Ato III - O Último Confronto

Com a magia visão no escuro, Tomdrill agora podia enxergar a paisagem do fundo do precipício em preto e branco. A primeira coisa que ele conseguiu reparar era que havia um lago com águas calmas e que provavelmente devia estar gelado. Depois ele viu o pedaço monumental de rocha que havia caído sobre os membros do grupo e que agora boiava pela superfície da água. E então, ele viu Sophia. A druida ainda estava na forma de leopardo e ela tentava nadar para chegar até uma das margens do lago. Não havia nenhum sinal dos outros que despencaram da ponte.  

Lá em cima, Johan estava em situação crítica. Ele teve que parar de atacar e usar o seu poder para se curar magicamente. O paladino de barakor ajudou curando-o com a sua varinha, enquanto Felpudo mantinha o braço do escudo do anão sendo triturado pelos seus fortes dentes. As chamas em seu rosto estavam se apagando naturalmente, deixando à vista sua pele enegrecida e arranhada pelas queimaduras. Mirtandir sabia que seu fim estava próximo.

- POR TRÊMULO OBSCURO! – gritou em anão.

Ignorando a mordida ferrenha do rothé, Mirtandir continuou visando Johan em seus ataques. O martelo girou de um lado e para o outro, acertando duas vezes o corpanzil do cavaleiro, deixando-o novamente num estado emergencial. Eunsech e Nerók dispararam suas munições, mas desta vez apenas a flecha do halfling pegou de raspão a orelha do herói anão, e Darksol lançou um encanto que erguera um braço rochoso atrás de Mirtandir, mas Mirtandir conseguiu se desvencilhar de sua tentativa de agarrá-lo.

O cavaleiro de Tyr não deu ouvidos aos conselhos de seus companheiros e persistiu no combate corporal contra Mirtandir. Ele atacou o anão, que conseguiu aparar a espada de Johan com o uso de seu martelo. Porém Felpudo continuava mordendo o seu braço, e o barakor de Gorm Gulthyn atacou a cabeça desprotegida do herói anão de cima para baixo duas vezes com o machado, fazendo o primeiro ataque acertar o ombro direito do anão e o segundo ataque cravar o machado na cabeça de Mirtandir, pondo fim assim à vida desse lendário guerreiro.

O goliath foi o último dos cinco aventureiros a despencarem da ponte quando a imensa rocha caiu sobre eles. Baraz, Ivor, Belediel e Isabela acompanhavam Drago na queda do precipício abaixo. As tochas que Ivor e Isabela portavam naturalmente se perderam e se apagaram, e tudo que os aventureiros viam era escuridão e uma pequena chance de sobreviver. Após vinte metros de queda livre, eles atingiram com força a superfície de um lago subterrâneo. As águas eram tão geladas que pareceram entrar em seus ossos quando eles afundaram.

A maior das estalactites caiu por último ali perto deles, fazendo água voar por todo o lado. Baraz, Ivor e Barbalarga ascenderam à superfície, ofegantes e feridos, mas para qualquer outro propósito, vivos. Por outro lado Belediel e Isabela não retornaram e elas podiam estar desmaiadas ou até mesmo mortas.

- Estão... todos... bem? – Ivor perguntou aos outros. Após receber as respostas do anão e do goliath, ele disse: - Onde está a senhorita Scaletta? E a elfa de cabelos soltos? Temos que encontrá-las – disse o guerreiro. Porém, ele sendo um humano, não conseguia enxergar nada na escuridão daquele lugar.

E então eles ouviram um som. Algo bem grande parecia estar deslizando na água a alguns metros deles... Era um movimento parecido com a de uma serpente... Nenhum dos três conseguia enxergar de onde ela estava vindo, mas o pensamento do anão recorreu-se a dedução mais óbvia: A Cobra Devoradora que aterrorizava os pesadelos dos anões estava à espreita.  

O lago tinha cerca de dez metros de profundidade, e quando Baraz mergulhou não foi difícil discernir os contornos dos corpos de Isabela e Belediel. As duas estavam lentamente afundando para o fundo do lago quando o anão as encontrou e agarrou os seus respectivos braços para puxá-las de volta à superfície.

Na superfície, tanto Drago quanto Ivor estavam às cegas. Ivor tentou desesperadamente abrir sua mochila e encontrar alguma fonte de iluminação, mas ele só tinha tochas e elas estavam encharcadas.  A criatura parecia se aproximar por alguma direção no lago, mas então a agitação que havia na água parou. Drago e Ivor ficaram apreensivos, esperando para ver o que aconteceria. E então várias patas caminhando sobre rocha foram ouvidas e do alto da estalactite que boiava de cabeça pra baixo um corpo longo e grande começou a se avolumar sobre a escuridão. Ela estava por cima dos aventureiros, e os seus olhos eram dois pontos brancos e havia um quê de maldade neles. A Cobra Devoradora soltou uma espécie de sibilo estridente, e preparou-se para saltar sobre suas vítimas.

- NADE PARA A MARGEM – gritou Ivor enquanto batia os braços e os pés com o máximo de força possível numa direção aleatória. Baraz havia voltado à superfície e teve uma visão rápida do monstro: o seu corpo tinha facilmente mais do que oito metros de comprimento, e havia alguns pares de patas debaixo de sua forma de serpente. Além disso ela era protegida por escamas e chifres.

Os três haviam chegado até a margem do lago sem maiores problemas. Quando Baraz olhou para trás, não viu o monstro em lugar algum. Talvez a Cobra Devoradora tenha mergulhado nas águas ou se escondido em outro local - o que era uma atitude estranha, pois os três estavam bastante feridos e expostos. O anão depositou as duas mulheres no chão e verificou que elas estavam inconscientes, mas estáveis. Ivor disse:

- Eu fico com a lanterna, vocês dois peguem as duas e vamos dar o fora daqui!

O guerreiro encontrou facilmente a lanterna dentro da mochila de Baraz, e usou sua própria pederneira para acendê-la e iluminar o local. Havia a entrada para uma caverna a poucos metros deles. Poderia ser uma caverna sem saída e que os poria em enormes riscos ou um complexo de túneis e câmaras subterrâneas que poderia ser as suas salvações. Antes que eles tivessem tempo de tomar a decisão, a Cobra Devoradora sibilou em algum lugar próximo a eles.