[A Formação] - A Matilha Nasce

Aine os observava com tranquilidade, havia em si um duplo sentimento: a expectativa da formação da nova matilha e o temor por aquela busca vindoura. Aine, melhor que a maioria deles sabia, a Umbra poderia ser uma grande aliada, assim como um grande e poderoso inimigo. Ela esperou que eles terminassem de falar, que se entendessem antes do próximo passo. Era algo importante, acreditava Aine que eles precisavam criar aqueles laços, era algo que os acompanharia para o resto de suas vidas.

Quando finalmente terminaram de falar, Aine moveu a cabeça levemente, ouviu o que Nimue falava e apenas sorriu: não podia afirmar com certeza como seria a escolha do Totem, afinal os espíritos não era facilmente entendidos e ela sabia disso muito bem. Aine, diferente deles, não assumiu sua forma de batalha, ela se moveu indicando que eles fizessem os mesmo e caminhou sobre a relva com calma, em direção a água que havia ali por perto.

[...]

Ela se abaixou e encarou o próprio reflexo na água e então o tocou, sendo "sugada" para dentro, rompendo a película e atravessando entre os mundos.

Do outro lado, Aine mostrou-se em sua forma de batalha: era um Garou alto, de pelo alaranjado, olhos verdes; em seu pelo era possível notar pinturas e enfeites tribais, assim como uma "trança" partindo do topo da cabeça e perdendo-se nas costas.

A Umbra, um reflexo espiritual do mundo real, ali era pura e vivida, tão diferente por exemplo, de algo mais urbano, era possível sentir as presenças dos pequenos espíritos - ainda que não visíveis - que por ali vagavam, Aine voltou os olhos na direção do grupo.

- E quem responderá por todos vocês? - Aine perguntou. Ela sabia que a escolha do Alfa não era exatamente daquele modo, mas ali, precisava de uma luz, de ao menos alguém que desse um passo à frente para falar por todos e como todos.

O Presa de Prata seguiu o caminho para a Umbra como fizera Aine e olhava para ver os demais membros da matilha atravessando a película ao ver que todos estavam ali ele voltou sua atenção para Aine e Nimue ouviu a pergunta de Aine e sem dizer nada deu um passo a frente.

Aine observou todos eles e moveu a cabeça muito sutilmente quando o Presas de Prata tomou a frente - de certo modo, Aine esperava por isso - era parte da característica da Tribo, não tinha uma opinião totalmente formada a respeito de como as coisas seriam dali em dia, e rezava aos Deuses pelo melhor.

A Theurge olhou em volta, o cajado de madeira apoiado no chão e seguro por uma das mãos, ali Aine falava a língua dos Garou, não a dos homens, a língua que eles entenderiam independente do idioma que tivessem como língua natal.

Então voltou sua atenção para o Presas de Prata.

- Fale. Apresente-se, apresente seus futuros companheiros, fale de vocês.

O ambiente a volta deles era um reflexo do lugar onde estavam antes, porém muito mais puro, muito mais espiritual e mexia não com seus sentidos normais, mas com a parcela de si que estava ligada àquele mundo, às vezes podiam ouvir sons que eram indistinguíveis, assim como ver coisas que não podiam explicar muito bem - exceto por Aine e Nimue - nenhum deles entendia o que os espíritos falavam as sussurros aqui e ali.

- Deixe que eles conheçam vocês, quem vocês são e quem vocês querem ser. Apresente-se e fale.

Dimitri repara que somente ele deu um passo a frente, o que pareceu bom.

- Eu sou Garra-do-Falcão Arhoun Cliath para os Presas de Prata e idealizador da criação desta matilha, estes são meus irmãos: Voz-dos-Espíritos, Cliath Theurge para as Fúrias Negras nosso elo com os espíritos e guia pelos caminhos Umbrais. Sentença-da-Verdade, Philodox para os Filhos de Gaia nossa irmã que trará a sabedoria de Luna e Gaia para resolver as desavenças dentro e fora de nossa matilha.  Pavio-Curto, Ragabash Cliath dos Roedores de Ossos e Sorriso-de-Luna Ragabash Cliath para os Senhores das Sombras nossos irmãos abençoados pela face escura de Luna nossos olhos e ouvidos na escuridão aqueles que trarão das trevas os caminhos para a aplicação da Justiça e solução das contendas que enfrentarmos. Conosco segue Antes-que-anoiteça Cliath Theurge dos Fianna como orientadora nessa nossa jornada.

Dimitri olhou para todos e voltou a falar.

- Como uma matilha desejamos ser um pilar forte para nosso Caern, e ser um exemplo para a Nação que quando os Garou põem de lado as políticas das tribos e trabalham unidos como todos filhos de Gaia independente da Tribo, podemos fazer a diferença na Guerra contra a Wyrm. Essa é uma tarefa difícil e quase impossível mas com sabedoria e com respeito entre todos os membros. Defenderemos uns aos outros de todos os ataques internos e externos que possamos sofrer é o caminho para não nos corrompermos. Se formos fortes dentro de nossa matilha em nossos valores, colocando o bem estar da matilha na frente dos interesses pessoais já será o primeiro passo para conseguirmos fazer a diferença. Por isso buscamos um espírito que possa nos dar suas bênçãos e nos apadrinhar neste início de caminhada como matillha. Contamos com a sua ajuda Antes-que-anoiteça.

Ver todos tranquilos também ajudava Lailah a ficar mais serena com tanta novidade. Ela segue Aine, mas não responde quem os representaria, sabendo que Dimitri o faria.
Já tinha estado na Umbra durante seu treinamento, assim que se transformou pela primeira vez, mas agora ela iria explora-la e isso, por si só, já tornava algo diferente, especial e perigoso. Sabia que o lugar era um reflexo cinza e mais puro de seu próprio mundo, mas a presença espiritual deixava tudo diferente, mais místico.

Aguardou pelas palavras de Dimitri, que a pedidos de Aine, deveria apresenta-los.

Ela era a Meia-Lua do grupo, a que deveria ser o equilíbrio e após as palavras do Alfa, ela se apresenta. Foram palavras inspiradoras.

- Sou Lailah Sentença-da-Verdade, Philodox para os Filhos de Gaia - essas palavras não pareciam ter resistência para sair da boca da jovem, e a cada vez que as repetia ficavam mais naturais - busco, como parte dessa matilha, dar o meu melhor para manter a força de Gaia sempre em seu auge, enfrentando a Wyrm onde ela estiver. E manter a matilha unida com sabedoria e respeito, como dito por meu irmão - e apontou para Dimitri.

Samuel olhou para a Umbra, imaginava se ela seria mais forte e densa em um ambiente selvagem, chegou a conclusão que sim, embora não tivesse certeza.
Quando entrou na Umbra pela primeira vez, não sabia o que o deixava tão desconfortável e inseguro. Porém depois de conversar com alguns Ragabashs mais velhos entendeu o motivo. Samuel era um rebelde, seu papel era subverter a ordem, deixar as pessoas confusas, procurar brechas dentro do sistema. Isso era fácil para ele, principalmente em sociedades humanas, pois ele conhecia todas as regras do jogo, todas as sensações e efeitos que os humanos sentiam.

Na Umbra, ele se encontrava em um completo Caos que tentava inutilmente botar em ordem, ele não sabia as regras do jogo, não sabia como devia reagir, não sabia como o mundo espiritual reagiria as suas atitudes.

Permaneceu calado, mas com os sentidos bem aguçados, procurando qualquer coisa que saísse da "normalidade", se é que esse conceito existia dentro da Umbra. Dimitri fez mais um discurso sobre união, Samuel achava que aquela repetição estava se tornando enjoativa, mas as palavras sempre produziam efeito nele. União. Isso era algo que deveria definir uma matilha.

Olhou para os outros, sentia que era sua vez de falar. Podia jurar que conseguia ouvir os outros torcendo para que ele não falasse besteria. Se estivessem no mundo material ele certamente ia falar algo vergonhoso, porém no mundo espiritual ele seguiria a liderança das Theruges, não importando o que acontecesse.

-Eu sou Samuel "Pavio-Curto" Khan, Ragabash para os Roedores de Ossos... -O garoto então começou a pensar em qual era sua utilidade na matilha, até agora só tinha sido um garoto irritante e carismático, um irmão mais novo de todos... Mas havia algo que ele sabia fazer. E fazer muito bem. - Eu caminharei pelas sombras, vigiarei meus inimigos e serei não apenas os olhos de minha matilha, como também os olhos da própria Mãe Gaia. Peço a benção dos Ancestrais para que meus inimigos nunca me encontrem, porém que eu encontre todos eles.

No Mundo Espiritual, Nimue se mantinha serena e vigilante. Apesar de seu coração estar alegre em caminhar na Umbra com sua matilha, a Lupino sabia de sua responsabilidade com seus irmãos ali. Todos contavam com ela e esperavam muito dela e a própria Theurge se cobrava por aquilo.

Ela agradecia imensamente a presença de Aine naquela jornada. A orientação da amiga trazia confiança e evitava que Nimue estivesse tensa, insegura. Com isso, ela observava os outros Garou, mas agora ela também pode ouvir e entender os espíritos, e ela se impressionava com a vivacidade daquele ambiente.

Quando Dimitri respondeu ao chamado de Aine, Voz-dos-Espíritos aprovou com um aceno quase involuntário e dos dois à frente, correu os olhos para os demais membros da matilha. Um a um eles se apresentavam e Nimue teve certeza que sua nova família era especial e a jovem fúria sentia muito orgulho de pertencer a eles.

- Eu sou Nimue "Voz-dos-Espíritos", Cliath Theurge para as Fúrias Negras e para esta matilha. - a voz agradável, porém, firme e elevada para alcançar além dos Garou - Em meu nome e em nome de meus irmãos, peço o respeito de todos que nos ouvem. Oferecemos o mesmo respeito a tudo e todos que não foram corrompidos e nos apresentamos como um forte instrumento contra a crueldade e contra a Wyrm. Procuramos a sabedoria dos espíritos que partilham dos nossos valores.

Aine parecia... Séria, mas seria do que geralmente era quando estava em assuntos menos "diplomáticos" ou em qualquer missão. Ela estava séria, porque assim como Nimue, a Fianna conhecia um pouco da Umbra - e bem pouco, julgava a jovem, era ainda uma Cliath, sequer tinha chego no entendimento que um Athro chegará - e o pouco que conhecia já fazia temer e respeitar aquele mundo.

Seu silêncio, porém contratava com o barulho ao redor, os sons que eram mistos e indistintos. As vozes - as muitas e muitas vozes - que falavam e falavam, mas para a maioria não se faziam compreender (lembrando que só quem consegue falar com espírito é quem tem o dom), mas que ela e Nimue entendia com clareza e por esse mesmo motivo, ela ficava em silêncio.

E além do mais, era importante que naquele momento, apenas a voz deles fossem ouvida. Seus anseios, desejos, temores.

Então houve silêncio. Um silêncio não comum aos filhos da lua do vidente. Um silêncio de vozes e risos, de sons e de existência. Aine olhou em volta, uma expressão leve de dúvida e cautela. Não havia nada - nada que ela estivesse conseguindo ver - e nada que pudesse ouvir. E foi quando o frio se aplacou sobre eles. Era um frio cru; não existia vento para justificá-lo, mas aos poucos flocos de neve caiam do céu umbral, uma neve tão difrente e geleda de qualquer uma que já tivessem visto antes.

Um pássaro branco pousou em uma árvore e gralhou, seus olhos dourados focando-se no grupo, ele se moveu de um lado para o outro na galhada da árvore, e gralhava e gralhava. Até que falou.

Lailah caminhava pela Umbra bastante atenta e admirando as minucias da região por onde caminhavam. Era muito prazeroso andar por ali, mas ao mesmo tempo preocupante. Via como Aine estava séria e a observava com atenção, pois ela e Nimue que estavam habituadas àquele lugar. Os sons dos espíritos só eram entendíveis com o auxilio das theurges que traduziam todas aquelas vozes incessantes.
Um silêncio repentino pairou sobre eles, acompanhados de um frio e neve que gelava-os. Olhou para o alto de uma árvore e viu uma pássaro branco que começou a falar. Nimue e Aine traduziam a bela fala da ave e fez Lailah pensar. O que oferecer para Majestade? Ela olhou para os outros, intrigada.

O frio ali se intensificava cada vez mais, como se o inverno inteiro houvesse resolvido dar as caras, aos poucos, pequenos e brancos flocos começavam a cair do céu umbral. Aine observava a ave com atenção, mas também tentava se manter atenta ao que acontecia a sua volta naquele instante.

Houve mais silêncio, após as palavras de Dimitri, Aine tinha arqueado uma das sobrancelhas muito levemente: por que o Garou oferecia aquele tipo de coisa a ave? Ela se questionava em silêncio.

Aos poucos, apesar do pouco tempo, neve ia se acumulando no chão, tocando o terreno umbral e transformando-o em branco. Aine ajeitou o cajado em sua mão, a expressão séria no rosto. O pássaro os observava com interesse antes de quebrar o silêncio que se fez.

Ele gralhou/riu. Abriu as asas, esticando-se e então alçou voo, deixando o galho - agora completamente congelado - e indo em direção ao chão. Enquanto descia, seu corpo moldava-se e esticava-se. Tornando-se não um pássaro, mas uma mulher. Ela tinha a pele tão clara quanto a própria neve que se acumulava aos pés dos Garou, seus olhos eram de uma cor gélida e clara, como se fossem feitos completamente de gelo. Os cabelos brancos caiam em cachos semi congelados pelos ombros e em sua cabeça, ostentava uma coroa de cristais de gelo. Ela gesticulou com uma das mãos e flocos de neve saíram delas. - Não oferecem nada do que não posso ter. - Falou num sussurro, que Aine traduziu para os Garou, movia-se com a graça e delicadeza de uma dama, das barras de seu vestido mais flocos de neve saiam. Aine acompanhava os movimentos do espírito com cautela e incerteza, não conhecia muito bom sobre aquele Totem em questão, apesar de saber que ela pertencia a linhagem dos Crias e que era bastante respeitada por eles. A Rainha caminhou entre eles, pensativa, fria e imprevisível como o próprio inverno. Então virou-se para os demais. - Algo me foi roubado e tirado. Algo que pertence a mim e ninguém mais. Traga-o de volta e eu os abraçarei.