou, mas não trouxe boas notícias: John não era um Desperto, mas havia alguma magika que o protegia; e aquele taco de beisebol ensanguentado estava impregnado de Quintessência… Já a gangue ao redor portava armas pesadas, como espingardas ou talvez até metralhadoras, embora fosse difícil ver ao certo com aquelas luzes fortes.

Procurei me manter calmo, e ouvi o discurso de John Winchester. Ele revelou que era o Mentor do Escorpião, o que só serviu para eu desconfiar ainda mais daquele sujeito em quem nunca confiei. Depois, veio a história da Bruxa, das conexões da Casa com Planos de Existência ameaçadores e de rituais de contenção. Achei estranho quando ele usou as palavras "apenas o sangue mestiço dos Winchester poderia mantê-la contida dentro das paredes dessa biblioteca". Mas então aquela família de caçadores tem sangue mestiço? Seriam crias de que tipo de entidade? E por que é preciso "sangue mestiço" para segurar a Bruxa?

Mas nem tive muito tempo para processar aquelas informações, pois, na sequência, veio a informação bombástica de que o maldito Escorpião queria encontrar alguém que deveria ser "sacrificado" para que a Bruxa continuasse aprisionada, e que eu, justamente eu, poderia ser a vítima ideal!

Senti um arrepio percorrer a coluna, e minha respiração parou por um momento. Acredito que eu tenha conseguido manter o rosto impassível, mas não sei dizer ao certo. "Não vou me entregar sem luta, mas tentarei conversar primeiro, já que estamos em desvantagem".

- Como é? Eu, sacrificado? Por que sacrifício? E por que eu?

Minhas palavras soaram tão frias quanto era possível, o que não quer dizer muito…

Ronald tinha uma memória perfeita e se recordava de ter ouvido palavras agressivas sobre "mestiço" antes , não de grupos de supremacistas brancos como esses homens notoriamente eram e sim de seu próprio mentor Paul ficou decepcionado ao descobrir que seu discípulo não era um descendente puro dos nativos da América e que nem mesmo era puramente humano... Seria isso? Ele seria alguma coisa maior? E por isso a habilidade de usar os sinais de Koth com maestria em combate de forma que seu mentor tanto temia?

Enquanto tentava entender e pedia para os inimigos se acalmarem, se não seriam obrigados a se defender.

Chen Qing He notou então o que já vinha desconfiando desde que encontraram o Escorpião pela primeira vez que o objetivo não era o Evangelho em si, mas trazer um grupo de alvos, mesmo que não fosse coeso para perto de onde a Tecnocracia poderia atirar para que ele se safasse.

King se mantinha calmo, talvez por seu temperamento autoconfiante, mas mesmo assim não foi levado a sério, os caçadores mais velhos começaram a rir de suas palavras, mas ele sabia que ele tanto quanto costumava ser ignorado também estava acostumado a acertar e daquela vez ele falava a verdade. Aliás, em alguns momentos coisas que ele dizia tendiam a se tornar realidade. Isto não é uma facilidade para abençoar ou amaldiçoar os outros, mas de vez em quanto uma verdade considerada incômoda aparecia em sua cabeça e saia de seus lábios.

Porém por trás das árvores, era possível ouvir helicópteros e passos de um grupo imenso, além de disparos de algum tipo de rajada de alguma arma automática que atingiu um dos jipes. Os homens de John se voltaram para os disparos e começaram tentar atacar a esmo pensando em se defender.

Ronald viu, por entre os sinais ao redor da biblioteca que havia algo familiar neles... Os dois precisavam decidir o que fazer, já que parece que quem quer que a Língua do Bardo King disse que viria chegou...

De repente, tiros ecoaram, mas não vinham da turba ao redor, e sim de mais atrás. Aquele combate que se iniciava era providencial para criar a confusão de que precisaríamos para tentar fugir dali. Providencial até demais… me pareceu que, de alguma forma, King, com seu discurso desafiador sobre a existência de um exército, moveu os fios da Trama de tal modo que o ataque do tal exército se fez realidade. Como num sonho, em que uma ideia surge na cabeça e a cena muda, sem que tenhamos consciência de como isso ocorreu. E Herméticos como o King ainda rejeitam minha concepção da mágika, chamando-a "relapsa"...

Mas é claro que, naquela hora, não parei para refletir sobre essas querelas metafísicas. Era o momento de correr para não virar alvo, mesmo que de uma bala perdida. Olhei em volta, pensando numa rota de fuga. O melhor lugar parecia ser a biblioteca. A porta devia estar trancada, mas talvez pudesse ser posta abaixo pela habilidade do King na Esfera Forças.

- King, vamos!

Gritei já dando os primeiros passos da corrida para a entrada do edifício. Tudo aconteceu tão depressa que não pensei direito nos símbolos em volta daquele prédio, mesmo tendo ficado com a sensação de que já os tinha visto antes... Num sonho, talvez?

A cena se desenrola com um cenário caótico, tiros ecoando e a necessidade de agir rápido para se proteger. King, com sua habilidade na Esfera Forças, parece ser a melhor aposta para abrir caminho através da porta trancada da biblioteca.

Balas assobiam atingindo a casa conforme tentam girar a maçaneta.

Enquanto isso, Ronald percebe a presença dos faróis dos carros iluminando a cena, aumentando ainda mais a urgência da situação. A adrenalina está alta, e ambos os personagens sabem que precisam agir rápido para evitar serem alvos dos tiros que continuam a ser disparados ao redor.

King esbraveja sobre a assinatura mágica que está os rastreando, indicando uma conexão mística por trás dos acontecimentos. A tensão está no ar, mas eles não têm tempo para refletir sobre as implicações filosóficas ou místicas da situação. A prioridade é sobreviver e escapar da ameaça iminente.

Ronald mantém os sentidos aguçados, procurando qualquer sinal de perigo imediato. Eles precisam agir em sincronia e com determinação para superar esse momento crítico... E consegue lembrar de sonhos e seres feéricos que vieram de além do mar, misturando-se com a cultura local dos Pamunkey... Irlandeses talvez?

Quando King finalmente consegue abrir a porta da biblioteca, nota que o lugar é identico ao casarão que o Escorpião levou todos eles! Era como se fosse exatamente o mesmo lugar e sequer tivessem tomado o ônibus... Nisso tudo parecia uma grande ilusão que se despedaçava, mas os dois não tiveram tempo para falar sobre isso, pois algo pior lhes aparecia.

Uma atmosfera sombria toma conta do ambiente. Em meio à penumbra, três figuras etéreas se materializam diante deles, cada uma com sua própria aura e presença única.

O primeiro fantasma a aparecer é um homem careca com um porte forte e imponente. Ele usa óculos escuros que refletem uma luz espectral, dando-lhe um ar misterioso e intimidador. Seu olhar parece atravessar as almas, revelando uma sabedoria ancestral e uma determinação inabalável.


Em seguida, surge uma mulher alta, magra e incrivelmente forte. Sua postura é elegante, mas sua expressão carrega uma mistura de seriedade e resolução. Seus olhos brilham com uma determinação feroz, indicando uma história de lutas e desafios superados no mundo dos vivos e dos mortos.


Por fim, uma figura mais jovem e delicada se manifesta. Uma moça pequena, com uma aparência angelical e uma aura de simpatia e bondade. Seus gestos são suaves e acolhedores, contrastando com a imponência dos outros fantasmas. Ela parece radiar uma energia positiva, como se fosse um farol de esperança no meio da escuridão.

Enquanto os fantasmas se revelam, Ronald sente uma estranha conexão mística com mulher mais velha... seu nome era Natasha Lakatos. Seu olhar encontra o dela, e por um instante, ele se vê imerso em visões fugazes que revelam sua história. Natasha é uma guerreira de linhagem antiga, marcada por batalhas épicas e um destino entrelaçado com segredos ancestrais. Seus traços são marcados pela determinação e pela força, mas também há uma sombra de mistério em seus olhos, sugerindo caminhos não percorridos e mistérios não revelados.

A presença desses fantasmas na biblioteca adiciona uma camada de mistério e profundidade à narrativa, prometendo novas reviravoltas e desenvolvimentos emocionantes. Ronald sente que há muito mais a descobrir sobre esses seres espectrais e sobre seu próprio papel nesse intricado jogo de destinos entrelaçados.

Em seguida eles estranhamente começam a rosnar e urrar como lobos...

...disparos continuam sendo feitos lá fora.

Entrei esbaforido naquela biblioteca, é claro, e fui logo fechando a porta atrás de nós para nos protegermos dos tiros e sairmos do campo de visão. Quando me virei para o interior daquele ambiente estranho (um espelho perfeito da casa do menino esquecido que despertou e enlouqueceu), pressenti um movimento na Película. Algo estava para vir, então respirei fundo, e vi três fantasmas surgirem.

O fantasma do homem calvo expressava ameaça ao mostrar aquele taco, a garota pequena e ruiva parecia uma fada bondosa, enquanto a guerreira era uma síntese de força, determinação e sabedoria. Uma rainha vinda de um passado distante, talvez. E foi com esse último fantasma que eu estabeleci algum tipo de conexão espiritual imediata. Por quê? Eu era um "rato de livros" e, embora meus ancestrais algonquinos fossem caçadores e guerreiros, meu sangue feérico remetia a um Reino de pura paz e serenidade. Nossas memórias pareciam ter se entrelaçado, então eu soube que ela se chamava Natasha Lakatos: nome russo e sobrenome comum no leste europeu. Provavelmente, tínhamos nos conhecido em vidas passadas, quando meu corpo físico podia ter nascido naquela região do mundo. Então eu pensei em perscrutar meu Avatar para tentar entender melhor essa conexão, mas não tive tempo de fazer isso. Os três fantasmas começaram a rosnar e uivar como se fossem animais selvagens!

"São fantasmas de Garou? Mas eu pensei que os Garou, mais do que quaisquer outros, se recusassem a romper o ciclo natural de vida e morte". Pensei isso na hora, mas não tinha tempo de ficar elocubrando tais questões. Coloquei um dos joelhos no chão, abaixei levemente a cabeça, e disse:

- Sou um dos que viaja entre os mundos, e presto meus respeitos a vós, espíritos! E reconheço ter uma ligação com a majestade de outras eras… Por favor, acalmai-vos e conversai conosco.

Eu não sabia se aquela abordagem ia dar certo, então já estava pensando em criar um tomahawk efêmero para lutar…

O punho brilhante do hermético gerava um recuo nos fantamas.

Ronald continuou ajoelhado, sentindo a pressão crescente da presença dos fantasmas, enquanto King, visivelmente exausto e frustrado, tentava lidar com a situação de maneira prática e física. A tensão na biblioteca era palpável, e os tiros fora do campo de visão apenas adicionavam uma camada extra de urgência e desespero à situação.

Apesar da ansiedade o Orador conseguia ir mantendo o tom calmo apesar da adrenalina. Era visível que estes espíritos poderiam ter informações cruciais ou até mesmo oferecer ajuda. Se não der certo, estariam prontos para lutar.

Natasha Lakatos, a guerreira espectral, deu um passo à frente, seus olhos vazios encontrando os de Ronald com uma intensidade que parecia atravessar eras. Os outros dois fantasmas continuaram a rosnar, mas a postura de Natasha indicava que ela estava disposta a ouvir.

—Sou Natasha Lakatos - disse ela, sua voz ecoando com uma ressonância sobrenatural. - Por que vocês, vivos, perturbam este lugar sagrado? E por que há caos à nossa volta?
Ronald manteve a cabeça abaixada em sinal de respeito, mas seus olhos estavam focados em Natasha.

King, ainda cético, observava a cena com um olhar crítico. A energia branca e primordial continuava a se acumular em suas mãos, pronta para ser usada se necessário.

—Antes que pensem que estamos fazendo isso de graça, saibam que também temos nossos próprios inimigos. Fomos atacados por Caramazotz, criaturas das trevas que romperam o ciclo natural de vida e morte. São seres horrendos que nos aprisionaram aqui, interrompendo nosso descanso eterno.
Os outros dois fantasmas assentiram, o fantasma calvo com um brilho sombrio no olhar, e a fada ruiva com uma expressão de tristeza.

Caramazotz...Sabiam ambos que eram nomes de criaturas da escuridão.

—Ajudem-nos a destruir os Caramazotz e restaurar o equilíbrio. Em troca, vocês terão nossa proteção e assistência.
King relaxou um pouco, embora ainda mantivesse a energia pronta em suas mãos.

Ambos ouviam os disparos de balas sendo feitos em rajadas, uma delas fez buracos ao lado deles, atingindo a parede logo à frente.

Foi então que os dois reconheceram a que a tal biblioteca era uma casa identifca a que deixaram em Arkham e que visitaram com o Escorpião...
Será que realmente deixaram o lugar?

Os fantasmas a frente deles, continuavam aguardando , como Vidas Passadas diante de um Lobo e um Tigre solitários.