A DIVINA CORTE E A SAVANA
Os elfos que agora residem no reino recluso de Ios têm suas origens em Immoren oriental, onde esse povo tinha uma relação especialmente íntima com seus deuses. As lendas élficas não contradizem os mitos de criação dos menitas ou dhunianos, mas, ao invés disso, se mantêm distantes. A relação próxima entre os elfos e seus criadores permitiu que a civilização élfica crescesse rapidamente. Embora os elfos não sejam anteriores à humanidade, a civilização élfica se espalhou por Immoren oriental e atingiu níveis elevados antes dos humanos dominarem a agricultura ou a construção básica.
As lendas mais antigas dos elfos não falam da criação do mundo, mas sim da Divina Corte de Lyoss que surgiu em um reino espiritual chamado de “a Savana”, tido por teólogos humanos como uma área isolada de Urcaen. Em meio à Savana, o palácio Lyoss foi erguido para abrigar essas divindades e seus servos criados por elas. Esses deuses — oito ao todo — são associados aos ciclos de passagem do tempo. A origem desses deuses foi atribuída a uma união entre o sol e outros corpos celestiais, como as luas. Os deuses élficos trabalharam juntos para garantir a segurança de seu reino e para construir um domínio duradouro em meio à vastidão. Eles chegaram a uma hierarquia baseada em seus respectivos poderes e capacidades.
A primeira deles e líder dos deuses era Lacyr, a Narcissar das Eras. Ao seu lado, estava o Incissar das Horas, Ossyris — descrito como consorte e corregente. A guerra que essas divindades travavam com as bestas primordiais além dos seus domínios é demostrada pelos títulos assumidos pelos deuses — Ossyris também era o Soberano do Confl ito e o General de Lyoss. Os próximos na hierarquia divina eram Ayisla e Nyrro, ela como a Nis-Arsyr da Noite, assim como a Vigia dos Portões de Lyoss, e ele como o Arsyr do Dia, Senescal e Guardião do Conhecimento. Eram encarregados da vigilância, alternando o dia e a noite. Os últimos eram os quatro deuses das estações: Scyrah, Nis-Issyr da Primavera e Curandeira dos Deuses; Lurynsar, Issyr do Verão, Mestre em Armas de Lyoss e Chefe dos Batedores; Lyliss, Nis-Scyir do Outono, Assassina da Corte e Mestre dos Venenos; e Nyssor, o Scyir do Inverno e Grande Artífice.
Era Lurynsar, cuja responsabilidade era observar as terras distantes a partir da Savana, que notou as almas mortais que entravam na vastidão remota. Relatando essa descoberta a Lacyr, a Narcissar das Eras seguiu as origens dessas almas de volta a Caen. Lá, ela testemunhou a barbárie da existência mortal. Vendo os desafios e tribulações sofridos por aquelas criaturas de vida curta, ela ficou impressionada com como as dificuldades fortaleciam sua inefável essência espiritual que, por sua vez, fortalecia os deuses aos quais elas estavam ligadas. Ela ficou ciente da ecologia das almas e viu como sua corte poderia se aproveitar da criação de uma raça voltada para a sua adoração.
As lendas élficas insistem que sua criação foi um refinamento pelo qual as formas cruas e bestiais de outros mortais foram superadas por suas próprias formas, à medida que os Lacyr se comprometiam com o nascimento exaustivo da raça élfica. Scyrah foi a parteira desta gênese, e assim como ela, cada uma das divindades também teve o seu papel, ligando as vidas da sua criação aos ciclos das estações e à passagem do dia e da noite pela sequência das horas.
Os elfos que nasceram do trabalho de Lacyr possuíam longevidade maior, esclarecimento e outros dons que as raças anteriores não tinham. Os elfos se espalharam por Immoren oriental e provaram sua superioridade em relação às outras criaturas que buscavam prosperar por lá. Quando Lacyr estava certa de que sua criação tinha a qualidade que buscava, ela apareceu para eles e forneceu a sabedoria da Divina Corte, oferecendo os segredos arcanos necessários para que eles superassem seus rivais.
KHARG DROGUN E OS GRANDES PATRIARCAS
Os anões de Rhul possuem seu próprio mito da criação. Os anões acreditam que sua carne descende diretamente dos deuses, que foram seus progenitores reais e literais, os Grandes Patriarcas. Eles foram criados em um local chamado Kharg Drogun, que é traduzido como “A Terra Abaixo”. Teólogos humanos consideram que esta é outra forma de descrever Urcaen, similar à Savana.
A origem dos Grandes Patriarcas está na montanha viva e divindade chamada Ghor, a maior e mais alta montanha de Kharg Drogun, que era mais alta do que qualquer pico em Caen. Este deus-montanha tinha um poder enorme e uma maldade bem enraizada. Por seu tamanho e abrangência, era imune a tudo que andava, voava ou nadava. Mesmo assim, Ghor era solitário e buscava distrações naqueles que poderiam se maravilhar e apreciar sua majestade. Ele buscou em seu interior, tirou treze dos melhores cristais de sua essência e os esculpiu em formas que o agradassem, pretendendo usá-los como escravos. Ghor os prendeu em algemas e ensinou às criaturas nascidas da pedra que elas deveriam obedecer ou seriam engolidas e desapareceriam, sem formas.
Os treze escravos criados por Ghor foram criados com mãos habilidosas e olhos atentos. Sabiam tudo que havia para saber sobre moldar a pedra e o metal. Ghor queria que eles construíssem um grande monumento a sua glória imortal. O que Ghor não percebeu era que eles não eram escravos sem mente, mas cada um tinha dentro de si uma centelha divina. Quase simultaneamente, os treze começaram a sonhar com a liberdade.
Os nomes dos treze escravos que se tornariam os Grandes Patriarcas são: Dhurg, Dohl, Dovur, Ghrd, Godor, Hrord, Jhord, Lodhul, Odom, Orm, Sigmur, Udo e Uldar. Cada um, em seu tempo, comprovaria o domínio sobre tarefas específicas e estabeleceria seu próprio destino. Nos primeiros dias, eles eram definidos apenas pela opressão de Ghor e pelos grilhões que os prendiam.
Enquanto trabalhavam para construir o grande monumento, os treze descobriram uma verdadeira paixão pelo trabalho em pedra e metal e um perfeccionismo que não permitiria nada menos do que seu melhor, apesar do ódio que sentiam pelo seu mestre. Eles trabalharam por anos, construindo o tributo mais glorioso que poderiam imaginar para imortalizar a divindade-montanha. Mas, quando o apresentaram para Ghor, a montanha cruel zombou da sua realização e desencadeou um terremoto destruidor, que rachou a terra e engoliu sua obra. Ghor exigiu que eles começassem de novo, e que o fizessem melhor.
Sabendo que as reclamações de Ghor eram infundadas, os treze limparam as fundações e começaram a nova construção, trabalhando durante décadas para criar uma obra que fosse inquestionavelmente superior. No fi m do trabalho, eles começaram a amar sua nova criação. Mas mesmo isso não foi sufi ciente para o tirano Ghor, que pulverizou sua obra e exigiu que construíssem novamente. Os treze entraram em desespero. Mais do que a escravidão, eles não aguentavam a visão de sua obra destruída.
Foi Orm, que um dia se tornaria o patrono da construção e da marcenaria, que reuniu seus irmãos e desenvolveu um plano para destruir Ghor e, portanto, se libertar. Eles apelariam para a vaidade da divindade-montanha e encontrariam uma forma de construir algo que ele não poderia destruir. Godor, que se tornaria o patrono dos oradores, foi recrutado para propor a Ghor uma torre tão alta que tocaria o céu da Terra Abaixo — a única dificuldade era que tal feito de engenharia exigiria materiais extraídos do próprio corpo de Ghor.
Ghor ficou fascinado com a ideia e permitiu sua execução. Dohl, que se tornaria o patrono da mineração, liderou os esforços dos treze, usando seu talento com a picareta e a pá e seu conhecimento sobre pedras. Ghrd, que se tornaria o patrono da riqueza, mostrou uma afinidade por seguir os veios de minérios preciosos e descobrir bolsões de cristais. Os treze começaram a tarefa com todo o seu orgulho e criatividade, executando feitos de engenharia mais avançados do que tudo que já havia sido visto.
Enquanto isso, os treze mineravam um labirinto de cavernas dentro de Ghor, extraindo a melhor pedra e os mais ricos veios de metal. Lodhul, que se tornaria o patrono dos banquetes, distraiu Ghor ao organizar grandes reuniões de suplicantes, enquanto seus irmãos enfraqueciam a divindade-montanha por dentro, preparando a queda da montanha. À medida que Ghor se tornava mais oco e fraco, a torre ficava mais alta.
Incontáveis estações se passaram enquanto os treze se comprometiam com seu trabalho e a torre se tornava a maravilha prometida, subindo até arranhar o céu. A divindade-montanha estava paralisada e se deleitando com a adoração dos pedintes que apareciam para louvar a construção, que ele assumia como sua. Jhord e Odom, patronos da espionagem e dos segredos, ouviram e aprenderam tudo que podiam sobre os mais profundos segredos de Ghor, assim como sobre o mundo além da sua prisão.
Finalmente, os treze concluíram seu trabalho. Assim que assentaram a última pedra na última torre, colocaram seu plano em ação. Eles estilhaçaram as colunas abaixo da montanha, começando a implosão de Ghor. O ruído trovejante pôde ser ouvido por toda Kharg Drogun, à medida que a vida imortal de Ghor desaparecia em uma nuvem de poeira e pedras. Quando o ruído terminou, a maior montanha de Kharg Drogun jazia desmoronada, transformada em colinas tranquilas, perto do monumento que duraria mais do que ela. Essa era a Torre de Ghorfel, símbolo dos Grandes Patriarcas e coração do domínio dos deuses rhúlicos.
Assim que Ghor caiu, monstros enormes da periferia de Kharg Drogun invadiram, tentando tomar as terras para eles próprios. O Grande Patriarca Dovur forjou armas para confrontá-los, enquanto Uldar forjou armaduras para proteger seus irmãos. Dhurg, Hrord e Udo pegaram, respectivamente, machados, espadas e martelos para guerrear e proteger suas fronteiras.
Após ter lutado para conseguir uma era de paz, o Grande Patriarca Dohl — que estava minerando abaixo das ruínas de Ghor — descobriu um abismo infinito. Informando seus irmãos sobre isso, e se sentindo tomados pela curiosidade, os Grandes Patriarcas viajaram através dele e emergiram em Caen, a terra dos vivos. Ao testemunhar a proliferação da vida, eles foram inspirados a deixar sua marca no mundo, assim como a encontrar companhia para sua existência fraternal solitária.
Mesmo que tenham nascido da pedra, eles buscaram encontrar seus pares na terra e, assim, reuniram lamas ricas e férteis ao longo do Rio Ayeres, que fluía para aquilo que se tornaria o Lago Braçada-Funda entre os Picos de Vidro, e, dessa terra, moldaram as Esposas de Barro. Elas se tornariam as matriarcas do povo de Rhul, já que os Grandes Patriarcas e as Esposas de Barro deram à luz os primeiros anões, nos dias lendários do início do mundo.
Por um tempo, os Grandes Patriarcas e as Esposas de Barro viveram entre os primeiros clãs anões, que tiraram seus nomes dos seus progenitores divinos. Os Grandes Patriarcas passaram o conhecimento e sabedoria que adquiriram durante e após sua escravidão. E, mais importante, os Grandes Patriarcas entregaram os Éditos pelos quais suas vidas deveriam ser governadas.
Eles incluem os aspectos básicos da cultura anã: • O Édito da Autoridade, que define a hierarquia familiar no clã.
• O Édito da Construção, estabelecendo a importância dos ofícios e da construção.
• O Édito dos Duelos, descrevendo o direito de resolver conflitos através do confronto físico.
• O Édito das Rixas, com leis para conflitos maiores entre os clãs.
• O Édito dos Juramentos, que define a importância das promessas em juramento.
• O Édito da Posse, que dá a cada anão o direito de possuir o que eles criaram, negociaram, receberam gratuitamente ou venceram através de um duelo ou rixa justa.
• O Édito da Unidade, obrigando os anões a se unirem contra as ameaças externas.
A partir desses primeiros Éditos fundamentais, nasceu o Códice, que se tornaria o corpo legislativo do povo de Rhul, sendo o único registro ininterrupto que persistiu desde os tempos ancestrais até os dias modernos. O Códice e seus Éditos se tornariam não apenas a fundação da sociedade rhúlica, mas também o texto sagrado pelo qual a sabedoria dos Grandes Patriarcas seria preservada.
Os Grandes Patriarcas sabiam que precisavam voltar para Kharg Drogun, que deixaram desprotegida. As Esposas de Barro partiram com eles e, assim, os progenitores dos anões desceram nas cavernas abaixo da terra para voltar à Terra Abaixo, nunca pisando novamente em Caen. Seu legado estava garantido pelos prósperos clãs anões, começando com os treze mais diretamente associados a cada um dos Grandes Patriarcas, assim como pela proliferação de clãs menores que se desligaram dessas primeiras famílias para estabelecer dinastias entre os Picos de Vidro.
Os Grandes Patriarcas eram lembrados pelo povo que eles criaram em missas e orações. Cada alma tinha a promessa de um lugar em Kharg Drogun após a morte, onde eles se juntariam aos Grandes Patriarcas na Torre de Ghorfel em uma eternidade dedicada ao refinamento de seu ofício.
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