[!ON!] O Torneio do Venerável Ancião

Já fazia alguns dias desde que o Venerável Ancião havia informado a todos de sua idade avançada e do torneio que decidiria quem seria o novo Venerável. Na hora marcada, todas as Honoráveis Famílias Produtoras de Chá estavam no memorável Parque dos Dois Chás. Um relevante parque do longínquo pais de Oshor. Conta-se as lendas que os primeiros chás produzido pelo primeiro Venerável Ancião foram colhidos nesse parque e que, de um lado do rio a temperatura e o clima era ideal para um tipo de chá e do outro, para outro

Uma pequena colina se erguia à sudoeste do rio que corria tranquilo, como se aquele dia não fosse decisivo para Guilda do Chá de Oshor. Os incontáveis produtores de chá das famílias se posicionavam sentados na relva daquela colina, enquanto, num gazebo ali posto, estava o Venerável Ancião e, diante dele, cada um dos Escolhidos: Fat Jonjo, dos Nandibali; Bob Zig, dos Shuren; Dona Marocas, dos Zhenya e por fim, mas não menos importante, Senhor Chan, dos Ifedayo. Como mandava a tradição, todos, ao chegarem, se cumprimentaram dando dois beijinhos enquanto encostavam bochecha com bochecha.

O Venerável Ancião de muitos anos se ergueu de sua esteira com a ajuda de seu cajado e dando cerca de dez passinhos para frente - que se fossem de uma pessoa no auge da idade, seriam dois - adiantou-se e falou:

Se os Escolhidos fossem capazes de ver o olhar do Venerável Ancião, teriam temido este aviso. No entanto, suas sobrancelhas eram tão longas e brancas e seus olhos tão enrugados que isto era impossível.

O vento corria fresco naquele dia, o que indicava um bom augúrio para todos os competidores.

Estando anunciadas as disputas, vários membros da guilda começaram a trazer mesas e utensílios para preparo de chá, deixando tudo pronto para começarem os embates. Os escolhidos teriam alguns minutos para conversar entre si e para se prepararem para o grande torneio.

Dona Marocas fora a última dos competidores a chegar no local onde aconteceria o torneio. De longe era possível ver uma belíssima carruagem guiada por dois lindos corcéis brancos de crina cor de creme e os olhos azuis claros. Era como se os animais tivessem consciência do quão “chique” era seu trabalho em trazer a formosa dama Zhenya para aquele lugar, pois pareciam desfilar até o lugar onde finalmente parariam.

O servo que guiava o transporte deixou as rédeas e desceu para abrir a pequena portinhola revelando um interior ainda mais bonito com as paredes internas muito bem forradas. Mas o que mais chamava a atenção de todos, provavelmente, era charmosa dama que nunca era vista repetindo suas vestimentas. Com o auxílio de seu criado, Marocas tivera alguns desconfortos para passar pela estreita portinhola que não queria deixar suas nádegas avantajadas atravessarem – Mas o que isso? Incompetentes, fizeram uma porta pequena demais! – Ela murmurou aborrecida para o guia que soltara um sorrisinho amarelo.

Finalmente a dama se libertara de seu constrangido momento e estrava de pé diante dos curiosos, visitantes e de seus adversários que pertenciam a famílias rivais. Marocas ajeitou a barra de seu vestido novinho. Ela trajava uma vestimenta sensual para a época que lhe caia muito bem com o decote deixando aparecer parcialmente seus “airbags” que eram muito famosos pelo que podiam fazer.

Dona Marocas aproximou-se dos candidatos rivais quando o velho terminava de explicar como funcionaria aquele torneio tão esperado. Com um sorriso no rosto que, embora falsa, ela era mestra em cativar seus pretendentes, um olhar agressivo como o de uma leoa, ela cumprimentou seus “amigos”.

– Oie, meninos... – Ela dera uma breve piscadinha com um biquinho que era sua marca registrada – Jonjo... Bobby...Ah, e claro, Chan! – Ela dera um beijo no rosto de cada um sem se importar com seus sentimentos, pois ela sabia que poderia usar sua sensualidade como grande vantagem para a vitória. Dera uma piscadela muito especial para Chan, quando descobrira que ele seria seu primeiro rival como competidor auxiliar.

Enquanto os competidores chegavam e se cumprimentavam, outros membros da guilda já haviam preparado todo o local. A competição se daria bem em frente ao gazebo onde estava o Venerável Ancião. Duas enormes mesas de madeira maciça haviam sido postas há apenas cinco metros de onde os Escolhidos estavam. Isso queria dizer que eles preparariam suas infusões bem diante do Venerável Ancião, o grande juiz daquela competição.

Sobre as mesas haviam todas as possíveis e imagináveis ferramentas para fazer toda sorte de chá. Pilões de pedra, maceradores, tábuas, facas de diversos tamanhos, colheres demasiado delicadas, infusores de diversos tipos e tamanhos, fogões portáteis e chaleiras. Bem como ingredientes diversos para harmonização e pratos e bandejas para o serviço do chá.

Nenhum dos Escolhidos poderia reclamar de falta de material. Vendo que tudo estava nos devidos lugares, o Venerável Ancião bateu duas palminhas e, com esse gesto, alguém soou um enorme gongo que ficava no alto da colina, onde a maioria dos familiares e membros da guilda assistiam sentados em grandes toalhas o início da competição.

Todos os Escolhidos estavam mais do que habituados a cada uma daquelas etapas. Só amadores ficariam surpresos em como a preparação de um chá perfeito poderia ser complicada. O Venerável Ancião bateu novamente duas palminhas e o gongo soou como se tivesse sido chicoteado pelo próprio satanás.

Marocas era a típica dama que já estava acostumada com elogios, afinal, ninguém se atrevia a ser mais bela do que ela e o seu espelho nunca mentia. Com um sorriso simpático e as bochechas levemente coradas, ela apreciou o elogio de Jonjon como o fazia com poucos, talvez, na realidade, ele fosse o único que tivesse a honra de tamanha intimidade. Sentira seu corpo estremecer quando o cavalheiro lhe beijara a mão num ato de profundo respeito para com a dama.  

–  A disputa não poderia ser melhor, se não ao seu lado, Jonjon, meu barrigudinho fofo... – Aquela era a maneira como que ela se referia ao suposto pretendente. Seus olhos sedutores diziam mais do que realmente ela queria dizer. Dona Marocas se entregaria a Jonjon naquele torneio.

Jonjon conduziu Dona Marocas para a primeira etapa daquele que era o evento mais importante para ambas as famílias. Maroquinhas sentia-se pronta para mostrar o que aprendera nos últimos anos de treinamento.

– Ah, mas é claro que não, jonjonzinho.... – Mentira Dona Marocas desviando o olhar, como sempre fazia quando não podia encarar de frente as pessoas – É claro que vai vencer, é o melhor fazedor de chá da região... – Ela murmurara de modo que somente ele pudesse escutar sua confissão. – E mais tarde vamos comemorar sua vitória de maneira muito especial – Com uma piscadela sensual, a dama já colocava sua estratégia em jogo e, se não fosse a melhor criadora de chás, ao menos jogaria seu charme para vencer! Quem em sã consciência resistiria ao seus encantos?

Marocas não tinha muito o que fazer e precisava se manter firme e confiante em si e em seu plano. Ajudaria seu barrigudinho de momento, mas isso não era regra. Pegava delicadamente cada um dos ingredientes, deixando-os preparados de forma que Jonjon pudesse usá-los em sua própria estratégia.

– Jonjonzinho, você é um pãozinho! – Dissera ela valendo-se de uma gíria antiga (ou talvez não). Seus olhos e sua carinha de menina envergonhada eram a maneira como ela conquistava os corações alheios. – Vamos lá, meu zangão! O mel e suas delícias nos esperam! – Respondera a dama acompanhando o cavalheiro – Ui! ZZZzzzZZZZ... – Ela aproveitara para entrar no clima das abelhas junto com seu pretendente!

Assim que iniciaram, Bob Zig sugeriu a Chan que buscasse uns cogumelos, umas raízes, e umas flores. Queria fazer um chá aveludado. O auxiliar do Shuren escutou aquilo com atenção e após um breve instante de meditação e saiu à procura. Chan era muito bom naquilo e naquele dia, sua meditação o ligou com os elementos da natureza. Não muito longe da mesa de preparação do chá, detrás de uma pedra coberta de musgos, Chan encontrou uma boa quantidade de uma milenar erva medicinal: Maria Joana.

Era uma erva de muito boa qualidade, mas Bob Zig, que saiu em seguida para procurar os complementos que dariam corpo e retirariam o amargor da Maria Joana, não teve sorte. A menta e a hortelã que havia encontrado estavam um tanto quanto murchas, o que somente faria o chá amargar ainda mais. Sobre o creme de café... Bem...

Enquanto isso, Fat Jonjo e Dona Marocas estavam no só love, só love. Uma cena... ingurgitante de se ver. Em meio à algumas saliências que todos preferiam não ver, Jonjo juntou as folhas de chá e o sumo de bergamota, o coração do Earl Grey, e, com precisas orientações, Dona Marocas reuniu o limão siciliano e o mel de laranjeiras que estavam comodamente colocados em cima da mesa.

Uma vez que os competidores estavam com seus ingredientes reunidos, o Venerável Ancião reagiu por contadíssimas palavras:

Isso ele falou sem sequer se mexer e quem não estivesse atento acharia que tudo não passou de uma breve alucinação. A disputa havia começado, afinal de contas, e agora era o momento dos competidores brilharem.

Dona Marocas ficara exuberantemente feliz ao receber a notícia, junto de todos, que Fat Jonjon se saíra melhor em relação aos demais. O plano da bela dama era que os dois terminassem a disputa juntos, mas claro que se ela fosse a vencedora não acharia ruim, pelo contrário, ainda fará o que tiver ao seu alcance para trazer o nobre título para casa. Marocas imaginou entre devaneios, o quão feliz seu pai, Marocos Zhenya ficaria em absoluto, já que o velho levava muito a sério o valor e o peso que tal sobrenome carregava.

–  Ai, pare, jonjon... – Murmurou ela criando um clima – Assim me abre o apetite também. Mais do que pães, agora eu adoraria comer um eclér de creme ... Humm, com um chazinho bem preparado não teria café da manhã melhor!

A dama puxou de um pequeno bolso na lateral de sua vestimenta um pequeno espelho parcialmente embaçado, aproveitou o momento antes de começar a segunda etapa para contemplar sua própria beleza. Queria ter certeza de que sua maquiagem ainda se mantinha de pé, o lindo batom tom rosa, as cores em degrade que escolhera para enfeitar os olhos e o “blush” rosado para dar cor as suas bochechas pálidas. Aproveitou também para olhar o lindo penteado que ordenara que seus empregados fizessem só para aquela ocasião, sem contar a linda tiara que trazia na cabeça, de forma a deixa-la mais atraente.

– Não seja tão maldoso, Jonjon... – Retrucou Marocas com um quê irônico – Depois podemos deixar que eles provem do nosso chá, uma cortesia da casa, afinal, somos chiques e pessoas chiques tratam bem os amadores... hihihi...

Sua risada era irritantemente aguda e piorava mais quando ela levava a mão gorducha a boca para abafá-lo.

Marocas colocava sua atenção em seu pretendente, quando ele iniciara uma breve explicação sobre o seu próprio método de fazer chá. “Interessante...” Pensou ela, mas continuara calada mantendo o foco.

– Morrer do coração? Não se preocupe Chan, somos muito saudáveis! Não é a toa que sou a dama mais bela da região... – Ela dera uma leve piscadela para o rival, se tinha segundas intenções era difícil dizer.

Finalmente ignorando os rivais, ela começara a por em prática juntando seus conhecimentos com o que acabara de aprender com seu barrigudinho. Vez ou outra no preparo, eles se esbarravam, mas isto porquê a o lugar era estreito demais. Marocas podia sentir o calor que emanava da barriga máscula de Jonjon, em outro momento, ela provavelmente pensaria coisas que não uma dama de família era proibida de imaginar, mas naquele momento, ela apenas curtia o clima intenso com seu zangão, enquanto realizava seus afazeres.