Os olhos abrem apontados para o teto de um lugar estranho. Não. Familiar de alguma forma. Conhecido. A cozinha do rapariga. Uma gota da torneira ruim bate na pia de aço inox. Implacável como o tempo. Não era bem ali que devia estar. Era? Vozes. O outro som. Vozes conversando do outro lado da parede de drywall.
"Sabe o que fazer." Nunca tinha ouvido antes.
"Ela não viu nada. Mesmo se tivesse, ela tem o sangue." Essa era...
Uma gota no metal.
"Tá certo, a gente empurra ela pros Uivadores, é a pista deles." Calma. Segurança. Certeza.
"Não!" Um grito e sussurro na mesma palavra. "Tem alguma coisa rolando lá."
Uma gota no metal.
"A gente não pode ficar com ela e nem os Corvos. Que tá pegando irmãzinha?" Compaixão. Compreensão.
"Amy e Rich tão muito estranhos. Demais. Tem coisa eu conheço eles." Agitação.
Uma gota no metal.
"Aqui. O que tá rolando aqui?" Uma oferta.
"Nada, nada... Mas não..." Hesitação.
Uma gota no metal.
"Não mente pra mim. Sabe que não dá pra gente levar um parente por aí. Eles não são coisas." Decepção.
"Argh... Eu sei, só to nervosa. Não é seguro ela sozinha. Anshega e até a legião." Medo. Raiva. entrelaçados
Uma gota no metal.
"Mentindo de novo. O assunto é seu. Vai lá e diz pra ela o que tem que dizer. Só sobrou um lugar." Decepção.
"Eu não. Você quer dizer deixar ela com os novatos?" Disfarce.
Uma gota no metal.
"Tem dez minutos, melhor se apressar antes que ela fuja. Área neutra Anne." Nada.
"Como assim fugir?" Perplexidade.
Uma gota no metal.
"Ela tá ouvindo a conversa faz um tempo." Voz distante. Ficando menor.
A luz que entra pela janela vacila e apaga. O mundo perde o tom amarelado e quente dela. Frio e reflexivo agora. Metal e azulejos. Azul com a lua cheia. Os passos se aproximam rápido para a porta da cozinha. Outra gota batendo no metal. Você se senta. Sem pensar. A porta dos fundos aberta, a corrente grossa escorrida pelo chão. Uma serpente negra de metal no chão branco manchado de luar.