[Shadow Secret] Aimee e Sienna

A mulher continuava a mexer no vestido, checando os detalhes e observando medidas – fazia aquilo a tanto tempo que achava que poderia saber o que precisaria ser mudado para caber no corpo da noiva – ela levantou levemente a cabeça quando Sienna saiu daquele jeito, mas não se preocupou muito com o assunto, já que a noiva estava ali. Quando Aimee falou, a mulher olhou para ela, com um sorriso leve no rosto, já tinha sido avisada a respeito da jovem e de como deveria agir.

- Querida Aimee, o que você quer pouco importa. – Falou, movendo as mãos para que Aimee se levantasse da cadeira, não estava mesmo com muita vontade de lidar com uma adolescente birrenta, mas bom, ócios do ofício não era? A mulher gesticulou com uma das mãos para a sala e para todos os vestidos presentes. Todos eles tinham aquele toque de “princesa”, com saias longas e afetadas. - Essas são suas opções, ou você escolhe um ou escolheremos por você. – Concluiu, com um suspirar breve. - Agora vá provar esse. Como eu disse, não temos muito tempo e não queremos gastá-lo com pirraças, não é mesmo?

[…]

Os corredores aos poucos se enchiam de gente que ia e vinha, de decorações que eram levadas ao jardim e de coisas que eram trazidas. A coisa já estava bastante avançada e termos de execução, pois o altar já estava pronto, as cadeiras para os convidados apostas o tapete por onde a noiva entraria colocado, o que faltavam eram toques finais, como arranjos e o bufe.

Sienna teve um pouco de dificuldades para encontrar o pai, no meio daquela confusão, mas lá estava ele, nos jardins, assinando algumas coisas enquanto entregadores iam chegando com caixas e afins.

O homem parecia bastante ocupado, tendo que lidar com várias pessoas ao mesmo tempo, já que muita coisa estava sendo acertada agora. Quando notou a presença da jovem, tentou sorrir, enquanto terminava de assinar mais uma papelada. - Querida, o que está fazendo aqui? Por favor, vá fazer as provas de vestidos, não teremos muito tempo disponível para ajustes. – Falou, sem olhar para ela.

Quanto mais andava pelos corredores da residência, mais nervosa ela ficava. Não era possível que tudo aquilo tivesse sido planejado às pressas nas últimas vinte e quatro horas. Eram detalhes demais, avanços demais. Certo que sua família tinha bastante recursos e prestígio, mas agora Sienna compreendia a tranquilidade de seu pai nos últimos dias. Já estava tudo em andamento. Talvez ele já tivesse até pensado em tudo isso, depois da última vez que Aimee fugiu. E agora Sienna se sentia cumplice de um destino horrível para sua irmã. Além, claro de ser usada. Quando alcançou seu pai, estava quase sem fôlego pelo tanto que correu. O pai logo percebeu a aproximação dela, mas não a encarou, como sempre fazia. Ele já tentava expulsá-la, mas Sienna deu a volta para que ele a encarasse. - Por que? - Perguntou com a voz meio embargada. - Por que o senhor fez isso, papai? - Firmou a voz e ainda tentou se colocar na frente dele. - Desde quando tudo isso foi cogitado e preparado para ela? O senhor não tinha dado mais tempo?

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O homem continuou sua pequena "rotina" de assinar papeis e dar algumas pequenas instruções quando coisas iam chegando. Ele respirou fundo, diante da insistência de Sienna e começou a andar, para continuar a dar instruções. - De fato, tinha. - Concordou o homem, mais focado no que fazia do que no que falava. - Mas Aimee não usou esse tempo sabiamente, querida e infelizmente não podemos mais nos por a mercê dos caprichos e vontades dela. Veja bem onde ela foi parar dessa vez. - Uma pausa para instruir mais alguém, antes de voltar a andar. - Aimee precisa crescer e assumir as responsabilidades de seus atos e assumir seu papel em nossa sociedade.

Alguém se aproximou e cochichou algo no ouvido do homem e esse pareceu levemente atormentado. - Deixe-os passar, e vá chamar Aeron, por favor. - Pediu, voltando a andar. - Querida, você deveria ir provar seus vestidos. - Ele andava em direção da casa, não se importando muito em ser seguido pela filha, apesar de parecer pouco disposto a ouvi-la realmente.

[...]

A mulher deu de ombros, era ainda até mais fácil. Às vezes não compreendia aquelas meninas de famílias riquíssimas. Tinham o mundo aos pés e agiam daquela forma, revirou os olhos de leve, quando Aimee saiu. Aimee não teve muitos problemas para circular dentro de casa, porém assim que pôs o pé para fora, a coisa mudou de figura. Dois sujeitos grudaram nela e prontamente a orientaram que estava proibida de sair dos limites da casa e a seguiram de perto, mas não impediram de que a jovem andasse pelo jardim ou qualquer coisa assim.

Ali, Aimee pode ouvir quando o rádio de um dos seguranças avisou que a entrada do Smirnov tinha sido autorizada e que o carro deles estavam entrando no caminho para a casa.

[...]

Quando o carro preto alcançou a entrada principal, uma música pode ser ouvida a todo o volume saindo do carro, ele manobrou e ultrapassou o portal aberto, sem parar na "guarita" da casa e indo em direção ao local onde os carros ficavam por ali. Quando finalmente foi desligado e o som morreu, as portas se abriram.

Nasthara desceu primeiro, era ela quem estava dirigindo. Vestia-se de modo bastante social, retirou os óculos escuros e jogou dentro do carro. A Russa olhou em volta, sem parecer se impressionar muito com o lugar. Da porta do passageiro saiu Yuri, este estava ainda mais formal que a mulher a ajeitou sua gravata ao sair do carro. O terceiro sujeito desceu logo depois, sendo o menos estilo social do grupo. Eram os mesmos três que ambas as gêmeas tinham visto fora do café, mais cedo.

Alguém os recebeu na porta e os guiou para dentro da casa.

O homem respirou fundo, por um instante. Era um dia cheio, coisas demais estavam acontecendo e ele não estava com a cabeça muito boa para lidar com as reclamações de Sienna. - Esse é um dos problemas, Sienna. - Ele falou, ao mover-se para dentro da casa, para receber os recém chegados. - Ela nunca tem a intenção de fazer nada, mas sempre faz, não é mesmo? Sem pensar nas consequências sobre todos os outros.

Fez uma pausa breve, antes de voltar-se para Sienna. - Não posso, a família não pode mais ficar a mercê das vontades de Aimee. Agora vá provar seus vestidos, tenho que receber os recém chegados. – E voltou a andar indo na direção da sala.

Aimee não teve problemas para ir e voltar e dentro de casa os dois sujeitos não grudavam nela. Os visitantes foram deixados em uma das muitas salas de estar da casa, ela pode espiar atrás de uma das paredes: os três tinham ficado de pé, a mulher observava a decoração com ares de pouco interesse o outro sujeito tinha as mãos no bolso, mas não fazia nada exatamente e Yuri estava com o telefone na mão, parecendo ler alguma coisa.

Seu pai entrou por uma das portas, com Sienna na cola dele. -Yuri! – Anunciou o velho, estendendo a mão. - Há quanto tempo, acho que da última vez que te vi você ainda era um garotinho no cola de Agatha. – Yuri sorriu, carismático como sabia ser e apertou a mão do homem.

- Faz bastante tempo, mesmo. – Falou, indicando os dois ao seu lado. - Nasthara e Vladimir. – Os apertos de mãos foram trocados e toda aquela pomposidade.

- Como está sua esposa e seus filhos? Ainda na mãe Rússia? – Perguntou Seamus.

- Angelique e as crianças estão bem, obrigado por perguntar. – Respondeu Yuri, sem parecer se abalar muito com as perguntas. - Não, ela foi à Dinamarca visitar os pais, mas deve estar de volta em breve. – O ShL não gostava muito de falar sobre a vida pessoal, e isso ficava claro com o modo como suas respostas eram curtas e sem detalhes. Ele olhou para Sienna, meio curioso, já tinha sabido que as meninas eram gêmeas, mas ainda não tinha gravado traços além da personalidade para diferenciá-las.

- Essa é Sienna, uma das minhas filhas, mas ela já está de saída. – Afirmou Seamus, Yuri apenas moveu a cabeça em positivo.

- A verdade é que estou aqui para tentarmos resolver esse pequeno… Problema que se formou entre minha irmã e seu filho. – Yuri deu uma rápida olhada em volta, esperando poder ver Aeron por ali, sem muito sucesso. - Mas acho que não cheguei numa boa hora…?

- Ah, sim. Estamos correndo com os preparativos para o casamento da minha outra filha amanhã. Sua família deve ter recebido um convite. – Seamus indicou que andassem, para irem em direção ao escritório. - Mas acredito que poderemos resolver isso sem problemas, hoje mesmo, nada me deixaria mais contente nesse quesito. – E eles começaram a andar, deixando Sienna e suas reclamações para trás.

Sienna não tinha conseguido uma resposta, na verdade, tudo que tinha conseguido foi um olhar irado do próprio pai, quando ela proferiu aquelas palavras. Estava claro que caso fosse em outro momento, Seamus teria lhe dito algo – e algo não muito agradável -, mas a coisa passou, graças as visitas não muito habituais.

Quando começaram e se conduzidos para fora e depararam-se com Aimee – claro que tinham ouvido antes, mas bom… Pela boa educação, ignoraram – Yuri parecia extremamente plácido, como se nunca na vida tivesse visto a jovem, Seamus tinha o cenho franzido, claramente desgostoso da situação.

- Essa é Aimee. – Disse, indicando a jovem. - Minha filha, também.

- É um prazer, senhorita O’Shea. – Yuri estendeu a mão, apenas para cumprir com as etiquetas exigidas naquelas situações, os outros a saudaram da mesma forma, antes de voltarem-se para Seamus, que finalmente os conduziu para longe das duas jovens, em direção ao escritório, esbarraram com Aeron no caminho, que rumava para o mesmo local e lá as portas se fecharam.

As duas estavam juntas - e "sozinhas" de novo -, agora com ainda mais dúvidas sobre o que diabos estava acontecendo ou o que poderiam fazer a respeito. Aimee continuava sem resposta da mensagem que tinha enviado e Sienna agora tinha ainda mais dúvidas sobre quem realmente era Yuri Smirnov e sua real importância para a família Smirnov. Por que não achava nada dele? Principalmente sobre o tal casamento ou filhos? Onde estavam essas informações? E por que, depois do ocorrido entre ele e Aimee, logo ele tinha sido enviado ali?

Podem seguir com a interação, por enquanto não farei nenhuma intervenção

Sienna meneou positivamente quando Aimee perguntou a respeito do Facebook de Niall. Todos eles tiveram uma infância próxima - elas estudavam num internato feminino em Dublin, mas as férias sempre eram em Wexford ou em algum lugar do mundo que a família e os amigos quisessem ir. Como o pai de Niall era da mesma matilha da mãe delas, todos sempre foram próximos. O problema é que Sienna sempre foi um pouco mais reservada. Apesar de ser bastante sociável e educada, o brilho sempre ficou com Aimee por ser mais solta. A outra gêmea sempre teve um jeito diferente de lidar com as situações - um pouco mais sério, discutindo assuntos que envolvessem conhecimento, música, artes. Era gostoso conversar com Sienna, mas a diversão e as boas risadas ou ideias de brincadeiras ficavam com Aimee. Vale ressaltar que isso nunca a incomodou. Mas ela ainda tinha contato com Niall, mesmo que tivesse diminuído um pouco. Ainda não tinha se mexido para pegar a bolsa quando ouviu a exclamação da irmã acerca de seu noivo. Sienna virou-se, encarando Aimee e piscando lentamente. - Por que não estaria? - Perguntou e deu de ombros. - Nunca quis me apaixonar, Aimee. Sabia que paixão significa dor? É algo perigoso, visceral e nunca fiz questão de sentir isso. Prefiro que ela habite no mundo imaginário, não no meu dia-a-dia. Sempre soube, ou melhor, sempre soubemos que teríamos casamentos arranjados e por que isso seria ruim? Com o prestígio que nosso nome e posição têm, é o pretendente que tem que nos agradar e estar à altura, não o contrário. Deu uma risada meio debochada. - Isso não quer dizer que não acredite em amor, num casamento feliz. Só não acredito que aconteça do dia para noite. - Piscou de novo e esboçou um meio sorriso. - Amor vem com tempo, com convivência. Amarei meu marido, se ele se provar digno disso. Tudo o que desejo, num casamento arranjado, é espaço. Se ele me der espaço e me respeitar, tenho certeza que teremos um bom casamento. Posso ser o porto-seguro de alguém assim. Simples. Mas para Sienna, que nunca tinha se apaixonado por ninguem era fácil acreditar que a paixão nunca passaria perto dela. Nunca tinha sido testada ou colocada diante de alguém que fizesse seu corpo inteiro estremecer e ansiasse por toques, beijos e afins. Talvez o dificil fosse Aimee entender como a irmã conseguia agir daquele modo. Será que não estava nem curiosa? O que Aimee diria se soubesse que a irmã nem perguntou o nome do pretendente? Porém, quando parou pra pensar, Sienna considerou que deveria perguntar ao pai. Assim poderia pesquisar um pouco e saber o que deveria conversar com ele no dia seguinte. Mas deixando esse assunto de lado, por hora, elas voltaram a se focar no drama de Aimee. Sienna fez um bico quando a irmã deu mais importância à família dele do que ao que ela tinha dito. Por isso, ela foi até sua bolsa e pegou o caderno que estava lá. Abriu na página que quis e entregou para a irmã. - Não conheço os Senhores das Sombras o suficiente para dizer se eles consideram tanto a família assim. Mas...Olha isso. Eu tirei prints e enviei para o meu e-mail pessoal. Quando o celular carregar, eu te mostro. - No caderno, havia alguns esboços de um esquema. - Ele se envolveu num acidente, na Rússia, há alguns anos. Três políticos que eram envolvidos com terrorismo,morreram e ele foi dado como um espião. Porém, as provas mudaram e disseram que ele estava no carro que colidiu. Tinha fotos no artigo, não foi uma batida, sabe? Foi uma luta ou um rompante de fúria, do tipo que o Aeron tem quando perde o controle na lua cheia. Sienna contou tudo de uma vez. - Sabe. - Cruzou os braços, vendo a irmã. - Hoje cedo eu disse que o primo Sean era uma das nossas alternativas, mas não a única. Talvez, e o que estou dizendo é bastante arriscado, principalmente considerando nossa casa, mas...talvez... - Mordeu o lábio internamente. - Você devesse contar sua história ao Yuri e perguntar o mesmo que eu perguntaria ao primo Sean. - Sienna se aproximou da irmã, encarando-a fixamente. Como podemos acabar com a reputação, prestigio, vida de um Garou? Talvez ele possa te ajudar a colocar um fim nos seus pesadelos...a fazer...justiça. O que Sienna sugeria, era bastante perigoso. Porque, mal comparando, era como se estivesse traindo a própria tribo. Elas duas sabiam que o futuro sogro de Aimee era um péssimo Garou, um péssimo Presas de Prata, um péssimo representante de Gaia. Mas só elas...Para qualquer outro que não soubesse a história, aquilo seria como se elas estivessem loucas e querendo a ruína da tribo. Mas a ideia veio à mente da irmã. E ela passou para Aimee. O que ela faria com aquelas informações e com a ideia, bom, aí era com ela. Sienna se afastou e foi até o banheiro. Nesse meio tempo, ela poderia trocar as mensagens com Yuri sem a interferência da outra.

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As duas irmãs não iam ser incomodadas em seus quartos, pelo menos não por enquanto, mas podiam ouvir o ir e vir das pessoas do lado de fora da casa, enquanto todos os preparativos estavam sendo arranjados. Sienna tinha suas ideias, cada vez mais se desenvolvendo dentro de sua cabeça. Estava preocupada com a irmã, e então pensou em algo que poderia ser uma solução - ou talvez um grande problema - para a situação em que se encontravam...

As perguntas pairavam cada vez mais: até onde poderiam confiar em Yuri? Até onde o Senhor das Sombras era capaz de ir? E mais ainda: o que ele pediria em troca?

Não sabiam, assim como também não tinham muito mais a perder.

Aimee tinha aceitado o conselho e resolveu arriscar...

Ela digitou, apertou enviar e esperou. Daquela vez a resposta demorou para chegar, mas chegou.

Eu não tenho o costume de me aventurar na merda alheia. A não ser, claro, que eu ganhe algo com isso. Qual seria o prêmio?

E era verdade, Yuri Smirnov não se aventuraria em problemas alheios a menos que esses problemas pudessem, de alguma forma, serem úteis para ele e para sua Tribo. Era uma questão de senso afinal de contas. Pra que você vai tentar carregar mais do que aguenta?

O que Aimee e Sienna estavam tentando fazer era perigoso - para não dizer arriscadíssimo... Mas era um meio, não era? E no final, elas nem estavam tão erradas assim.

Uma coisa por vez, era um bom lema.

Sexo é superestimado, Miss O'Shea.

Respondeu o Senhor das Sombras. E de muitas e muitas maneiras eram, lembrava-se de histórias de impérios que ruíam por conta de mulheres - ou da vontade dos homens de tê-las - e ele não era exatamente um homem que deixaria seu império ruir por um motivo tão... Simples. Tão pouco se arriscaria a qualquer movimento que pudesse lhe gerar represarias - e dormir na cama de Aimee era um desses movimentos.

Sexo era superestimado demais, pensava Yuri.

Quanto a outra parte, essa sim era interessante. Segredos eram bons, principalmente quando não eram os seus. Yuri, dentro da sala se levantou, dizendo que precisava atender aquela ligação, Nasthara poderia muito bem cuidar para lidar com o resto da situação sem ele.

Ele saiu do escritório e deu alguns passos pelo corredor, não tinha noção da arquitetura daquele lugar, mas lembrava-se vagamente para onde Aimee tinha seguido com a irmã, então tomou esse rumo, com cuidado para evitar criados. Ele estava no corredor, quando a jovem Parente deixou o quarto.

- Estou ouvindo. - Disse, puramente.