Ao exclamar o nome da figura que lhe retirou a venda, Gambiru nota que passos passavam por sua lateral enquanto se revelava a imagem daquele que ao mesmo tempo lhe era familiar, mas por outro lado carregava um peso em sua imagem que fazia o kemono querer esquecer sua possível ligação com aquelas feições.
- Inia:
- Fico feliz em saber que não fui mais um aroma efêmero na sua vida. Depois conversamos para eu saber como devo lhe agradecer por tamanha honra... As palavras de Inia ficavam pelo caminho enquanto ele seguia em direção de Flor.
- Que grande felicidade a minha em saber que meu convidado de honra conhece um dos nossos convidados recém chegados. Flor puxa a palavra para si.
- Você deve se sentir lisonjeado, menino rato, pois já lhe considero mais importante do que quando chegara aqui só pelo fato de ter conseguido arrancar de Inia o seu nome de batismo. Ri ao pensar no fato que acabara de falar. O alto homem a acompanha com uma leve risada.
- E o melhor é que você, Inia, vai poder ver a qualidade dos meus produtos sendo testada em alguém que já conhece a biologia, uma oportunidade e tanto para um colecionador como você. Eu não teria como ficar mais feliz.O boto continua sua lenta caminhada pela mesa e passa ao lado da cadeira onde se encontra Juninho. Não deixando o assunto morrer, logo devolve os elogios.
- Você sabe que não gosto de viagem perdida, Flor. Se vim aqui é porque tinha certeza que você era a melhor no que faz com as ervas, principalmente essas que recolheu hoje. E isso é algo raro de admitir para mim que sou um aficionado pelas mais diversas poções. Termina a frase enquanto gira seu corpo para trás e olha pra Gambiru como se estivesse lembrando de algo.
Juninho realmente havia conseguido que ninguém o escutasse acordando, mesmo que o mesmo estivesse praticamente transpirando o medo de não saber onde estava nem o que ocorria ao seu redor. Mas, em um momento de súplica por uma voz conhecida, falou para o nada, o mesmo nada escuro que conseguia enxergar com a venda em seus olhos. Talvez o nada lhe ecoasse de volta uma voz conhecida.
Talvez Familiar.
Buscava algo que confirmasse a presença do irmão ao seu lado e que, de alguma forma, ele pudesse lhe ajudar. Seus ouvidos já se preparavam para o tom de Gambiru, seu corpo tenso já se preparava para sentir o alívio tão desejado de não estar mais em meio ao totalmente desconhecido.
E então, uma resposta lhe veio.
- Sim, meu pequeno. Estamos todos aqui. Falou Florzinha, com uma voz que deixava levemente transparecer sua surpresa.
- Fico feliz que tenha acordado junto ao seu irmão, mas não seja tão apressado quanto ele, sua vez já está pra chegar.Parecia que aquele garoto ter acordado surpreendeu a todos, de diferentes modos. Um breve silêncio pairou pela descampado, até que Inia parou o seu movimento e se virou até onde estava o recém acordado.
O olhou por alguns poucos minutos até que iniciou sua caminhada até a sua cadeira, onde se localizou atrás. De lá, falou com Flor com um grande fascínio em sua voz.
- Espere um pouco Flor, não acho certo que alguém com tamanha importância como esses irmãos tenham que esperar. Gambiru engole a seco pois tinha certeza que o Inia que conhecia não saberia quem é Juninho.
- Veja bem esse rostinho tão especial e brilhante, acho que ele é digno de participar das festividades junto ao irmão. O homem usou sua grande e pálida mão para pegar o rosto de Juninho pelas bochechas e as apertar como se estivesse tratando um bebê, mas a força que utilizava chegava a machucar um pouco o interior da boca de juninho que, ao mesmo tempo que sentia dor, parecia sentir algo inusitado.
Parecia atração, mesmo que ele não entendesse muito bem pelo o que.
Inia e Flor pareciam focados na conversação sobre Juninho, o que fez com que uma oportunidade aparecesse para o kemono que, enquanto ambos conversavam, forçou as vinhas que lhe prendiam e agora estava solto.
Em um pulo, saltou da cadeira e com algumas passadas largas e ligeiras, que só aqueles pés acostumados com carreira sabiam dar, já estava frente a frente com Inia. Flor viu tudo de longe mas não se mexeu, apenas continuou encarando o convidado que havia saído de seu assento.
O homem de cabelos alvos e semblante calmo se virou para o filho mais velho de Rosinha, sem soltar o rosto do jovem acólito, e fechou os olhos de forma leve, como se cumprimentasse Gambiru.
- Saudades, "meu" pequeno? Não seja tão mal educado com nossa anfitriã e se sente, por favor... Respirou fundo.
- E não me vá reclamar para sua mãe sobre isso, dessa vez não tenho culpa de nada. Não fui eu que fui atrás da cria dela, vocês que fizeram questão de cair diretamente no meu colo. Ao terminar a sua frase, um sorriso que transbordava satisfação lentamente se formou no canto de sua boca ... um sorriso que Gambs conhecia bem, mesmo que agora estivesse em um rosto um pouco diferente.
Enquanto fala com o kemono, Inia lentamente remove a venda que cobria os olhos de Juninho. Ele agora conseguia ver toda a situação da mesa e das pessoas ao redor, tanto as conscientes quanto as inconscientes.