Jack Mostrom

2 de Março de 2023


A noite caiu sobre Gary e envolveu na escuridão o bairro Aetna, incluindo a abandonada Aetna Elementary School, permanentemente fechada.

Ali era o covil de Jack Mostrom, e o centro do domínio do Tremere, área recém-conquistada pela Camarilla após a investida contra os Anarquistas

Jack Mostrom tinha poucas recordações, mas sabia que era um Membro da pirâmide da Casa Tremere. E embora o clã não fosse mais o que já tinha sido, ainda desfrutava de uma grande reputação dentro da Camarilla. Após a reorganização da Camarilla, Jack imaginava ser o único tremere restante em Gary, e estabeleceu-se num dos bairros chave para a cidade.

Aetna era um bairro no nordeste da cidade, ao sul de Miller Beach e a leste da Rodovia Interestadual65. Em 2000, o bairro tinha uma população de 4.942 habitantes, 83% negra e 11% branca.  Aetna faz fronteira diretamente com Miller Beach ao nordeste, mas é separada dos bairros de Emerson e Pulaski a oeste pelo corredor industrial ao longo da Interestadual 65, e da cidade de Lake Station ao sul e leste pela planície de inundação do Rio Little Calumet. Aetna é dividida do bairro de Miller Beach pela Rota 20.

O parque habitacional de Aetna era dominado por pequenas residências unifamiliares, com 89% de ocupação e 66% de ocupação pelos proprietários pelo censo 2000. Os preços das moradias em Aetna estão significativamente abaixo da média da cidade. Isso contrasta com as casas na vizinha Miller Beach, que estão entre as mais caras da cidade. Essas condições eram um campo de caça bem razoável para Jack.

O tremere podia fazer o que quisesse naquela noite de 2 de Março, mas sabia que teria que na noite seguinte teria que comparecer à audiência marcada pela nova Príncipe, a hecatha Valentina Albertini, em seu Elísio provisório, o Galpão 13 na zona portuária.

Nas ruas de Aetna, à noite, Jack Mostrom encontrava um bairro tranquilo, mas com sua própria aura de decadência e escuridão. A área era povoada por pequenas residências unifamiliares, e a maioria dos habitantes parecia se manter afastada das ruas durante a noite.

Enquanto ele perambulava pelas ruas, ele pôde identificar algumas coisas. A noite em Aetna era silenciosa, com pouca atividade humana visível. A maioria dos moradores provavelmente estava em suas casas, tentando passar despercebida durante a noite. As ruas estavam quase desertas, com poucos carros ou pedestres. Jack podia se mover com relativa facilidade sem ser notado. A iluminação pública era mínima, e a escuridão da noite envolvia o bairro. Isso proporcionava ao Tremere uma vantagem, já que sua visão noturna aprimorada como vampiro lhe permitia enxergar melhor do que os humanos na escuridão. Jack podia ver as pequenas casas e seus habitantes, alguns deles ainda acordados em suas residências. Ele sabia que essas casas representavam sua caça em potencial, mas a maioria parecia ignorante da presença do vampiro.

Jack se sentia sozinho e isolado nas ruas de Aetna, como se estivesse separado do mundo dos mortais e do mundo dos vampiros. A solidão e a sensação de deslocamento eram seus companheiros constantes.

Enquanto Jack continuava a explorar o bairro, ele podia escolher se envolver com os mortais locais, buscar informações úteis ou seguir seu próprio caminho, mantendo-se vigilante em relação a possíveis ameaças noturnas. Aetna era um lugar onde ele podia encontrar alimento, mas também um local onde podia encontrar respostas para suas perguntas sobre o clã Hecatha e o que aconteceu com a Camarilla em Gary.

Jack Mostron estava ciente de sua posição, mas sua presença era um lembrete constante de seu direito sobre aquele território noturno. Ele não era conhecido por sua paciência ou tolerância, especialmente quando se tratava de intrusos em seu domínio.

Ele olha fixamente para as sombras que se aproximavam, os olhos brilhando com uma intensidade que não era apenas humana.

Houve um súbito tropel de várias pessoas correndo, afastando-se rapidamente dele, enquanto as sombras se mesclavam com as luzes bruxuleantes dos postes elétricos do lado de fora, na rua.

Jack poderia persegui-los e descobrir quem eram. Ou poderia ignorá-los e começar a se ocupar de seus próprios interesses.

O que ele faria?

Jack moveu-se graciosamente com a espada em punho, preparado para flagrar qualquer indivíduo problemático invadindo seu refúgio.

Ele percorreu o perímetro durante um longo tempo, checando todos os possíveis esconderijos.

Não havia ninguém mais ali.

Quem quer que tenha estado ali, escapuliu rapidamente antes de confrontá-lo.

Num bairro decadente como aquele, onde os jovens não tinham grandes perspectivas de estudo ou emprego, parecia bastante provável que fosse algum adolescente vagabundeando pela noite.

Mas também havia a possibilidade de que fosse um dos muitos inimigos do Principado.

Ou mesmo alguém de seu passado.

De qualquer forma, Jack não iria descobrir aquilo nessa noite.

E mais da metade da noite já se fora, sem que ele tivesse feito algo definido. O Sol logo romperia a noite, em questão de horas. Qualquer ação dele deveria ser bem cronometrada para garantir um retorno seguro ao seu não tão seguro refúgio.

Jack Mostron caminhava pelas ruas silenciosas do bairro Aetna, durante as últimas horas da madrugada. 

O ar estava pesado com a umidade e o cheiro de ferrugem e decadência. A luz da lua se filtrava através de nuvens escuras, lançando sombras longas e distorcidas nas fachadas dos prédios abandonados. A lua cheia lançava um brilho pálido sobre o bairro, realçando as sombras das construções abandonadas. O silêncio era quase total, quebrado apenas pelo som de seus passos e pelo vento que assobiava através das janelas quebradas. O vento soprava suavemente, fazendo os detritos dançarem pelo chão. 

Jack estava determinado a encontrar a Associação de Professores de Gary, mas Aetna tinha poucas escolas, e ainda menos prédios administrativos. A coisa mais parecida que ele encontrou foi uma unidade da TCU - Teacher´s Credit Union, que estava sendo renomeada para Everwise, mas já fechada àquela hora da madrugada.

Os edifícios ao redor dele eram relíquias de uma era industrial passada. Grandes armazéns de tijolos, muitos com janelas quebradas e portas de ferro enferrujadas, se erguiam como gigantes adormecidos. Grafites cobriam quase todas as superfícies acessíveis, algumas obras de arte vibrantes e outras simples marcações territoriais de gangues locais. As ruas eram um labirinto de asfalto rachado, com ervas daninhas crescendo entre as fissuras e lixo espalhado pelos cantos.

Jack passou por uma fábrica desativada, cujas enormes chaminés se destacavam contra o céu noturno. O silêncio era perturbadoramente denso, quebrado apenas ocasionalmente pelo som distante de uma sirene ou o latido solitário de um cão. Ele sentia a presença de almas perdidas e espíritos inquietos, traços de antigas vidas que pereceram aqui, agora apenas ecos de dor e desespero.

Num beco, ele avistou uma fogueira improvisada ao longe, onde alguns moradores de rua se reuniam em torno do calor. Suas faces eram sombras, mal iluminadas pelo fogo, conversando em murmúrios quase inaudíveis. Eles não notaram Jack, que passou silenciosamente, sua figura misturando-se com as sombras.

Enquanto caminhava, Jack sentia a energia sobrenatural do lugar. Os Tremere tinham uma sensibilidade especial para esses sinais, e ele percebia resquícios de rituais antigos, talvez feitos por praticantes que, como ele, buscavam poder e conhecimento nas forças ocultas. Uma igreja abandonada chamou sua atenção – suas janelas de vitrais quebrados refletiam a luz da lua de maneira fantasmagórica. O cemitério ao lado, com lápides cobertas de musgo e estátuas de anjos com asas partidas, exalava uma aura de tristeza e mistério.

O silêncio foi interrompido pelo som de pneus chiando. Um carro antigo passou devagar, faróis cortando a escuridão. Jack observou enquanto ele desaparecia na curva, deixando novamente o bairro mergulhado na quietude.

Jack continuou sua caminhada, sentindo-se atraído por um prédio específico. Ao se aproximar, ele notou símbolos arcanos gravados discretamente na pedra, um sinal claro de que este lugar tinha uma importância especial para os que conheciam os segredos ocultos. O lugar era um edifício antigo e imponente. As letras desbotadas acima da entrada indicavam que fora uma instituição educacional. A escola estava abandonada havia anos, com janelas quebradas e portas de ferro enferrujadas. O letreiro, quase ilegível, sugeria que o local poderia ter sido um centro de atividades comunitárias ou uma escola.

Apesar da aparência decadente, Jack notou pequenos sinais de atividade recente – pegadas na poeira do chão, uma janela remendada com tábuas novas e marcas de pneus frescas no asfalto rachado. Esses indícios sugeriam que o lugar ainda poderia ser usado esporadicamente.

Decidido a investigar, Jack forçou a entrada por uma porta lateral parcialmente aberta. Dentro, o ar era denso com o cheiro de mofo e papel velho. As salas estavam cheias de cadeiras viradas, mesas cobertas de poeira e materiais escolares espalhados. Em um canto, ele encontrou um quadro-negro com resquícios de anotações, um lembrete fantasmagórico das aulas que ali ocorriam.


Ao explorar mais a fundo, Jack encontrou uma sala de reuniões no porão, onde viu cadeiras arrumadas em círculo e uma mesa central com documentos e panfletos sobre questões trabalhistas e educação pública. 

Enquanto examinava os documentos, Jack sentiu uma leve vibração mágica no ar. Seus instintos lhe diziam que havia uma presença de cainitas naquele local. Ele encontrou símbolos e runas discretamente desenhados nas margens de alguns papéis, indicando que alguns membros do grupo tinham conhecimento de práticas ocultas.


De repente, Jack ouviu passos suaves se aproximando. Ele se escondeu nas sombras enquanto uma figura entrava na sala. Era uma mulher de meia-idade, com uma expressão determinada e olhos que brilhavam com uma inteligência afiada. Ela carregava um livro antigo, que Jack reconheceu imediatamente como um grimório. Eles trocaram olhares, e ela percebeu sua presença.

- Eu sabia que alguém viria - ela disse calmamente - Você está procurando por respostas, assim como nós. Mas essa noite se aproxima de seu fim, e não haverá tempo para falarmos tudo que precisamos. Volte amanhã no início da noite e então examinaremos essas questões.

Jack se levantou e começou a se mover silenciosamente pela cemitério, seus sentidos em alerta máximo. A mulher permaneceu onde estava, observando-o desaparecer nas sombras. 

Mostron correu de volta ao seu único refúgio na cidade, mesmo sabendo que ele tinha sido, intencional ou acidentalmente, violado no início da noite. Pelo menos por mais um dia teria que servir para protegê-lo do Sol.

Lá dentro, ele encontrou o canto escuro onde estava seu esquife, em que poderia se esconder durante o dia. A escuridão era total, com apenas um pequeno feixe de claridade de uma luz elétrica que penetrava através de uma fenda na pedra iluminando seu ataúde. 

Ele se deitou, encostando-se contra a parede fria, a espada ainda firme em sua mão.


5 de Março de 2023

Assim que o Sol se pôs, Jack despertou, percebendo que seu telefone tilintava com uma mensagem pendente.

Era da Príncipe Valentina Albertini.

"Preste atenção! Estamos sob ataque! O Clube Arcadia está consumido por um incêndio ainda não controlado! Não temos notícias de Rosalinda Bianchi! Certifique-se de sua segurança pessoal! O Elísio está sob forte segurança, mas só venha para cá se seu deslocamento for seguro! Informe sobre seu estado atual assim que possível!"

Jack Mostron, determinado a estabelecer um novo refúgio no cemitério, se preparou para deixar a cripta onde passou o dia. Ele recolheu seus tomos e pertences pessoais, embalando-os cuidadosamente. A noite estava fria e silenciosa, com o ar carregando o cheiro úmido de terra e decomposição.

Saindo do abrigo, Jack se moveu rapidamente e silenciosamente pelas sombras. As ruas de Gary estavam desertas, a única iluminação vindo de postes de luz espaçados, lançando longas sombras que ele habilmente utilizava para se esconder. Ele mantinha todos os seus sentidos alertas, atento a qualquer sinal de movimento ou ameaça.

O cemitério surgiu à sua frente como um grande campo de túmulos e monumentos, cercado por um muro de pedra parcialmente em ruínas. Jack atravessou o portão enferrujado que rangeu ao ser aberto, um som que ecoou pelo terreno silencioso. As lápides, algumas antigas e desgastadas, outras mais recentes, criavam um labirinto de pedras e sombras.

Jack caminhava com cuidado, suas botas pisando suavemente na grama úmida. Ele passou por mausoléus ornamentados e túmulos simples, buscando um local adequado para estabelecer seu novo refúgio. O cemitério parecia um mundo à parte, onde o tempo parou e a quietude era quase palpável.

Depois de explorar várias áreas, Jack encontrou uma cripta antiga e relativamente intacta. O mausoléu de pedra tinha portas de ferro pesadas, parcialmente cobertas por trepadeiras. Ele empurrou as portas com esforço, o som metálico ressoando no silêncio. O interior era escuro, mas seus olhos de vampiro rapidamente se ajustavam à falta de luz.

Jack colocou seus pertences cuidadosamente dentro da cripta. Ele escolheu um canto escuro e seco para os tomos e itens pessoais, organizando tudo de forma que possa acessá-los facilmente. Ele encontrou algumas velas e fósforos em um dos nichos e as acendeu, a chama tremeluzente lançando sombras dançantes nas paredes de pedra.


Enquanto se instalava, Jack fez algumas descobertas intrigantes. Nas paredes da cripta, ele encontrou inscrições antigas e símbolos que pareciam pertencer a algum tipo de ritual ou culto antigo. Seus conhecimentos místicos conquistados juntos do clã Tremere lhe diziam que este lugar tinha uma história sombria, possivelmente relacionada a práticas ocultas.




Lá fora, o vento soprava suavemente, balançando as árvores e sussurrando entre as lápides. Jack ouvia o som como um lembrete constante de que, embora estivesse momentaneamente seguro, a cidade de Gary continuava sendo um lugar de perigos e mistérios. Ele sabia que a tranquilidade do cemitério era apenas temporária e que logo teria que enfrentar os desafios que a noite lhe reservava.

Jack emergiu da cripta com passos silenciosos, deixando para trás o refúgio que acabara de estabelecer. A noite estava avançada, e a escuridão era sua aliada enquanto ele se movia com fluidez através do cemitério, suas botas mal tocando o chão. O vento cortante carregava o odor de folhas secas e terra úmida, mas Jack não se incomodava. Ele estava focado em seu destino: o local onde encontrara a vampira na noite anterior.

As ruas desertas de Gary pareciam desoladas, ainda mais mortas do que de costume. Os prédios em ruínas e as fábricas abandonadas lançavam sombras longas e sinistras, como se a própria cidade estivesse sussurrando seus segredos a Jack. Ele manteve-se nas sombras, cruzando becos e ruas paralelas, evitando as áreas iluminadas. Suas mãos, instintivamente, mantinham-se perto de sua espada, pronta para qualquer eventualidade.


Finalmente, Jack chegou ao lugar onde havia encontrado a vampira na noite anterior, uma ruína onde a escuridão era tão densa que parecia engolir qualquer vestígio de luz. O lugar estava exatamente como ele se lembrava: paredes grafitadas, o cheiro de lixo fermentado no ar, e a presença persistente de decadência urbana. No entanto, algo estava diferente. A sensação de antecipação que ele carregava consigo se dissipou quando ele percebeu que não havia ninguém lá.

O local estava deserto. Jack parou, seus olhos percorrendo cada canto escuro, cada sombra suspeita, mas nada se movia. Ele escutou, aguçando seus sentidos vampíricos, mas tudo o que ouviu foi o sussurro do vento e o som distante de metal enferrujado batendo contra alguma superfície. A mulher não estava ali, e não havia sinais de que alguém estivesse esperando por ele.

Jack, ainda desgostoso pelo encontro perdido, se voltou para o trabalho mais imediato que tinha em mãos: as inscrições antigas. Ele retirou o bloquinho de notas e sua caneta, acendeu a lanterna do celular e começou a capturar o máximo de detalhes possível. As paredes e sarcófagos da cripta estavam cobertos com símbolos complexos, inscrições em línguas antigas, e figuras que pareciam espreitar do passado, envoltas em mistério.

Conforme passava a lanterna pelos símbolos, Jack começou a notar padrões. Alguns dos desenhos eram familiares de seus estudos como Tremere, mas havia algo mais antigo, algo que ele sabia que ia além dos conhecimentos rotineiros de sua linhagem. Ele via inscrições que mesclavam elementos de rituais de sangue, invocações e símbolos que pareciam invocar um poder de escuridão, mas de uma natureza mais primitiva e profunda.

Não demorou muito para que ele percebesse que a língua ali gravada era uma mistura arcaica de latim e sumeriano, com elementos de outras línguas esquecidas. As frases, à primeira vista, falavam de aprisionamento e sacrifício, palavras que evocavam um poder antigo. Jack, com seu conhecimento fragmentado dessas línguas, conseguiu entender o suficiente para saber que estava lidando com algo perigoso. As menções à “Sombra Voraz” e ao “Guardião do Sepulcro” pareciam se repetir, mas sem um contexto claro. O que ele decifrava, por ora, era superficial e enigmático.

Entre as palavras, havia menções veladas a um ser aprisionado. As inscrições falavam de um poder sombrio contido nas profundezas de algum lugar próximo a Gary. Não estava claro onde exatamente, mas havia referência a um lugar de "terra corrompida", uma “prisão” que parecia existir fora do alcance dos mortais. Os textos pareciam sugerir que um grupo antigo, talvez cultistas ou uma ordem esquecida, havia selado essa entidade usando um complexo ritual de sangue.

Parecia que o selo estava enfraquecendo com o passar do tempo, e as menções a sacrifícios sugeriam que o ser poderia ser libertado se certas condições fossem atendidas.

Algumas partes das inscrições também continham avisos.


Esse era o tipo de alerta que aparecia repetidamente, como se quem tivesse deixado aquelas palavras quisesse desesperadamente evitar que alguém cometesse um erro fatal.

Ao final daquela noite, Jack sabia que estava apenas arranhando a superfície do mistério. Ele tinha algumas respostas vagas, mas ainda muitas perguntas. Havia algo antigo e maligno, algo que estava selado, mas cujas barreiras estavam enfraquecendo. O que ele sabia era o suficiente para deixá-lo inquieto. Gary, já uma cidade decadente, parecia esconder algo muito mais perigoso em suas entranhas.

Com seu bloco de notas repleto de rabiscos e as fotos armazenadas no celular, Jack se levantou. Ele precisava de mais tempo, de mais estudo, e possivelmente de alguém que pudesse ajudá-lo a decifrar o resto. Por enquanto, o mistério permaneceria latente.

Jack, após uma longa noite de descobertas e inquietações, sabia que o amanhecer estava próximo. O tempo para reflexão e estudo havia se esgotado, e agora era hora de se preparar para o dia. Ele olhou para a cripta ao seu redor, aquela morada temporária, e a sensação de paz que havia sentido antes lentamente retornava enquanto se organizava para seu repouso.

Preparando-se para o dia seguinte, primeiro, ele escondeu cuidadosamente suas anotações e o celular dentro de espaços decorativos vazios, certificando-se de que tudo estivesse protegido. Pegou alguns tecidos velhos e esfarrapados que encontrou pelos cantos da cripta e os usou para cobrir as aberturas de onde a luz poderia eventualmente entrar, embora o corredor do mausoléu fosse bastante escuro. A cripta, embora desgastada pelo tempo, era profunda o suficiente para garantir proteção contra o sol, mas Jack não gostava de arriscar.

Ele arrastou a pesada tampa de pedra de um dos sarcófagos parcialmente, o suficiente para que pudesse se acomodar dentro. Assim que se deitou, sentiu o peso frio da pedra acima de si, abafando qualquer ruído externo. O silêncio absoluto, cortado apenas por suas próprias reflexões, foi tudo o que o cercou enquanto ele lentamente fechava os olhos — não para dormir e sonhar, mas para entrar em torpor inerte. Aquele breve momento entre o fechar dos olhos e a total entrega à letargia vampírica sempre trazia um tipo estranho de paz.


Segunda-feira, 6 de Março de 2023

Na noite seguinte, Jack despertou com a mesma quietude que havia sentido ao entrar em torpor. Sentiu o peso da pedra acima de si e, com um movimento fluido, empurrou a tampa do sarcófago, permitindo-se sair. O frio da cripta era reconfortante, uma lembrança de sua natureza morta. Ele se levantou lentamente, os sentidos se ajustando à escuridão da noite e à umidade do lugar.

Imediatamente, a Fome voltou a atormentá-lo. Era uma sensação constante, um incômodo que ele sempre carregava. A necessidade de sangue, embora controlada, era como um zumbido incessante no fundo de sua mente, o único incômodo pessoal que poderia atrapalhar suas pesquisas arcanas. Jack sabia que precisaria caçar naquela noite. Não podia se permitir fraquejar.

Seus pertences estavam exatamente onde deixara mas não havia mais mensagens nem chamadas perdidas da Príncipe. Ele não tinha informações de como estava a cidade naquela noite, mas também não tinha obrigações junto à Camarilla.