Lá fora um vento assobia anunciando que o outono está acabando, o melhor outono que Kate já viu. Hélius* Flava já começava brilhar menos que Hélius Blua, em breve as "noites azuis" não seriam apenas noites, mas o dia inteiro ficaria azulado.
O vento esfria um pouco o clima na cidade, embora "esfriar" seja algo bem relativo em Fajr-Regno, mesmo estando próximos do inverno a temperatura ainda está uns 19°C. O ar nunca pareceu tão puro, seria "o sopro da liberdade"?
Não dá pra negar que a cidade está diferente nestes meses. Toda destruída e cheia de gente ferida, ainda assim diferente.
- Hélius e Luas:
- *Akaŝa possui duas estrelas principais: Hélius Flava, de cor amarela e Hélius Blua, menor e de cor azulada. Durante o verão, Fajr-Regno (pronuncia Fáir-Rêg-no) e iluminada por Hélius Flava quase o dia inteiro, Hélius Blua aparece timidamente só a noite. No outono o continente é iluminado pelas duas estrelas, no equinócio enquanto uma estrela está se pondo a outra está nascendo do outro lado, é um dia bem bonito para se ver o céu. Como no outono sempre tem uma das estrelas iluminando Akaŝa, são chamadas de noites azuis, pois, embora Hélius Blua aqueça menos, o tempo é claro por pelo menos 20 horas no dia (uma estação ruim para quem tem insônia) chegando a 24 horas no equinócio. Já no inverno, o continente é iluminado prioritariamente por Hélius Blua, sendo que Hélius Flava aparece por apenas algumas poucas horas. No começo do outono, com as primeiras noites azuis, as pessoas tem que se adaptar com a mudança de iluminação, mas, perto do inverno elas já estão acostumadas com a luz azul. Até que se chegue a primavera quando finalmente Hélus Flava traz os dias claros de volta, mas estamos longe disto ainda.
Akaŝa tem também duas luas: Ânima e Psikê a primeira de cor azulada, a segunda avermelhada.
Fazia uns meses que Kate não se preocupava com a guerra. Quase três meses? Não... na verdade mais de três! Mais de quatro aliás! Até meio difícil de acreditar! Assim, ela dorme despreocupada numa hospedaria de Heséd, afinal não dava para passar todas as noite na Escola Izete. As meninas não importavam de dividir seus quartos ocasionalmente, mas Kate não era indigente para fazer das acomodações da escola sua morada.
A hospedaria era barata, mas o frescor do outono e relativo silêncio permitiam um sono confortável e despreocupado. Ânima estava em nova, mas a luz alaranjada de Psikê quase cheia passava de leve pela fresta das cortinas. Kate vira de lado, ajeitando o travesseiro, ressonando suavemente, sem se importar com a figura que entra pela sua janela e que ela finge não perceber.
- Mm, ruiva... - ele sussurra, levantando o lençol com que Kate se cobria - Não parece magrela, pelo contrário, isto aqui daria um bom caldo...
Kate continua dormindo tranquilamente, enquanto o intruso se aproxima dos seus pés, exatamente como ela esperava que fizesse, enquanto ele ainda a admira dormindo, Kate prepara um chute certeiro em seu nariz.
- PUUUUUUUUUUUTA QUE PARIU! VADIA!
Ele leva as mãos até o nariz quebrado. Precisaria de 30 segundos para entender o que aconteceu, 10 segundos para vencer a dor repentina e mais 30 para se recompor, Kate só precisava de 20 segundos para pegar a adaga embaixo do travesseiro e mirar em sua garganta.
Além da dor, um golpe no nariz faz a pessoa chorar na hora, atrapalhando sua visão, ele sente o braço de Kate envolver seu pescoço, enquanto a ponta da adaga dela encosta na sua pele, e tudo que pode fazer é segurar o nariz sangrando.
- DESGRAÇADA! PARECE QUE VOCÊ QUEBROU!
- Você escolheu a ruiva errada para perturbar meu caro! Eu não me preocuparia APENAS com seu nariz...
- Pior que deve ser a errada mesmo!
Aquilo não fazia muito sentido, e Kate esperava que ele se mostrasse menos calmo numa situação desta. Era preciso alto controle demais pra se manter calmo numa situação daquele, e estes eram os piores tipos de pessoas, portanto ela aperta bem o mata-leão, não queria perder a vantagem de ter agido quando o cara não esperava. Os gritos tinham alertado outras pessoas na hospedaria, que começam bater à porta.
- Ei! O que está acontecendo ai?
Kate pressiona mais a adaga na garganta dele:
- Se não agir como um cachorrinho bonzinho agora, eu te mato fácil!
- Já é um milagre eu estar vivo, tchutchuquinha!
Kate fica surpresa por uma fração de segundos, solta o pescoço dele dando-lhe um tapa na cabeça:
- Mas que merda! Você é da Cour des Miracles!
- Aii! É, eu sou, agora me arruma um pouco de gelo que isto está doendo para um caralho, vadia!
Continuam batem à porta: - Ei, o que está acontecendo aí esta hora da noite?