Com o aval de Diana Victoria e do próprio Dmitri, Doc beijou o garoto e iniciou o procedimento de cura, que cada vez mais vinha com naturalidade à médica. Mesmo com a dedicação de um coração repleto de gratidão, a Caçadora via os ferimentos fecharem-se muito mais lentamente do que todos os demais que havia tratado até aquele momento. As lágrimas da Última Filha de Eva haviam secado, mas seus olhos continuavam arregalados e preocupados, refletindo sua pouca idade e inexperiência.
Victor teve pensamentos bastante sombrios acerca de maneiras de acabar com aquele espetáculo de dor de vez, mas a aproximação dos inimigos fez com que o Caçador se centrasse novamente. Antônio e Gerson se preparavam, como Exorcistas do grupo, apesar de que as marcas no
gangster haviam praticamente sumido, enquanto as do Agente continuavam intactas. Os mais de dois anos passados no Sonhar haviam cobrado um preço, afinal. Guinnevere e Ana, além de Victor, também não apresentavam mais os Sinais da Consagração, a não ser por leves sombreados e pontinhos perdidos nos antebraços.
Por sua vez, Mayane assumia uma posição de protagonismo nunca antes ousada pela psicóloga. Com o coração pulsante daqueles que têm Fé no propósito divino, a médium entoava orações diante do eclipse, buscando com suas palavras atingir os Domínios do Altíssimo e trazer o Fogo dos Anjos em auxílio dos Caçadores que lutavam em defesa da Humanidade. Ao mesmo tempo, Doc recebia uma arma de Antônio - Dmitri ainda estava ferido, mas agora já conseguia se sentar quase sem fazer caretas de dor. O restante da cura, a herança incomum dos Garou teria que fazer pelo garoto: o tempo deles estava acabando e a médica precisava tomar parte na difícil matança à frente.
A discussão estava entre barricar a casa - onde Guinnevere havia entrado em busca de uma arma - e formarem uma linha de frente quando um estampido surdo se fez ouvir às costas do grupo. Tensos como estavam, viraram-se os Caçadores de armas em punho, deparando-se com uma visão de tirar o fôlego.
A primeira das criaturas meio-homem meio-lobo que viram era vermelha e branca como uma raposa e devia medir pouco mais de dois metros. Tinha um andar bípede bastante feminino, apesar da forma guerreira em que se apresentava, e fez Dmitri passar protetoramente Diana Victoria para trás de si, mesmo ainda sentado no gramado.
- Màthair. - o Impuro Perfeito corou e se sobressaltou quando outros estampidos surdos se seguiram ao primeiro, trazendo outros quatro lobisomens, um após o outro, para o gramado do Jardim.
Nas árvores, as sombras se agitavam e cresciam, e uma risada gorgolejante e maligna arrastava-se pelo ar, combatendo a prece de Mayane. Os quatro Caçadores que estiveram no Sonhar reconheceram imediatamente Anoitecer Selvagem, em sua forma Crinos, grandioso homem-lobo de pêlos brancos como a neve. Ao lado dele, vinha outro que era em tudo semelhante, o que provavelmente indicava certo parentesco. Esses estavam à esquerda da Garou vermelha. À direita, dois homens-lobo de pêlos castanho queimado e branco. Um deles, portando um cajado gravado com glifos e adornado com penas e ossos. O outro, de cerca de três metros e meio de altura, era o maior Garou que já tinham visto, e trazia uma lança igualmente imensa nas mãos.
- Otets... Dyadya... eu---A medida que os Garou caminhavam na direção do grupo, iam se tornando em formas humanas, revelando suas faces e dando-se a conhecer.
- Silêncio, filhote! O Ard-righ fala! - a Garou vermelha se apresentava como uma bela ruiva de olhos profundamente azuis, com uma voz macia e quente que era um arrepio de contraste com o tom lúgubre que a cena inteira apresentava. Ela encarou o garoto, que desviou os olhos respeitosamente, e então fixou o olhar sobre Diana Victoria por alguns segundos, antes de virar-se para esquadrinhar o grupo. Após olhar um por um, parou e voltou-se para Doc, com uma breve reverência de cabeça.
Anoitecer Selvagem - uma versão maior, mais forte e mais velha do próprio Dmitri - permanecia a postos, ao lado de um homem de pele branca, cabelos negros e belos olhos claros. Os dois eram realmente semelhantes, apesar das diferenças, como apenas os parentes o são entre si. Apesar de estarem visivelmente preocupados com o estado do garoto, não se moviam. As feridas do Impuro continuavam fechando-se lentamente.
Os outros dois homens eram nitidamente parentes da ruiva. O mais alto, apoiado à lança que havia cravado no chão, tinha os cabelos loiros levemente avermelhados, olhos escuros como as sombras das árvores e uma expressão
badass que parecia ampliar ainda mais sua estrutura: cerca de dois metros de músculos atléticos e um sorrisinho de quem sabia dar mais de uma destinação a eles. O outro, mais baixo, devia medir seus 1.85m e era forte de um jeito esguio, longilíneo, com os cabelos castanho-queimados cortados bem rente, em desenhos na lateral que eram como nós celtas. Era o único a usar a camisa aberta - naquele mesmo padrão xadrez azul-marinho sobre verde-floresta que viram Diana e Dmitri usar - e trazia uma bonita tatuagem de um cervo cobrindo o torso definido.
E foi este que se aproximou, parando diante de Doc, a poucos passos:
- Eu sou Gaherys. Viemos para a batalha. - o homem sorriu de modo confiante -
Agora não há tempo. Mas venceremos. E falaremos de novo.Olhando ao redor, o tatuado se afastou, indo na direção de Ana, com os olhos em Mayane no processo.
- Precisamos rasgar o Véu para trazer os Escolhidos de Gaia... hmm... os lobisomens para cá. Esta casa fica no território de um caern, mas está agora fora do alcance do Mundo Material. E o Maelstrom impede a maior parte de nós de alcançar esse lugar. Você teve a Marca da Lua na testa, eu posso ver. E posso sentir. Mesmo que eu queira abrir passagens para todos, pode ser tarde demais quando eu tiver terminado. - os olhos acinzentados do Garou buscaram ao redor, encontrando Guinnevere, Victor e, novamente, Maria Ivri -
Moça dos cabelos-de-fogo, eu vejo a Maldição das Fadas tomar seu coração. Mas essa pode ser uma boa graça. Por causa dela, você poderá ajudar. Vamos, estendam as mãos à frente, assim. Olhos fechados. Tateando. Sentiram? Rasguem. Uma aqui, a outra ali, isso. Eu ficarei perto das árvores. Confiança!Enquanto isso, Mayane entoava suas orações fervorosamente, conseguindo o impressionante feito de deter por alguns instantes o progresso do eclipse. Aquilo era
impossível, é claro, mas a Profetisa estava cercada por um verdadeiro milagre. Enquanto Gaherys tentava instruir Ana e Guinnevere sobre modos de abrir caminho para o exército Garou, Anoitecer Selvagem e Sangue de Dragão, seu irmão, acercaram-se dos Caçadores armados, integrando a primeira linha de defesa da casa. Isso não sem antes um breve momento com Dmitri, em que trocaram abraços e recomendações amorosas, sob o olhar inflexível da ruiva bonita.
Por sua vez, a mãe do Impuro Perfeito aproximou-se de Victor, tocando sem maiores cerimônias o ombro direito do Caçador com sua mão esquerda. Ela não era uma mulher muito alta, talvez na casa dos 1.60m, mas tinha uma beleza avassaladora apesar de não ser mais tão jovem - quarenta e poucos anos, talvez? Contudo, a voz ainda era o dado mais impressionante: passava dos ouvidos direto para um canto escuro e maravilhoso do cérebro, retornando as palavras à compreensão apenas depois de mergulhadas em certo
formigamento.
- Como pai da menina, - era evidente que ela tratava de Diana Victoria -
ofereço a proteção do tartan do meu clã, se aceitar. - a mulher despiu a camisa xadrez que usava (que era realmente enorme para ela, provavelmente pertencendo a algum dos outros lobisomens), e ergueu diante de Victor -
Meu nome é Gwenhwyfar. Mãe do Jimmy.Por sua vez, o mais alto dos Garou se aproximou de Dmitri e Diana Victoria, dando um tapinha amigável nas costas do garoto e trocando algumas palavras em uma língua desconhecida. Na sequência, seguiu sorrindo
daquele jeito até Doc, fincando a gigantesca lança no chão novamente diante da mulher:
- Se a cura funciona na base do beijo, caileag... - o Garou deu um beijo suave nos lábios da médica, que pôde sentir o sabor de menta (não artificial, mas sim da planta mesmo) no hálito fresco dele. Talvez o beijo menos conturbado de todo aquele dia, entre vômitos, maldições e pessoas queimadas pelo fogo do Inferno -
... melhor garantir, uh? - ele tinha mesmo um sorriso charmoso quando se afastou um passo, tomando a lança de volta nas mãos. Gaherys e Gwenhwyfar reviravam os olhos, enquanto Andrei e Nikolayev (aquele era o nome do irmão) tentavam disfarçar as risadas -
Não sei se precisa do meu nome para os encantament----- Pelos Chifres do Gamo-Rei, Bedwyr, foco! Não é a celebração de Beltane, mas sim a maldita Batalha do Apocalipse!A ruiva ralhou, séria, ainda segurando a camisa xadrez diante de Victor. O tatuado apenas balançava negativamente a cabeça, enquanto continuava tentando ensinar Ana e Guinnevere a encontrar as fendas no Véu. Os Garou russos trataram de parecer ativos, mudando novamente para a forma Crinos de batalha e afiando as garras prateadas e brilhantes na terra do Jardim.
- ... então, é Bedwyr. - ele sorriu e deu de ombros, girando a enorme lança com habilidade invejável -
Use a arma apenas depois que eu cair, Maria-banrigh. Até lá, cure. E que a graça de Gaia esteja sobre você.Mayane mantinha-se em prece elevada diante do sol, que ia lentamente sendo engolido pela sombra. A médium intuía que, caso sua Fé vacilasse, a velocidade do eclipse mais que quadruplicaria. Concentrada, ela não poderia se dar ao luxo de temer as criaturas que avançavam sobre o Jardim. Com o rosto erguido para o céu, de onde clamava ajuda, Mayane não viu quando a linha das árvores foi tomada de escuridão.
Mas Antônio e Gerson viram. Enquanto Ana e Guinnevere permaneciam de costas para os invasores, tentando rasgar a Película, Doc era beijada (mais uma vez) e Victor tinha diante de si a Garou ruiva com a camisa xadrez estendida, os dois Exorcistas viram o exército inimigo ganhar os primeiros metros no campo aberto à frente. Criaturas horrendas, distorcidas, como homens cinzentos e mutilados, portando todo tipo de armas e armaduras - desde placas de couro e espadas, até cotas de malha, arcos, coletes de kevlar e submetralhadoras. Em uma confusão de épocas, as linhas inimigas pareciam se formar de cadáveres afogados e criaturas de filmes de fantasia (orcs e goblins, em sua maioria). Ambos os Exorcistas contaram cerca de duas centenas em marcha cerrada de quatro ou cinco fileiras - e aumentando!
Enquanto isso, Diana Victoria ajudava Dmitri a ficar de pé, agora já quase inteiramente recuperado dos ferimentos que trouxe do Inferno.
- Formas dos Lobisomens:
Caçadores, terá início a Batalha do Apocalipse. Para facilitar o combate, farei adaptações na forma de julgar os ataques e defesas de vocês, levando em conta as fichas como parâmetro! O post ficou bastante longo, por isso explicarei a mecânica na próxima ronda. Porém, não se preocupem: será uma medida para aumentar a eficácia de vocês, sempre. E buscando um tom épico!
Façam seus posts descrevendo não apenas às reações às interações com os NPCs, mas também quais serão suas estratégias em combate. Ana e Guinnevere ajudarão Gaherys a trazer os Garou para o Jardim? Mayane continuará entoando suas orações - será que ela consegue gerar mais algum efeito se ampliar os pedidos? Doc vai partir para o ataque ou vai permanecer curando à distância? Victor vai aceitar a camisa - considere que há tempo para desenvolver esse diálogo antes que os inimigos saiam da linha das árvores, ok? Gerson e Antônio vão se abrigar para atirar, subir no telhado da casa, sair correndo para o meio do combate...? Enfim! Lembrem-se: nenhum de vocês jamais é obrigado a nada e tudo pode ser tentado (nem sempre com resultados positivos, mas...).
Boa sorte para nós!