“A Busca pela sabedoria pode ser atitude nobre, porém trilhar este caminho até o objetivo pode ser mortal...”
“Adeus... Meu... Filho...” Estas foram as últimas palavras que ele escutara de sua mãe e também que podia se lembrar nos dias atuais. Ainda perdia em emoções e lágrimas quando sua mente não encontrava uma resposta coerente para o que lhe acontecera. Sentia-se nervoso e tomado por um desconforto muito grande quando forçava a mente e suas memórias perdias da infância se quer apareciam. O adeus de sua mãe era o mais longe que seus pensamentos conseguiam chegar, mas o que houve antes disso? Quem realmente ele era? Sua mãe era bonita? Ele mal podia lembrar-se de sua fisionomia, exceto a cor do cabelo que seguramente lembrava serem tão loiros que pareciam dourados, mas no fundo de sua razão ele ainda duvidava se essa informação estava correta, mesmo que não admitisse. Mas ele ainda tinha mais do que suas rasas lembranças, ainda guardava consigo um pingente que herdara de alguém, talvez de sua mãe mesmo. Guardava o pingente sobre o peito pendurado por um cordão de couro de javali, o pingente era em formato circular e parecia uma pequena caixinha redonda, ao abrir revelava uma mensagem “Quando sentires desespero me encontres no lugar mais escuro e profundo de sua mente, suas memórias o guiarão...” Besteira! Dizia ele irritado, pois ocupara os últimos sete anos de sua vida em decifrar a mensagem, em descobrir quem ele realmente era e por que fora escolhido para um destino tão árduo.
Desde que fora enviado para o Nepal que em realidade nada conhecera, pois seu destino final era os altos picos da Montanha Everest aonde vivera os próximos sete anos sobre a responsabilidade de seu mestre, Sir Abeforth, um cavaleiro de prata entre tantos que protegiam a deusa Athena. Embora parecesse impossível manter-se vivo naquele lugar, visto que diariamente morriam cavaleiros e civis que se aventuravam por aquelas bandas, Cephyrus estava acostumado com a situação proposta já que apenas conhecia aquelas alturas cobertas por neve e temperatura baixíssima como seu lar. Seu treinamento era principalmente baseado em sua espiritualidade, na força e limites de seu cosmo, pois com ele podia se manter “quente” para que não morresse congelado. Caçar, derrubar árvores, colher frutos, plantas medicinais e outras matérias primas para sobreviver aos desafios que o cenário impunha faziam parte de seu treinamento diário. Não havia uma segunda chance, não havia “mamãe, quero voltar para casa” ali era a sua casa e tinha que lidar com aquilo.
Entre sua jornada que nos primeiros anos foi-se tornando algo habitual e comum em seu dia-a-dia, ele pode ter o prazer de conhecer o verdadeiro significado da amizade, um sentimento nobre e poderoso, mas que ele nunca tivera antes a oportunidade de sentir, já que não se lembrava de seu passado e tão pouco partilhava com seu mestre uma relação além da necessária para sua evolução pessoal e enquanto futuro cavaleiro de Athena. Encontrou por entre a geada forte que quase não era possível enxergar um pequeno filhote de raposa branca das neves acuado e medroso tentando afugentar seu lobo-predador com fracos e silvosos regougos posicionando-se de forma que parecesse maior arrepiando seus pelos cobertos pela neve e mostrando uma aparência mais feroz, se é que era possível para um filhote tão “fofo” parecer perigoso. Cephyrus não pensou duas vezes antes de utilizar-se de suas habilidades para afugentar o lobo, salvando seu futuro amigo, um filhote que assim como ele estava abandonado e aparentemente órfão. Sir. Abedforth somente aceitou a vinda e permanência do canino, pois naquela mesma noite jantaram uma farta costela de lobo, seu prato preferido. Sir. Abeforth era um caveleiro cuja calmaria era seu forte. Nunca se desesperava e acreditava que um estado de espírito relaxado e contido era a melhor maneira para evoluir e expandir o cosmo que há em seu interior. “Cephyrus, meu discípulo, já encontrou o que procura?” Perguntava o mestre todas as manhãs quando o adolescente fazia o trajeto de seu chalé até um ponto mais alto, o lar dos ursos brancos como era conhecido. “Seu treinamento chegará ao fim quando encontrar o que procura e possuir a armadura que tanto almeja não é a resposta...”. Não demorou muito para que o jovem aprendiz de cavaleiro fosse posto a sua mais alta e importante prova, aquela que lhe daria a ilustre Armadura de Bronze de Cisne.
A Toca do Yeti
Não muito longe de onde era conhecido o “Lar dos Ursos”, cenário que para ele já era mais que familiar, como se fosse os jardins de sua casa, muito embora ali existissem carnívoros famintos dispostos a tudo para devorar uma carne fresca. A Caverna Proibida como chamava Sir. Abeforth que nunca dera permissão para o jovem adentra-la, embora Cephyrus já tivesse tentado visitar a caverna às escondidas, ele sempre acabava preso nas inúmeras armadilhas que seu mestre deixava ciente da desobediência de seu discípulo. “Você nunca vai aprender...” Repetia ele com um sorriso que apontava sua satisfação quando percebia o constrangimento e a raiva que o jovem aprendiz se colocava ao ser flagrado.
O interior da caverna era praticamente coberta por gelo e a claridade diminuía consideravelmente conforme o aprendiz-de-cavaleiro avançara em sua última missão. Ele já podia sentir o gosto do prazer de vestir-se com aquela armadura feita com um material lendário. Embora ele não tivesse se quer a mínima ideia do porquê teria que adentrar a caverna e só tivesse apenas uma pista deixada por seu mestre “Aquilo que você procura está sempre no último lugar que você está disposto a ir” Aconselhou o cavaleiro de prata fazendo sinal para que Cephyrus se aventurasse por ali. Ele o fez tomado por uma coragem que não acreditava que teria, embora possuísse muita curiosidade de saber o que tanto existia ali que seu acesso era proibido, bem ele logo descobriria.
A caverna não parecia ser um lugar feito ao natural. Escadas estreitas que levavam a diferentes níveis, tochas tão geladas que chamuscavam um “fogo” azul gelado, pequenas câmaras com objetos perdidos e até mesmo o que restara de cadáveres, ossos e vestimentas ele encontrara, deixando-o desconfortável com a situação. Sir Abeforth nunca falava de seus últimos discípulos, na realidade Cephytus não conhecia nenhum deles, talvez estivessem todos mortos, ele acreditava. Pequenas e médias criaturas que habitavam os corredores daquela caverna deram um trabalho intermediário, mas para alguém que estava em sua ultima missão e que já não restava muito o que aprender ali, não fora nada difícil compreender as últimas palavras de seu mestre antes de adentrar a caverna e aceitar seu desafio mais importante.
O que vira ele levara alguns segundos para que a informação chegasse ao cérebro e quase urinar nas calças, sim ele sentira o corpo estremecer e um pânico lhe tomar conta de seu corpo como se o paralisasse. ERA UM MALDITO YETI! Gritara no segundo seguinte que o monstro urrara desejando mata-lo. Apenas uma vida sobreviveria àquela luta e a outra cultivaria sua tumba na câmara mais profunda daquela caverna pela eternidade. Com apenas dois golpes que dominava sem problemas “Pó de diamante” e “Muro de Cristal” ele conseguira sobreviver em uma luta pela vida e a esperança de encontrar o que buscava no mais profundo de seu coração. O gelo que cobria a câmara já estava manchado de ambos os sangues que se misturavam em tom carmesim. A criatura ainda conseguia se por de pé, embora uma das pernas estivesse comprometida e ainda tivesse que reunir forças para quebras os poucos muros de cristais produzidos pelo jovem-aprendiz. Cephyrus sentia fortes dores nas costas, seu rosto estava arranhado e possuía um furo profundo em um dos braços, lhe dificultando exercer seus golpes. O terceiro golpe, seu golpe mais forte e importante ele agora percebera que era a única chance que tinha para sobreviver e finalizar seu agressor, mas ele nunca tivera a oportunidade e a permissão de utiliza-lo, aquela seria sua primeira vez, será que estava pronto para ela?
RAIO DE GELO! Gritara reunindo seu cosmo fazendo a pose característica e ligando com as mãos os 12 pontos da constelação que o protegia. O Yeti avançara, mas desmoronou sem vida diante dele, a caverna estremeceu e a única passagem ruiu por fim e não havia caminho de volta, foi então que ele percebera o inacreditável. A grandiosa caixa quadrada de ouro que protegia a armadura que tanto almejava estava há alguns metros abaixo dele coberta pelo gelo que servia de “chão” do aposento gelado. Cephyrus não podia abandonar o lugar quando estava quase ao ponto de atingir seu objetivo, ele quebrara o chão fazendo com que o corpo morto do Yeti afundasse no que parecia uma piscina fria. O jovem mergulhou sentindo a dor mais horrível que era possível, nem mesmo o Yeti lhe fora capaz de causar tamanho desespero. A água era tão gelada que lhe queimava a pele, ele sabia que não sobreviveria muito tempo sobre aquelas temperaturas, mesmo controlando seu cosmo. Por fim ele puxou a caixa de ouro para a superfície, vitorioso, porém sobre um fio de vida.
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