Capítulo I: Letra e Música

O grupo desceu as escadas assim que Gilrael desativou as armadilhas. Lá embaixo, o lugar se abria numa espécie de salão um pouco mais amplo, de chão ladrilhado. A luz que provinha do cajado de Hywell permitiu que os quatro vissem três portas fechadas diante de seus olhos. Eram todas iguais, feitas de ferro e com uma argola no centro.

Nibelia olhou mais atentamente e percebeu inscrições mágicas em torno das portas. Eram tipicamente élficas, demonstrando que o conjurador era versado na tradição mágica dos elfos. Em Arton, havia muitos sistemas de magia, amplamente difundidos por magos isolados, ordens arcanas ou escolas. A tradição mágica mais famosa e popular era a élfica, ou pelo menos um eco dela, já que a maioria dos mestres elfos acreditava que apenas sua própria raça era capaz de aprender seus segredos. Os humanos usavam uma mistura de tradições distintas, cada uma proveniente de um reino ou etnia diferente. Os anões proibiam a magia arcana, mas criaram um sistema de magia rúnica dominado principalmente por seus sacerdotes. Os qareen, no deserto, aprendiam a magia dos números e da matemática. A inscrição nas portas denunciava que elas só abririam mediante uma magia reconhecida pela tradição.

Gilrael se aproximou das portas, analisando-as com atenção. Sacou uma gazua e olhou para os companheiros.

- Vocês querem escolher qual delas eu arrombo primeiro? - perguntou.

Aegon pensou por uns segundos, depois indicou Nibelia.

- Acredito que você possa tomar a frente nesta situação. Não sei se há magia nestas portas, então gostaria que você verificasse isso por nós.

Rolagens:

Nibelia se concentrou por alguns segundos, tentando abrir o sentido mágico para observar aquelas inscrições. Havia magia ali, isso era um fato. No entanto, as inscrições ainda lhe pareciam um tanto confusas, como se parte delas estivessem apagadas e difíceis de se decifrar. Talvez o nível de complexidade daquelas magias fosse maior do que seu conhecimento alcançava. Decidiu apelar para a magia.

Comparando com o que já vira antes, ela descobriu que o princípio era quase igual. Como as inscrições eram feitas em élfico, era fácil descobrir o que acontecia ali: tratava-se de um encantamento de identificação. Em todas as portas, havia um círculo mágico onde a fórmula fora inscrita. No entanto, os círculos estavam incompletos e deveriam ter seus espaços preenchidos. Só faltava escolher qual delas abrir.

Rolagens:

OFF:

Nibelia escreveu:– Eles estão assim. Talvez vocês possam me ajudar. Especialmente você, Hywel. Se decifrarmos a fórmula, poderemos abrir a porta sem qualquer surpresa, acredito. Sei que vocês estão ansiosos, mas não devemos nos afobar. Não sabemos qual porta devemos seguir, tampouco o que iremos encontrar atrás delas.

Hywell olhou por um tempo para o pergaminho, a testa franzida. Apesar de elfo, ele não era um mago e os druidas utilizavam um sistema de conjuração diferente, muito mais antigo e primitivo. Sacudiu a cabeça.

- Infelizmente, isso é muito diferente da magia que eu pratico. - disse. - Não consigo ler uma palavra daí.

Respirou fundo e foi até a porta, onde tentou novamente desvendar o que estava escrito ali. Apesar de, em teoria, ter acertado como funcionava a magia, a prática se mostrara um pouco mais difícil, e não avançou muito de onde estivera antes. Teria que começar de novo.

Rolagens:

Nibelia escreveu:– Tudo bem – disse ela, despreocupada. – Vamos tentar uma abordagem diferente. Gilrael, acredito que você possa ser bastante útil nessa situação enquanto eu tento decifrar o padrão arcano... Aquela sua ferramenta de colocar no ouvido me pareceu algo bem interessante. Você poderia usar ela de novo e tentar ouvir atrás dessas portas? Pode ser que haja algo vivo atrás de alguma delas ou mesmo em todas, e é provável que se for esse o caso, quem ou o que estiver atrás das portas não será amistoso conosco. Quero evitar surpresas desagradáveis para nós.

Gilrael pensou um tempo, depois pegou a ferramenta de sua bolsa.

- Essa aqui? Pode deixar comigo.

Ela se aproximou e tocou as portas, apesar das recomendações de Nibelia. Usou o objeto em seu ouvido, potencializado pelo sangue élfico que corria em suas veias. Sacudiu a cabeça, levemente frustrada.

- Está muito bem vedado. - contou. - Provavelmente com magia.

Sendo assim, cabia a Nibelia voltar a tentar resolver o enigma. Começou pela porta da esquerda. Leu novamente o círculo e, de repente, sua mente de acendeu. Estava claro o que faltava, e ela não pensou duas vezes em preencher os vazios do círculo com o giz que carregava em sua bolsa. Assim que acrescentou o último glifo, o círculo se iluminou numa luz dourada, indicando que ela fora bem sucedida. Houve um clique do outro lado da porta, e então se abriu.

O monstro que havia lá dentro era uma criatura de formato ovoide. Tinha três pernas e três tentáculos de cerca de dois metros, dois deles com dentes afiados na ponta. O terceiro trazia um par de olhos que perscrutava o ambiente em busca de presas. A bocarra, cheia de dentes afiados, exalava um fedor de carniça e podridão. Ele rugiu ao perceber que tinha invasores em seu território.

- Um otyugh - rosnou Hywell. - Tomem cuidado. A mordida dele é venenosa.

- Gilrael! Nibelie! - chamou Aegon, num tom de urgência. - Atrás de mim! Fiquem longe dele!

Urrando, o monstro caminhou para fora da porta.

Rolagens:

Otyugh:

O otyugh avançou para o grupo. Era lento e tinha o trote desajeitado pela falta de uma das patas. No entanto, não devia ser subestimado. Os quatro se fecharam numa formação de batalha defensiva, com Nibelia no meio. Aegon encarava a fera com a espada em riste.

- Mantenham Nibelia protegida. - ordenou o guerreiro. - Vou atrair a atenção dele. Gilrael, você o pega pelos flancos. Hywell, hora da sua magia.

O druida apenas entoou palavras antigas enquanto mantinha a mão na cabeça da mestiça. Gilrael saltou para o lado, rolando na direção do monstro, que só a percebeu quando era tarde demais: um virote da besta se alojou em seu flanco, penetrando fundo em sua carne. O tentáculo cheio de olhos girou por todas as direções enquanto o otyugh urrava, cada vez mais irritado.

Aegon tentou atingir seu tentáculo sensorial. Sem se afastar muito da maga, ele golpeou enquanto os tentáculos do monstro sacudiam diante dele, sem sucesso. Apesar de não atingi-lo, serviu para manter a atenção do oponente sobre ele, ocultando os demais. Foi nesse momento que, visualizando um escudo energético, Nibelia conjurou uma proteção extra para o guerreiro. Os tentáculos do otyugh foram em sua direção, mas encontraram apenas um círculo rúnico azul escuro que repeliu seus ataques.

Rolagens:

Dados:

Nibelia ouviu a voz de Hywell ecoar, conjurando uma nova magia. O círculo rúnico brilhou em sua mão e apareceu também em torno do otyugh, brilhando-o com uma luz verde que iluminou todo o ambiente. Plantas brotaram no chão, prendendo-o e impedindo seus movimentos. O monstro berrou e se debateu, mas não conseguiu se soltar. Um de seus tentáculos foi preso no processo, deixando-o apenas com um deles para atacar.

Gilrael agiu logo depois. Com um golpe certeiro de sua adaga, ela decepou o tentáculo solto do otyugh, fazendo-o berrar de dor enquanto o membro se debatia no chão em espasmos. Sangue verde e fétido espirrou por todo o lugar. Aegon não perdeu tempo e acertou mais um golpe, causando um talho considerável.

Nibelia aproveitou o momento para fazer sua contribuição. Tirou o arco das costas, colocou uma flecha e disparou. No entanto, seu treinamento com armas era deficiente, já que passava a maior parte do tempo estudando. Mesmo contra um alvo imobilizado, não foi bem sucedida: a flecha passou raspando, sem causar nenhum dano.

Rolagens:

Dados:

Nibelia escreveu:– Continuem! – gritou Nibelia, tanto para animar os demais quanto para tirar a atenção do monstro de Gilrael. – A morte desta besta está próxima!

De fato, o otyugh não estava na melhor das situações. Hywel aproveitou o momento e, com a mão livre, conjurou uma prece que manifestou uma espada de fogo em sua mão. Logo depois, correu para a besta e desferiu um golpe poderoso em sua boca, esguichando sangue por todos os cantos. Logo depois, a ladina aproveitou o momento de distração e, por trás, acertou um golpe em cheio no monstro.

O otyugh desfaleceu, mas num lampejo de fúria, libertou-se das plantas que o prendiam e avançou para a direção de Nibelia, a bocarra aberta e pronta para abocanhá-lha. No último segundo, Aegon empurrou-a para o lado e enfiou a lâmina de sua espada no céu da boca do otyugh, rasgando a carne até que a ponta da espada surgiu do outro lado, coberta de sangue verde. O corpanzil da besta enrijeceu, então relaxou de repente. Estava morto.

- Besta imunda. - praguejou Hywel enquanto recuperava o fôlego. Olhou para os companheiros. - Alguém ferido?

Aegon olhou para a maga caída no chão e lhe ofereceu a manopla.

- Desculpe-me, Nibelia. - disse. - Você está bem?

A metros dela, Gilrael limpava a lâmina de sua adaga, parecendo satisfeita. O guerreiro lhe dirigiu um elogio discreto, depois olhou para as portas.

- Acabamos de matar um monstro e ainda faltam duas. Espero que o criador desta masmorra não nos reserve mais nenhuma surpresa do tipo. Nibelia, qual das portas vai ser a próxima?

Rolagens:

Dados:

Nibelia escreveu:– Não temos ainda o que viemos buscar, e não há como prever o que está atrás de qualquer uma das duas portas. De certa forma é irrelevante qual porta vamos abrir primeiro, já que seremos obrigados a abrir ao menos uma dela, então por mim nós seguimos a ordem da esquerda para a direita, o que faz a porta do centro ser a próxima. A menos... que vocês não achem isso boa ideia e queiram sugerir outra ação, é claro. Eu gostaria de ouvir a opinião de cada um e, se houver conflito, podemos resolver por votação ou mesmo por sorte, embora essa última alternativa não seja algo sensato.

Aegon olhou para os outros dois.

- Vocês têm alguma objeção?

Nem Hywel nem Gilrael quiseram questionar a maga. Ante o consentimento de todo o grupo, Nibelia optou por seguir o plano original e abrir a porta do meio. O círculo rúnico era o mesmo da primeira porta e não foi nenhuma dificuldade para ela preenchê-lo de novo. Assim que o círculo estava pronto, a luz iluminou o ambiente outra vez e a porta se abriu.

!!!!:

Além dos umbrais da porta, havia mais uma sala vazia. Gilrael foi na frente, observando atentamente, procurando armadilhas.

- Podem avançar, pessoal. O lugar está limpo. - anunciou.

Um pequeno altar no centro da sala abrigava mais uma caixa. Sem mais percalços, Nibelia a pegou, sentindo um alívio e o sentimento de dever cumprido.

***