Depois de breve conversa, Marcel não se opõe a levá-los onde Niréia provavelmente está. Ele comenta que ele e seu grupo não trabalham para a Cour des Miracles, mas que seus caminhos se encontram com frequência e então dão pequenas ajudas em nome da amizade.
- Nos encontramos com mais frequência do que gostaria. - Ele diz mais pra si mesmo que pra vocês.
Cruzar a ponte, em direção à parte oriental da cidade, era sempre um risco, enquanto fazem isto, Marcel procura algo em uma bolsa, então acha uma insignia específica.
Não demora, um demônio aparece no meio do caminho, perguntando o que pretendem.
- Temos assuntos pessoais e sabemos o caminho. - Diz Marcel, exibindo a insignia.
- Mm, vocês, humanos, não são bem vindo aqui, sabe disto?
Marcel não se deixa intimidar com o demônio:
- Ninguém é bem vindo em Dafodil.
- Ora! Temos um comediante... Você vai se dar mal...
Marcel ignora as ameaças, e segue andando, o demônio deixa vocês irem, mas com aquela cara de que "vai ter troco". Ka observa que, enquanto andam, uma das adagas de Tirel brilha discretamente num tom vermelho, ele comenta.
- Ma'bah! Ainda não sei como isto funciona, comecei a ter esta habilidade a pouco tempo!
- É uma arma mágica?
- Sim, é uma feita por meu pai, mas ela nunca tinha brilhado antes até poucos dias. Eu achava que era apenas uma boa adaga, com linhas-guia, mas sem magia. Logo depois descobri que tenho algum dom de magia vermelha e por isto ela reagiu a mim.
- Que interessante!
Vocês entram no cemitério. O cemitério é tão grande, que ocupa pelo menos metade desta metade da cidade, tanto que há casas e até comércio DENTRO do cemitério, por isto a parte oriental da cidade é chamada de "Necrópole".
Dafodil não tem muitas árvores, mas dentro do cemitério tem algumas relativamente grandes, conhecidas como lacrimosas; Parecem com os salgueiros chorões, mas são bem mais escuras, o tronco bem preto, coberto de casca escura e seca, as folhas de um verde quase negro também, são mais altas e mais finas, com folhagem menos densa que os salgueiros. Talvez as lacrimosas até fossem um tipo de salgueiro que existia antes do Ragnarök, e que ficaram assim devido as mudanças no mundo todo. Estas árvores existem praticamente só na Ilha dos Exilados.
Na Necrópole haviam alguns lugares com várias lacrimosas, que davam a impressão de pequenas "florestas" isoladas (se nunca viu um salgueiro, ele dá muitas folhas, que tão a impressão de que é muito mais largo do que realmente é, quando junta mais de um na mesma região, dá um aspecto interessante, procure). Marcel se dirige para o meio de um destes "círculos" de lacrimosas, aparentemente não tinha nada nem fora, nem dentro da pequena "floresta no meio do deserto", mas quando se aproximam do centro do "círculo" de árvores, vocês veem um mausoléu.
De longe nem dá pra ver, atrás das árvores e da neblina (Dafodil tem neblina quase o ano todo, independente da estação, e quase na cidade toda, principalmente na Necrópole), quando se chega perto do círculo de árvores, pode se ver só um tipo de cabana abandonada, só quando realmente se entra dentro do círculo que dá pra ver que é um tipo de mausoléu, e relativamente grande por sinal. O teto feito com a madeira escura das lacrimosas (por isto se escondia bem, apesar do tamanho) e as paredes feitas de tijolos escuros (em resumo, era tudo muito escuro ali). Apesar de lúgubre, a construção parecia sólida e imponente.
Marcel diz para vocês esperarem onde estão. Ele bate numa porta do mausoléu, quatro batidas, depois mais quatro, depois mais uma, então a porta se abre, e ele entra. Ka e Tirel olham em volta, não dava pra ver nada além do mausoléu, das árvores e da neblina (e alguns pombos), mas dava para se ouvir sussurros.
Estes "sussurros" eram comuns em Dafodil em dias de neblina forte, pareciam vindos de lugar nenhum, ou como se fossem uma alucinação auditiva (e talvez fosse mesmo), por isto não chega a assustar muito vocês, mas por mais que se esteja acostumado com o fenômeno, era sempre irritante (pra dizer o mínimo).
Não muito tempo depois (talvez dois, três minutos) a porta se abre novamente, e Marcel e Niréia saem de lá. Ela cumprimenta com gestos simples.
- Deram sorte, ela estava por aqui...
- Meu instrutor disse que estavam procurando minha ajuda. Mas alquimia não é exatamente algo que eu domine muito. Melhor avisar.
Marcel ameniza a situação:
- A purificação dranaidista não é a técnica mais difícil que existe, consiste basicamente em infundir energia mágica no metal, tal como você preparou em sua manopla...
- Mas faz anos que trabalho nesta manopla!
- Eu acredito que você consiga. Mas não é obrigada fazer, se não estiver afim. (pausa) Depois de infundir magia no metal, a purificação é feita em camadas, separando e aproveitando todas as partes da mistura, até as indesejadas.
- Creio que "indesejadas" devem ser as que fazem o minério soltar gases venenosos! - Deduz Ka.
- Exato, se for bem feita, ao invés de liberar gases, a purificação dranaidista vai separar o metal dos sais responsáveis por estes gases, sem que eles virem vapor.
- Eu li sobre o assunto, - Ka tenta "ganhar" Niréia - Boa parte é feita com ácidos e outros materiais que uso bem na forja, conseguiria fazer a maior parte do processo, mas só não consigo esta coisa de... como é? infundir magia?... esta parte precisa de alguém que seja maga...
- E que seja branca? Você não seria preparado para este tipo de purificação? - Esta Niréia pergunta a Marcel.
- Esta técnica é descrita para magos brancos, embora magos verdes sejam mesmo bons com técnicas de purificações. Talvez eu pudesse resolver, mas não trabalho para a Corte.
Isto a deixa um pouco aborrecida: - Nem eu!
- Mas eles procuraram você, e eu acho que você daria conta. Eu nem sei quem são estes aí, e não importo.
- Mmm... Acha mesmo que consigo? Não é o tipo de coisa com que trabalho.
- Não é para novatos, mas você tem nível mais que suficiente. Se tiver boa vontade, não duvido nem um pouco que consiga.
- Mmm... - Niréia mostrava pensar seriamente na proposta. Mesmo não estando muito afim, o fato do instrutor a achar capaz parecia contar bastante para ela.
(OFF:) É quase certo que ela aceite, se não quiser gastar muito tempo nesta cena, pode considerar que ela aceitou depois de uma pequena conversa. Vocês vai ter que providenciar alguns materiais para a purificação, comprar ácidos e sais metalúrgicos não era difícil para vocês, embora às vezes fosse chato, pois os vendedores costumam vender isto em pequenas quantidades. Ka deve ter meio litro de ácido na forja, e Tirel outro tanto mais ou menos igual, mais precisariam de uns dois litros, talvez até três. Como Tirel é a mais interessada, ela pode comprar os itens que você tem, incluindo também linamarina (e o que não tem, você também pode deixar por conta dela ir buscar, se quiser fazer algo melhor do que ficar ajudando ela).