O herdeiro Felinight saiu da tenda dos festejos e deixou o acampamento, rumo à arena onde as justas do primeiro dia do torneio prosseguiam.
A maioria dos nobres já tinha deixado as arquibancadas e apenas os mais adeptos das artes militares ainda prestavam atenção ao cavaleiros de baixa patente que se digladiavam. O povo, por outro lado, prosseguia na algazarra de torcer por homens de armas desconhecidos arriscando suas vidas para o entretenimento da plateia. Havia muitos guardas e escudeiros de casas nobres espiando os competidores, provavelmente colhendo informações dos possíveis desafiantes de seus senhores nas próximas rodadas. A cavalaria não era uma tradição no Norte, de modo que Arthur não tinha grande conhecimento dos participantes costumeiros de torneios, e ele via quase todos os combatentes pela primeira vez. Uma ou outra hora, Arthur ouvia a origem de algum deles e reconhecia o nome de algum castelo ou fortaleza razoavelmente famosos, mas os cavaleiros não eram os senhores de suas regiões, apenas servos fixos ou ocasionais.
Arthur acabou encontrando num dos assentos do estrado o banqueiro Henry Allafante, assistindo menos a disputa dos cavaleiros e mais o vai e vem dos nobres. O ríquissimo homem vestia roupas westerosi de fina qualidade, ao estilo das Terras da Tempestade, com um colar branco reluzente com uma chave pendendo sobre seu peito. Ele fez sinal para Arthur se aproximar e sentar ao lado dele, com um sorriso sério.
- Ah, jovem Arthur, acomode-se! Creio que as comemorações pela vitória de seu irmão não o exauriram completamente. Inês entediou-se com a competição e foi passear nas feiras do festival. Vi seu pai há pouco conversando com o senhor Jon Arryn, a Mão do Rei, mas eu achei prudente não interferir. Mas se você tiver tempo agora, gostaria de ouvir seus planos para os domínios de sua família...
GYLEN & LÍCIA
Gylen foi o primeiro a chegar ao vizinho campamento Dannett, o qual ele já tinha visitado anteriormente. Mas o bastardo Felinight era cauteloso e manteve-se fora da vista dos servos da casa da romã flechada, observando o que acontecia de um ponto discreto. Durante vários minutos, Gylen conseguia ver o que ocorria no exterior do pavilhão.
Os filhos de Edan Ward estavam do lado de fora, com expressões tristes e preocupadas, denotando uma tensão pesada no ambiente. Vez por outra, Ward ou o meistre Ferris saíam e dizia algo para um deles, que saía do acampamento por alguns minutos e voltava em seguida, sempre com grande pressa, às vezes trazendo embrulhos, potes e frascos, outras vezes apenas alguma mensagem, como se fossem respostas para perguntas formuladas. Em dado momento, o próprio meistre Ferris saiu, procurando consultar-se com outros meistres , também expressando grande preocupação.
Depois de um tempo razoavelmente longo, Lícia achou o caminho para o acampamento Dannett e, diferente de Gylen, foi direto à entrada do pavilhão. Mas foi barrada pelos três rapazes, poucos anos mais velhos que ela.
- O que está fazendo aqui, menina Felinight? Não acha que sua gente já fez estragos suficientes por um dia?
ESDRES
O campeão Felinight aproveitara suas celebrações por apenas algumas horas antes que a disposição de seus familiares estragasse o clima de festas.
Esdres saiu da tenda irritado, tentando arejar seus pensamentos depois da discussão com sua irmã gêmea. Apesar da disposição perpetuamente mercantilista de Lícia, ela nunca interferira tanto em suas conquistas românticas. O apoio de Arthur e Gylen era um suporte masculino minimamente reconfortante, mas os homens mais velhos como seu pai e seu tio-avô, eram menos solidários com suas aventuras amorosas.
A vitória no combate e o vinho da festa ainda alimentavam seu espírito, mas o desfecho com a bela violinista que ele contratara, fossem quais fossem seus motivos. Os acampamentos vizinhos, de nobres nortenhos, estavam com menos movimento que nos dias anteriores, e havia menos barulho ao redor que o usual.
Mas justamente pela falta de movimento, Esdres conseguiu ver uma mulher envolta da cabeça aos pés em véus negros rondando pelos acampamentos próximos.
ASDULFOR
Na periferia de sua percepção, Asdulfor percebeu que tanto Baleryon quanto Rakashar farejavam um novo cheiro.
Enquanto ainda estava na tenda, o meistre ancião vislumbrou pela fenda da entrada da tenda aberta o garoto Neil Rivers, parado a alguma distância do limite do acampamento.
MAEHRA
Maehra deixou a grande tenda dos Felinight e caminhou pelos acampamentos sem ser impedida.
A área ocupada pelo acampamento Felinight abrangia quase 50 metros quadrados, sendo imediatamente avizinhada pelos acampamentos de outros nobres. Havia bem poucas pessoas por ali naquele momento, pois quem não estava assistindo o torneio, estava desfrutando dos prazeres da feira do festival. Por ali restava apenas um ou outro soldado ou servo, cumprindo seus deveres.
Maehra não era versada na heráldica westerosi, de modo que não era capaz de discernir a maioria dos donos de cada brasão de armas, expostos com pompa em cada acampamento. Ela deduzia que os nobres mais próximos deviam ser do Norte, devido à aparência das pessoas que estavam por ali, mas era tudo que poderia supôr.
A vantagem disso era que Maehra não achava difícil achar um lugar qualquer para relaxar nas proximidades. Seu vestido e seus pertences pareciam impôr algum respeito aos servos dos nobres, que não ousavam abordá-la.
Após seu descanso, a violinista poderia voltar a assistir o torneio, passear pela feira do festival ou tentar achar seu cocheiro para voltar ao bordel de Chataya.
GASPAR
—Sacerdotes dragão dos Targeryan... Certamente estão aqui para resgatar o Raposa.
Sôr Jorys olhou com suspeita para Gaspar, estranhando as palavras.
- Os Targaryen eram devotos dos Sete! Quem são esses homens?
O Cavaleiro Raposa debateu-se sobre o lombo de seu cavalo, onde estava jogado como um saco de batatas amarrado com cuidado pela detalhista Lu Mei.
A oriental sussurrou baixo:
- Será que conseguimos despitá-los e evitar um combate? Estamos em menor número...