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    Samantha Doiley

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    Mensagem por Bastet Qui Out 22, 2020 12:31 pm

    Sorry postar duas vezes e.e Link da roupinha dela acho que bugou

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    Mensagem por Wordspinner Sex Out 23, 2020 9:25 pm

    Nenhum sinal de chuva. Nada mesmo. Mas os dois animais selvagens corriam livremente e ninguém nem olhava para ver se não tinham devorado as crianças. Agiam como se fossem labradores fofinhos. Não que os lobos se comportassem assim. Eles corriam e até derrubavam as crianças as vezes. Disputavam um com o outro, mas não pareciam incomodados com ninguém ali. Exceto talvez Sam. Eles ficavam longe dela. Longe e vigiando até sumirem de vista.

    O cheiro de café era impossível de ignorar. Assim como o de frituras. Um cara alto de costas largas e cabelo preto bagunçado estava na frente de um fogão que parecia a lenha, mas não era. Eles vestia uma calça de moletom e um avental de couro. O cheiro de fritura vinha de lá. Ao seu lado um cutelo subia e descia na mão de um homem mais baixo e bem vestido demais para estar ali. Terno. Todas as três peças. A peça de metal afiada cortava a carne vermelha e sangrenta sem nenhum esforço. Cascas de ovo se amontoavam no balcão de pedra grande demais. Duas mesas de madeira flanqueavam eles.

    Em uma delas uma mulher mais velha de cabelo curto bebia café de uma caneca grande. Ela estava vestida para a ocasião. Uma camiseta surrada e uma calça jeans velha. Ela faz um movimento de cabeça para reconhecer a presença de Sam. Ao lado da mulher um rapaz magro de touca e camisa cor de envelope com um celular na mão. Ele olha para Sam um instante. Só o suficiente para sorrir e piscar. Logo depois ele volta os olhos escuros para o celular.

    Na outra mesa uma mulher com olhos perturbadoramente penetrantes sorri para Sam. Ela é bonita e se veste com coisas demais. Acessórios demais. Peças de roupas demais. Estranho e de alguma forma, provavelmente muito trabalhosa, tudo combinava. Uma adolescente oriental ao lado dela. Vestido florido. Um dicionario na mão. Ela não percebe nada a sua volta.

    Andando entre as duas dois garotos. Dez anos? Algo assim. Impossível saber de verdade. Um de cabelos pretos e olhos azuis familiares. Outro com cabelos muito loiros e os mesmos olhos. Os pelo menos parecem estar com sono enquanto levam coisas para as mesas. Pratos vazios. Copos. Uma jarra de suco vermelho. Um prato cheio de panquecas. Uma jarra de leite. Uma tigela com iscas de carne. Nenhum café. Mais coisas. Mais coisas.

    Amy aparece com roupa de corrida e descalça, completamente encharcada. Tatuagens esquisitas espalhadas pelo corpo e uma boa dose de cicatrizes que até parecem desenhos. Ao lado dela uma mulher alta também descalça e molhada numa roupa de corrida. Essa era bonita demais para estar ali. Era bonita demais para essa hora da manhã. Era bonita demais. Ponto. As duas tinham um toque de vermelho no rosto da corrida. Elas contribuem para o barulho das conversas assim como os homens no fogão e os meninos levando coisas para as mesas.

    "Cê quer uma dessas." Um cara que veio de lugar nenhum deixa uma caneca com café na mão de Sam. Ela conhecia ele. Já tinha visto antes em algum lugar. Televisão? Uma garotinha loira de óculos vinha atrás dele. Um caderno na mão. Os dois conversando sobre matemática. A menina parecia o outro garoto loiro. Gente demais. "Senta aqui." Ele disse com a voz de gangster. Pescoço tatuado. Ele se senta na mesa com o magrelo. A menina se senta logo a frente. "Bran. Essa aqui é Ilona. Vai dizer oi não?" Ela parece te ver pela primeira vez e fica confusa. Depois olha para o rapaz magro e então de volta para você radiante. "Oi Oi! Sabe equações?" Ela abre o caderno e aponta uma pagina.

    Amy e a mulher loira vão até o fogão e as duas criancinhas colam na mãe. Os lobos correndo logo atrás para um pouco antes vigiando Sam. São o único ponto de desconfiança ou desconforto. O único ponto que faz algum sentido. Um dos meninos passa do lado dela com mel e calda de chocolate para panquecas. Ele deixa o chocolate perto de Sam e o mel perto da menina.

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    Mensagem por Bastet Sáb Out 24, 2020 4:49 pm



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    Ainda em frente da casa, Sam observava toda aquela cena bonita. De longe, a jovem era capaz de apreciar a simplicidade e felicidade do convívio daquelas pessoas.  Os homens grandes e bonitos... Os jovens magros e enérgicos... As mulheres, todas, com traços belos e muito diversos. Uma delas, inclusive, com traços esplendorosos... quase uma modelo da Vougue. Será que era a tal de Jollie que Anne tinha comentado? Bem, se não era... Era difícil de imaginar quão mais bonita que aquela a outra mulher poderia ser.

    Samantha observou por alguns instantes, com um pequeno sorriso no rosto, aquela movimentação... Até que percebeu que estava sendo inclusa no meio de toda aquela gente. Foi aí que o desespero começou a bater. Um cumprimento aqui, um sorriso penetrante e olhos penetrantes ali... Crianças e adolescentes fazendo coisas de crianças e adolescentes...

    E o cheiro...

    Cheiro de fartura. De gordura. De fritura... De carne. Sam se sentiu levemente nauseada... Onde estava o café? Talvez devesse ter aceitado o café no quarto, afinal.

    Viu Amy e acenou de leve, na esperança de não precisar falar com mais ninguém... Mas tinha tanta gente ali que a mulher nem viu. Estava chegando de algum exercício, toda molhada com a mulher bonita e passou reto, conversando alto com a amiga e as outras pessoas.

    Amy parecia tão delicada... Como podia ter tantas cicatrizes? Será que tinha sofrido algum acidente.

    Logo viu duas cópias pequenas de Amy correndo e indo até a mãe. Sam já tava dando uns passos pra trás, desistindo do café e pensando de esperar Anne no portão... Quando a xícara apareceu bem na frente de seu rosto. Ela olhou pro rapaz, com a expressão de poucos amigos... Confusa. Só que o cheiro do café foi um alívio em sua narina repleta de cheiro de comida.

    Pegou a caneca, mas não se sentou a principio, como ele tinha “ordenado”.  Tentou se lembrar de onde conhecia ele, mas não sabia exatamente.  – Obrigada – disse, apenas,  mas se aproximou quando ele se apresentou e apresentou a menina nerdzinha.

    - Samantha... Sam – se apresentou, sem olhar exatamente pra eles, assoprando o café antes de bebericar um pouco. Olhava os lobos a distância... Conhecia o comportamento e, apesar de todo mundo ali agir como se não fosse nada, sabia que um predador não gostava de ter seu território invadido. E, ao que parecia, Sam estava fazendo isso (ou parecia uma presa apetitosa...).

    Desviou o olhar dos animais quando a menina abriu o caderno, toda animada.

    Sam finalmente se sentou, vendo as equações da jovem. A mulher não era uma especialista... Sabia uma coisa ou outra, mas a loirinha parecia bastante avançada pra idade dela.

    - Eu acho que não vejo tantas equações assim desde o colégio... E isso faz tempo, viu – deu um sorriso um pouco sem jeito – Eu sou melhor com bichos que com matemática. Mas a gente usa bastante contas na biologia também, sabia? – se a menina parecesse interessada, contaria pra ela das diversas porcentagens e cálculos que precisavam utilizar.

    - Nada tão complexo como isso aqui – apontou uma equação mais difícil,  que a menina tinha resolvido – Acho que já sei quem procurar se eu precisar resolver algo de matemática...

    Talvez fosse a progesterona no sangue... Ou o comportamento não tão infantil da menina... Mas, pela primeira vez ela tava conversando com uma criança sem querer correr.

    Ajeitou o corpo quando viu o menino colocar a calda de chocolate perto dela e agradeceu... Embora não planejasse comer nada além do café.

    - Bran... né? De onde eu te conheço? – perguntou, um pouco menos mal humorada após o papo com Ilona... Mas estava atenta, procurando Anne. Podia fugir dali a qualquer momento.

    sem correr, tem lobos por perto”, pensou, em complemento à ideia de correr.

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    Mensagem por Wordspinner Dom Out 25, 2020 10:17 am

    No começo a garota fica muito confortável com a atenção, especialmente quando Sam fala do próprio trabalho, mas em algum momento isso muda. "Você tá mentindo. Pra me deixar feliz. " O senho franzido e incerteza escrita em todas as linhas do rosto. Mesmo assim ela consegue falar com uma voz inalterada. "Não jogue poker. Você vai perder." As palavras dela quase sussurros. "As contas que você falou são mais difíceis que as minhas. Se não, você não sabe explicar não." Então ela ri. Pega o mel e quase abraça o pote. Então olha para Sam tentando dividir o entusiasmo pelo liquido âmbar. "Eu amo mel! Bichinhos também. Biólogas podem comer mel? Cê não tem cara de mel."


    Sam escreveu: De onde eu te conheço?

    Ele levanta os punhos fazendo uma guarda como a que lutadores fazem para se mostrar antes das lutas. "Eu sou aquele perdedor que foi pego nos exames um monte de vezes. No fim da carreira tava tão toxico que ninguém queria nem me cutucar com uma vara de dez metros." Ele sorri e mostra uma medalha sem graça. Narcóticos anônimos. Quatro anos. "Devia ter estudado mais." Ela diz sem hesitar. Ele ri alto e aponta, enquanto olha em volta para ver se mais alguém percebeu. A mulher de camiseta branca tá limpando café do rosto risonho. O magrelo sorri, mas só por um instante. As outras pessoas estão longe demais. "Vou estudar mais na próxima. Pode crer. " Ela balança a cabeça satisfeita. Imune a compreensão.

    Uma mão puxa e fecha o caderno. Amy. Outra mão coloca um prato com meia maça, uma panqueca enrolada e um punhado de mirtilos. Um beijo na cabeça da menina. Ela nem olha. A mulher mais alta se senta do outro lado da mesa. De frente para Sam. Um prato cheio de cortes de carne e uma maçã na boca. Ela parece um bicho faminto. Mesmo assim também é a mulher mais bonita da região. Os cabelos dourados secando sem ajuda e ficando bagunçados. Até eles ajudam na aparência dela. Ela também tinha tatuagens. Coisas esquisitas como as de Amy e não algo feito para ressaltar a beleza da mulher. "Asia. Desculpa falar de boca cheia." "Não pode." Ela reclama enquanto mastiga. "A carne tá boa. Se fosse você eu pegava logo um pedaço." Ela joga um corte na boca e para de falar.

    A voz esquisita dos garotos reclama quando Amy puxa os dois de perto do fogão para a outra mesa. Um alivio. Podiam ter sido colocados do lado dela. Mas olhar nessa direção fez Sam ver os lobos de novo. Agora o cara de terno estava com a cara bem perto deles. Abaixado. Olhando nos olhos. Mãos no chão. Os dois se aproximam sem desafio. Cheirando o rosto do homem. O cara de avental trás uma travessa com mirtilos para cada mesa e então deixa o avental de lado. Mas esse infelizmente se senta na outra mesa também. Imediatamente se houve vozes falando espanhol. "Ele tá te convencendo a parar?" Ela diz olhando a medalha que ainda está na mesa. Os olhos bonitos fixos em Sam. A boca ainda mastigando. Mastigando sem parar.
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    Mensagem por Bastet Dom Out 25, 2020 4:06 pm



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    Talvez, pela primeira vez, desde que chegou ali, Samantha abriu um sorriso largo e sincero, sem timidez ou falta de jeito. A resposta da menina a agradou bastante. A mulher negou com a cabeça,  após a jovem concluir seu raciocínio sobre a mentira dela.

    - Talvez tenha sido uns... 25% de mentira só. E eu sou bem ruim em explicar, carreira acadêmica nunca deu muito certo pra mim – disse, antes de bebericar um pouco do café e explicar os 25% - É verdade que eu já resolvi coisas mais difíceis. Mas eu devo ser, pelo menos, dez anos mais velha que você... Na sua idade, eu tava brigando pra aprender equações muito mais simples que essas. E, hoje em dia, as contas difíceis geralmente são todas feitas por um computador... Se me colocar pra resolver algo mais complexo, igual essa que eu mostrei aqui no seu caderno... Eu vou tomar uma coça.  Então foi uma meia mentira pra te deixar feliz. – respondeu com sinceridade, percebendo que a jovem gostava daquilo – Um dia, se sua mãe deixar, eu te mostro as contas difíceis do meu trabalho na prática...

    O que você está fazendo, Samantha?” – o pensamento ecoou em sua mente, enquanto a miniatura de Amy perguntava sobre o mel.

    - Bom, eu acredito que nós podemos comer qualquer coisa. Principalmente em uma ilha que a produção de quase tudo é feita aqui mesmo – logo ergueu uma sobrancelha – Eu tenho cara de quê? – ficou curiosa com o que parecia aos olhos da jovem.

    ***

    A conversa seguiu com Bran.

    Sam estreitou os olhos, tentando se lembrar. Logo arregalou os olhos, reconhecendo o homem. – Cara, você sabia dar um soco como ninguém.  - Ilona dá uma bronca no homem, como se ele fosse da sua idade... O que arrancava um leve riso de Sam.  – Quatro anos... Parabéns... – disse, logo olhando pra onde ele apontava. Em seguida, Amy apareceu, colocando comida pra filha e se afastando pra domar as outras duas crianças.

    Muita gente indo e vindo. Novamente, se via no meio do caos. A mulher bonita foi se sentar na mesma mesa que ela.  Já tinha gente demais ali. Bem, uma vista bonita como aquela não era nada ruim... A não ser pelo cheiro de carne vindo junto com ela. Sam fez uma leve expressão nauseada, tomando o último gole do café.

    - Samantha – quantas vezes Sam já tinha se apresentado naquele dia? Parecia que mais que durante toda a sua vida. Deu apenas de ombros quanto ela falar de boca cheia, isso não a incomodava de fato, ao contrário de Ilona.

    Ia falar qualquer coisa da carne que foi oferecida, mas seus olhos se fixaram nos lobos e no homem de terno. Aquele cara tava doido? Estava os ameaçando, ficando em uma posição que poderia ser facilmente considerada como ataque... – Que porra tá acontecendo ali? – ela chega a se levantar, assustada, sem perceber que não tinha apenas pensado, mas falado aquilo.

    Logo os lobos vieram amigáveis com os homens... Contrariando qualquer coisa que a veterinária poderia prever.  Sam fica parada, um pouco atordoada. Logo olha pra  Asia.

    - Parar? Parar o que? – pergunta, sem acompanhar o raciocínio dela, ainda olhando os lobos. Depois olhou pra Bran, Ásia  e o rapaz que ainda não sabia o nome - Vocês sabem que aqueles animais são perigosos né? Um lobo não pode ser domesticado assim... Não é possível...

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    Mensagem por Wordspinner Seg Out 26, 2020 7:02 pm

    A menina engole a explicação junto com a comida. Ela vê que não tem um prato com comida para Sam e oferece um pedaço da panqueca espetado em um garfo. Mas então Sam fala da mãe. "Eu não tenho mãe. Só pai. Tenho uma avó também." Ela aponta para o magrelo e a mulher ao seu lado. Os dois educadamente fingem que nem ouviram. Ou talvez só não estejam dispostos a resgatar a moça estranha na mesa. A menina percebe a reação de Sam e sorri. "Não fica assim. Eu nunca tive mãe então eu ligo." Ela realmente parecia não ligar do jeito que só uma criança poderia.

    --

    Bran finge um soco no ar quando Sam fala do que lembra da sua carreira.

    Sam escreveu:Que porra tá acontecendo ali?

    "Louco né." A voz rouca de Bran não dá muita bola.

    Sam escreveu:Parar? Parar o que?

    "Coisas? Ele sempre prega a vida limpa quando tem a chance." Então Sam fala sobre os lobos. "Meu deus! São lobos!" Ela ri. "Relaxa, esses aí são bem obedientes. Bem calmos. Cresceram com os bebes. São quase gente." Claro que Asia não sabia o quanto o que ela falava fazia pouco sentido. Ela claramente não era uma profissional. Mas as pessoas ainda não tinham terminado de se empilhar. Logo chegam Jay, que Sam tinha visto na noite anterior, e uma outra mulher loira. Jovem. Cara de universitária meio hipster. Eles cumprimentam um a um. Até chegar em Sam. "Samantha, né? Eu sou Jay e essa é Olena." Mas Jay logo se afasta. Sua atenção tomada pela comida. Olena faz um carinho em Ilona e se senta do outro lado. "É louco de manhã. Mas depois melhora. Quando vai todo mundo embora." Ela sorri compreensiva.

    "Não liga pros lobos." Diz Amy. Alto para ser ouvida. Em cada mão ela tem uma pessoa. O homem que estava no fogão na mão esquerda. Um asiático de olhos grandes e azuis na outra. "Esse é o James e esse é o Jun e essa gótica aqui é a Samantha que eu falei. Se ela precisar ficar uns dias na casa do Klaus eu quero que vocês ajudem ela no que ela precisar e ela nem vai pedir. Vai ter vergonha." Ela pisca. Eles dois parecem ligeiramente constrangidos. "Desculpa ela Samantha. Se precisar pode chamar." James abraça Amy com um braço e acena como cumprimento para sam. "Essa nanica se preocupa demais." Ele dá um beijo no alto da cabeça dela. "Ela tá assustada Amy. Quer ajuda pra fugir daqui?" Jun diz com um sorriso travesso no rosto e recebe um beliscão da irmã. "Aí! Tá bom. Bom dia Samantha." e então ele se dobra em um cumprimento tradicional.

    Sam procura os lobos instintivamente. Eles estão andando para um dos portões com o homem de terno.
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    Mensagem por Bastet Qua Out 28, 2020 3:01 pm



    Samantha
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    - Obrigada, Ilona... Eu sinto um pouco de enjoo se como tão cedo. – tentou recusar de forma educada.

    O que deixou Sam mais abalada na fala de Ilona não foi o fato de ela não ter mãe... Mas sim ela não ser filha de Amy. Jurava que elas tinham parentesco bem próximo... Até já tava vendo semelhanças entre elas. Quando a jovem falou pra ela “não ficar assim”, Samantha deu um pequeno sorriso – Foi mal, guria. Não queria tocar em um assunto chato – deu de ombros, querendo ter um pouco mais de café na caneca para ter como fugir de qualquer resposta. Não ter mãe não era uma realidade distante dela... Mas não era o melhor exemplo pra falar “Eu também não tive e olha como eu to bem”. Talvez assustasse a menina com isso.... Então só ficou quieta.

    Acena ao pai e à avó, agradecendo mentalmente por eles não serem tão simpáticos. Toda aquela simpatia não podia ser normal... Ainda mais em tanta gente junta.

    ***

    Quando ela reage aos lobos, quase arranca os cabelos ao ver a reação das pessoas na mesa. Ou ela já tava muito doida, sem os remédios, ou aquelas não eram pessoas normais. Se senta novamente, buscando a garrafa de café com os olhos e planejando ir buscar.

    - São quase gente... Com garras e dentes afiados – levou a mão instintivamente ao ventre. Não tinha certeza se tinha visto um lobo, na noite anterior... Mas tinha certeza do que garras afiadas poderiam fazer. Apesar disso, não iria contestar novamente. Era a casa deles, não dela. E, sinceramente, já tinha gasto sua cota de trato social naquele dia.

    O mau humor matinal estava voltando.

    Ia se levantar pra pegar café, quando Jay chegou  com Olena. Cumprimentou ambos com um aceno. Deu um pequeno sorriso para a frase gentil de Olena... E até ensaiou dizer algo, mas logo ouviu Amy falando alto com ela e empalideceu.

    Não é que ela não tivesse algum problema de falar com pessoas, trabalhava num bar até poucos meses atrás... Mas ali tinha muita gente desconhecida, num local desconhecido... Numa manhã sem remédios ou qualquer alcool no sangue. Ser o “centro das atenções” daquele grupo na mesa fez as mãos dela suarem.

    Nem reparou na beleza de James que Anne tinha citado. Apenas assente e agradece meio sem jeito e quase implora pra Jun cumprir aquela oferta, mas apenas dá um sorriso esquisito. Os olhos escapam pros lobos... Depois pro portão que ela entrou.  O mais seguro a se fazer, de qualquer forma, era ir esperar Anne lá fora.

    - Ahm, obrigada, gente. Obrigada pelo café também – fala pra todos, mas olha pra Bran que tinha lhe trazido a caneca. Se levanta – Preciso ir agora. Bom dia... – já estava indo quando falou. Deu um xau geral e um xau pra criança inteligente a sua frente e usou as pernas longas pra andar bem rápido.

    Sem perceber, as pernas a levaram não para o portão de saída... Mas na direção do portão dos lobos.
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    Mensagem por Wordspinner Sáb Out 31, 2020 8:50 pm

    Ilona dá de ombros sobre a recusa de Sam. O rosto diz que ela não entende a tolice da mulher. O pedido de desculpas de Sam é bem recebido por um sorriso rápido sem nenhum fingimento. Logo a boquinha se enche de comida e ela esquece Sam.

    Asia acha graça da reação da gravida aos lobos. "Não são tão diferentes assim de cães, só um pouco mais de cortisol." O rosto dela não mostra nenhuma preocupação.


    Finalmente ela começa a andar se afastando. Ela ouve risadas e sente o rosto corar contra vontade. Os dons de pratos e talheres. O aglomerado de vozes onde não se entendem as palavras ficando para trás a cada passo. Talvez sem isso ela tivesse percebido mais cedo. Talvez tivesse ajustado o rumo. Não. Não dessa vez.

    Ela se vira para encarar o portão que estava tentando alcançar. O muro alto entre as casas. Plantas penduradas. As vozes tão distantes que são somente um ruido pequeno. O homem de terno não está em lugar nenhum.

    Sangue. Uma trilha de gotas no chão. Engordando até serem manchas. Os dentes sujos de vermelho se viram em um rosnado. A carcassa de um porco selvagem esquecida. Aberta. Devassada pelos lobos. Semi devorada.

    Agora os olhos selvagens e atentos se viram para ela. Os pelos arrepiados. Os dentes a mostra. Um deles com o corpo baixo, pronto para avançar. O outro se fazendo maior andando para perto.
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    Mensagem por Bastet Dom Nov 01, 2020 11:01 pm



    Samantha
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    Talvez, em outra situação, tivesse se dado conta do caminho que tomava. Do possível perigo que corria. Sam nem percebeu o leve frio na espinha ao passar pelo grande portão... Mas não naquela situação. Apesar de ter sido ela mesma a avisar sobre o perigo dos lobos, só se deu conta daquilo quando viu a primeira gota de sangue no chão.

    A cada passo as gotas ficavam maior... Até ser uma poça quase nada coagulada e, logo em frente, um porco meio comido. Ver um animal morto não era novidade pra ela... Mas naquela hora da manhã, exposto... Comido possivelmente ainda vivo e há pouco tempo... Bem, Samantha agradecia por não ter comido nada, pois sentiu o café arder na garganta em forma de bili, mas conseguiu conter.

    Viu a carcaça se mexer... E só então percebeu que o sangue não coagulava pois os lobos ainda estavam comendo. Como a visão dela tinha ignorado aquelas criaturas? Seus dentes... Seus olhos selvagens.

    Ela, que estava meio abaixada para olhar o porco, foi arrumando a postura, pra não dar abertura de ser atacada e derrubada.  Movimentos muito lentos, os olhos alternando entre os olhos dos animais.  

    “Puta que pariu”, pensou, usando de toda a sua altura e braços longos pra parecer maior e um pouco mais larga. Foi dando passos calmos pra trás, com esperança de chegar ao portão antes de virar petisquinho pros lobos.

    Caso os animais viessem apenas a acompanhando ou ficassem parados e rosnando, ela não aumentaria a voz. Caso eles começassem a avançar mais rápido do que ela gostaria falaria as próximas palavras bastante alto pra intimidar. No entanto, mostraria os dentes instintivamente, em qualquer das situações, que possivelmente pareceriam um tanto ameaçadores pros animais.  Seu conhecimento a convencia que seguir com os movimentos lentos funcionaria. Correr nem pensar.

    - Calma... Calma... Asia falou que vocês são bonzinhos... eu só tenho ossos, tá vendo? Nada apetitosa – dizia mais pra si do que pra eles. Usava o tom pra tentar acalmá-los, em tom de respeito.

    Quantos passos até o portão?

    Coração batia forte. Quase não conseguia controlar a respiração.

    - Sejam bonzinhos.... – sentia os olhos cheios de lágrimas, mas seguia com o plano. “Nada de correr pernas, eu to falando sério”. O pensamento precisava ser forte para não correr.

    - Por favor... Eu to grávida... – quase murmurava, cogitando se deveria simplesmente gritar, a partir dali ou aplicar alguma de suas técnicas. Resolveu arriscar.

    Sabia que os lobos eram minimamente domesticados... Que tinham convívio com humanos.  Se não considerassem ela um inimigo...

    Baixou um pouco os braços que usava para parecer maior... E observou a reação dos lobos, sempre em movimento lento.


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    Mensagem por Wordspinner Dom Nov 08, 2020 1:09 am

    Quando o nome de Asia escapa dos lábios eles reagem. Um passa atrás. Dois para frente. Para os lados. Se dividindo. O rosnado no fundo da garganta. As patas fazem barulho raspando o chão. Os dentes aparecendo brancos na gengiva escura. Olhos atentos. Sangue com baba escorrendo. Eles não respondiam do jeito que deveriam. Se colocavam entre ela e o portão. Mas não atacavam mesmo com a oportunidade. Talvez não estivessem com fome?

    Pelo menos eles estavam cercando ela. Isso era normal. Mas eles pareciam sem medo e sem qualquer piedade também. Como que movidos por alguma intenção. Mais perto. Mais perto. Um rosnado chama os olhos de Sam para um deles e o outro pula para perto. A atenção dela muda de alvo o outro se aproxima com garras raspando o chão. Perto demais. Perto o bastante para alcançar ela.

    "凍傷 影を殺す" Os dois param onde estão e olham Samanta como se ela tivesse acabado de aparecer. "Pode ir, eles não vão fazer nada." O irmão com traços asiaticos anda devagar até ela. "Sebastian sempre alimenta eles longe da gente. Nem todo mundo gosta de ver eles comendo. Mas parece que você gosta." Ele não toca nela e nem faz qualquer mensão de se aproximar mais. Olha do portão para Sam. "Essa saida dá na floricultura do Sebastian. Ele vai estranhar, mas não faz perguntas. Pode ir, juro. Eles não sabiam que você podia sair, agora sabem. Não é?" Mas os lobos já estão ignorandoos dois e voltaram a mastigar a carcaça. Ele parece satisfeito como se eles tivessem respondido um sonoro "Sim".
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    Mensagem por Bastet Dom Nov 08, 2020 3:15 pm



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    A verdade era que aqueles lobos não pareciam animais selvagens... Nem domésticos. Tinham atitudes ferozes... Mas Sam já tinha visto eles “brincando”. Agora, eles pareciam fazer questão de assustá-la, cada vez que tentava chegar mais perto do portão... ameaçando, a cercando, mas sem atacar de fato. Parecia que eles sabiam a intenção dela e queriam impedir. Cada passo mais perto da saída, o impedimento ficava mais e mais agressivo.

    Talvez fossem animais treinados. Apesar disso, Sam sabia que era muito difícil treinar um animal selvagem... E, ainda mais difícil, equilibrar os instintos deles, mesmo que tivessem sido pegos filhotes. De qualquer forma, naquele momento, ela não estava completando grandes cadeias de pensamentos. Estava ocupada tentando entender qual atitude tomar pra sair inteira daquele lugar.

    Quando se viu cercada, tentou não ficar de costas pra nenhum deles. Procurava com os olhos algo que pudesse usar pra se defender, mas, a cada vez que desviava os olhos deles, mesmo que por um segundo, mais eles avançavam e faziam ela quase pular e correr. Era muito difícil manter a calma ali. Começou a bater os pés, a falar alto quando eles foram pra muito perto. Precisou desviar o caminho, visto que o portão os deixava bravos.  Mostrava os dentes, olhando nos olhos dos animais.... E, em seguida, pulava de susto, vendo que um deles tava perto demais, com um movimento imperceptível.

    Estava a ponto de gritar mais alto por socorro, quando uma voz humana surgiu. Viu os lobos se afastarem, com um comando numa língua que ela não entendia. Olhou para o homem, desconfiada. Não se mexeu a princípio... Sem saber se ele tava falando sério, ou criando uma situação pros lobos brincarem. Talvez aquele fosse o treinador dos animais.

    Abriu a boca pra falar algo, mas desistiu. Aquilo tudo parecia muito surreal. Ajeitou o cabelo que tava todo zoado, botou a mochila direito no ombro,  e deu o primeiro passo, um tanto hesitante. Logo começou a andar rápido, dizendo um “obrigada” baixo, meio irritado, e seguiu para a saída que ele indicou. Entrou pela porta, respirando fundo e observando os lobos por uma fenda, antes de fechar.

    Com o perigo passado, a curiosidade e o encanto que ela tinha por animais selvagens começaram a pipocar em sua mente. Já tinha estudado lobos, em um ambiente controlado... Mas, daquela forma...

    Via eles comendo como se nada tivesse acontecido e o homem andando entre eles e entre as poças de sangue.

    - Isso é... incrível – murmurou pra si, fechando a porta quando ouviu algum barulho na floricultura. Olhou em volta, pra entender onde estava e se conseguiria sair sem muito alarde.

    Spoiler:


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    Mensagem por Wordspinner Ter Nov 17, 2020 10:41 pm

    "Não é o caminho normal para os meus clientes. Você também não parece um dos meus clientes. Acho que está procurando a saida, não é Samantha?" A voz tinha um dose cavalar de humor britanico. Não tinha ouvido ela antes. Era de um ele. A voz. Masculina. Calma. Imóvel.

    Ele estava lá parado como se não tivessem invadido a loja dele pelos fundos. Um livro na mão. Sentado em um banco alto meio escondido por orquídeas, uma xícara vazia do seu lado em cima de Uma mesa redonda minúscula. Ele desvia os olhos do livro com relutância. "Tem uma cadeira atrás do caixa e a porta lá da frente tá aberta. Mas Anne ainda não chegou. No seu lugar eu esperaria sentado." Ele pousa o livro na mesinha e tirar um bule de água de um pequeno fogao por indução que parece só mais um balcão inocente. Enche uma garrafa com uma divisória de madeira. As folhas no fundo tentam subir para a superficie, mas ficam presas na madeira. Ele tira Uma xícara de um gancho e coloca ao lado da dele. Um par. São idênticas. "Me aconpanha? É hibisco e baunilha." A água da garrafa cheia de veios vermelhos como fumaça. Uma fumaça muito lenta.

    O som dos lobos comendo é alto o bastante para ela ouvir dali. Será que ele tinha ouvido ela falar com os lobos?

    ----

    Quase um minutos inteiro depois da resposta de Sam o telefone da um sinal de vida. Anne. "To chegando, Juan não tá por aqui. Não consegui falar com ele." A mensagem não dizia mais nada. Exceto por um emoji de sorriso, um de relogio e outro de coração.

    ----

    A floricultura era apertada. Não era atulhada, mas definitivamente usava cada espaço disponivel. Era opressivo. Se você não for do tipo de gente que gosta de plantas. Os aromas uns por cima dos outros. Um estande grande de sementes. A entrada toda de vidro como uma estufa. Mesinhas do lado de fora com pequenos arranjos. Cada superficie que não era madeira era pedra ou video. Sem plástico em lugar nenhum. Tudo meticulosamente organizado. As sementes por cores. As orquídeas por tamanho. Os chás em ordem alfabetica. Todos em saquinhos de tecido ou simplesmente pendurados em ramos.
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    Mensagem por Bastet Qua Nov 18, 2020 6:24 pm



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    Sam se vira rapidamente, ao ouvir a voz desconhecida atrás de si. Nem tinha reparado o homem ali, quando entrou, tamanho fascínio que tinha pelos lobos.  A mudança de ambiente era extrema: do lado de fora, tudo era selvagem e cheio de adrenalina e sangue... Ali dentro, as coisas pareciam calmas demais.

    Ouve a oferta dele de se sentar... Pensou em recusar, mas quando ele falou de Anne, Samantha pareceu relaxar um pouco a postura. Ele devia de fato a conhecer... Ou pelo menos tinha ficado sabendo da visita inesperada das duas ali.

    Foi até a porta, conferindo se não estava mesmo trancada e logo voltou, indo até a parte de trás do balcão.

    - E você é? – perguntou, enquanto ia buscar a cadeira que o homem tinha indicado... Bem, ele sabia quem ela era, aparentemente.  Toma cuidado pra não esbarrar a cadeira em nada. Tudo era tão organizado que Sam parecia mais desordenada do que o de costume. Se sentia como uma adolescente rebelde após colocar um piercing no nariz e aparecer na Igreja (talvez um sentimento verídico do passado dela, aliás).  

    Sam se senta em frente ao homem,  ajeitando o cabelo e evitando contato visual com ele. Assentiu quando ele ofereceu o chá, sentindo o aroma sutil e delicioso.

    - Acho que nunca tomei chá com baunilha – comentou, imaginando se não ficaria enjoativo. Sam gostava mesmo do amargor do café e de bebidas fortes.  Enquanto ele terminava a infusão, observou qual livro ele tinha colocado sobre a mesa e viu a mensagem de Anne.

    ***

    Os dedos ágeis digitaram a mensagem: “Juan é foda, viu. Blz, to te esperando aqui na floricultura do ....” – escreveu o nome com o qual o homem tinha se apresentado e tentou tirar uma foto discreta de si mesma, aproveitando um dos muitos arranjos perto de si.  Fez uma careta. “Tanta flor que parece velório. Help. Ele vai me converter ao chá

    ***

    Percebeu o olhar do homem em si, depois da foto, e se ajeitou na cadeira.  Observava a água ficando vermelha, como o sangue nos focinhos dos lobos que comiam lá fora. Engoliu seco, guardando o celular e agradecendo  quando ele lhe serviu.

    A calma do homem irritava Sam um pouco, que se levantou com a xícara na mão, indo ver os saquinhos de chás super organizados.

    - Você que cria os sabores? - perguntou, dedilhando um saquinho pra ver o que estava atrás, tentando não fazer bagunça... Apesar da vontade de jogar tudo no chão.

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    Mensagem por Wordspinner Qui Nov 26, 2020 4:13 pm

    "Bom … sim eu mesmo os preparo, na verdade eu mesmo cultivo as ervas e raízes necessárias para um bom chá..." Ele passa a mão atrás da cabeça segurando uns instantes a própria nuca. Quase envergonhado. "...quase uma tradição de família , meu pai é um biólogo e herbalista. Britânico também, o que faz do chá algo bem importante..." Ele sorri quase sem graça, mas tentando manter uma aparência desapegada."Pode ver de perto os saquinhos, tenho orgulho de fazer cada um, se notar tem uma costura neles, eu mesmo as faço a mão. É uma terapia... a maioria faz a máquina mas isso é um absurdo deixa uma trabalho preguiçoso e a linha sempre sobra para os lados" Ele coça nervosamente a cabeça como se precisasse dar lugar uma irritação profunda.

    É o dizem por aí não é? Como se saquinhos de chá fosse o assunto da cidade. Sam sabia bem que não era. Um barulho alto do lado de fora chama a atenção dos dois. Sam queria que fosse uma moto. Mas era uma britadeira ou algo assim. "Não é assim sempre. O barulho." Ele indica com a cabeça servindo o chá. As mãos que um segundo atrás eram erráticas, já estavam plenamente controladas. "As casas por aqui são muito boas, dificilmente tem obras, a cidade é muito boa, vizinhos bons e bem pouco curio… Barulhentos... quero dizer barulhentos, definitivamente não vai ouvir uma bateria as 3 da manhã." Com a voz baixa, para si mesmo. “até mesmo porque eu quebraria os dedos da alma perturbada.” Quase como saindo do seu mundo e notando novamente a visita. Quer dizer não literalmente, eu chamaria a policia pra esse perturbado, mas ao chá, é bom, muito bom mesmo, eu mesmo fiz sim… Cada um..." Um toque de orgulho na voz.

    Quase não dá para ouvir o sininho na porta por causa da britadeira. Mas deu para ouvir e lá está Anne. Um capacete em cada mão e um sorriso enorme. Sebastian imediatamente sorri para ela, pega uma caixinha de metal de biscoitos amanteigados e joga para a recém chegada. "Para Aponi." Anne enfia a mão por um dos capacetes para pegar a caixinha. Ela pisca e guarda em um bolso. "Ai mamãe, vamo?" Ela oferece um dos capacetes...

    ----

    Mais tarde, depois de finalmente escaparem da floricultura elas vão se enfiar entre os prédios espelhados do Corona. Carros caros. Restaurantes caros. Roupas caras. Lojas caras. Um porra de um jardim em volta do maldito prédio no metro quadrado mais caro da ilha. Eram árvores ali. Arbustos podados. Até uma maldita estufa de vidro maior que o bar... Maior que uma casa... "Chegamos." Era mesmo o lugar. Sem erro. O prédio lá no meio do verde tinha um estilo retro. Não exatamente vitoriano, mas o que se passou em Dover na época. Isso contrastava de uma forma muito estranha com tudo em volta. Isso e a torre lisa e negra no fundo. Parecia feita de obsidiana como em um filme b de fantasia. Mas era vidro. O que mais séria? Pedras?

    "Sei que se tá nervosa e Juan devia tá aqui, mas a gente consegue se virar. Homem não presta pra nada desse tipo." A voz dela soa estranha dentro do capacete. Mas um aceno e o vigia do portão deixa vocês duas passarem. Um segurança negro e gordinho com uma cara simpática. Mais um pouco e as duas descem da moto na frente do lugar. O cheiro era meio cheio demais para um lugar no meio do concreto. Mas era bom. Terra molhada. Flores e folhas pegando o começo da primavera. Na recepção já esperavam pelas duas. Claro que o médico já ia atendê-las. Isso surpreendeu até Anne.

    A sala é fria, não só o médico, um homem de meia idade com cabelos grisalhos óculos de meia lente em um rosto anguloso e uma pele que não parece ver o sol a uns bons anos, mas o ambiente todo. A mesa de metal, um prateado tão limpo e brilhante que parece ter sido lustrado naquele momento, uma maca também de metal com um colchonete azul coberto por uma grande folha de papel, três quadros na parede mostrando o corpo humano em três estágios da gravides e um quadro atrás da porta mostrando um gato pendurado em uma corda com os dizeres “aguente firme “. O médico nem se levanta da cadeira e apenas olha para a ficha da paciente, lê com atenção tudo que as quatro folhas levantadas entre os dedos ossudos tem escrito. Olha para as mulheres a sua frente e volta a atenção ao papel. O som de um pigarro insistente acompanhado do tamborilar dos dedos de Anne faz uma cacofonia de sons irritantes no ambiente de outra forma silencioso.

    Ao terminar sua leitura Dr Ambrose olha para Anne. "Então, meu colega me passou todas as informações que ele tinha sobre o caso, algo mais que precise ser acrescido?" A voz é cuidadosa, mas distante. "Eu tenho aqui algumas vitaminas pré-natais e bom, os remédios controlados devem ser suspendidos imediatamente." Ele mantém seus olhos fixos em Anne, sem desviar um momento sequer a atenção a mulher ao seu lado."Ela deve visitar o psiquiatra na unidade leste, ele vai passar alguns paliativos. Para qualquer transtorno maior, ela deve ligar para esse número." Ele passa a Anne um cartão. "Caso precise de apoio em uma crise mais profunda. Claro que deve fazer os exames periódicos, creio que sempre terá sua companhia certo? Ela deve fazer esse exame para ver as condições do feto" Ele empurra mais uma folha para a Anne, nunca nem olhando para Sam. "Isso é tudo, as verei aqui em 28 dias se tudo estiver de acordo com o exame, na recepção eles vão encaminhá-las e me enviar assim que tiverem o resultado. No último trimestre vamos decidir o local e quem fará o parto dela, alguma dúvida?" Ele ajeita os óculos como para pontuar o fim da conversa. Sem nem esperar ele muda sua atenção para a tela de um laptop aberto na mesa de metal.

    Anne parece perdida entre revolta e apreciação do modo como Sam está sendo tratada. Ela olha dela para o medico com um riso frouxo e um toque de raiva que não consegue se fixar nas feições dela.
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    Mensagem por Bastet Dom Nov 29, 2020 4:51 am



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    Quando o homem deixa ela pegar nos saquinhos, ela realmente o faz, os analisando como se entendesse alguma coisa de costura. Acha engraçado em como ele mudara de quieto e misterioso pra bobo e orgulhoso do próprio trabalho, tagarelando sobre os detalhes e vantagens de plantar a própria erva (infelizmente, não uma erva “da boa”) e fazer os próprios sacos de chá.

    - Eu sou uma pessoa mais do café, sabe. Ou do Whiskey. Mas tenho certeza que o pessoal amante do chá fala exatamente isso aí. Tomar aqueles de mercado deve ser uma heresia, né? – talvez fosse os únicos que Samantha tinha tomado até o momento.

    Quando Sebastian comenta do barulho, a mulher coloca os saquinhos de volta, sem ter certeza se estavam na ordem certa, indo até a vitrine e olhando pra rua. Era uma vizinhança que não parecia muito agitada, mas a magia da “pequena vila feliz” não vazava pra fora dos portões. Tudo parecia normal, com pessoas mal humoradas e crianças se preparando pra ir pra escola... E o barulho, é claro.  Bastante irritante.

    Ela não respondeu sobre a vizinhança, se sentando pra terminar o chá. Apenas deixou o homem falar... Ele parecia satisfeito em sustentar aquela conversa e Sam apreciava isso bem mais do que estava apreciando aquele chá frutado.

    Ao ver Anne, virou o restante do chá como se bebesse um shot qualquer– Bora. – ela sorriu pra mulher e logo falou pra Sebastian - Valeu pela conversa e pelo chá.

    ---

    Enquanto andava com Anne e colocava o capacete, a olha com um pouco de desconfiança.

    - Aponi, é? – ri, subindo na moto. Aquilo era estranho. Elas eram amigas... Talvez amigas com alguns benefícios agora... Mas a amizade, até então, era de bar. Risadas, tequilas, apostas  e histórias sobre a vida... Nada TÃO pessoal... Mas desde o “acidente” (seja lá o que tenha sido) as coisas estavam ficando pessoais.

    Sam aproveita a pequena viagem, tentando relaxar. Talvez parecessem duas pivetes andando no bairro de riquinhos, com aquelas roupas... Mas foda-se. De alguma forma, a mulher se sentia aliviada por poder cuidar do seu bebê (e melhor ainda, de graça!). Ela demorou alguns segundos pra descer na moto, após Anne, olhando pro prédio imponente.

    - Homem só tem uma coisa que presta – ela diz e dá uma risada, relaxando os ombros após ela comentar aquilo. Tira o capacete, olhando pra Anne – Eu não tô nervosa, fala sério – deu uma empurrada em Anne com um “soquinho”, mas claramente tava nervosa sim, bastante. Se levantou, caminhando com a amiga até a clínica novamente. Se Anne reparasse bem, apesar do nervosismo, Sam parecia feliz.

    ---
    No consultório, Sam estava sentada ao lado de Anne. As duas perturbavam a paz do local, ela com os calcanhares inquietos, batendo o salto quadrado de seu coturno no piso, e a amiga com os dedos ansiosos batendo na mesa.

    A princípio não parecia se importar com o descaso do doutor. Ergueu uma sobrancelha quando ele fez a primeira pergunta, sem nunca olhar pra ela, mas respondeu pacientemente.

    - A medicação é pra TAB e tudo o que a doença me traz. Descobri não faz tanto tempo e não sei se é hereditária. Na verdade, não tenho nenhuma informação sobre qualquer doença hereditária na minha família biológica. Já fiz alguns exames pras doenças mais simples, quando comecei o tratamento,  mas talvez seja necessário fazer monitoramento em doenças que possam afetar a gravidez, já que não tenho certeza sobre pré-disposição – ela mexeu na mochila, procurando um cartão em sua carteira e entregando pro médico – Estava fazendo o acompanhamento em Londres, nessa clínica. Eles têm todas as informações sobre a TAB e a bateria de exames que fizemos. – a clínica era pública, talvez sem todos os recursos que tinham ali...

    Ao terminar de falar e perceber que ele prestou atenção muito porcamente... E ouvir o médico passando tudo pra Anne, ela enfia a mão na frente, pegando os frascos e o cartão que ele passava.

    Fica claro a dúvida de Sam entre arremessar o frasco com as pílulas pré-natais no médico ou fazê-lo engoli-las uma a uma... Apesar disso, ela não escolhe entre nenhuma dessas opções. Apenas se ajeita na cadeira, cruzando os braços e olhando pro doutor. Atitude que talvez surpreendesse a tia de seu filho logo ao lado dela.  

    Esperou ele terminar com aquele “alguma dúvida” cínico.  Fechou a tampa do notebook dele de supetão, ficando em pé em frente à mesa, curvada pro rosto ficar na altura do dele.

    - Olha, doutor. O que eu tenho não me invalida e eu estou aqui na sua frente. A não ser que queira fazer uma ultrassom intravaginal na minha amiga aqui, daqui um mês, ou fazer o exame de toque nela, quando EU estiver parindo, acho melhor você dar as instruções pra mãe do bebê. – diz, o olhando nos olhos – Eu to pouco me fodendo se você é um engomadinho que trata seus pacientes assim. O que importa pra mim é essa criança. E bem, sua formação indica que deveria se importar também, certo? Então olha na porra dos meus olhos quando tiver falando da minha gestação e tenta seguir o código de ética ao qual você fez juramento.  – deu um sorriso de canto de lábios. Quase um rosnado silencioso. – Obrigada pelo tratamento tão prestativo. Espero que daqui a 28 dias o senhor tenha melhorado essa cara de bunda murcha que o senhor tem!

    Logo virou às costas, com as mãos em punhos, saindo bufando da sala, sem esperar Anne.  Entrou no primeiro banheiro que viu, tentando puxar o negócio de papel toalha, com raiva, mas sem sucesso nenhum.

    -INFERNO! – se contentou em puxar algumas folhas, enquanto se olhava no espelho e percebia a bagunça que ela estava, por dentro e por fora. E que estava chorando.

    Que merda de mãe essa criança vai ter.
    Que merda de médico.
    Tinha mesmo de voltar ali no final do mês?



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    Mensagem por Wordspinner Qui Dez 03, 2020 12:45 am

    Sam escreveu: Aponi, é?

    Sem nenhuma hesitação. "Ela anda com a gente. Eu te apresento, mas se faz de legal e não fica babando." A provocação sem vergonha no final. A explicação vaga. Classica Anne, algo entre desleixada e misteriosa. Um toque de desinteresse e pronto. Nem parece que tá escondendo nada. Ela tá escondendo alguma? Não parecia. Não parecia culpada, mas quando ela parecia culpada?

    "Seb é lindo né? Mas nem gasta saliva ali. Ele curte outro jogo." Ela diz cutucando Sam em um curva fechada e rápida.

    ----

    As mãos de Anne não hesitam, mas talvez devessem. Ela segura Sam por trás. Os braços dando a volta na cintura dela. O rosto enfiado no meio das costas. "Eu sei... Não sei na real. Mas sei que queria afundar a cara dele. Não sei porque cê tá chorando. Mas eu espero aqui com você até melhorar." Não era exatamente o que esperava de Anne. A voz quieta e sem provocações ou ironias ou humor. Tinha até um toque de algum sotaque. Mas o que ela esperaria...

    -

    A cara do médico era enfurecedora. Quanto mas Sam saia do sério mais plácido e apático ele ficava. Na verdade parecia mais satisfeito que aborrecido. Como alguém que apostou que algo ia dar vendo a tragedia acontecer. Como se fosse inevitável. É pior ainda dessa forma. Melhor séria se ele tivesse reagido. Gritado de volta. Assumido uma posição ainda pior. Ainda mais distante. Mas de certa forma era como se ela tivesse feito esforço para se encaixar exatamente no que ele esperava dela. Isso doia ainda mais. Traída pelas próprias ações e mesmo assim ela não estava errada. Estava? Ele tinha que estar errado. Aquilo não podia estar certo. Mesmo assim...

    -

    O coração batia nas costelas como um passaro tentando fugir. Anne era só paciência. Desconfortável em sua tentativa de conforto. Perto demais. Era uma expectativa a mais. Mesmo que fosse a pequena expectativa de que um dia ela ia parar de surtar e chorar até morrer de fome e desespero naquele banheiro. Ela ia sair dali algum dia? Talvez, mas era melhor não ter ninguém dependendo disso.

    Mas a respiração dela era calma. Lenta. Tranquila. Sem nenhuma gotinha de desespero. O abraço não era apertado. Sam sairia se quisesse. Sabia disso. As mãos de Anne estavam ali na frente dela. Abertas como um convite em cima das coxas dela. O rosto imóvel as costas, entre as omoplatas. A respiração de Anne movia o cabelo escuro de Sam que era longo onde o da outra era tão curto. As pernas coladas nela. Os pés por fora dos dela. Mas bem perto quase encostando a curva do meio do pé nos calcanhares dela. Não era tão desconfortável assim. Talvez um pouco melhor que um espaço vazio. Bem melhor que a solidão fria do banheiro perfeitamente limpo.
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    Mensagem por Bastet Qua Dez 30, 2020 1:22 pm



    Samantha
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    A atitude do médico a deixa profundamente irritada e triste.

    “Ele fez aquilo pra provocar... Fez aquilo pra eu parecer doida... Filho da puta”

    A mente de Sam rodeava em teorias e manias, que só conseguia a deixar pior. Andava pra cá e pra lá no banheiro, analisando de novo e de novo o que havia se passado e desejando duas coisas: ou ter socado a cara dele até aquele sorriso cínico findar de vez ou ter se comportado diferente do que ele esperava. Na verdade, a ideia de socá-lo era mais atraente. Será que ainda tinha essa possibilidade?

    ***

    A agitação de Samantha só parou quando os braços de Anne envolveram sua cintura... E as palavras da mulher se fizeram presente naquele ambiente esterilizado e branco demais.

    Sam viu os braços da outra pelo espelho e era estranho. Era bom, mas era estranho. Ver Anne tão sincera... Por que ela ainda estava por perto? A mulher não entendia.

    Ela não respondeu. Apenas se deixou sentir a sensação de paz que Anne trazia. Não tentou fugir do abraço... Só respirou, pousando uma das mãos sobre as de Anne e vendo seu reflexo choroso no espelho. Chorou tanto que nem se deu conta quando parou. Se virou dentro do abraço, pra abraçar a outra mulher de frente, encostando a cabeça em seu ombro e ficando em silêncio por algum tempo a mais.

    Por fim suspirou, ajeitou o corpo e limpou o rosto que, por sorte, não estava com nenhuma maquiagem.  Segurou o rosto de Anne, delicadamente, entre as mãos e a olhou por tempo demais.  Os rostos se aproximaram... Se Anne permitisse, Sam daria um selinho em seus lábios,  tensa... A princípio, nem parecera algo sexual.

    - Obrigada, Anne... Obrigada. – os olhos estavam baixos... falava ainda de perto. Como quem queria mais, mas não tinha certeza se deveria.

    ***

    Sam se lembrava do por quê se envolveu mais com Juan do que com Anne.  Ele era o oposto da irmã...  Parecia um galanteador barato, querendo apenas se dar bem. Era uma ótima companhia, principalmente sem roupa e com uma garrafa de qualquer destilado apoiado na pia do banheiro feminino do bar, enquanto fodiam.

    Sem complicações. Sem envolvimentos.

    Anne, por outro lado, era uma mulher intensa. Intensa no olhar, intensa nas brigas, intensa nas amizades.  Não precisava beber pra ser interessante, apesar de ficar parecida com o irmão quando bebia demais.

    Sam sentia falta quando ela não aparecia e isso era perigoso.


    Por isso ela gostava tanto de lidar com animais. Talvez em breve tudo voltasse ao normal, quando começasse seu trabalho ali na cidade.



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    Mensagem por Wordspinner Qui Jan 07, 2021 4:56 pm

    Anne respira o beijo de Sam como se pudesse guardá-lo nela. Ela mal deixa Sam falar e se joga de novo para mais. As mãos mais fortes do que parecem tiram ela do chão. A borda fria e arredondada da pia passa pelas costas e termina embaixo. Anne se estica para alcançar a boca da outra. O corpo colado com Sam. A respiração quente na pele. Uma das mãos sobe pelas costas aproximando as duas ainda mais. A outra segura firme na calça de Sam, os dedos dentro em contato a pele. Anne se movia com voracidade e... se afasta. "Porra." Ela diz com a mão na boca. "Eu quero. Aqui ia ser melhor ainda." Uma emoção difícil de decifrar nos olhos dela. "Preciso falar outra coisa. Papo sério. Vem comigo e se você não decidir sair correndo eu..." Ela olha para Sam com desejo descarado. Olhos devorando cada curva. O rosto ainda vermelho de excitação. Ela sai.

    Anne anda rápido até a moto e imediatamente enfia o celular no ouvido. Ela só para de falar espanhol quando as duas estão na moto. Ela parecia bem agitada. Mas o sorriso que lança na direção de Sam é algo inesperadamente doce e alegre. Ela definitivamente quebra um monte de leis de transito e limites de velocidade nos minutos seguintes.

    --

    O lugar não fazia o menor sentido. Mato alto na estrada. Anne vira sem qualquer aviso e passa por uma trilha difícil até de ver. O galpão velho era cercado de árvores, janelas com tábuas e trepadeiras. Além de impossível de ver da estrada. O som do motor desligando. Os pneus raspando no chão. "Eu sei que parece horrível. Mas não é nenhum filme de horror com caipiras assassinos canibais." Ela faz uma cruz com os dedos e os beija. Coloca as mãos para trás pegando as correntes na porta do galpão e puxa. A coisa se solta com um "click" suave. Ela empurra a porta com a bunda sorrindo. Luzes piscam para vida lá dentro. "Talvez tenha um pouco de poeira..." A parte de dentro não parecia em nada com o exterior. As paredes pareciam sólidas e pintadas de branco. Um branco coberto de posters e pichações. Quatro pilastras seguravam o teto e elas eram enfeitadas com pedaços conflitantes da personalidade de Anne. Peças. Caveiras enfeitadas mexicanas. Garrafas. Um cachorrinho de pelúcia. Um pote com um olho de mentira. Uma faca. Uma corrente com fios coloridos enrolados em um padrão psicodélico.

    Um freezer zumbia levemente no fundo. A única coisa mais alta que o chão. Tinham pufes e colchões e almofadas. Nenhuma mesa. Um laptop jogado ligado na tomada com a tela passando um tubarão. Um baralho espalhado em um dos colchões com um soco inglês em cima. O teto parecia uma tatuagem maori. "Sim, são de verdade." ela diz assim que Sam passa da porta. Ela aponta duas armas em cima da entrada. Duas submetralhadoras daquelas pequenas que adolescentes insanos compram para levar para o colégio uma só vez. Claramente esse não era o caso dela. "É seguro aqui." Ela coloca a chave da moto nas mãos de Sam com um carinho nervoso. Ela estava ansiosa e fugia logo em seguida. "Eu ia dizer para sentar. Ia te oferecer algo pra beber... Mas na real é melhor ficar em pé mesmo. Eu preciso dizer uma coisa muito séria." Ela anda de um lado para o outro. Pega uma garrafa e decide não beber e a coloca em outro lugar. Bem do lado do olho falso no pote. O vidro faz um barulho de brinde.

    Então ela começa a falar feito uma louca. "Olha... Você é estranha pra caralho e sabe disso. Meus amigos pareceram estranhos e eu queria não ter te levado lá, mas a real é que era mais seguro. Eu não sei o que você viu. O que acha que viu. O que acha que rolou. Mas você não é normal. Porra, to falando errado. Cê sabe que não é normal, mas não desse jeito. Na real deve saber e não quer encarar. Não foge por favor. Não é isso. Você é diferente das outras pessoas. Como eu falo essa porra sem parecer que eu enchi o cu de cogumelo e meu cérebro derreteu? Caralho! Eu gosto de você pra caralho sua doida e eu juro que não to tentando te perturbar ou magoar. Você literalmente não é uma humana normal. Não é. Ponto. Você é uma filha da lua." Ela se xinga de joga uma almofada longe. "Não... Não virei uma doida varrida wicana que dança pelada na chuva. Já dancei pelada na chuva e não tem nada a ver. Você sabe que não é normal e não são os remédios. Eu sei que ela te empurra pra lá e pra cá com seus humores. Com essa raiva que vem borbulhando sem razão até vazar da panela. Você tem que saber em algum lugar aí dentro que eu to certa." Ela tem um olhar intenso. As palavras correndo pela boca sem pausa. Anne se segura. Se força a ficar calada olhando Sam. Medindo o resultado das suas palavras. Ela parece culpada e amedrontada. Parece prestes a contar para os pais mórmons que ela muito gay.

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    Mensagem por Bastet Sex Jan 08, 2021 3:08 pm



    Samantha
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    Samantha não oferece nenhum tipo de resistência ao beijo voraz de Anne. Talvez, quando parasse pra pensar naquilo, encontrasse mil motivos pra precisar impedir... Mas, bem, a mulher não era conhecida por pensar muito antes de agir (às vezes pensava demais também, opostos extremos).  Apesar disso, se surpreende com a força de Anne, que a levantou sem o mínimo de esforço, a colocando sobre a pia.

    Ia falar algo, mas não era momento. As bocas estavam ocupadas... As mãos de Sam, assim como as da outra, exploravam por baixo da jaqueta de couro da motoqueira. Os dedos longos passando sobre a espinha... Descendo até a bunda. A palma firme ali, em um leve apertão.

    Fica até tonta quando Anne se afasta daquela forma abrupta... Vendo o leve fio de saliva entre as bocas dela se romper, com o xingamento. As bochechas de Sam estavam coradas, a respiração afobada. Demorou um pouco pra entender que Anne queria que elas saíssem dali. Seu corpo só queria continuar o que haviam começado.

    Nem disse nada, apenas seguindo. As pernas cumpridas ajudavam a manter o ritmo rápido.  Pensou em parar na sala do médico... Mas apenas grunhiu, seguindo até a moto, sem entender uma palavra do que Anne disse até lá.

    - Você tava falando comigo? – perguntou, confusa... E logo percebeu o telefone sendo guardado, e dizendo um “deixa pra lá” baixinho. Abre um sorriso correspondente ao que recebe, apesar de bastante confuso e sobe na moto, sendo levada até um local desconhecido que parecia, realmente, um filme de terror, por fora.

    ***

    Sam desce da moto, um pouco desconfiada. A princípio não entende o lugar... Mas, quando Anne abre as portas, ela percebe que aquela devia ser a casa dela... Ou um canto que ela ia quando precisava se sentir em casa.  Tinha um pouco  de tudo o que compunha a personalidade da mulher ali. As coisas que mais chamaram atenção, foram o cachorrinho de pelúcia e o olho macabro, porém claramente falso. Na faculdade, Sam já tinha visto muitos de verdade... Bem, não humanos, mas apodreciam de maneira parecida no formol.

    - Sabe, eu posso te arrumar um de verdade... – comentou, indicando o frasco... Falando mais pra quebrar o silêncio. Ergueu os olhos para as armas, quando ela comentou  - Maneiro... Você sabe usar elas? Não parece ter peso pra segurar uma coisa dessas... – Sam ainda estava levando na brincadeira, sem entender o motivo de estar ali... Mas então viu o rosto de Anne quando ela veio lhe colocar as chaves da moto nas mãos. Não que ela soubesse dirigir, mas aceitou e assentiu quando a outra mulher lhe disse que precisava falar algo sério.

    Se encosta em uma das pilastras do local, aguardando o que ela tinha a dizer.

    Samantha não entendeu metade do que Anne estava tentando falar... Mas deixou ela falar. Sabia que às vezes era necessário. Quando ela terminou, Sam coçou a cabeça e se desencostou da pilastra, indo até ela e pegando em suas mãos.

    - Respira, Anne – tava claramente confusa, mas conhecia crises de pânico/ansiedade e Anne parecia prestes a entrar em uma. Foi até a cozinha pegar um copo de água e entregou para ela.

    - Vamos por partes – Sam coçou os olhos,  cheirando o ar perto de Anne – Bem, você não tá mesmo com cheiro de maconha ou algo do tipo – brincou de leve – E eu sei que sou estranha. Você também é né? E seus amigos... Nem se fala – se lembrou das coisas com os lobos, estremecendo de leve.  – Eu também gosto de você, Anne... Mesmo, mas “Filha da lua”... tá... Isso parece... real que tá drogada. Vai precisar me explicar melhor...

    E Anne comentou dos remédios.  Sam soltou as mãos dela, fechando a cara.

    - O que você sabe sobre isso, Anne? O que você sabe sobre mim? – era difícil saber se aquilo era uma pergunta retórica e defensiva ou uma curiosidade. Apesar disso, ela ainda estava ali, ouvindo.

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    Mensagem por Wordspinner Sáb Jan 09, 2021 10:02 am

    O rosto de Anne se torce de uma emoção para a outra. "Eu sei tudo Sam." A voz dela quase um sussurro. "Eu sei exatamente como uma coisa tão pequena pode virar tudo de cabeça para baixo. Uma palavra que ontem te fez rir hoje te faz queimar feito uma torcha industrial. Sei da violência. Do gosto doce que ela tem. Sei que as vezes você acorda no melhor dia da sua vida sem porra de motivo nenhum." O que ela falava era desconfortavelmente próximo da verdade. Como ouvir os próprios pensamentos saindo da outra. "Mas eu não sei de tudo entende. Você sonha com a dança? Você viu a morte dele nos seus sonhos? Droga, me ajuda Sam. Diz a porra da verdade pra mim." Ela parece a beira de implorar quando alguma coisa muda no corpo dela. Ela se afasta de novo. Só um pouco. Só um passo. "Olha bem pra mim. Não pisca." Rapidamente ela tira a jaqueta e a camisa em um só movimento. Ela pula pra fora da calça bem mais devagar. O olhar avisando Sam para manter distância.

    "Sam eu juro que eu não queria fazer desse jeito." Ela vira de costas com o jeans nos tornozelos. Ela pisa a calça até conseguir sair. Sua atenção finalmente até a mão dela. O dedo apontando uma tatuagem esquisitona que parecia uma cicatriz. Era uma cicatriz. Igual ao irmão, Juan era cheio dessas. '...no mesmo lugar...' as palavras se formam na sua cabeça. Sem comando os olhos procuram pelas outras enquanto ela se vira. Os dedos delas passam de uma a uma. "Ele disse que essa foi uma facada, né? Essa outra queimadura, lembra? Eu sei, não faz sentido. Eu sei. Que nem você sabe que não porque as pessoas sempre desconfiarem que foi você que começou. Que você é uma descontrolada perigosa que vai quebrar a cara de alguém na primeira oportunidade. Não é por acaso." Ela tenta se aproximar de Sam de novo. "Por favor. Me deixa te mostrar o resto. Mas eu quero falar de você. De você antes de mim. Você é importante agora e não é a única coisa estranha aqui." Ela morde a boca e suspira. "Você gostou dos lobos não foi? Quer começar daí? Quer começar de antes? Eu vou ter respostas que você nem imagina que podia querer. Tem um jeito suave de fazer isso e depende de você confiar em mim, confiar em mim até você poder falar da dor. Porque eu sei que você tá sofrendo esse tempo todo e eu quero essa conversa seja um passo na direção oposta. Sem dor." As palavras dela agora são calmas. Os gestos também. O olhar intenso.
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