Darenda respira com força sentindo aquele agradável cheiro de água salgada. Além do sal, o cheiro tinha um gostinho de liberdade também.
Não que sua vida fosse ruim, muito pelo contrário, sua infância e adolescência foram felizes e até bem intensas. Mas ela já tinha adiado um pouco demais sua independência. E era hora de "escrever seu nome na pedra".
Sentiria saudade de todos. Até mesmo de Chigaru.
Bom, talvez não tanto de Chigaru...
Ela gostava de pensar que era menos rancorosa que os irmãos, e que não deixava mágoas das pequenas (?) maldades que seu irmão mais velho fazia. Mas talvez a verdade fosse que não sentiria saudade dele. Mas porque pensar nisto agora? Havia um mundo para conhecer.
A primeira parte de sua viagem seria praticamente um momento de "férias", ou assim ela esperava. Ainda que fosse filha de um príncipe, Darenda não tinha (e nem gostava de) moleza: treinara com armas quase todos os dias, tinha aulas na selva e em cavernas, aulas de música, gostava de nadar, frequentemente acompanhava sua irmã caçula em cultos e ritos à Mitz, tinha seus amantes...
Agora teria uns dias para não fazer nada, ou para continuar fazendo o que sempre gostou, mas agora por conta própria e sem supervisão. Uma ansiedade boa a enchia por dentro. Ao mesmo tempo tinha milhões de planos e plano nenhum a não ser ser levada "pelo vento".
Despediu-se de Ndidi na noite passada. Foi uma loooonga despedida, e até um pouco dolorosa, pois quando Ndidi queria, conseguia ser mais intensa que qualquer homem, e nesta noite ela foi bem rígida com Darenda. Provavelmente até tinha deixado alguns pequenos roxos em sua pele.
Mais lembrança brincavam em sua mente. Sua mãe, criada na "um pouco" mas rígida terra de Avalon não gostava nada de seu rolo com Ndidi ou qualquer outra mulher, mas o resto de Jalakow pouco se importava com isto (incluindo aparentemente até o marido de sua mestra, pois era pouco provável que qualquer pessoa que as conhecesse não soubessem de seu caso antigo).
O navio entra no delta, depois no mar, tudo se acalma.
- AH! QUE DIA MARAVILHOSO!Ela exclama para o ar, falando consigo mesma. Mas logo que deixa um pouco suas lembrança percebe a companhia da bela e bronzeada mulher que acreditava ser de Prahna.
Apesar de ter puxado mais ao pai que a mãe, mais café do que leite, gostasse ou não (e ela gostava) o tom da pele de Darenda era meio "exótico" para os jalakowenses, o que lhe rendia olhares desejosos de muitos homens e mulheres.
E agora, ao ver o tom de pele daquela mulher, também "exótico" para seus padrões, Darenda sentia o mesmo tipo de desejo que normalmente causava, já tinha adorado de cara aquela pele dela. Seus cabelos também eram maravilhosos. Quando ela fala, tinha uma voz um pouco rouca, e aquilo também atrai Darenda.
Ela abre um belo sorriso e um "olhar 39":
- Siiim! Estava mesmo pensando nisto! Que mar! Que vendo! E que passageiros ! Tudo muito lindo, nem acredito! Sou Darenda, ou Milla. - alguns estrangeiros achavam o sobrenome de sua mãe mais fácil de lembrar que "Darenda"
- Você deve ser de Prahna, ou estou errada? Ah, faz tanto tempo que quero conhecer sua grande ilha! Quando estive em Prahna eu tinha só oito ou nove anos, mas sempre ouvi tantas maravilhas da vizinha de nosso reino. Pelo que vejo os livros não exageraram sobre as belezas...