Adormeceram juntos, com Alejandro acariciando seu rosto, parecia que as horas se arrastariam lentas sem pressa de trazer um outro dia.
“ Às vezes é só isso que a gente precisa, um quartinho, o silêncio e aquela quebra de realidade para realmente se sentir vivo.” O pensamento de Kallax deve ter sido influenciado pela normalidade de estar ali sem precisar pensar em mais nada além dos braços daquele garoto.
O sangue inundou o coração de Kallax e, por um instante, ela sentiu um aperto perigoso no peito que urrava enquanto tentava entender o que acontecia ao redor. Alejandro não estava no quarto. Era cadela louca da Synergy. A ruiva precisou lutar para conseguir inspirar e rangeu os dentes sentindo a agressividade da outra. Os olhos acinzentados se fixam no taco de beisebol. Estava com medo, mas ainda assim ergueu o queixo em desafio, uma tentativa de não se curvar diante da outra.
— Vai se ferrar maluca!- Ela retrucou, indignada. Kallax se veste com pressa sentindo a outra em uma vigília. Ela sabia que a piranha estava louca para usar aquele taco. Ao descer a ruiva tenta manter os passos, mas o coração vai acelerando em descontrole quando chegam ao térreo o sol banha o rosto bonito agora vestido com apreensão e o medo. Cada linha de expressão dela reagia quando olha aquele círculo.
“Por favor, isso não pode tá acontecendo?!” O riso de Lopez a deixa arrepiada, sentia o medo batendo forte em seu corpo todo. Quando a forçam a entrar no círculo ela tenta resistir, mas ao ver Alejandro machucado aquilo a quebra em pedaços.
“ Eu não devia me importar?! Ontem não devia ser importante, mas é?! Caralho é muito importante!” Os machucados horríveis, fazem o estômago da ruiva revirar, a tristeza e o terror pelo que está vendo fazem lágrimas rolarem reluzindo em suas bochechas agora. Ela sentiu o aroma do café, mordeu o lábio com tanta força e levou uma das mãos a boca tentando sufocar a culpa que transbordava dela
“Bobo, ele lembrou do café… O que foi que eu fiz?!”. Nunca esteve preparada para aquilo, Kallax se deixa levar pela atmosfera de violência, de pavor e a culpa que a devoram agora como se pudessem quebrar seus ossos.
López avança contra ela, parecia louco, como ele podia fazer aquilo com Alejandro? As mãos ásperas apertando-a daquele jeito e podia sentir que ele ia machucá-la muito mais. Kallax o encara com raiva, mas aquilo não o intimidou.
Um dos caras falava, ela piscava mais de uma vez e os seus olhos ficam arregalados. E que, porra, estava arrependida para caralho. Ouvindo e ouvindo tudo ela sente mais e mais arrependimento que não salvaria os dois agora.
López está fora de si, talvez sempre estivesse e ela por sua vez entrou em um território que cobra as coisas com sangue. A ruiva se move, queria chegar perto de Alejandro e o faria se ninguém a impedisse, não era pra ser daquele jeito. Antes que pudesse chegar perto ela olha uma outra pessoa jogada ali com tanto força que caia no chão.
“Zinc?!” A garota fofa, doce da noite anterior, porque eles a pegaram também?! Logo em seguida ela ia entender o porquê, ela arrastou a garota junto quando a fez pesquisar sobre López.
— Deixa eles em paz!- Bradou ela, mas era inútil e a ruiva sabia que era culpa dela. O desgraçado agia como se toda fúria do mundo gritasse tanto quanto a própria voz dele. Kallax sentia o pavor queimar seu rosto, ela grunhiu e chorou quando o som alcança seus ouvidos como se fosse ampliado pelo medo que agora a fez tremer.
“Zinc ta morta?!” Ela ergueu os olhos e seu rosto se contraiu involuntariamente diante do que via. López não estava satisfeito, ele quer mais e mais violência. Ela tenta ir até Alejandro de novo, mas parecia que um abismo imenso se abria diante dela e ele. Os lábios dele se movem, Kallax se agita, tentando alcançá-lo.
— Ele não sabia de nada! Ele não sabia, deixa ele em paz…- As palavras dela se perdem no ar, no momento e naqueles olhos do garoto que conheceu na noite anterior.
“Chiba?! Não tem Chiba para gente porra nenhuma!!!” Aquilo faz ela gritar de um jeito que nem sabia ser capaz. Kallax sente o corpo pesar uma tonelada, queria tanto chegar perto dele e quando escuta a voz de Synergy aquilo a faz sentir raiva.
— Desgraçada, doente do caralho… Ele não tinha culpa… Você matou os dois, mas eles não mereciam isso… Não mereciam…- Disparou, as palavras entrecortadas, tremendo e a fazendo gritar tudo que podia antes que sua voz falha-se enquanto o choro vertia sem parar. Não tem forças para se colocar de pé. Vadia má e estúpida, nunca devia ter passado a noite com ele, não devia ter envolvido Zinc, ela foi ingênua e eles pagaram pelo erro que cometeu. As mãos dela tremem, passando nervosamente pelo cabelo, o grito dela é cheio de raiva de si mesma deformando aquele rostinho bonito.
Os passos de López são como de um predador raivoso, é chumbo contra um chão de vidro estilhaçando tentando chegar na ruiva, mas o som de uma sirene fazia tudo parar, mas a dor no peito de Kallax não para, só aumenta e ela ergue o olhar o queixo tremendo, lutando para não chorar, mas sem querer desviava o rosto para ver os dois ali no chão. Estavam mortos por sua culpa. Tudo acontecia a sua volta em câmera lenta, o homem negro da noite anterior, López com o peito cheio da própria loucura e ela abre a boca, mas sua voz não saiu mais. A policial questiona, a ruiva nem olha, fica presa aos corpos dos dois, devia ser ela ali e não eles. Ela não recusa de imediato, não tinha força para isso, baixa a cabeça, mas os olhos ainda presos nos dois ali.
— Eles não podem ficar ali… Não desse jeito,- A voz embargada em um apelo que nem seria atendido.
— Por favor, eles não podem ficar assim…- Ela visualizava os dois mortos naquela rua, como se fossem descartáveis, como se pudessem ser deixados para trás e esquecidos, mas Kallax não vai esquecer nunca tudo que viu ou sentiu com Alejandro. Ela funga, mas seu estado é como o de uma criança que viu coisas que jamais deveria ter visto, como se um pesadelo rompesse a barreira entre o mundo dos sonhos e tivesse explodido diante dela.
“ Eu matei eles… Foi culpa minha!”. A ruiva se vira em direção aos dois no chão, quer ir até eles, as pernas se movem sozinhas e havia uma coisa ondulando dentro dela, impulsionado sentimentos diferentes, se antes era só ambição agora tinha mais ardendo e seus olhos brilhantes estavam cheios de ódio.