Além de ser a capital da civilização, Valkaria é conhecida por carregar o nome da deusa padroeira da humanidade. Não só isso: acima de todas as cabeças, ergue-se uma imensa estátua retratando a deusa nua e suplicante, esperando que seus devotos a salvem do perigo iminente. Não é raro encontrar oferendas e procissões de devotos aos pés dela todos os dias.
Nibelia vive na Vila Élfica, um pequeno gueto ocupado majoritariamente por sua raça. Há alguns anos atrás, este lugar era a representação viva da antiga glória e beleza de Lenórienn, o antigo reino dos elfos. Contudo, hoje não passa de um lugar decadente e deplorável cheio de pichações, lixo e criminalidade. Uma pequena gangue de elfos e anões domina o submundo daqui e a prostituição — algo até então impensável entre seu povo — vem crescendo nos últimos tempos.
A pior mudança, no entanto, não é esta. Há alguns anos atrás, os minotauros iniciaram uma campanha militar que ficaria conhecida como Guerras Táuricas. Em apenas dois anos de campanha, eles anexaram vários reinos que compunham o Reinado e impuseram seu domínio e devoção ao seu deus. Entre tantos costumes diferentes, os minotauros têm o detestável hábito de escravizar aqueles que consideram mais fracos. Principalmente elfos, que tiveram sua pátria destruída e vagam pelos cantos sem lar. Por isso, muitos minotauros têm aparecido por aqui para fazer propostas para muitos elfos de servidão em troca de proteção.
É deprimente ver quantos deles aceitam isso.
Apesar de tudo, a vida da jovem não é tão ruim. Ela acorda cedo, logo depois dos primeiros raios de sol. Ainda se ocupa de seus primeiros afazeres quando percebe um pequeno envelope na soleira de sua porta. O papel é de qualidade e está selado com o timbre de Filandriel, uma das figuras mais proeminentes da comunidade.
Filandriel é um dos poucos elfos nobres que restaram depois que a Aliança Negra destruiu a o reino élfico. Ele conseguiu escapar de Lenórienn levando boa parte de sua fortuna e se estabeleceu por aqui, tentando manter seu povo unido e suas tradições vivas, o mais próximo que os elfos de Vakaria teriam de um líder.
Ao abrir o envelope, ela se depara com a caligrafia elegante escrita no quase esquecido idioma de sua raça:
Filandriel escreveu:Cara Nibele,
Faço votos de que esteja tudo bem com você, já faz tempo que não nos falamos. Acredito que seus afazeres tenham mantido-a afastada de nossa comunidade e lamento muito por isso, uma vez que seus conhecimentos e apreço pela Arte são coisas por demais valiosas para o nosso povo já tão sofrido.
No entanto, não é meu objetivo lamentar seu afastamento nestas linhas. Pretendo ser sucinto e ir direto ao assunto: tenho um trabalho para você, mas não quero desrespeitar seu tempo e capacidade comunicando isso apenas por uma carta tão simplória. Tais assuntos devem ser tratados pessoalmente, caso contrário são rebaixados e têm sua importância banalizada. Além disso, quero me dar o luxo de ter um momento em sua tão agradável companhia enquanto tratamos de negócios.
Por favor, venha assim que puder.Seu mais devoto amigo,
Filandriel
Ao terminar a carta, ela sabe que o estilo inconfundível seria impossível de ser reproduzido por alguém de outra raça, ainda que seja fluente em élfico: Filandriel usa uma variante complexa e ainda mais fluída da língua, usada apenas por nobres e eruditos. Isso acaba com qualquer dúvida de Nibele.
Aparentemente, o assunto é importante. O que ela fará?