O relógio pendurado na parede alva da recepção marcava 16h37min.
Duas recepcionistas muito educadas se mantinham atrás do balcão recebendo quem chegava, enquanto algumas pessoas aguardavam sentadas a vez de serem chamadas para atendimento nos ambulatórios.
Pelos corredores, impecavelmente limpos, médicos e enfermeiras cruzavam de um lado para o outro atendendo pacientes, realizando exames e preenchendo prontuários médicos.
Qualquer pessoa que visse essa cena diria que era mais um dia normal na rotina do hospital e estaria absolutamente certo.
Era mergulhada no meio dessa rotina que Ayaka se encontrava naquele momento, preenchendo muitos e muitos papeis sobre pacientes.
Sim, como estudante de medicina aquele era mais um dia de aulas práticas onde ela acompanhava seu professor nos atendimentos, fazendo relatórios sobre procedimentos acompanhados e dando seu parecer sobre eles enquanto aluna.
Ayaka estava sentada em uma das muitas cadeiras azuis espalhadas pelo corredor. Faltava pouco, na verdade menos de meia hora e cerca de uma folha e meia a ser preenchida para que acabasse aquele dia de aulas. O que acontecesse primeiro.
No entanto, Aya sabia que em se tratando de um hospital o fator “imprevisto” sempre poderia vir a alterar a rotina dos médicos. Talvez ela só não esperasse presenciar aquele tipo de imprevisto.
Um burburinho seguido de uma grande agitação chama a atenção dela, que pode ver médicos e enfermeiras vindo pelo corredor, na direção em que estava, enquanto traziam alguém que parecia se debater na maca.
Em se tratando de um hospital, receber pacientes que foram vítimas de acidentes mais importantes não era raro, mas ela percebeu que algo ali estava diferente.
No início do corredor, atrás das portas que separavam a ala exclusiva para atendimentos, podia-se ver a movimentação do que pareciam ser repórteres.
Quando a maca com o paciente passa por ela, Aya vê que se tratava de um jovem rapaz. Seus braços e pés estavam amarrados a estrutura da maca e as enfermeiras tentavam ajudar a conte-lo enquanto pressionavam o peito dele contra o colchão.
A situação em si já seria estranha, mas o que mais chama a atenção dela é o fato de o rapaz estar com a pele em um tom azul acinzentado, fato que parecia ser ignorado pelos médicos, e um olhar extremamente raivoso. Ele literalmente rosnava, e quando por alguns poucos segundos o rapaz olha em sua direção, Aya pode sentir uma aura estranha, fria, emanando dele.
O rapaz havia sido levado para uma sala especial, muito usada para aulas, onde um grande vidro na parede permitia que o atendimento pudesse ser acompanhado. Ela se aproxima para ver o que estava acontecendo.
Viu que o rapaz continuou se debatendo por alguns minutos até que algo ainda mais estranho, que talvez somente Aya tenha visto, aconteceu. Em um longo e profundo suspiro uma sutil névoa de cor azulada sai pela boca do rapaz, flutuando lentamente pelo quarto, atravessando a parede para o lado de fora do hospital.
Quando isso acontece o rapaz para de se debater, ficando estático na cama enquanto balbuciava coisas que ninguém conseguia entender e quando isso acontece Aya se lembra da tão comentada nova “droga” que causava surtos de violência seguidos de uma espécie de catatonia. Mas seria mesmo o efeito de uma droga o que ela viu?
- Então você conseguiu ver o que aconteceu com ele, não é mesmo?
Ayaka ouviu uma voz conhecida.
Se ela se virasse veria Kurama calmamente parado ali atras dela, com uma das mãos apoida no queixo, no meio da ala restrita do hospital.