O Caminho pela neve

Era curioso a forma como o velhinho a recebia e suas palavras enigmáticas despertaram a atenção da jovem viúva, fazendo-a aceitar a oferta de comida dele, por mais que não tivesse fome.

- Obrigada senhor - ela encarou a comida por mais um tempo antes de voltar a falar - o senhor pretende me ajudar? Como? E por que? - ela respirou fundo - o senhor, por um acaso, viu um grupo de ladrões passando por aqui? Eles... eles assassinaram o meu marido... - ela voltou a encarar a comida ao mesmo tempo que apertava o chawan com força, deixando os seus dedos brancos - eu... tive que... deixa-lo para trás... eu... - ela tentou não chorar e ser forte, mas as lágrimas surgiram simplesmente em seus olhos e escorreram. Ela secou-os e se desculpou com o velho - perdoe-me... eu... foi tudo tão recente... eu...

De alguma maneira isso não parecia as lições que você tinha com teu pai sobre meditação ou nenhum outro ensinamento de sua casa
o velho mantem-se em silêncio por longos períodos - isso não te deixa desconfortável - mas também não é uma sensação natural.

-Eu vou te ajudar porque é o que deve ser feito. você está protegida com sua arma senhora Lyn, vá em busca do que é necessário, não tema a escuridão ela é sua amiga

Ele posiciona a mão esticada com a palma virada para você e se mantem durante um longo período assim, e a mão dele vai lentamente abaixando até se apoiar no colo novamente em posição de meditação [Não sei se na china tb é o zazen]

Lin tenta entender de várias maneiras porque aquele senhor a estava ajudando, mas não consegue pensar em nada lógico, então decide apenas concordar com suas palavras. Elas, ao menos, faziam mais sentido do que aquilo que ela estava vivendo. Ele parecia fazer uma prece por ela, ela não tinha como ter certeza e apenas permaneceu calada por um tempo.
Ela segurou sua espada com as duas mãos, diante do fogo, e mentalizou as palavras do homem: está protegida... não temer a escuridão... Talvez a noite lhe fornecesse cobertura e proteção? Ou seria uma escuridão mais profunda? Lin temia sua alma se tornar obscura por causa da dor que sentia naquele momento. E se ela nunca superasse essa dor?

- Agradeço por sua hospitalidade e conselhos - ela se levanta - partirei em busca de justiça, apenas me indique que direção devo seguir! - ela o encara esperando por mais alguma informação, já que ele disse que a ajudaria.

-Siga em direção a estrela cuja luz ultrapassa as núvens do céu e cuja luz faz crescer a Acacia pela manhã. Espere na beira do lago em meditação e seus inimigos irão se mostrar para você.

Ele te diz sem abrir os olhos para você e sem mesmo se mover, mantendo-se em silêncio e imóvel na escuridão cada vez maior da caverna

Agradecida, Lin ouviu as palavras do homem e pensou qual seria essa estrela, a que fazia a acácia crescer. Acácia era a flor que representava o sol e ela abria sempre voltada para sua direção, logo sabia para que lado seguir. Sem mais o que fazer ali, ela agradeceu e saiu em busca do tal lago para meditar e por fim encontrar seus inimigos. Uma última vez encarou a caverna e voltou seu rosto e pensamentos para o marido que estava distante agora, pois sabia que ao partir tudo aquilo ficaria para trás. Ela queria apenas justiça. Pôs-se a caminhar, deixando tudo para trás.