Ato III - O Último Confronto

Com todo o seu conhecimento de masmorras, Baraz temia que aquela caverna pudesse estar sendo usada como lar pela Cobra Devoradora, mas por outro lado não havia muita saída. Ou era entrar na caverna ou enfrentar o monstro mesmo com todos os ferimentos que eles carregavam devido a queda. Dessa forma os três resolveram adentrar a boca da caverna, com Ivor à frente iluminando o caminho com a lanterna e com Baraz e Drago mais atrás carregando as duas mulheres inconscientes.  

A luz da lanterna iluminava um caminho levemente ascendente, e uma escadaria de pedra antiga estava mais à frente. Assim que eles alcançaram o primeiro degrau ouviram o som da Cobra Devoradora rastejando para o interior da caverna. Eles desataram a subir as escadas até alcançarem um novo andar. Havia uma bifurcação com dois corredores indo a direções contrárias, e sem tempo para decidir Ivor imediatamente tomou o caminho pela direita assim como seus companheiros. Eles corriam sem ver por aonde iam, passando por outros corredores e tomando direções aleatórias. Os anões ou outra raça do subterrâneo deviam ter escavado aquela construção para ter acesso ao lago.

Em determinado momento o som do rastejo pesado da Cobra Devoradora parou de ser ouvido. Eles deviam tê-la despistado. Os três pararam para tomar um pouco de fôlego. Ivor respirava com dificuldade, era o que estava mais ferido e consequentemente o mais exaurido de suas forças. Então um sibilo ecoou num dos lados do corredor e a Cobra Devoradora reapareceu. Eles tornaram a correr, mas tiveram que voltar por aonde vieram.

A cena se repetiu mais para frente. Em outro local da masmorra, eles novamente deixaram de ouvir a serpente monstruosa, porém ela reapareceu em outro ponto pegando-os de surpresa. A Cobra Devoradora parecia estar levando-os pelo caminho que ela queria, ou coisa pior. Quando a cena se repetiu pela quarta vez, Ivor gritou:

- Ela está brincando com a gente! É como um predador que brinca com as presas antes de matá-las! – ele gritava enquanto usava suas últimas forças para manter-se correndo. – Não temos escapatória a menos que a fome dela seja saciada! – o guerreiro então parou abruptamente de correr. O anão e o goliath viraram o rosto para trás e viram a Cobra Devoradora erguer-se sobre suas patas inferiores. O seu ventre era de um azul claro, enquanto todo o resto de sua carapaça era de um azul escuro que se confundia com a penumbra não captada pela luz da lanterna.

A serpente encarava Ivor com o seu rosto maléfico. Pares de chifres curvavam-se sobre a sua cabeça. Ivor pediu para que seus companheiros continuassem a correr e que se salvassem, e a criatura abriu a boca e uma bola de eletricidade começou a se formar dentro dela.

Apesar dos pedidos do goliath, Ivor não arredou pé e foi atingido pela rajada elétrica da criatura. Ele gritou de dor e a lanterna em que segurava nas mãos espatifou-se no chão, tornando tudo escuro novamente. O anão, é claro, ainda conseguia enxergar os contornos dos caminhos que eles tinham que prosseguir, mas Barbalarga precisava tatear com a mão a parede lateral e seguir o som dos passos do anão.  Eles viraram à direita e depois à esquerda, e então se depararam com uma escada de pedra em espiral. Era o único caminho que havia naquele ponto e eles subiram os degraus.

Lá em cima havia uma espécie de sala pequena de seis por seis metros, com uma mesa rústica ao centro e um forno escavado na rocha numa das paredes. Uma porta de ferro levava adiante. A porta estava entreaberta e eles seguiram por ela. Havia com um corredor com dormitórios abandonados adiante. Os dois adentraram um desses dormitórios e repousaram Belediel e Isabela nas camas. Eram camas do tamanho preciso de um humano, e não havia mais nenhum móvel no recinto.

Tanto Baraz quanto Barbalarga decidiram revezar-se em turnos de vigia para caso a Cobra Devoradora fosse ouvida rastejando por perto. Por sorte nada aconteceu nas longas horas que se passaram, e já no dia seguinte Belediel e Isabela despertaram.

* * *

Após Frafur ter posto fim à vida do herói renascido, tudo ficou em silêncio sobre a ponte de pedra. Mirtandir estava morto e o duergar que o acompanhava havia fugido. Apenas Nerók e Nevasca ainda estavam do outro lado da ponte. Lá embaixo do pequeno precipício de vinte metros Tomdrill procurava por seus amigos que haviam sido derrubados da ponte. Sophia, amparada pelo mago, estava numa das margens do lago. O lago possuía muitos metros de extensão e não dava para saber por qual lado os seus companheiros haviam ido, nem se eles estavam vivos ou não.