Enquanto percorria seu caminho para o interior da casa, Sienna ainda controlava a movimentação do brunch. Pôde ver que as mesas estavam bem servidas e passou perto de seu irmão, observando a expressão séria dele. Num instinto puramente fraternal, ela passou a mão suavemente pelo ombro dele e trocou um breve olhar com os companheiros de matilha dele. Eles não se davam tão bem quanto ela e Aimee, mas apesar de tudo, compartilhavam o mesmo sangue. Sienna discordava de muitas e muitas atitudes, mas naquele momento, ela acabou sendo empática o suficiente para ler a expressão dele. Aeron estava com os ombros tão pesados quanto os dela.
Parou por um instante, ainda com a mão sobre o ombro dele, fazendo um carinho discreto e disse que mandaria servir mais aquela mesa. Trocou um meio sorriso - que agora alguns entendiam que não era por felicidade - e seguiu seu caminho. Falou para que um dos garçons reforçasse as bebidas leves e os pratos da mesa de Aeron e ouviu os comentários que os garçons tinham.
Tudo estava sob controle, aparentemente.
Sienna caminhou até a adega, sentindo um pouco de aflição, mas ficou mais aliviada ao encontrar o maitre no meio do caminho. Aproveitou para perguntar se ele tinha uma bebida bem específica, mas, infelizmente, não tinha nada do tipo por ali. Fez uma expressão chateada, mas deixou para uma próxima oportunidade. Pediu, então, para que o maitre deixasse o vinho separado - ela não tinha descido por ele e sim pela outra que tinha acabado de perguntar. Retornaria à festa e, no momento certo, entregaria o presente para Dimitri ou seu tio.
Ao retornar, viu que sua irmã ainda falava com Mayla. Dimitri tinha se afastado e fazia sua refeição completamente sozinho. Achou isso um pouco triste, mas ela como anfitriã, não podia ficar parada por muito tempo. Além disso, as palavras do tio dele estava em sua mente. Não sabia se deveria - ou queria - conhecer mais o russo. Ou melhor dizendo, se queria conhecê-lo de modo mais intimo, no sentido de saber seus medos e receios. A primeira amostragem tinha sido mais profunda do que ela esperava, ainda mais para alguém com quem só teria uma "grande amizade". Mas vê-lo sozinho, incomodava.
Não sabia se ele já tinha uma matilha, imaginava que seria diferente se os companheiros dele estivessem ali. Infelizmente, ela não teve essa informação à tempo.
De todo modo, ela seguiu até Mayla. Não sabia se a Cria já estava cansada ou não dos Presas de Prata daquela família, mas não era certo não falar com ela. Não sabia, por exemplo, se
Aeron tinha falado com ela. Se o irmão tinha falhado nisso, pelo menos ela e Aimee fariam o certo. Sienna aproximou-se da loira, um pouco antes da partida. Caso Aimee estivesse proxima a ela, poderia ouvir.
- Espero que a recepção tenha sido do seu agrado, Mayla. - E agora, olhando de perto, talvez ela pensasse qual das duas tinha sido a menina assustada do café da manhã.
- Desculpe por não ter dado toda atenção que merecia, mas não consegui parar por muito tempo.Suspirou, relaxando um pouco os ombros, mas logo erguendo de novo. Ela a encarou, finalmente, sem nenhum Garou por perto. As duas só tinham se falado quando ela circulou com Dimitri.
- Gostaria de ter dito antes e, mais do que isso, de ter em mãos aquilo que comprovaria o que tenho a dizer. Não tive muitos anos de convívio com minha mãe, ainda era muito pequena quando ela morreu, mas...Lembro-me com perfeição de seus ensinamentos e este foi em relação aos amigos dela. - Que incluía a mãe de Mayla. - Podemos
ter um tipo de vinho para acompanhar cada tipo de comida. Podemos ter champagne, cointreau, whisky, as bebidas mais caras do mundo para impressionar qualquer pessoa. Mas...Nada se compara ao sabor do hidromel dos amigos alemãs e nórdicos. Não é apenas o sabor hipnotizante da bebida, é o momento que ela traz, ao redor de uma fogueira, mesmo nas noites mais frias. Sienna falava com certa emoção, lembrando-se da voz de sua mãe e o modo como ela dizia isso. Tinha sido depois de uma missão com sua matilha mista em união a outras.
- Confesso que em minha posição, eu não consigo entender com plenitude este sentimento, mas...mesmo para uma criança, eu conseguia sentir o quão real eram suas palavras. Ela tinha uma garrafa de hidromel, como presente dos Crias, mas já se foi...Um dia espero que eu possa ter outra para oferecer a você, num brinde para dias melhores. Mesmo sendo pessoas diferentes do que nsosos ancestrais foram, nosso sangue é o mesmo. E os ensinamnetos ficaram, pelo menos pra mim. Obrigada por ter vindo, principalmente por ter vindo com sua família, Mayla. Finalizou, fazendo uma suave mesura, abaixando o olhar e a cabeça por um instante. Em seguida, a encarou de novo e esperaria por sua reação.
[...]
Depois das respostas, Sienna cumpriria sua tarefa e seguiria até Dimitri com a garrafa de vinho. Como não tinha encontrado o tio dele de novo, ela entregou diretamente ao rapaz. Até porque, quem tinha feito aquele gesto gentil tinha sido ele mesmo.
- Você me pegou de surpresa esta manhã com o seu presente, por isso não consegui pensar em algo mais elaborado. Porém, tenha certeza de que este presente tem as mesmas boas inteções do seu. É um vinho dos Bettencourt, numa parte da família que fica no sul da França. Percebi que você gosta bastante de carnes, se soubesse, estaria com algum que combinasse. Mas hm...Esse até que vai, é tinto. Espero que você goste. Entregou a ele a bela garrafa.