“nunca acredite no contador de histórias, apenas na história”
TUDO MORRE
A kombi se saía melhor que o esperado no trajeto para a Dakota do Sul. Desde que havia fugido, jamais imaginou voltar para aquela pocilga do interior que era Hill City, a estrada revelava bem o porquê. Fazendas de gado e trigo, planícies e mais planícies, ossos de dinossauros escancarados em museus e de indígenas que foram exterminados pelos "desbravadores" de outrora, a própria palavra Dakota era do dialeto indígena Sioux, significa "amigo", ao menos era o que Eva havia lido em algum livro, mesmo que a leitura deles nessa região não fosse muito estimulada, um dos motivos para ter caído fora.
O sonho de ser escritora não ia muito bem, na realidade estava péssimo, com o que ganhava nas vendas da coleção "Black Pleasure" mal conseguia a sustentar e realizar a manutenção do veículo que também servia de casa. Podia ser um dos motivos para retornar, ver o que seu tio iria deixar para ela de herança, mas não... ela sabia que não era por isso que estava voltando, queria olhar nos olhos daquele pervertido e ver sua vida se extinguindo. Mais uma vez a morte.
Ao ligar o rádio, a música que tocava quase arrancava um riso irônico, lembrava de pegar o celular e gravar um áudio sobre a situação, talvez ajudasse a alavancar a carreira e escrever uma obra de sucesso meteórico, "The Happy House".
We're happy here, in the happy house
To forget ourselves
And pretend all's well
There is no hell"
A viagem de Lincoln, capital de Nebraska até Hill City, interior de Dakota do Sul, demorava quase 9 horas, mas valeria à pena, ao menos é o que Eva esperava. O ankh que usava no pescoço vez ou outra refletia a luz do sol, nada que atrapalhasse a direção, graças aos óculos escuros que usava. Várias ligações de Adam não atendidas piscavam no painel do celular, esse não era o momento para terem uma conversa franca, a morte estava à espera de Eva e ela não costumava ficar esperando.
A kombi parava em frente à casa que foi seu "cativeiro" por um bom tempo, os carros estacionados ao redor demonstravam que o grand finale ainda não havia acontecido, provavelmente Ivone, suas primas e Adam esperavam dentro do recinto, pelo carro de polícia do condado estar parado próximo à esquina.
Agora era ela e o velho bastardo.