Em um pouco menos de dois dias chegariam aos portões de Caspia, e ambos os grupos se questionavam se não haviam cobrado o preço errado para aquele trabalho. Não pelo perigoso do serviço em si, mas pela tensão que ele estava ocasionando. E Trent Razor, que aparentemente era o líder do outro grupo, já havia deixado exatamente isso claro para Arag mais de uma vez, contudo o mercador apenas argumentava que ele deveria era ter pago a menos, afinal, não haviam sofrido nenhum ataque. Mas com a intenção de apaziguar os ânimos, o velho mercador havia se comprometido a pagar algumas moedas extras se a carga realmente chegasse intocada e seu destino.
E mais uma vez a noite havia chegado, a caravana saíra da estrada para o campo aberto, onde era mais fácil montar acampamento com a carga protegida no meio de todos os mercenários. Como nenhuma lua brilhava no céu e a temperatura era bem baixa nessa época do ano, outras fogueiras menores haviam sido acessas perto de onde cada pessoa dormia. Já devia passar de três da manhã e Juan Javier lutava para ficar acordado. Era o responsável por aquele turno de vigia e estava tudo tão entediante que era difícil permanecer atento, seus olhos iam se fechando por períodos cada vez mais longos. No lado oposto do seu, um guarda do outro grupo também tinha a mesma missão. E se não estavam juntos para se manterem acordados, era porque haviam decido logo no começo da viagem que era melhor cada um guardar uma parte do acampamento, afinal, ele se estendia por um espaço considerável e seria capaz de alguém na calada da noite furtá-los por qualquer descuido.
E enquanto El Gato lutava contra o sono, os outros tinham sonhos agitados. E não era a primeira vez.
Aragorn havia escutado de seu falecido tio inúmeras vezes a história de como haviam escapado, escondidos no fundo falso da gruta em que seus pais viviam. Mas em seu sonho ele nunca era um bebê recém-nascido, mas já adulto e covardemente incapaz de sair para defendê-los da morte. Sem poder ver, mas escutando tudo de forma até potencializada, Aragorn revivia a morte nunca presenciada de sua família. A carne sendo rasgada não deveria ter um som tão marcante, mas para o elfo, ela tinha. E toda noite ele a escutava, junto com o som de gritos e ossos quebrados. E de uma voz doce que parecia sussurrar em seu ouvido:"Tão-tão fraco... E covarde. Você fica aqui, enquanto os seus morrem pelos seus pecados... "
Hagen sonhava que era um... Esquilo. E que gigantes tentavam pisar em seu corpo e matá-lo, enquanto ele corria entre suas pernas. Ou talvez fossem só humanos, não havia como ele saber, pois ele era realmente pequeno. Sempre escutava uma risada masculina retumbante enquanto isso acontecia, e outra que parecia, ao menos, tentar se controlar. Mas era a primeira vez que uma voz conseguia ser escutada enquanto ele corria pela vida, e, pela cadência, parecia ser da mesma pessoa que ria abertamente: "Eu NUNCA me canso de ver isso..."
Cohen lutava ao lado de seu pai. Ou talvez treinava. Ou quem sabe lutava contra ele? Era tudo muito confuso, pois sempre que sonhava a situação era diferente, mas tão parecida. Estava no campo de batalha, cercado por diversos bárbaros e guerreiros, e seu pai sempre ao seu lado, não o velho que aprendera a respeitar, mas um homem que parecia ter a mesma idade que a sua. Em algumas situações os dois batalhavam lado a lado contra todos os inimigos. Em outra, se enfrentavam de forma feroz enquanto o resto observava. Mas na maior parte das vezes, a batalha era simplesmente caótica, pura carnificina em que ninguém consegue diferenciar amigo de inimigo. Cohen sempre morria antes do final da batalha, e em seus últimos instantes podia ver que seu pai continuava a enfrentar os inimigos coberto de sangue e sem nenhum arranhão. E não era orgulho o que queimava em seu peito, mas inveja.
Ashur geralmente conversava com Sura em seus sonhos. Era só ali que tinha qualquer tipo de contato direto com sua alma, e o sonho sempre começava com ambos abraçados, aos pés de uma das montanhas da terra de seus ancestrais. A sensação era sempre de ter acabado de transar e,por isso, saciado nesse sentido, só restando a eles conversar sobre o que bem entendessem. E no geral era o que faziam, mas dessa vez Sura havia colocado um dedo em seu lábio para silenciá-lo, o cenho franzido em concentração. A mulher aproximou-se dele, como que para beijá-lo, mas na verdade a intenção era sussurrar em seu ouvido:"Estamos sendo observados..."
E Ashur realmente teve essa impressão, agora que parava para prestar atenção havia a sensação clara de estar sob o escrutínio de alguém. O som de surpresa que ouviu em alto e bom som não deixou dúvidas que esse era o caso, ainda assim, não havia ninguém ali além deles. "Você tem razão, Laucian!" A voz feminina claramente estava empolgada. "Vou pesquisar sobre isso agora mesmo!"
Edward sonhava apenas com escuridão. E era tão terrível que ela parecia até ter gosto, pois Edward podia sentir o amargor em sua boca enquanto ele caminhava por horas e horas sem nada enxergar. Ele procurava desesperadamente por alguma fonte de luz, mas na realidade, sabia perfeitamente bem que procurava por Ela. E da mesma forma visceral sabia que não a encontraria. E a escuridão parecia absorvê-lo cada vez mais, a sensação era de que seus pés estavam afundando... Foi então que ouviu o som de... Asas? Edward não tinha muita certeza, pois apesar de parecer o bater de asas, o som era tão alto e poderoso que nenhuma criatura que já havia visto seria capaz de fazê-lo, exceto, talvez, um...
-"ESTAMOS SEN..." - Um grito foi o suficiente para deixar El Gato completamente desperto, e para acordar todos os outros. Um grito calado no meio pelo som de alguém se afogando em seu próprio sangue.
Quase que imediatamente uma das últimas carroças começa a pegar fogo por completo, era claro que alguma mágica havia sido utilizada, pois em segundos ela já estava tomada por chamas, que ameaçavam atingir as charretes vizinhas. O som de diversos cavalos relinchando desesperados se segue, assim como o mugido dos bois que também ajudavam a puxar as cargas. Os animais odiavam e temiam o fogo como a verdadeira morte, e estavam todos amarrados muito próximos justamente daquele ponto.
OFF: Vocês ainda não estão em combate, além do grito e do fogo na carroça no outro canto do acampamento, vocês não viram nada, nem ninguém. Podem postar falando e tal, mas se algum de vcs quiser sair correndo pra lá, fale cmg antes, pf rs
- Arag Tatte:
- Trent Razor: