Ethan K. Packer

Quando você abre os braços Brendan sorri. Ash nem está olhando mais. "Você é engraçado carinha. A gente vai te levar para os caras que vão te explicar tudo. Vão até te apontar para um tribo. Nem pergunta isso agora." Ele segura um dos seus braços e depois passa o braço pelos seus ombros num aperto quase afetuoso. "Vai ficar tudo bem por um tempo. Eventualmente vem uma tempestade de merda, mas até lá você fica pronto."

No caminho Ash finalmente larga o celular e parece irritada. "Eu e Brendan somos parte um alcateia. Um bando de monstros. Você vai achar os seus eventualmente. " O caminho até o carro é silencioso da parte deles dois. Mas Brendan parece feliz. Logo Estão na estrada de novo. Por pouco tempo dessa vez. Vocês param em um Mcdonalds e ela pede batatas que não come. O atendente nem discute. Nem pergunta. "Estamos aqui para encontrar eles. Trabalhamos todos juntos. Nossas famílias trabalham juntas. Espero que decida ser um de nós Ethan." Brendan come uma das batatas. Faz uma cara de desgosto e devolve a parte mordida para o pacote.

Em quinze minutos um mustang vermelho para do outro lado. Um homem de óculos escuros no volante. Perfeitamente arrumado. Impecável. Assim como o carro. "Sua carona." diz Brendan com um sorriso torto. "Ele não fala muito. Mas não é perigoso." Ele levanta e aperta sua mão. "Boa sorte amigo. A gente se vê." Ash segura o seu braço e o olha nos olhos, um traço do encanto que ela tinha na sua casa volta a tona. "Por favor. Fica bem. Pode confiar neles, mas toma suas próprias decisões. Você tem o meu numero, okay? Eu vou atender."

Ela sorri sua pergunta fosse engraçada e se aproxima para poder sussurrar de volta "Nos somos os Filhos do Corvo. Fazemos parte do protetorado de Dover. Aquele lá é o Nicky e ele é um dos Seis Uivadores. Eles vão cuidar de ter todas as respostas." O cabelo dela toca o seu rosto enquanto ela fala. O toque macio. O cheiro de hortelã e morango. "Pode ir, ele sabe que está te esperando. Eu e Brendan vamos ter muito trabalho com aquele acampamento."
Ela se afasta de novo e o mundo parece mais frio e sem vida agora. Brendan lhe dá um aperto no ombro e os dois começam a andar para o carro juntos. Infelizmente eles não estão indo na direção do mustang vermelho.

O motorista continua impassível. Como se estivesse vendo algo muito interessante no fundo dos próprios olhos. O transito do drive thru é intenso. Um carro depois do outro seu lanche favorito em uma sacola de papel. Uma cabine vendendo sorvete para as pessoas no estacionamento. O sol no céu claro de inverno. Vai ficar frio de noite. Sempre fica depois de um dia claro. O cheiro de gordura e sal se mistura com fumaça e gente. Sozinho. Naquele momento são detalhes demais no mundo. As conversas tão claras a sua volta. As pessoas com seus passos altos indo e vindo. Os motores barulhentos.

O motorista ainda imóvel. Ainda esperando dentro do carro vermelho polido até brilhar.

Semanas depois nas portas de um mausoléu de granito velho e descuidado. Você ainda lembra de decidir ir acampar, é uma decisão pequena que tomou. As consequências foram enormes. Um erro? Não, desinformação. O preço pago em sangue por aqueles que mais gostavam de você, seus amigos mais próximos. Você não sabia os riscos e eles perderam a aposta. Era impossível saber. Aquele Ethan não tinha as ferramentas, não tinha as respostas. Nem mesmo sonhava as perguntas. Nada vai te livrar daquela culpa. Mas conhecimento vai impedir que aconteça de novo. Saber o que fazer. Não entrar em panico.

Claro que é noite. Claro que a lua que brilha no céu não ilumina quase nada. Como seria diferente. Que segredos se revelam na luz intrometida do sol? O mundo dos espíritos para, ou quase, como moscas no mel. O cheiro poderia ser pior. Cheira a grama e algum lugar amoras. O inverno deixa tudo limpo para olfato. O frio cortante. Mas lá no fundo o cheiro da morte. Não de podre. Não de cadáveres em decomposição. Morte. Morte real que anda e fala. O cheiro vaza do outro lado para cá.

Garra de Ebano é sua guia nessa noite, ela e Loba sem Sombra. Sombras Descarnadas. Vocês juntos passam para o outro lado e percorrem um labirinto de lapides muito maior que o mausoléu onde entraram. Lá não luz senão as chamas que Loba sem Sombra carrega nos dedos, coisinhas pequenas e penosas lutando contra o frio e a escuridão. A cada curva um enigma, uma lição. Cada passo um teste ou armadilha. No fundo dos caminhos tortuosos há a morte. Feita de garras e presas e pelo negro. Ela grava os dentes bem fundo na sua carne.

Os olhos se abrem para o brilho da lua novamente. Ash Mcleary ao seu lado. A manga do casaco ragada e na pela a marca da morte, A marca da tribo. Ethan é uma Sombra Descarnada.

As estão serias e pensativas. "Eu não posso te dizer o seu papel. Seu caminho é você que faz. Mas sempre que tiver dúvidas estamos aqui. Vamos ouvir e ajudar." Ela fala calma e deliberadamente. Cada palavra pensada e pesada. "Agora você precisa de uma alcateia e um totem." Era Loba sem Sombra que falava. Ash agora, permanecia em silêncio. "Tem uma alcateia nova se formando. Talvez devesse falar com eles. Acho que vocês todos tem muito a oferecer um para o outro." Ela tira uma garrafa de um dos muitos bolsos e toma um grande e longo gole.

A voz de Ash é como um chicote. "Não somos não. Todos os seus irmãos são uratha. Os nossos inimigos Anshega são urathas." Loba sem Sombra ri e passa a garrafa de bolso para ela. "O menino quer aprender e mostrou que precisa. Se incomoda em sentar sobre os mortos?" Ela pergunta se sentando sobre uma lapide. "Temos muitos grandes jogadores. Cidades atraem eles como moscas na carniça. Temos guerra. Sempre há guerra do outro lado. Normalmente coisa que não dá para entender enquanto acontece, muitas vezes nem depois. Mas duas cortes do medo estão em paz. Isso é assustador porque eles estão sempre em guerra. A Corte por trás do espelho e a Corte do medo desconhecido. Inimigos eternos. Em paz. O Hotel dos Ossos está quieto, mas essa parte do ano ele costuma ficar mais contido. Ele gosta de matar na primavera. Sim, ele é um espírito só. Como a Casa do Prazer. Ela existe em uma casa noturna bem moderna, mas é um bordel estilo chines bem antigo. Ela atraiu confusão mês passado com trafico sexual de crianças. A corte dos predadores está sob controle. Informação está sempre mudança de lado e se vendendo. Ela dominou a corte da energia da cidade depois que a grande termo-elétrica fechou. Isso foi um terror." Ash concorda com a cabeça já no seu quarto gole. Em algum momento o tom de instrução se tornou algo entre desabafo e fofoca.

Ash passa a garrafa sem hesitar. Ela ri e alerta "Não pode mudar de forma agora. Tem veneno aí. É o único jeito de ficar bêbado com pouca bebida." A garrafa realmente é pequena. "Eu tenho meus rituais e você vai ter os seus. Eu sempre uso uma ametista, uma onyx e uma obsidiana ao entrar em um lugar de morte. Eu sei que isso vai ser bom quando eu for falar com muitos dos espíritos de morte e não vai me atrapalhar com nenhum. Se eu desejo falar com o vento mantenho meus cabelos soltos e descobertos. Numa floresta nunca queimo plastico. É como não exaltar Hitler para um judeu ou usar um véu ao tentar se passar por muçulmana. Além de que é sempre bom ter uma desculpa para se demorar em uma porta. Seu nariz pode te salvar se tiver um segundo para falar." Ash concorda veementemente com a cabeça e um sorriso no rosto.

A bebida tem um gosto amargo horrendo e queima. Mas é forte e logo lança uma tênue nevoa sobre os pensamentos.

"Eles vão querer que você saiba tudo. Todas as fraquezas dos espíritos. Quem é de qual corte? E principalmente 'Como eu mato aquilo?'" Ela imita com voz idiota e as duas gargalham. O frio nem existe mais.

"Ethan... Ethan, filho... A gente precisa conversar. Vamos, acorda." A voz da sua mãe vinha de longe. As palavras dela se sobrepondo a alguma coisa que a mulher de branco tinha falado. O que era mesmo? "Ethan, você tá me ouvindo? Você tá chegando em casa tarde. Não tá comendo direito. Eu nem sei se tá indo as aulas. Quase não dorme e sai correndo de casa assim que acorda. O que tá acontecendo?" Ela tá preocupada. Claro que está. Se ela não estivesse dizendo exatamente isso o tom de voz a denunciaria.

Ela levanta. Estava sentada na mesinha do lado da cama. Ela mostra um caderno em que tem feito anotações. "O que é isso? É desenho abstrato? Quando começou isso? Me diz que não é coisa de gangue." Ela anda até a escrivaninha e arruma de novo o que já está arrumado. Ela está muito preocupada. "Sabe, cade o Dan e o Ted? Eu não vejo eles faz semanas. O que tá acontecendo. De verdade." Ela ajeita os óculos e olha muito seria para você de um jeito que era aterrorizante quando você tinha 10 anos.

Ethan escreveu: - Bem mãe, vamos conversar, tá bom? Mãe, eu cresci, a senhora mesmo me disse que precisava me dedicar mais e me socializar mais.

Ela fixa os olhos em você como quem espera uma desculpa esfarrapada.

Ethan escreveu: Meus amigos já foram para o internato rural ...

O alívio dela é palpável. Como se pudesse cortar com uma faca.

Ethan escreveu:...hoje mesmo vou assumir meus postos de pesquisa em caráter integral...

Ela aperta os punhos e arregala os olhos. A expressão ela esconde um segundo depois, se é que dá para chamar aquilo de esconder. Mas os nós dos dedos continuam brancos com a força que faz sem perceber. Quando você termina de falar ela demora quase dez segundos para abrir a boca. "Não. Não. Não e não. Você o que... acha o que? Sair de casa pra onde? Como? Que isso?" Ela levanta e parece que vai gritar, mas vira para a porta e então sai do quarto para voltar um instante depois com olhos cheios de proposito. "Porque você tá fazendo isso comigo? O que foi que eu errei com você? Tava tudo tão bem? Você não tem dinheiro, vai viver onde? Acampado? Meu filho não é nenhum sem teto!" Ela fala as palavras num arroubo. Numa velocidade que parece que nunca vai parar. "Tira essa coisa da cabeça. Melhor você largar essa coisa de iniciação científica que tá te dando ideia. Não não. Eu mesma vou falar com essa mulher que acabou e você não vai mais poder trabalhar com ela."

Ela sai decidida do quarto. Ainda falando com ela mesma ou talvez com você. Quem sabe até com Ash Mcleary. Resmungos quase sem sentido uns por cima dos outros.

Ela não diz uma palavra enquanto toma pequenos goles de café. Mas assim que você fala ela se abre com uma reclamação. "A essa hora devia ser almoço. Você não tá comendo direito. tá sempre morrendo de fome. " Ela levanta pegando seu prato e quando o coloca na pia "Que bom que desistiu dessa coisa de sair de casa. Você não precisa disso." Ela liga a torneira e começa a lavar. O cheiro falso de maçã enche o ar da cozinha.

Um sensação de euforia. Seus pelos ficam em pé como se tivesse levado um choque. A voz é algo ondulante, mas sem inflexões e sentimentos. Só palavras sem intenção discernível. "Tem um futuro para você. Um lobo da casa da morte é um guia. Olhe para cá. Fale comigo. Tenho muito a lhe mostrar." Sua mãe passa a mão na testa como se estivesse limpando suor e reclama que a água está muito fria.

Sua mãe assiste enquanto você sai sem comentar. Ela continua trabalhando enquanto você se afasta.

Ethan escreveu: Estou aqui, mostre o meu futuro e o meu papel...

Do outro lado sua casa vira um estranho arremedo do que é. Algumas paredes estão faltando. O banheiro onde está nem existe. Uma forma quase humana coberta de dentes. Não se dá para ver nada da pele, somente o esmalte perfeitamente branco. A coisa na sua frente não tem uma cabeça e nem olhos, mas de alguma forma te percebe. Os dentes rangem, mas de uma forma feliz. "Ethan..." A coisa fala em um inglês perfeito. "A sombra é estranha para o seu povo. Mais segredos e armadilhas que respostas. Seu futuro é brilhante! Pode ser brilhante!" A coisa tem quatro braços longos terminados em 4 presas cada um, no lugar dos dedos. Presas longas e afiadas. "Grandes coisas estão acontecendo e o Guardião Lunar o escolheu. Meu senhor lhe estende um convite, junte seus lobos e venha provar seu valor. Só há um caminho para um filho de Urfarah, esse caminho é pavimentado em morte e esforço e o mais puro e doce júbilo de cumprir o seu dever! Suas presas vão ser seus degraus para grandeza! Prove-se e meu senhor o ensinara a honra-las. Prove-se e meu senhor o dará força para derruba-las. Prove-se e então se torne o seu futuro caçador." A coisa gargalha com uma felicidade contagiante. Uma alegria que não encontra barreiras e anima o seu sangue.

Guardião lunar: