Após deixar o cais de Porto Real, o Tridente Azul singrava as águas com determinação, seus passageiros envolvidos em uma série de atividades que preparavam o caminho para um novo capítulo na vida de Inês.
No início da viagem, os dias a bordo eram calmos e repletos de beleza. O sol brilhava sobre o mar, refletindo em tons dourados e prateados, enquanto Inês e seu pai partilhavam conversas sobre os planos para a vila de Breakstone Hill. As refeições na sala de jantar do navio eram ocasiões de reconforto e planejamento, onde o aroma do chá se misturava ao cheiro do mar, criando uma atmosfera de tranquilidade.
Hellen Allantis, a dama de companhia, entretinha Inês com histórias vívidas de festas passadas, despertando sua imaginação e alimentando seu desejo por novas experiências. Sor Jorah Savoys, o escudo juramentado, permanecia vigilante, assegurando-se de que a jovem herdeira estivesse sempre protegida. Durante as noites, Inês podia ouvir os gemidos de Hellen e Jorah na cabine ao lado, entregando-se a longas sessões de prazer carnal, livres da obrigação de casamento virginal da jovem Allafante.
Na maior parte do tempo, Inês e seu pai estavam sempre conferenciando com algum dos artesãos que estavam conduzindo para o Norte, trocando ideias sobre os trabalhos que eles fariam ali. Como verdadeiros artistas, eles ocupavam seu tempo com esboços, maquetes e pequenas esculturas das obras que planejavam executar em Breakstone Hill.
O Tridente Azul ultrapassou rapidamente a Baía da Água Negra, a Baía dos Naufrágios, os Degraus de Pedra e o Braço Quebrado de Dorne, aportando em Vila Taboeira apenas para repor seus estoques de suprimentos. A partir dali, navegaram velozmente pelo Mar do Verão com uma vista idílica para a árida paisagem dornesa. Ao cruzarem a baía da foz do Rio Torrentine, eles voltaram a ancorar no porto de Casassolar, o domínio da Casa Cuy, já na Campina. Depois de mais um dia de reestocagem observando no horizonte o Salão do Girassol, a embarcação de Inês zarpou para cruzar o Estreito Redwyne e contornar as margens da Campina, desbravando o Mar do Poente no rumo norte. Sua próxima e última escala foi no grande e opulento cais de Lannisporto, uma cidade quase tão grande quanto a capital Porto Real, capaz de rivalizar com a própria Braavos em tamanho e movimento comercial. Com a maior parte da carga mercante descarregada ali, o Tridente Azul voltou a cruzar as ondas muito mais leve do que antes, fazendo um bom tempo através da Baía dos Homens de Ferro e finalmente adentrando as águas geladas do Norte.
O clima mudou drasticamente; o ar estava frio e cortante, prenunciando a dureza do inverno que estava por vir. As instruções de seu pai sobre vestir roupas quentes provaram-se prudentes, e Inês vestiu-se com trajes pesados para enfrentar o novo ambiente, assim como todos de sua comitiva. Ao dobrar a Ponta do Mar do Dragão, o Tridente Azul margeou a Ilha dos Ursos até encontrar o rumo para seu destino final.
Enquanto o Tridente Azul se aproximava do Porto de Lícia, Inês podia observar a paisagem austera e majestosa do extremo noroeste de Westeros. As terras Felinight eram sombrias e imponentes, dominadas por florestas densas e montanhas cobertas de neve. Era naquelas terras que ela passaria a morar para se casar.
No entanto, ao se aproximarem do porto propriamente dito, a comitiva foi tomada por um choque inesperado. O Porto de Lícia era pequeno e rústico, sem qualquer vila em volta. Não havia barcos mercantes ou de guerra ancorados ali, e apenas poucos barcos pequenos de pesca estavam amarrados nos píeres. Os decrépitos armazéns que beiravam o cais serviam de moradia para os trabalhadores do porto, revelando uma pobreza que contrastava fortemente com a riqueza esperada de uma casa nobre como a Felinight.
Ao desembarcar, Inês sentiu o frio penetrante, mas também uma onda de desapontamento. Henry Allafante franziu a testa, claramente desconcertado pela condição do porto. Ele liderou o grupo, tentando manter uma postura confiante enquanto organizava os construtores e engenheiros para os próximos passos na urbanização de Breakstone Hill. Hellen, sempre ao lado de Inês, observava tudo com um olhar preocupado, enquanto Sor Jorah mantinha uma presença protetora.
Não havia comitiva de recepção nem sinal de ninguém enviado por Arthur Felinight. Henry Allafante franziu a testa, claramente desapontado e preocupado com o que isso significava para a segurança e o futuro de sua filha.
No porto, Henry, acompanhado de Inês, Hellen Allantis, Sor Jorah Savoys e o batalhão de trabalhadores, construtores e engenheiros, dirigiu-se a um grupo de estivadores que se aglomeravam por ali. Com uma voz firme, mas educada, ele indagou sobre o caminho para a vila de Breakstone Hill.
- Breakstone Hill? - respondeu um dos trabalhadores, um homem robusto com mãos calejadas e rosto marcado pelo tempo
- Fica a dois dias de viagem a leste daqui, subindo para o planalto que leva para as montanhas onde está o Castelo dos Sussurros.Henry agradeceu a informação e voltou-se para sua comitiva. As notícias eram desanimadoras, mas não havia tempo a perder. Com um olhar determinado, ele organizou os trabalhadores, distribuindo suprimentos e garantindo que todos estivessem preparados para a árdua viagem a pé.
Carregados com sacolas pesadas e materiais de construção, o grupo iniciou sua marcha em direção a Breakstone Hill. O caminho era difícil, atravessando terrenos rochosos, muitas vezes cobertos de neve e gelo, e florestas esparsas que não concediam muita lenha. O frio era implacável, cortando através dos trajes pesados que todos usavam.
Os dois dias de viagem foram extenuantes. A comitiva enfrentou condições adversas, desde terrenos irregulares e lamacentos até o gélido vento do norte que parecia penetrar até os ossos. Sor Jorah Savoys se manteve vigilante, protegendo o grupo de possíveis perigos, enquanto Hellen Allantis ajudava a manter o moral elevado com suas histórias e palavras de encorajamento.
As noites foram passadas em abrigos improvisados, usando mantas e cobertores para se proteger do frio. Henry Allafante, mesmo preocupado com a segurança de sua filha, não deixou que o desânimo se instalasse, liderando o grupo com firmeza e determinação.
Finalmente, ao final do segundo dia, a comitiva avistou Breakstone Hill. A vila, situada no planalto elevado, era simples e humilde, mas oferecia uma visão de potencial e esperança. As casas eram modestas, construídas de madeira e pedra, mas a localização estratégica perto da cordilheira oferecia proteção natural.
Enquanto o sol começava a se pôr no horizonte, tingindo o céu com tons de rosa e roxo, a comitiva de Inês Allafante finalmente alcançou Breakstone Hill. O cansaço da árdua jornada estava estampado nos rostos de todos, mas a visão da vila trouxe um renovado senso de propósito. No entanto, ao se aproximarem, ficou claro que a chegada não era esperada.
Os aldeões de Breakstone Hill, ocupados com suas rotinas diárias, começaram a notar a aproximação do grande grupo. Murmúrios e sussurros percorreram a vila enquanto homens, mulheres e crianças deixavam suas tarefas para observar os recém-chegados.
Henry Allafante, liderando a comitiva, parou na praça central da vila, um espaço modesto com uma fonte de pedra no centro. Os aldeões começaram a se aglomerar ao redor, curiosos e desconfiados. Inês, Hellen Allantis, Sor Jorah Savoys e o batalhão de trabalhadores e engenheiros aguardavam, observando as reações da comunidade local.
Um homem de meia-idade, com roupas de lã simples e rosto marcado pelo trabalho árduo, avançou, assumindo a liderança dos aldeões.
- Quem são vocês e o que querem em nossa vila? - perguntou com um tom que mesclava curiosidade e desconfiança.
Henry deu um passo à frente e, com uma voz calma mas autoritária, respondeu:
- Eu sou Henry Allafante, banqueiro do Banco de Ferro de Braavos, e esta é minha filha, Inês Allafante. Ela está prometida em casamento a Arthur Felinight, filho de Lorde Beron. Estamos aqui para transformar Breakstone Hill, trazendo melhorias e prosperidade à vila. Comigo, trouxe trabalhadores e recursos para este propósito.Os aldeões trocaram olhares incertos. Um murmúrio de orgulho mesclado com preconceito se espalhou pela multidão.
- Prosperidade? - uma mulher questionou em voz alta
- E o que isso vai nos custar? Não queremos estranhos ditando nossas vidas.