Delvar - Shmul

Kiror acena com a cabeça.
- Sim, ouvi falar das historias... Badur Powderkeg tem ânsia pelo poder, e aos poucos vai galgando posições no Conselho. Infelizmente parece-me que para os anões de hoje o que vale é o dinheiro e o poder. Por isto que resolvi deixar Stoneholme.

O dono da estalagem chama Beghila, que já esta com a roupa de atendente. Logo ela traz o pedido de Delvar e Elisie, assim como de seu pai, que decide fazer companhia.

Ao ver o convite e o camafeu, Kiror coça a barba.
- Provavelmente os ladrões furtaram de Sir Steko... Um bom... meio-orc, este nobre. Normalmente não vou com as caras com humanoides, mas este senhor é Galense de alma. Faz um tempo que não vem por aqui, mas sei onde mora.

Os três almoçam tranquilamente, falando sobre amenidades. Delvar percebe que Beghila passa muitas vezes por sua mesa, dando piscadelas ocasionais, o que irrita Elisie enormemente.
- Espero que tenham gostado da comida, minha esposa sabe preparar um leitão que é uma beleza! – diz ao final. Ele bate no ombro de Delvar. – Gostei de vocês dois, e gostaria que se hospedassem aqui no Raposa. Tenho um quarto nos fundos vago, vou cobrar a metade do preço pela estadia de vocês dois. O que acham?

Elisie cutuca Delvar com o pé por baixo da mesa, fazendo um discreto sinal de não com a cabeça.

- Caso passemos a noite por perto, aceitaremos de bom grado seu quarto vago. – Delvar se levanta com as mãos na pança, extremamente satisfeito e um pouco alcoolizado – sua senhora cozinha muito bem, Kiror, e seu hidromel é de excelente qualidade.

Delvar pega seus pertences e mira Beghila com um sorriso - Espero voltar mais vezes aqui para desfrutar de companhias tão agradáveis – e então se volta para a raposa empalhada - e para que possa me contar a história desta raposa.

Novamente Delvar observa o convite e o camafeu, e então os guarda na mochila – Poderia me informar aonde encontrar este tal Sir Steko, Mestre Kiror?

Finalmente Delvar toma o rumo da saída e brada bem alto – Até mais ver, Kiror! Até mais ver, Beghila! Que Fenrir os guarde.

Beghila devolve o sorriso, chega bem pertinho do anão e diz:

- Sim, voltem mais vezes! E pense com carinho na oferta do meu pai, vão se sentir como se estivessem em Stoneholme aqui na taverna da raposa.

Kiror passa as direções ate a mansão de Sir Steko, e bate amigavelmente em seu ombro.

- Que Fenrir guie seus passos, e sua forja nunca esfrie!

Do lado de fora da estalagem, Elisie resolve abrir a boca.
- Mas que inferno, Delvar, não acredito que voce esteja pensando em voltar para aquele lugar! Esta Beghila é in-su-por-tá-vel! Não é a toa que os tios Thimon e Thelmar eram solteiros, ouvir tagarelices o dia inteiro realmente faz com que qualquer anão queira virar aventureiro e sair de casa! – diz, pisando forte no chão.

Ela respira fundo e coloca as mãos na cintura, ainda visivelmente com raiva.
- E então, vamos para a Guilda ou vamos fazer uma visita para Sir Steko? Pelo menos não posso reclamar de que faltem coisas para fazer por aqui.

- Como você gosta de resmungar, garota! Beghila é uma anã muito educada e atenciosa... além de bonita... e cheirosa... enfim... e seu pai é um anão muito honrado! – disse retrucando.

- Penso que devemos encontrar esse Sir, informar que o convite estava nas mãos de malfeitores e averiguar se o camafeu lhe pertence. O que acha?

Elisie arregala os olhos com as palavras de Delvar.
- Educada, atenciosa, bonita? Cheirosa? – diz, e se aproxima do anão para olha-lo nos olhos. Ela bate na sua própria testa – Ah não, só me faltava esta! Que Shadowlady me carregue, para ter que aguentar isto!

Depois de esbravejar e chutar um cachorro que passava por ali perto, já mais calma ela se dirige a Delvar.
- Sim, vamos falar com este Sir Steko, que eu preciso de um pouco mais de ação para animar o meu dia...

Ambos caminham pelas ruas de União um bom pedaço, até chegar na zona residencial dos nobres. Os mesmos são parados no portão de acesso ao bairro por dois guardas.
- Digam seus nomes e o que vieram fazer aqui. Devem deixar suas armas aqui. As armas serão devolvidas quando saírem do bairro nobre – diz um deles.

Delvar tentava conter o riso e retrucou - Qual o seu problema, minha adorável Elisie? Não posso me interessar por uma anã?

Estava quase gargalhando quando Elisie chutou o cachorro - Ei, o pequeno animal não tem culpa de nada. - Delvar não estava bravo, mas foi até o cachorro que estava desnutrido e ferido da vida nas ruas e oferece um pouco de carne seca, além de um cafuné.

Volta sua atenção para Elisie:
- Um pouco mais de ação? Vamos apenas visitar o tal nobre e não espanca-lo. - Ri.

Ao retomar o caminho para a zona nobre, o Anão assovia para o cachorro na esperança deste os acompanhar.

Quando indagados pelo guarda:
- Nos chamamos Delvar e Elisie Powderkeg. Viemos para nos encontrarmos com Sir Steko. Temos um objeto que talvez lhe pertença, além de informações importantes. – disse já se mobilizando para deixar seu armamento. – Muito cuidado com Delcenora – se referindo ao machado – Ela me é de muita estima.

Após deixar suas armas ele aguarda a reação de Elisie. O anão continuava com o escudo em suas costas.

Delvar e Elisie entregam as armas e prosseguem caminho. Porem nem dão dois passos para adiante que são chamados novamente pelos guardas.
- Cães de fora não são permitidos. Ele tem que ficar aqui.

Delvar e Elisie percebem que era o cão que ela tinha chutado e que estava acompanhando eles.
- Este não é nosso cão, é um vira-lata imun... – diz Elisie e se vira para o anão, logo balançando a cabeça – Ta de brincadeira, que hoje voce tirou o dia pra me irritar, hein? Afe, eu mereço. Só vou te perdoar porque voce me chamou de Powderkeg, barrilzinho!

Os dois caminham até chegarem no portão da mansão de Sir Steko. Depois de anunciarem a que estavam por ali, são convidados a entrar e esperar no jardim. O mesmo esta repleto de estatuas e diferentes tipos de arvores e plantas, com uma fonte na parte central.
- Nossa, algum dia quero ser rica assim como ele... Mas estas estatuas são muito cafonas, quebraria todas elas e colocaria outras no lugar – comenta a garota.

- É mesmo? Pensava que eram de bom gosto... – diz alguém, a voz vindo de tras de uma arvore. Logo ele se revela, um meio-orc forte, de feições marcantes e duas presas que despontam pela boca. Uma figura imponente, vestindo armadura e portando uma espada longa.



Elisie faz uma careta e ligeiramente se põe atrás de Delvar.

O anão analisava as estatuas enquanto Elisie resmungava.

Quando do aparecimento do indivíduo armado, Delvar fica atento aos seus movimentos, preparado para agir e proteger Elisie:
- E você seria Sir Steko? – Delvar olha desconfiado para o meio-orc – O que fazia atras das árvores e armado?

O meio-orc finca sua espada na grama macia do jardim e observa fixamente o anão e a humana.
- O que eu visto ou deixo de vestir no jardim da minha casa diz respeito só a mim – responde Sir Steko, de maneira seca. Ele continua fitando os dois com a expressão fechada por alguns segundos, ate que ele explode em grande gargalhada – Hahaha, ficaram com medo de mim, não foi? Normal, todos acham que meio-orcs vivem somente em tendas nas montanhas, procurando a próxima vila a ser saqueada, e não os culpo por pensar assim, é assim que muitos ainda agem.
Elisie da um suspiro e acena com a cabeça.

Sir Steko beija a mão de Elisie.
- Meu nome é Steko, nomeado Sir por minhas atuações nas batalhas do Grande Muro. Quem são e o que desejam?

Delvar não foi com a cara do meio-orc, mesmo sendo “brincadeira”. Se pudesse quebraria, no mínimo, o nariz deste Sir, mas isso poderia trazer muitos problemas.
- Me chamo Delvar, e esta é Elisie. Venho lhe devolver este broche, e informar que encontrei um convite de uma festa sua nos pertences de bandidos do Clã da Víbora. Então, é melhor ficar de olho bem aberto.

Procura entregar rápidamente os pertences e ir embora.
- Vamos, Elisie, já perdemos tempo demais.

Sir Steko recebe com surpresa os pertences, mas Delvar estava com muita pressa, puxando Elisie pela mão.
- Ei, por que a pressa, esperem! Onde encontraram isto? – diz o meio-orc. Ele segura o braço de Elisie, que fica como se fosse uma corda de um cabo de guerra.

A garota olha para o meio-orc e para o anão, desesperada.
- Sir Steko, poderia me soltar um instantinho? Deixa eu conversar com meu tio... – ela diz, se desvencilhando do meio-orc. Ela vai até do lado de Delvar e cochicha. – O que aconteceu? O cara ta cheio da grana, pode ate rolar uma recompensa! Ta bravo por que?

Delvar cochicha de volta:
- Eu bravo? Será porque ele tem sangue de orc nas veias. Porque ele é um imbecil, e estava nos espreitando de trás das árvores e armado. Oras, se o lugar é seguro, porque ele anda com armadura? Vai me dizer que é a casa dele e que ele pode usar o que quiser? Ele pode, mas depois não quer ser comparado com seus parentes que vivem em tendas nas montanhas!? Se estava armado, que viesse com sua espada embainhada e que viesse pela piso pavimentado onde poderia ser avistado de longe. - o anão ignorou a pergunta de Sir Steko.

Elisie ouve a explicação de Delvar e acena com a cabeça. Ela se volta para Sir Steko e diz:
- Vou ser direta ao ponto. Encontramos estes pertences quando enfrentamos uns ladrões da Guilda da Serpente. Como somos pessoas direitas, viemos entrega-los ao senhor, mas como fomos muito mal-recebidos, estamos indo embora. Não queremos nada do senhor, e passar bem!

Sir Steko olha firme para Elisie e Delvar, e acena com a cabeça.
- Perdoem-me se os insultei, não foi minha intenção. O convite e o camafeu me são muito importantes, e por terem trazido para mim, agradeço. Não tenho costumes nobres, mas sei reconhecer quando estou errado. Estou em debito com o senhor e a senhorita – diz, e então se retira.

Do lado de fora da propriedade, Elisie põe as mãos na nuca e espreguiça.
- Pois é, estava curiosa para saber quem era aquela mulher no camafeu, mas se este não é o nosso caminho, paciência. Apesar de amedrontador, Sir Steko não parecia ser de todo o mal. Ele até beijou minha mão, me senti uma lady!

- Passar bem! – respondeu o Anão já caminhando em direção a saída.

Foram seguindo em direção a Guilda dos Aventureiros, e se preciso fosse paravam e perguntavam a direção do estabelecimento.
- Pois não me amedrontou em nada. Quanto maior o inimigo, melhor! Não que ele seja inimigo, mas... se preciso fosse, colocaria o tal Sir “Esterco” pra correr – Então gargalhou com seu trocadilho.

Elisie dá um soco no ombro de Delvar e da uma risada.
- Esta piadinha foi infame mas gostei... Mas que merda o senhor fez, Sir “Esterco”! Hahaha!

Depois de pegarem seus pertences na guarita, ambos vão em direção da Guilda dos Aventureiros. Em breve eles chegam em frente de um estabelecimento bem grande, com uma fachada finamente acabada, feita com granito e madeiras de lei.

Ao entrarem pelas portas duplas, vem que o interior esta ocupado por uma gama bem variada de aventureiros: orientais de Ling-Xao, humanos de Rabiah, elfos de Lennorien, magos, feiticeiros, clérigos... Estavam mesmo raças nunca vistas antes por Delvar e Elisie, como umas mulheres-gato e meio-gigantes de 4 braços. De fato o mundo de Phantasya era bem maior que imaginavam.



Elisie vai andando até o balcão de informações, onde belas moças trabalhavam no atendimento.
- Em que podemos ajudar? – diz uma delas.

Observava curioso as varias raças nunca antes vistas.
- Isso daqui tá me lembrando a sopa do Thimon. Ele misturava todas as sobras de carne e legumes e tacava no fogo. Pelo menos ficava gostosa a sopa. – riu.

Delvar acompanhou Elisie até o balcão e retrucou a atendente:
- Lhes devolvemos a pergunta, senhorita. Em que podemos ajudar? Somos aventureiros!

A atendente da uma risadinha com o gracejo de Delvar.
- Hihi, engraçadinho – diz, e aponta para um mural localizado próximo – lá estão alguns pedidos para missões, vejam se tem algum que necessite mais de sua ajuda... Se encontrarem algum que tenham interesse, retornem aqui para fazermos um cadastro. As missões também são classificadas por dificuldade, fiquem a vontade!

Elisie cutuca Delvar.
- Então esta é a evolução do velho “vamos a taverna onde vamos encontrar alguem necessitado e fazer o bem e ganhar um dinheiro”? Não sei não, isto me faz perder toda minha ilusão do bom e velho aventurismo.

A atendente alça os ombros.
- Pois é, as aventuras são um ótimo negocio, o cliente fica contente, o aventureiro fica contente. Não ia demorar muito tempo até alguém resolver fazer dinheiro com isto.

- Um maldito mural vai me passar uma aventura? Malditos atravessadores! Aposto que o dono desse lugar é um gnomo. – passa os olhos rapidamente pelo estabelecimento imaginando encontrar um gnomo, que pela estranha lógica do anão seria o dono da Guilda - Obrigado pela informação.

Ainda que ache um gnomo, ele volta sua atenção para o mural e vai até ele pegando um folheto aleatório para ler.
- Vamos ver...

Delvar procura por algum gnomo por ali, e encontra vários. Alguns estão conversando, outros jogando cartas, outros acabando de chegar na Guilda.

O anão volta sua atenção para o mural e começa a ler os folhetos...

Mas espera ai... Tinha acabado de entrar um gnomo que há muito tempo não via, amigo de infância e peripécias... Tainsa!



NRPG: Continua no topico Aventura 1. Schmul, postar resposta no tópico Aventura 1.

INTERLUDIO

Nos dias após o encontro com o mago Laeroth na Grande Biblioteca, o anão aventureiro Delvar esteve muito ocupado com uma grande variedade de tarefas. O trabalho na forja de Adriaan e no templo da deusa Fenrir de União consumiam bastante tempo e energia. Já era hora de relaxar um pouco!

Delvar, depois de dizer a Elisie que iria visitar a estalagem de Kiror, “A raposa esperta”, teve que escutar a caminhada inteira ao matraquear incessante de sua companheira acerca dos defeitos de Beghila. “Eu sinceramente não sei o que voce viu nesta anãzinha sem sal, e tinha muito mais coisa para fazer hoje, inclusive meus treinos de espada, mas como voce insiste em vir visitar a estalagem, tenho como obrigação te acompanhar para que evite fazer alguma besteira”, disse a guerreira, em um tom quase maternal.