O centro da cidade estava lotado, várias pessoas corriam ao lado das três grandes carroças decoradas com pinturas e tecidos coloridos. Crianças gritavam de alegria, enquanto adultos se maravilhavam com os artistas que acompanhavam a pé e a cavalo. Com a mulher enorme e musculosa, ao homem minúsculo se retorcendo, os bobos fazendo malabarismos e dançarinas encantando aqueles que paravam para ver a trupe que tinha acabado de chegar a cidade.
Eram famosos por serem peculiares, no mínimo 10 adultos e 6 crianças desfilavam com fantasias e sorrisos em seus rostos. Mesmo com todas as fantasias, era claro que aquele grupo não era composto por pessoas de uma mesma nacionalidade, e sim parecia reunir o melhor de cada nação, e apenas para festejar, o que trazia mais atenção ainda das pessoas daquela cidade. Porém, uma em específico contagiava a todos apenas com seu sorriso. Suas vestes coloridas, faziam muitos indagar se era nobre ou não. Sua voz melódica, acompanhada do seu pandeiro, determinavam o ritmo dos passos delicados que dava, fazendo seus longos cabelos louros cintilarem a luz do sol. Seus olhos verdes, misteriosos, convidava as pessoas a desvendar o que ela aparentava esconder.
Junto de um senhor, eles gritavam “Venham ver, venham ver a Trupe Phantasma, maravilhas e surpresas apenas para você!” O senhor, um homem com idade avançada, usava um chapéu com penacho branco enorme, que se misturava com os cabelos cinzas dele. “Venham ver, nossos artistas criarem um sonho a sua frente!”
A garota sorria para as crianças gritando novamente “Performances brilhantes, deixando suas fantasias reinarem!” E assim ia passando a trupe, deixando várias pessoas fascinadas, comentando sobre o estranho porém fascinante grupo.
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Era tarde da noite quando a trupe parou para descansar. Tinham acabado de se apresentarem para um nobre da cidade local, e tinham conseguido várias informações importantes, assim como várias moedas e jóias. A garota loura estava sentada em uma das carroças com um prato de comida em mãos, que parecia estar envelhecida de alguns dias, mas para a jovem, aquilo era uma benção.
“Ah! Pequenina! Minha adorada Tarja, não sabe o quão feliz estamos!” A mulher enorme, com os cabelos vermelhos indomáveis, se aproximou de Tarja, fazendo toda a carroça ecoar sua voz carregada de sotaque. Uma das crianças de cabelos tão vermelhos quanto da mulher, a acompanhava de perto.
“Que bom tia Broca! Imagino que tio Agan tenha conseguido bons espólios!” Tarja sorriu, permitindo que a criança pudesse sentar em seu colo, alimentando a ambos. O menino sorriu, mostrando que faltava dois dentes em seu sorriso “Maman disse que conseguimos bons pagamentos com o homem de hoje, mas que papa Agan conseguiu mais coisas ainda!”
Tarja riu com as palavras do seu primo “Dallin, você é muito fofo!” Ela disse colocando o prato de comida de lado e abraçando a criança, fazendo Broca rir. “Você era igualzinha quando chegou na trupe! Mama Odi não se continha e tentava te vestir de todas as maneiras possíveis, você ficava adorável de vestido! Não tão adorável quanto tia Milliecent recebeu o pedido do tio Ignazio em casamento, ou quando ela descobriu que ele estava flertando com a Tia Ximena, mas enfim, pequena, isso não tem nada relacionado com os resultados de hoje.” Broca começou a falar, sentando-se do lado de Tarja, pegando de volta Dallin, para sentar ele em seu colo.
“Agan acha que temos mantimentos e dinheiro o suficiente para chegar até a capital, e o nobre contou ao capitão Lazaré que tem novidades na capital, e quem sabe até conseguimos nos apresentar para o L’empereur?” Ela disse rindo, fazendo a carroça ecoar novamente.
Tajar ri com Broca e Dillan, antes de ver as trigêmeas Lettie, Bettie e Hettie entrarem rindo, com um penacho branco que tinham larapiado do senhor Huxley. “Prima Tarja! Veja, conseguimos! Conseguimos o penacho do Sr. H” Elas falaram ao mesmo tempo, esperando o que sua prima iriam apresentar elas dessa vez.
“Muito bom, ou será que não?” Ela disse, passando o dedo sobre o penacho pintado de branco, mostrando ser um penacho qualquer e o Sr. Huxley entrando na carroça rindo, mostrando que seu penacho ainda estava intacto em seu chapéu.
“Terão de tentar com mais vontade na próximas minhas adoradas primas, ninguém ainda se aproximou em conseguir larapiar, apenas a jovem Tarja chegou próximo, mas ainda tem muito a aprender” Ele disse rindo, ao abraçar a loura, fazendo as trigêmeas de cabelos castanhos bufarem de raiva e saírem da carroça.
“Senhor Huxley, não deveria ser tão mal com elas!” Tarja riu, vendo que o Sr. tinha larapiado o pão de seu prato. “Nada demais, nada de menos, precisamos nos alimentar e ganhar nosso pão de cada dia, elas precisam aprender. Mas não estou aqui por isso, Madame Broca, se poderia nos deixar a sós? Acredito que o pequeno Dillan esta cansado já”
Broca apenas revirou os olhos e levou seu filho para fora da carroça, deixando Huxley e Tarja a sós. “Ouvi dizer que vamos para a capital, não tivemos muita sorte viajando nas demais nações, mas podemos tentar encontrar essa figura que tanto sonha agora” Huxley comentou sorrindo para Tarja.
A jovem apenas sorriu para o homem “Espero que sim Sr. Huxley, não consigo te agradecer como me ajuda a buscar meu passado” Ele negou com a cabeça, com um sorriso gentil. “Não há nada demais Tarja, você me ajudou no passado, fazendo com que os demais da trupe me aceitassem, tenho de retribuir o mesmo. E seu passado misterioso me intriga, como uma criança de apenas 3 anos é deixada na frente das carroças?” Ele disse segurando a mão de Tarja, aproximando ela de si. “Ainda mais quando essa mesma criança tem sonhos com uma figura cantante de uma melodia que não se esquece nunca” Ele riu, abraçando a jovem antes de dar um beijo em sua testa. “Espero apenas que essa pessoa não tome meu lugar em seu coração, jovem Tarja” Ele disse antes de sair da carroça, fazendo Tarja rir junto. “Nunca Senhor Huxley, nunca” Ela disse, voltando a olhar para sua comida. Precisava de energia para a viagem de amanhã.