Penas caiam das asas da coruja, enquanto essa batia as asas para alcançar mais e mais alto, até sumir de vista no céu umbral. Nimue viu-se cercada por penas brancas e brilhantes, mas uma lhe chamava muito mais a atenção: uma pena grande e dourada, que reluzia com uma beleza que Nimue não tinha visto antes. Dentro de si, a Theurge sabia que deveria levá-la como prova do que lhe acontecerá.
A volta tinha sido diferente da ida: Nimue agora desfrutava da habilidade de compreender o que era dito, de entender os sons na umbra, de ouvir as vozezinhas dos espíritos aqui e ali. Era assustador e bonito ao mesmo tempo, pois enquanto caminhava, podia ouvi-los conversando, confabulando e planejando. Era um novo mundo para explorar.
Quando finalmente deixou a Umbra e retornou a Tellurian, Nimue teve sua noção de tempo trazida de volta – graças a posição da lua e das estrelas – e sabia que tinha perdido boas horas em sua pequena peregrinação. Mas o amanhecer ainda não estava perto, bastava apenas retornar a Anciã, agora.
[….]
- O que você fez foi bastante estupidez. Um filhote não desafia um Cliath, entende? – Resmungou Ronny, se sentando por ali, enquanto acendia um cigarro artesanal. Ele observou a Theurge abaixar-se perto de Samuel, enquanto começava a lhe curar as feridas mais graves.
- Mas por qualquer sorte, funcionou, mas você é um Ragabash e tem que ter mais cuidado com algumas coisas. Esse negócio de se jogar de cabeça é coisa de Ahroun sem cérebro, saca? – E era mesmo, quer dizer. Samuel tinha tido sorte de Máni não ser um padrãozão Cria e ter lhe exterminado com um arroto por ter sido desrespeitoso e todo aquele blábláblá que os Tradicionais gostavam tanto de falar.
- De resto, você foi bem, moleque. Agora vamos terminar com isso porque quero comer e beber. Vamos descobrir como vão te chamar, além de suicida. – Deu uns tapinhas nos ombros de Samuel e se levantou.
Samuel sentiu os lugares onde a Theurge tocava com as mãos esquentar de leve e logo em seguida as dores e ferimentos ali terminavam. Ela não pode cuidar de tudo, claro, mas quando a jovem Fianna se afastou, ele já estava 80% melhor, Ronny esperou o garoto se levantar, para seguir em direção a Anciã Theurge do lugar. Havia um pequeno grupo ali, alguns Roedores e alguns curiosos. Quando Samuel se aproximou, um Garou deu um passo à frente, era um Ancião Ragabash, Roderick.
– Seus atos hoje mostram que seu treinamento foi… Quase efetivo. – Disse o Ancião, com um suspirar breve. - Como Ragabash, Samuel, seu caminho é tortuoso e cheio de armadilhas; não somos repletos de Fúria como um Ahroun, ou talentosos com os espíritos como um Theurge, mas trilhamos caminhos perigosos entre o orgulho e a arrogância dos nossos companheiros de matilha. Cabe a nós, mostrar a eles que há mais de uma forma de se lutar.
Ele fez outra pausa, observando os presentes e aqueles que pararam suas comemorações para olhar, o Ancião Ragabash deu espaço para o Philodox, que aproximou-se de Samuel e sujou-lhe a testa com algo, desenhando o glifo dos Ragabash em sua testa. Ele murmurou algumas palavras, iniciando o Ritual.
- Desse dia até quando merecer outro nome, que você seja conhecido como Samuel “Pavio-Curto” Khan, Ragabash Cliath dos Roedores de Ossos. – Samuel sentiu uma pequena e rápida ardência na testa, e quando a tocasse não sentiria mais a tinta que o Philodox tinha usado ali. Ele pode ouvir uivos vindo de todos os lugares – saudando seu nome, seu novo nome – e logo foi puxado por Ronny, que lhe entregou um caneco cheio de algo dourado e cheiroso.
- Agora você está oficialmente fodido igual a todos nós, Pavio-Curto!
[…]
Quando Dimitri se aproximou dos demais Pratas, o filhote Roedor estava sendo apresentado, tinha sido o primeiro a terminar o ritual – o que não era de se surpreender, ao saber seu augúrio – alguns dos Pratas acompanharam os uivos de saudação, outros apenas observaram.
- Você precisa de uma matilha. – Disse-lhe o homem mais velho ali, os olhos no ritual do filhote Roedor. – É lá que seu trabalho será feito, Dimitri. Todos nós precisamos de uma matilha para começar. Já pensou em algo?