Seva sentiu-se envolta em água - apesar do tempo quente, a água estava gelada e considerando o quanto tinha bebido há algumas horas, a sensação de frescos da água lhe deram alento. As roupas grudavam em seu corpo e tão logo, não mais. Imersa em água, não sentia nenhum peso de seu ser. Um tentáculo de água do rio a puxou para baixo, viajava em uma velocidade impressionando, sempre indo cada vez mais para baixo. A velocidade era tanta que não conseguia respirar e nem conseguiria, dado que, imersa em água. Via o mundo mudar a medida que cada vez mais aquele tentáculo líquido a puxava cada vez mais para baixo, criaturas da água, corais, rochas e todo um novo mundo habitado por aqueles não respiravam o ar da superfície.
"Vou quebrar os portões e os cadeados..."
Quando sentiu que não mais conseguiria prender sua respiração, sua face chocou-se com o chão do rio - não houve dor, mas atravessou o chão e ao atravessar, perdeu uma peça de roupa. O ar invadiu novamente seus pulmões e agora, caia em queda livre diante de um céu estrelado, nada ao redor - nada para se segurar, sua queda não segurava-se nem mesmo pelo atrito do ar. E passados segundos de queda, mas que pareciam uma eterniadade, viu um mural de fogo no final.
"Vou quebrar o escorão da porta e derrubar todas as portas..."
Quando atravessou o mural de fogo, perdeu mais uma de suas vestes. E sua queda continuou, por entre as chamas - mas nada sentia, nem o calor e nem o queimar. A velocidade com que caía aumentava a cada barreira atravessada, agora sua queda era um deserto vermelho de vegetação decrépita. Ao fim, via novamente uma barreira de água.
"Eu ressuscitarei os mortos e eles comerão os vivos:"
Passou por essa barreira e perdeu mais uma de suas vestes. Passou então por mais três barreiras, seguindo a mesma sequência - água, céu, fogo. Passou por seis portões e perdeu 6 peças de suas vestes. Havia então mais uma, que seria um novo deserto carmesim.
"E os mortos devem superar os vivos!"
Aproximava-se daquela barreira e chocou-de com ela, não conseguiu ultrapassar. A única coincidência era que não tinha mais nenhuma peça de roupa para perder e atravessar essa barreira. E quando chocou-se, conseguiu colocar-se de pé. Não via como transpor aquela barreia de forma alguma, o pagamento ao que parecia - tinham sido suas peças de roupa que agora, não mais restantes, interromperam a 'queda'. Um guarda manisfestou-se, etéreo, mas com identidade suméria. Muito de acordo com o que Seva estudava, então aquela armadura e trajes lhe remetiam a algo bastante específico. Era impossível saber como se portavam ou se vestia com certeza, mas aquela imagem parecia dar uma idéia bastante clara.
Aquela criatura então se pronunciou.
- Não há o que retirar de sua retidão. Não há mais como despir-te. E para passar, uma jóia é necessária.
A espada-chave que estava usando, foi erguida e atravessou a parte superior do seio direito de Seva. Quando o guerreiro sumério removeu a espada, na ponta da arma estava o coração de Seva - ainda pulsando. Em seu peito, apenas uma fina linha restou como cicatriz. Fina como uma linha de costura, azulada e com um pequeno relevo.
- A pssagem é oferecida pela jóia.
E caiu mais uma vez, passou pelos sete portões, passou pelos sete infernos e quando se deu conta, estava de volta na ponte pela manhã, olhando para o rio e o rio a olhando de volta.
O sol da manhã aquecia seu rosto e sentia seu calor, estava de volta com suas roupas e sentia como se tudo aquilo tivesse sido um sonho ébrio e distante, mas ao mesmo tempo, sentiu a fina cicatriz no mesmo local de onde seu coração tinha sido roupado para que completasse o caminho dos portões. Sentia-se diferente também, respirava e sentia o ar passando por seus pulmões, sentia o sangue passar por suas veias, mas ao mesmo tempo, não sentia seu coração bater.