Elmon - Thalion

Elmon não dá atenção ao homem gordo que estava lhes incomodando, sem nem olhar nos olhos dele o druida segue tomando sua cerveja.

- Não o encare Redris, todos esses anos na floresta me ensinaram que para alguns tipos de animais, tudo o que você precisa fazer para irem embora é ignorá-lo. - Falou para Redris ignorando a presença daquele homem, mesmo sabendo que ele conseguia o ouvir claramente.

OFF:

off:

A resposta de Elmon serve somente para irritar o gordo, que bate com força seu punho na mesa de madeira, fazendo a mesma estremecer com o golpe. Logo todos que estavam no salão param de conversar e passam a olhar para os três.
- Animal, animal? Voce esta me chamando de animal, estranho? – vocifera o careca bigodudo, que estava encarando o druida nos olhos.

- Calma, calma, pessoal! Não vamos criar confusão! – diz Agnus, que já estava se pondo entre os dois – Não está vendo que a garota ali já esta comprometida? Por que não tenta sua sorte com as outras damas do recinto?

Redris fica vermelho com a menção a sua pessoa, enquanto as outras damas do recinto se escondem, com medo de serem percebidas pelo gordo. Isto o deixa ainda mais irritado. Ele empurra o bardo, fazendo com que tenha que ser seguro pelos fregueses para não cair.

- Isto não interessa mais! Ele me chamou de animal! E quero resolver minhas contas com ele aqui! – diz Gill Svenson, batendo nas mãos em forma de punho.

Elmon continua ignorando o gordo por um tempo, mas vê que a situação começava a sair do controle, talvez o dia cansativo deixou o meio elfo irritado, trouxe más lembranças, e acabou dando uma resposta ruim, já mais calmo o druida vira-se para o gordo e o responde.

- Desculpe-me senhor, não foi isso que quis lhe dizer, sou um druida e gosto de animais, e a sua aparência forte e imponente me lembrou um. Não queremos confusão, desculpe pelo mal entendido, é que a moça aqui fica constrangida em situações como essa, apesar de sua aparência forte, sei que você não quer constrangê-la. - Tentou uma abordagem mais calma, talvez pudesse evitar alguma briga desnecessária elogiando o homem.

A mudança no discurso de Elmon tira o norte de Svenson, que ao esperar uma atitude violenta por parte do druida, fica perplexo ao ouvir um pedido de desculpas. O gordo coça a sobrancelha, olha para Elmon de cima para baixo, então da uma risada estrondosa e o abraça:
- Hahaha, sim, minha aparência é como a de um urso, não é todo mundo que consegue ver que na verdade eu sou muito gente boa! – diz, e pede para encherem seu caneco de cerveja. O momento de expectativa em torno de uma briga se vai, e todos os demais voltam para suas conversas e afazeres.

Gill Svenson pega uma cadeira e senta-se a mesa de Elmon e Redris, tomando um enorme gole de cerveja e limpando a boca com a mão. Ele aponta para Agnus, que ao ver que o perigo já tinha passado, tinha voltado para sua performance no palco.
- O bardo disse que a moça já esta comprometida... Faz muito tempo que vocês estão juntos? Posso garantir que a ruiva não se decepcionaria com Gill Svenson – diz, batendo com a mão no peito.

Redris da um olhar rápido para Elmon, como se pedisse sua ajuda. Ele então diz:
- Sim, já estamos há muito tempo juntos, 4, 5 anos... Não é verdade, Elmon? Não quer contar pra ele como a gente começou?

Elmon não esperava que o homem fosse se sentar com eles, agora teria que inventar mais histórias, mas pelo menos se livrou de uma briga desnecessária, ele faz um sinal para encherem seu caneco novamente, ia precisar de muita bebida para suportar aquela noite.

- Sim, vai fazer cinco anos em menos de um mês, realmente já faz muito tempo, mal vi o tempo passar - Vendo o desespero no olhar de Redris, Elmon deu continuidade a história dele, provavelmente seria muito vergonhoso tudo aquilo, mas era o melhor a se fazer - Eu tinha acabado de sair pelo mundo atrás de aventuras quando a encontrei, ela estava em perigo, lutando sozinha contra vários homens que a cercavam, assim que vi a situação eu corri para socorrê-la, mas engano meu achar que ela precisava, sozinha ela deu conta de todos que cometeram o erro de se meter com ela, e ali eu não resisti, uma mulher forte como ela acabou ganhando meu coração imediatamente... Mulheres fortes é um gosto pessoal meu - sorriu nessa última parte, um pouco envergonhado - E foi isso, a partir daí uma coisa foi levando a outra e aqui estamos nós.

Redris acompanha a historia de Elmon com interesse, acenando com a cabeça para confirmar sua fala. Por sua vez, Gill Svenson ouve incrédulo, puxando as pontas de seu bigode. Ao final da narrativa ele olha para a ruiva, e depois para o druida, com as sobrancelhas arqueadas. Ele da um risadinha sarcástica, e diz bem alto, para todo mundo ouvir.

- Pois bem, então se é verdade tudo isto, não tem nenhum problema vocês dois se beijarem aqui! Afinal de contas, em 5 anos já devem ter feito muito mais do que isto! Quero ver um beijo de lingua!

Todos no salão dão gargalhadas, e um coro começa: “Beija, beija, beija!”

Redris fica vermelho como um pimentão, acompanhando a cor de seu cabelo. Ela olha para os lados, e depois para Elmon, com cara de sem-graça, sem saber o que fazer.

O druida foi pego de surpresa com a pergunta, por um momento ficou tenso e seu coração acelerou, olhou para Redris por um momento, seu medo era visível pela cor vermelha em seu rosto, apesar de Elmon não ter uma boa ideia do que fazer, ele mais uma vez tenta resolver a situação.

- Desculpa meu amigo, mas somos pessoas tímidas, preferimos não fazer essas coisas aqui na frente de tanta gente, principalmente com tanta gritaria. - Ele pega no braço de Redris - A conversa foi boa, mas já estou cansado de tanta movimentação, eu vivi muito tempo na floresta, ainda não me acostumei com tanta agitação, se me der licença eu vou me retirar com minha mulher, aproveite a sua bebida e divirta-se.

Elmon se levanta com Redris e tenta se retirar, torcendo para não ser impedido pelo gordo.

Para decepção de Elmon, o gordo não se deu por satisfeito. Ele se levanta e se põe na frente dos dois, afinando o bigode com a ponta dos dedos.
- Estou achando que vocês estão mentindo para o bom e velho Gill Svenson, e Gill Svenson não gosta de pessoas mentirosas. Se é a sua mulher, qual o problema de dar um beijo de amor? Prometo que não vou mais incomodar vocês se derem um beijo, palavra de Gill Svenson!

Gill põe a mão em sua grande cintura, aguardando. O salão fica em silencio, todos na expectativa do que virá a acontecer.

- Por que eu deveria provar algo para você? Lhe conheci hoje e não lhe devo satisfação alguma, agora eu vou me retirar, como quero fazer, e você pode aproveitar o resto da noite como você quiser também. - Fala Elmon já sem paciência com o gordo, e volta a andar para seu quarto normalmente, em último caso teria que resolver com uma briga.

Elmon responde irritado para o gordo e acompanhado de Redris vai em direção a saída do salão. O druida porem sente seu braço sendo seguro por Gill, e se vira para confronta-lo, o olhar furioso dos dois se chocando. O meio-elfo estava preparado para as ultimas consequências.

Porém subitamente seu olhar é desviado forçosamente para outro lugar. Era Redris, que segurava sua cabeça com suas duas fortes mãos. A face feminina daquela ruiva de olhos verdes o fitava com uma expressão seria. Então rapidamente a distancia diminui e seus lábios se tocam, o de Elmon e o do jovem Redris.

No breve espaço de tempo daquele beijo, o druida, pego de surpresa, nota a diferença de altura entre os dois, concluindo ser Redris um palmo maior que ele. E que sua força também era maior, sentindo a pressão em que estava sendo submetido por aquele súbito abraço. E também havia um calor, aconchegante, da proximidade com suas formas femininas, sendo as de Redris bem generosas. Era algo estranho, mas ao mesmo tempo muito bom.

E tão rápido como começou, terminou. Sem dizer nada, Redris se afasta, cobrindo o rosto e indo em direção das escadas. Elmon sente um pesado tapa nas costas.

- Hahaha, estas mulheres! Se fazem de difíceis, mas tem um verdadeiro fogo! Homem de sorte! – exclama Gill, que volta para a bancada para beber.

O resto da estalagem volta para seus afazeres, exceto pelo bardo Agnus, que permanece boquiaberto olhando para Elmon.

Elmon fica paralisado com o que acabara de acontecer... queria proteger Redris de algo daquele tipo, já que apesar do corpo de mulher por dentro ainda era o Redris homem, mas parece que ele conseguiu superar este problema.

Apesar da situação estranha o beijo foi bom, era de se esperar considerando a mulher em que ele se transformou, deixando a cabeça do druida ainda mais confusa. Ele começou a seguir pelas escadas lentamente, a cada degrau um pensamento diferente passava pela sua cabeça, não sabia se deveria voltar para o quarto depois disso, pois Redris ainda podia estar constrangido pelo que teve que fazer, era um rapaz tímido e uma situação como essa deve lhe causar muita vergonha, ainda assim o druida resolveu seguir para o quarto, aquilo não foi nada demais, apenas a forma mais rápida de resolver a situação, além disso não podia voltar para onde o gordo estava.

Elmon avança pela escada, degrau a degrau, pensativo, a cabeça a mil. Depois de passar por um longo corredor, chega ate o salão comunal, onde estavam dispostas as varias camas do dormitorio, uma ao lado da outra.

No outro extremo do salão, podia ver que Rafik, o elfo das areias estava sentado em sua cama em posição de relaxamento, as pernas cruzadas uma sobre a outra, seus olhos brancos abertos. Ao se aproximar, viu que Redris estava deitada em sua cama, embaixo do cobertor, o rosto virado para o outro lado. Estava imóvel, será que já estava dormindo?

Rafik então se levantou, e silenciosamente chamou Elmon para um canto. O elfo de cabelos prateados então sussurrou:
- Aconteceu alguma coisa, Elmon? Redris veio correndo pelo salão e se atirou para debaixo das cobertas. Não vi seu rosto, estava cabisbaixo, mas parecia meio transtornado. Não perguntei nada porque não queria incomodar. Voce sabe me dizer o que esta acontecendo?

- Não aconteceu nada de mais - Respondeu Elmon tentando não dar mais importância ao que havia acontecido - Só deve ter sido cansativo o dia para ele, e ainda tinha um gordo nos incomodando. Ele só deve estar com sono, deve ter ido dormir e ao acordar voltará a sua forma original, e nossa única preocupação vai ser caso alguém estranhe ter entrado uma mulher e saído um homem.

O elfo das areias olha para a cama onde estava Redris, e parecia que de fato ele estava dormindo. Rafik então inicia a falar algo, mas pára, balança a cabeça, e então diz:
- Deve ser isto mesmo. Bem, creio que o melhor a fazer é aguardar o sol raiar e partir daqui o mais rápido possível.

***

Todos então se ocupam a sua própria maneira, e logo a manhã chega com os primeiros raios de sol. Redris ao se levantar já estava transformado em sua forma masculina franzina, logo preparando suas coisas para partir. O grupo desce então para o salão, onde acerta suas despesas com o estalajadeiro Eron. Eron coça a barba ao ver Redris, mas não comenta nada, apenas agradecendo a todos pela estadia no “Estrela Negra”.

Proximo da mata Elmon chama seu lobo com um assobio, e após alguns minutos de espera ele logo aparece. O druida, seu lobo, Redris, Rafik e o bardo Agnus retomam então sua jornada em direção da capital de Gália, União.

Durante a caminhada Agnus tocava as melodias novas que tinha aprendido durante sua estadia no Estrela Negra, enquanto Rafik e Elmon falavam sobre amenidades. Porém Redris se mantinha cabisbaixo, andando sem conversar com ninguém. Nem as tentativas de Agnus em anima-lo estavam surtindo efeito.

O bardo então se junta a Rafik e Elmon. Ele ajeita o chapéu estiloso em sua cabeça e diz:
- Então Elmon, parece que o Redris ficou meio estranho depois daquele beijo que ele deu em voce. Aconteceu alguma coisa depois que vocês subiram? Preciso saber, a historia de vocês dois pode fazer muito sucesso nas tavernas e estalagens em que eu for cantar!

O elfo das areias volta seu olhos brancos para Elmon.
- Em nome dos ancestrais, que historia é essa de beijo?

Elmon passou suas últimas horas na estalagem deitado, refletindo sobre o que havia acontecido, e que Redris estava estranho após isso, e mesmo depois de saírem da estalagem e seguirem seu caminho para União, ele parecia ainda mais cabisbaixo e estranho. Inicialmente o druida acreditava que seria algo que se resolveria com o tempo, não tinha com o que se preocupar, mas conforme andavam ele via Redris ainda estranho mesmo com Agnus tentando animá-lo.

Então o bardo se aproxima deles e faz uma pergunta, Elmon se assustou, pois imaginava que não precisariam mais comentar sobre aquilo, muito menos contar para Refik também.

- Aquilo não foi nada demais, Redris só achou que era melhor fazer aquilo do que começar uma briga naquele lugar, ele só foi uma pessoa sensata.

Elmon começava a pensar que o problema tinha sido mais sério, e tentaria falar com Redris quando tivesse a oportunidade, um assunto difícil, mas se as coisas seguissem assim o druida não via outra escolha.

Vendo que aquela conversa parecia deixar tanto Elmon como Redris constrangidos, Rafik se deu por satisfeito e continuou seu caminho.

O grupo então prosseguiu em sua viagem, mas ela estava longe de ser tranquila. Depois de alcançarem o topo de uma colina, os heróis veem o que sobrou de um ataque a uma caravana. No pé da colina estão um amontoado de carroças viradas, e fumaça saindo de algumas delas. Corpos de homens e cavalos estão espalhados pela estrada, junto com o que sobrou da pilhagem dos bens que a caravana levava. Conforme observam, uma revoada de corvos desce sobre os destroços, a procura dos cadáveres.

Por hora o assunto do beijo havia sido esquecido, e seguiram calmamente sua viagem, até que em certo ponto eles encontram o que sobrou de um ataque, parecia um ataque brutal, não pouparam vidas, nem mesmo dos cavalos, isso perturbavam o druida. Ele vira-se para o grupo para saber o que eles acham que devem fazer, não queria simplesmente ignorar algo desse tipo.

- Que coisa perturbadora, é quando vejo coisas assim que sinto falta na vida na floresta, e lembro o porque me afastei das pessoas.

Em seguida ele chama seu lobo para perto e pede para ele farejar o local, talvez ele possa encontrar algo importante no meio dos destroços.

Rafik, que estava ao lado de Elmon, concorda com seu comentário. “Apesar de ter visto muitos saques nas minhas andanças pelos desertos de Rabiah, sempre me causa muita tristeza presenciar tal barbárie. Que os ancestrais recebam as almas dos que se foram,” lamenta.

Embaixo do sol quente, o meio-elfo bardo começa uma elegia triste, enquanto Redris, com um olhar deprimido, permanece sentado em uma pedra, cabisbaixo.

Com o chamado do druida, o lobo se aproxima e late concordando com a tarefa. Ele passa a farejar, perambulando entre os destroços, até que começa a latir mais alto. Havia encontrado algo.

Ao chegarem próximo de uma das carroças viradas, veem que há um homem embaixo da mesma. Trata-se de um homem de meia-idade, com roupas de mercador, rasgadas pelo combate. Está muito ferido, gemendo e clamando por ajuda.

Elmon corre para ajudar o homem ferido assim que ouve ele clamando por ajuda.

- Aqui, me ajudem a tirar esse senhor daqui! - Gritou ajuda para os outros o ajudarem a tirar o homem de debaixo da carroça.

Após ajudar o homem Elmon faz perguntas, buscando entender o que havia acontecido no local e quem os havia atacado.

- O senhor está bem? Pode nos dizer o que aconteceu aqui, quem causou isso?

O grande lobo cinzento de Elmon aguarda a chegada do druida com olhos atentos. Parecia que o homem estava preso nos destroços, e mesmo Elmon forçando não conseguia tira-lo de la. O chamado de ajuda logo tras os outros membros do grupo, que num esforço conjunto conseguem erguer a carroça por um tempo suficiente para que Redris pudesse puxa-lo e coloca-lo em segurança.

O druida se aproxima e faz suas perguntas, e o mercador, de nome Rithero, responde: “Uma emboscada! Malditos! Levaram minha esposa e minha filha, preciso salva-las!”

O homem da um grunhido de dor, e Agnus oferece agua a ele, que bebe rapidamente, mas logo cospe, junto com muito sangue. Rafik aproxima-se, afastando o bardo e tocando no corpo do ferido, que reclama de muita dor.

O elfo das areias volta-se para os outros. “Esta muito ferido, com sangramento interno. Morrerá em pouco tempo, caso não receba alguma cura.”