Roxanne nasceu em uma vila cujo nome ela não se lembra mais. Ela também não lembra o nome de seus pais, ou de seus irmãos – e na verdade nem mesmo o rosto de seus pais, ou o número de seus irmãos, que era muitos. De fato, Roxanne não sabe sequer se esse é seu verdadeiro nome, pois ela era somente “Roxy” para a família.
Quando ela tinha entre 4 e 5 anos sua vila foi assolada por um surto de peste que se espalhou rapidamente por toda a população. Isolados das cidades vizinhas que queriam evitar a doença, em poucos dias a maioria dos habitantes havia fugido ou estava morta. Roxanne foi poupada e não adoeceu, mas assistiu ao definhar e à morte de toda a sua família e depois sobreviveu na cidade quase abandonada e infestada de cadáveres por semanas, se alimentando de detritos, até que finalmente autoridades eclesiásticas vieram e levaram-na para um orfanato em Cambridge.
As condições no orfanato eram terríveis e as crianças eram abusadas e exploradas, de modo que Roxy não permaneceu muito tempo por lá. Se juntou à multidão de crianças que viviam nas ruas de Cambridge e viveu na mais absoluta miséria por pouco mais de um ano, se abrigando onde podia e comendo qualquer coisa em que conseguia por as mãos.
O dom já se manifestava nela nessa época, o que tornava tudo mais difícil, pois as pessoas pareciam odiá-la gratuitamente, mesmo as outras crianças de rua. Mas ironicamente é possível que o dom manifesto tenha salvado sua vida, porque foi graças a ele que o feiticeiro Marius ex Bonisagus, em uma passagem pela cidade, identificou naquela menina desnutrida e maltrapilha a aprendiz que estava procurando.
A situação de Roxanne era tão periclitante que foi fácil convencer a menina a acompanhá-lo e assim viajaram até seu concílio de magi no norte da Inglaterra. Marius julgava que com cerca de 6 anos a menina ainda era muito jovem para iniciar seus estudos arcanos, mas permitiu que ela aprendesse outras coisas, incluindo os fundamentos da anatomia, medicina e cirurgia, enquanto a idade não chegava. Seus estudos herméticos só foram se iniciar quando ela já tinha 10 anos e estava totalmente habituada à vida no concílio.
O desconhecimento sobre sua verdadeira identidade e origem a assombrou desde cedo e ela se esforça até os dias de hoje para preencher essa lacuna. Embora tenha recebido o nome hermético “Roxana ex Bonisagus”, a jovem aprendiz adotou o nome “Roxanne de Cambridge”, exceto para questões oficiais da Ordem. Ela odeia ser chamada de “Roxy”, em parte porque não concede a ninguém esse nível de intimidade, mas principalmente porque o apelido é uma dolorosa lembrança de sua infância semiesquecida.
Marius era um curandeiro conhecido e poderoso e, sem nenhuma surpresa, foi este o foco que deu ao aprendizado de Roxanne. A jovem, entretanto, sempre teve uma estranha fascinação com a morte. O período em que sobreviveu na vila repleta de cadáveres a marcou profundamente e ela tomou para si a missão de compreender os mistérios da morte e de dominá-la. Não apenas evitar a morte, mas também subvertê-la revertê-la, escravizá-la.
Apesar dos interesses ligeiramente distintos dos de seu mentor, a natureza obstinada e questionadora de Roxanne era apreciada por Marius e a aprendiz evoluiu rápido, demonstrando ter um talento especial para as artes Corpus e Rego.
Com seu temperamento tímido, recluso, quase antissocial, a maga não teve uma infância de muitos amigos, geralmente se aproximando mais daqueles de humor semelhante ao dela. Entre seus poucos amigos estão Peter, o arqueiro, um caçador que definitivamente odeia conversar e prefere passar dias no mato a conviver com outras pessoas, mas que por algum motivo acha a companhia de Roxanne estranhamente agradável, mesmo com seu dom manifesto; e Eustace, um jovem ladrão que viajava pelo país assaltando os pertences dos mortos em suas tumbas e que acabou aprendendo com Roxanne que poderia ganhar mais dinheiro roubando os próprios defuntos para os estranhos estudos da maga, que conseguiu inclusive convencer o concílio a aceitá-lo entre seus moradores.
Os estudos de Roxanne até o momento de concentram no aspecto mais corpóreo da morte, ou seja, na observação e experimentação com cadáveres. Há um outro ramo da necromancia que foca no aspecto mais incorpóreo, que aquele dos espíritos dos mortos. Roxanne ainda pretende eventualmente enveredar por este campo, pois supõe que será necessário para atingir seus objetivos mais ambiciosos de dobrar a morte. Ela vislumbra também, na magia que lida com espíritos, um possível caminho para desvendar sua história e conhecer a própria identidade.
Roxanne está entusiasmada com a ideia de refundar o concílio de Avalon. Ela acredita que terá mais independência e liberdade para conduzir seus estudos funestos, que embora tenham sido tolerados até aqui, causam desconforto mesmo para a maioria dos magi, horroriza as pessoas comuns e afronta o clero. E
a não tem nenhuma ligação especial com os demais magi que foram treinados junto a ela e serão seus companheiros de empreitada, mas também não tem nada contra eles. Gosta deles quase até onde é capaz de gostar de alguém, o que não vai muito longe. Está disposta a lutar por eles e espera que tenham a mesma disposição que ela, mas isso se dá mais por motivos práticos, estratégicos e de honra do que por algum sentimento especial de afeto.
Sua insígnia mística é uma brisa gélida com um perfume de flores fúnebres.