Jack Mostron caminhava pelas ruas silenciosas do bairro Aetna, durante as últimas horas da madrugada.
O ar estava pesado com a umidade e o cheiro de ferrugem e decadência. A luz da lua se filtrava através de nuvens escuras, lançando sombras longas e distorcidas nas fachadas dos prédios abandonados. A lua cheia lançava um brilho pálido sobre o bairro, realçando as sombras das construções abandonadas. O silêncio era quase total, quebrado apenas pelo som de seus passos e pelo vento que assobiava através das janelas quebradas. O vento soprava suavemente, fazendo os detritos dançarem pelo chão.
Jack estava determinado a encontrar a Associação de Professores de Gary, mas Aetna tinha poucas escolas, e ainda menos prédios administrativos. A coisa mais parecida que ele encontrou foi uma unidade da TCU - Teacher´s Credit Union, que estava sendo renomeada para Everwise, mas já fechada àquela hora da madrugada.
Os edifícios ao redor dele eram relíquias de uma era industrial passada. Grandes armazéns de tijolos, muitos com janelas quebradas e portas de ferro enferrujadas, se erguiam como gigantes adormecidos. Grafites cobriam quase todas as superfícies acessíveis, algumas obras de arte vibrantes e outras simples marcações territoriais de gangues locais. As ruas eram um labirinto de asfalto rachado, com ervas daninhas crescendo entre as fissuras e lixo espalhado pelos cantos.
Jack passou por uma fábrica desativada, cujas enormes chaminés se destacavam contra o céu noturno. O silêncio era perturbadoramente denso, quebrado apenas ocasionalmente pelo som distante de uma sirene ou o latido solitário de um cão. Ele sentia a presença de almas perdidas e espíritos inquietos, traços de antigas vidas que pereceram aqui, agora apenas ecos de dor e desespero.
Num beco, ele avistou uma fogueira improvisada ao longe, onde alguns moradores de rua se reuniam em torno do calor. Suas faces eram sombras, mal iluminadas pelo fogo, conversando em murmúrios quase inaudíveis. Eles não notaram Jack, que passou silenciosamente, sua figura misturando-se com as sombras.
Enquanto caminhava, Jack sentia a energia sobrenatural do lugar. Os Tremere tinham uma sensibilidade especial para esses sinais, e ele percebia resquícios de rituais antigos, talvez feitos por praticantes que, como ele, buscavam poder e conhecimento nas forças ocultas. Uma igreja abandonada chamou sua atenção – suas janelas de vitrais quebrados refletiam a luz da lua de maneira fantasmagórica. O cemitério ao lado, com lápides cobertas de musgo e estátuas de anjos com asas partidas, exalava uma aura de tristeza e mistério.
O silêncio foi interrompido pelo som de pneus chiando. Um carro antigo passou devagar, faróis cortando a escuridão. Jack observou enquanto ele desaparecia na curva, deixando novamente o bairro mergulhado na quietude.
Jack continuou sua caminhada, sentindo-se atraído por um prédio específico. Ao se aproximar, ele notou símbolos arcanos gravados discretamente na pedra, um sinal claro de que este lugar tinha uma importância especial para os que conheciam os segredos ocultos. O lugar era um edifício antigo e imponente. As letras desbotadas acima da entrada indicavam que fora uma instituição educacional. A escola estava abandonada havia anos, com janelas quebradas e portas de ferro enferrujadas. O letreiro, quase ilegível, sugeria que o local poderia ter sido um centro de atividades comunitárias ou uma escola.
Apesar da aparência decadente, Jack notou pequenos sinais de atividade recente – pegadas na poeira do chão, uma janela remendada com tábuas novas e marcas de pneus frescas no asfalto rachado. Esses indícios sugeriam que o lugar ainda poderia ser usado esporadicamente.
Decidido a investigar, Jack forçou a entrada por uma porta lateral parcialmente aberta. Dentro, o ar era denso com o cheiro de mofo e papel velho. As salas estavam cheias de cadeiras viradas, mesas cobertas de poeira e materiais escolares espalhados. Em um canto, ele encontrou um quadro-negro com resquícios de anotações, um lembrete fantasmagórico das aulas que ali ocorriam.
Ao explorar mais a fundo, Jack encontrou uma sala de reuniões no porão, onde viu cadeiras arrumadas em círculo e uma mesa central com documentos e panfletos sobre questões trabalhistas e educação pública.
Enquanto examinava os documentos, Jack sentiu uma leve vibração mágica no ar. Seus instintos lhe diziam que havia uma presença de cainitas naquele local. Ele encontrou símbolos e runas discretamente desenhados nas margens de alguns papéis, indicando que alguns membros do grupo tinham conhecimento de práticas ocultas.
De repente, Jack ouviu passos suaves se aproximando. Ele se escondeu nas sombras enquanto uma figura entrava na sala. Era uma mulher de meia-idade, com uma expressão determinada e olhos que brilhavam com uma inteligência afiada. Ela carregava um livro antigo, que Jack reconheceu imediatamente como um grimório. Eles trocaram olhares, e ela percebeu sua presença.
- Eu sabia que alguém viria - ela disse calmamente
- Você está procurando por respostas, assim como nós. Mas essa noite se aproxima de seu fim, e não haverá tempo para falarmos tudo que precisamos. Volte amanhã no início da noite e então examinaremos essas questões.