Vocês preparam os materiais sobre a bancada de trabalho de Tirel, a primeira parte seria com Niréia, depois que o minério estivesse infundido com magia, os ferreiros podiam fazer sua arte. Ka já deixa à mão também uma bacia com água carboada (cheia de sais básicos fortes, que anulam efeito dos ácidos, pois não dá para limpar ácido com água pura, que os tornariam só mais reativos).
- Não podemos descuidar da segurança. - Comenta Ka. - Já vi ferreiros perderem a mão e a vida por serem estúpidos.
- Meu pai tinha perdido um dedo, e não era estúpido! - Diz Tirel, Ka acha melhor não rebater.
Ka trouxera máscaras para cobrir os narizes e bocas, Niréia pega uma, mas diz que não dá para usar as luvas de couro, pois atrapalharia a magia.
- Mas a senhorita consegue fazer magia usando uma luva de metal!
- Consigo pois ela já possui minha energia infundida por muitos anos. Além disto, minha manopla é uma arma, não uma proteção.
- E como protegemos você do efeito dos ácidos? E da linamarina, isto é um dos venenos mais perigosos do mundo, se ingerido mata em menos de um minuto!
- Se eu fizer certo, um dos efeitos da purificação dranaidista é proteger o alquimista com a resistência mágica. Além disto, você fica me vigiando, para que eu não me sinta tentada a comer esta linamarina. - Ela diz com um pouco de humor.
- A resistência mágica pode proteger de ácido??!
- Sim, ácido, fogo, frio... Depende de como é usada. O difícil será controlar a resistência e a canalização ao mesmo tempo, pois preciso diminuir uma para aumentar a outra, mas esta é a verdadeira arte dos magos.
Ka sabia que a resistência mágica podia proteger de outras mágicas, mas agora tinha uma informação nova.
Niréia começa fazendo um círculo de linamarina na bancada, aquilo seria suficiente para matar umas quinze pessoas (a linamarina serve para galvanizar metal, mas é tão letal que é proibido andar com ela por ai ou comerciar com quem não é ferreiro), em seguida coloca as rochas de minério em cima, segurando-as por logo tempo enquanto medita. Estava tão concentrada que parecia rezando sobre as rochas.
Hélius Flava começa nascer e Niréia ainda estava na mesma posição, nenhuma mudança dava para ser vista, mas depois de mais de uma hora (talvez até mais de duas, Ka não tinha marcado) ela comenta que acredita que o metal tenha cedido um pouco.
Niréia "pincela" um pouco de ácido por cima do minério, começa um pouco do fervor frio típico de reações com ácido. Este fervor frio liberaria menos vapores que o processo de fusão (Ka pensa que deveria ter pensado nisto antes daquela outra vez) mas ainda não era seguro. Niréia movimenta as mãos sobre o minério, espalhando de quando em quando mais ácido e cantando as gemas:
- Teka, 'rensi, teka, 'rensi, nie, teka, teka, nie, 'rensi, nnni nnniiee, 'rensi, kitkut, nie, kita, teka...
O efeito do fervor frio diminui, quando o minério estava já bem molhado com ácido, vocês começam ver a "casca" do minério se dissolver aos poucos, era como o esperado por uma reação ácida, mas sem liberação de vapores.
- Podem quebrar um pouco.
Ka põe a marreta para funcionar, quebrando as rochas em pedaços menores. Niréia repete o processo. Uma crosta de sal amarelado se mistura com a linamarina e o ácido na parte de baixo da bancada, enquanto o metal começa aparecer mais puro nos pedaços de rocha.
Até então Niréia usava apenas as pontas dos dedos para mexer no ácido, mas então ela precisa colocar os pedaços de minério semi-purificados num béquer cheio de ácido; Ela ainda "reza" em cima do béquer e fica misturando tudo com os dedos. Ka fica observando, o ácido poderia demorar uns cinco ou seis minutos antes de começar comer a pele dela, os sais básicos estavam a postos se algo desse errado.
Mas felizmente a purificação estava dando certo, Ka observa a pele de Niréia ficar vermelha, o que não deixava de ser preocupante, mas já tinha passado muito do tempo em que o ácido causaria danos graves, e até agora ela parecia bem.
Segurando as pedras, agora já encharcadas, um caldo com impurezas vai escorrendo e se depositando na bancada. O metal na mão de Niréia parece até flexível, como se estivesse a ponto de fundir, mas frio. Ela vai apertando até virar um único bolo. Por sorte o metal parecia bem mais puro do que vocês pensavam antes. Ka percebe que Niréia começa coçar as mãos.
- É melhor mergulha-las na água carboada.
- O metal já está purificado, mas pra terminar toda a purificação dranaidista, preciso separar o resto das impurezas.
- Melhor não se arriscar, podemos jogar o resto fora.
- Ainda farão mal aos outros desta forma.
Niréia aceita limpar as mãos na água carboada, mas insiste em terminar o processo. Uma gosma meio amarelada, meio vermelha, meio liquida, estava na bancada. Niréia coloca mais duas porções de ácido puro na bancada, uma em cada extremidade do círculo feito com a linamarina, e coloca uma mão sobre cada uma delas, aos poucos a mistura no meio vai se desfazendo, uma porção de pó amarelado (algum sal sulfuroso provindo das impurezas) vai caminhando através da solução ácida até a mãos esquerda de Niréia, enquanto uma solução esbranquiçada (Ka imagina que deve ser o resto da linamarina) migra para a mão direita, algumas pequenas pedras (fragmentos de rocha ou sub-minérios) ficam no meio, onde antes estava o círculo. As mãos de Niréia começam coçar novamente.
- Desculpe, não consigo separar mais do que isto.
- Está ótimo! - Ka ajuda a maga limpar bem as mãos, fazendo questão até de escovar suas unhas, enquanto Tirel separa as duas soluções ácidas e o resto de sub-minério que ficou na bancada. Se Ka fosse querer a linamarina de volta, teria de separar a solução ácida depois, mas isto ele poderia fazer, bem como poderiam dar um jeito de recuperar o sal sulfuroso também, embora isto não parecesse muito útil por enquanto, a menos que ele quisesse testar algumas formas de envenenamento.
- Nem sei como podemos agradecê-la! - Comenta Tirel.
Depois de lavar as mãos de Niréia, Ka também as polvilha com sal boro-carbonoso, para garantir, a pele dela estava bem avermelhada.
- Eu não recusaria se quiserem me pagar uma dose de licor. Ou duas...
Como não cresciam frutas na terra de Dafodil, licor era o tipo de bebida mais cara dali, mas duas doses não deveria ser tão caro, já que ela não especificou de qual fruta queria o licor.
No fim das contas, a purificação dranaidista ainda era mais lenta que forçar fusão numa câmara fechada, o aproveitamento das impurezas restantes não parecia tão interessante, se haveria diferença no produto final, só depois da espada pronta vocês veriam.
Tirel fica animada ao ver o mental purificado:
- Parece que a amostra não estava tão ruim como imaginamos. Queria só que este verde fosse mais verde, mas já imaginei mesmo que teria de usar algum corante. Creio que poderei fazer o resto dos experimentos hoje mesmo.