[Shadow Secret] Aimee e Sienna

Yuri a seguiu para o banheiro, achava uma boa ideia até. Os dois serem vistos juntos confabulando o que quer que fosse não era uma boa ideia. Ele se recostou à pia, e estranhamente desejou um cigarro mais do que nunca: parte de si duvidava que Aimee tivesse alguma coisa realmente grande contra um Visconde – o qual ele ainda não sabia quem era, vale dizer –, mas partia do princípio que precisava ouvir primeiro, julgar depois e ai agir.

Ele ficou em silêncio, enquanto ela se preparava para falar, não expressou qualquer opinião ou reação, aguardando pacientemente, era um sujeito muito paciente, afinal de contas. E então a jovem Parente começou.

Sejamos sinceros. Aquilo não o surpreendeu tanto: claro, o emputeceu, afinal também tinha uma filha e pensar em qualquer sujo colocando as mãos em sua cria lhe despertava certo sentimento de ódio, assim como também tinha irmãs. Mas estranhamente não o surpreendeu, e achava que isso era ruim: a Nação Garou tinha suas falhas, essa talvez fosse uma delas. Yuri controlou-se também para não fazer a pergunta que achava que qualquer um faria naquela situação, e não a fez exatamente por saber disso; sua mulher tinha lhe dito uma vez, durante uma missão que envolvia um assunto semelhante para ele nunca perguntar isso para uma vítima.

Mas ele se perguntava, claro: Por que ela não contou a ninguém?. Sua concepção era simples. Qualquer Theurge ou Philodox recém saído das fraldas poderia verificar a veracidade das palavras de Aimee, ela tinha, literalmente, a faca e o queijo nas mãos. Ela poderia, de muitas e muitas formas, ter destruído o sujeito tempos atrás. Por que tinha se calado?

Os olhos escuros do Senhor das Sombras caíram sobre a Prata, observando-a com alguma cautela. Era uma armadilha? Ela o estava testando para alguma coisa? Não parecia, sinceramente. Aimee teria de ser uma ótima atriz para saber como passá-lo para trás. Como diabos tinha ido parar no meio daquela situação, mesmo? Nádia costumava dizer que ele era um ímã de problemas, bom, talvez ela estivesse certa.

Passou a mão no rosto, coçando a barba por fazer: estava pensando, claro, era o que mais fazia na vida.

- Por que você não quer casar? – Quis saber. Era um fato importante ali. Ele teria menos de 24hs para impedir um casamento Presas de Prata, mas via muitas outras possibilidades. - Excluindo a parte do Visconde. Tem algum outro motivo?

Sua cabeça girava, as ideias vinham uma atrás da outra, precisava falar com a sua matilha, precisava planejar melhor, mas tinha leve noção de como agir, diante das possibilidades.

- Ok. Vou ser bastante realista. – Era o melhor, dentro das opções que tinha. - É bem improvável que eu consiga, sem jogar tudo isso no ventilador, impedir que você se case amanhã. – Bom ele até podia conseguir, mas não gostava de contar com talvez, era difícil trabalhar quando tudo que você tinha era um talvez. Aquela coisa precisaria ter sido planejada, vista e resolvida de uma forma menos… Imediata.

- Mas podemos melhorar muito seu casamento, incluindo o fato de fazer o Visconde sair da casa onde você e seu futuro marido devem morar. – Pausa, pensa, pensa, pensa.

- Veja bem, Aimee. Na sociedade humana, você é uma Condessa, ele é apenas um visconde. Na Nação, você é filha de uma heroína de guerra. – Ele fez uma pausa, esperando que Aimee compreendesse o cerne da questão, que ela chegasse a iluminação que Yuri queria que ela chegasse, mas nesse sentido, ele preferia ir direto ao ponto.

- Como vocês adolescentes gostam de dizer mesmo? Ah, sim, Aimee O’Shea rainha, visconde nadinha. Entendeu? – Aquilo tinha sido retirado de alguma frase da filha, referindo-se a alguma cantora pop que ele desconhecia.

Ele se desencostou da pia, já estava por ali a bastante tempo e podiam desconfiar de alguma coisa. - Não estou dizendo que você vá conseguir com que ele faça tudo que você quer, mas, com certeza, algumas coisas você consegue… O resto, bom, o resto eu consigo arrancar dele. Basta você me dizer o que quer que aconteça com o sujeito. – Respirou fundo, aquele segredo podia ser útil para os Senhores das Sombras na região, ainda mais agora que seu pai era um dos líderes de um dos caerns.

- O problema é: ninguém pode descobrir que eu sei disso, tão pouco que nós dois estamos pretendendo usar isso contra ele, você entende? – Ah, cara, ele esperava que ela entendesse. - Meu conselho para você é: se case e torne a vida dele um inferno. Deixe-o saber que alguém mais sabe e eu vou entrar em cena e então, vamos começar a rui-lo de baixo, até ele mesmo encontrar sua própria destruição.

- A não ser que seus Philodox sejam uns bundas sujas, qualquer um poderia verificar a verdade nas suas palavras, Aimee, eles não chão chamados de Juízes atoa. – Agora, mais do que antes, desejava terrivelmente um cigarro. Aquela história era interessantíssima e o que poderia conseguir com aquilo era ainda mais interessante. Yuri suspirou, dando de ombros.

Ficou observando a jovem, quando ela parou à frente de si, mas não se moveu ou esboçou reação. Ao fim das palavras de Aimee, Yuri riu de leve. - Pode ficar com os dois. – O celular não era importante, era um pré-pago qualquer que não tinha nenhuma ligação com ele. - Só seja esperta e apague as mensagens. – Avisou, mais por ela do que por si, as tinha enviado de outro pré-pago e não poderia ser ligado a si, caso descobrissem o celular de Aimee.

Ele se moveu, para sair, mas parou quando a garota voltou a falar, Yuri virou-se para ela, uma das sobrancelhas arqueadas. Parte de si sentia um pouco de… De piedade por Aimee, por assim dizer. Ela, apesar do comportamento, parecia extremamente inocente, alguém que realmente não tinha vivido e conhecido a vida real atrás das portas de sua mansão. Ele se inclinou, segurando o queixo dela, como se fosse beijá-la, mas ao invés disso, apenas beijou-lhe a testa.

- Você nunca deve confiar num tipo como eu. – Ele falou, afastando-se a abrindo a porta para sair dali e retornar ao escritório.