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    O Jogo dos Tronos - Jone

    El Cabron
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    Mensagem por El Cabron Qui Out 24, 2024 4:28 pm

    O Jogo dos Tronos - Jone - Página 4 _f475c10
    Jone Felinight

    "Não, minha cara meretriz, eu não vou te levar pro castelo.
    Agora, encha meu copo e tire o vestido..."




    Finn Swallon não era apenas o Capitão da Guarda dos Fellinight. Ele era praticamente um amigo de Beron. Havia salvo o Lorde da morte iminente quando este era apenas um herdeiro ainda. Em resumo, era um homem de alto prestígio na Casa. E Jone assim também o considerava, à sua maneira, é claro.

    A busca do Cavaleiro pelo Capitão era um mero protocolo para saber o que havia acontecido após o incidente nas Minas. Seu desejo era o de um relatório completo. E Finn, servindo-os com cerveja, e também sem muitas cerimônias, deu seu próprio testemunho do que se sucedeu após os desmoronamentos.

    Alexyus escreveu:O Jogo dos Tronos - Jone - Página 4 Fin_sw10
    - Depois do desabamento, nós voltamos para procurá-lo, sor. Levamos dois dias para remover todos os escombros do caminho, mas não achamos nenhum rastro seu. Menos ainda dos bandidos. Perdemos três homens naquele dia, Yoren, Sigurd e Olwen. Com a chegada do senhor Allafante, levei um destacamento de homens para Breakstone Hill para recebê-los, e foi bem a tempo de impedir um confilto entre toda a caravana dele e os aldeões da vila. Eu os abriguei na Torre Mirela, mas logo o senhor Henry achou melhor acomodar a senhora Inês no Castelo dos Sussurros enquanto reforçava as forças armadas na vila para assegurar os trabalhos dos artesãos que ele trouxe. Devo dizer que ele é realmente bem eficiente e mantém um ritmo de trabalho que os nortenhos nunca viram, mas não é muito bom em ganhar o amor do povo nativo.

    Jone manteve-se atento ao relato, dando alguns goles na cerveja ao longo do discurso do Capitão. As baixas seriam cobradas por Beron assim que ele soubesse do acontecido e Jone tinha plena consciência que tanto ele quanto Finn escutariam as intempéries do Lorde da Casa.

    - Fez o que tinha de fazer, Finn. - Jone entornou a cerveja, terminando-a - Quanto aos mortos, não havia nada que pudéssemos fazer. Poderia ter sido tanto eu quanto você… - O cavaleiro parou, reflexivo. Possivelmente o álcool da cerveja misturado ao do vinho já estava deixando-o divagar mais do que o normal - Confesso que achei que ainda estariam me procurando, não só nas Minas mas também pelas Montanhas. - deu de ombros, como se aquilo não o incomodasse, apesar da fala sugestionar o contrário - Não vou tomar mais de seu tempo. - levantou-se apoiando as mãos nos joelhos, buscando manter seu equilíbrio - Amanhã temos um longo dia.

    Assim que despediu-se, voltou para o Castelo dos Sussurros. Sua feição séria e fechada era de alguém cansado, pronto para o descanso, no entanto, antes mesmo que chegasse aos seus aposentos, interpelou um dos servos que geralmente o atendiam.

    - Traga um dos barris de vinho da adega ao meu quarto. - A voz de Jone, apesar de levemente arrastada, ainda denotava sua autoridade como Castelão. - E… - fez um pausa, enquanto um quase cruel sorriso foi se formando em seu rosto - mande buscar uma das meretrizes e a leve até meus aposentos.

    O servo sabia exatamente o que fazer, no entanto, antes mesmo que pudesse se virar e atender ao pedido de Jone, este fez-lhe um sinal sutil, para que aguardasse. Um último pedido, antes de sair.

    - Quero que ela seja ruiva.

    ***

    O sol mal surgiu no horizonte quando Jone se levantou. Seus olhos ainda acostumavam-se à tímida luz intrusiva no quarto que, por algumas horas, fora palco de seus devaneios. A noite anterior tinha sido regada a vinho e luxúria, com a presença de uma mulher de cabelos ruivos escolhida deliberadamente para alimentar suas fantasias inconfessáveis. Enquanto vestia sua roupa, a lembrança da pele alva e dos cachos flamejantes da meretriz ainda marcavam sua mente, mesmo que ela já tivesse saído do Castelo horas antes que todos ali acordassem.

    Ao se dirigir para o grande pátio do Castelo, pós-desjejum, avistou Inês e seu pai, ambos já o aguardando para que a excursão às obras se iniciasse. A luz suave da manhã realçava o brilho dos cabelos esvoaçantes da jovem lady e ela parecia estar à vontade ali. O cavaleiro não escondeu o sorriso ao enxergar Inês e, assim como quando se despediu dela no dia anterior, a cumprimentou beijando-lhe a mão suavemente. Ao virar-se para Henry, cordialmente fez um aceno respeitável com a cabeça e tão logo se organizaram, puderam, enfim, partir.

    As Minas, apesar de trazerem péssimas lembranças ao Cavaleiro, tinham agora um aspecto distinto. Trabalhadores e soldados mantinham aquela engrenagem funcionando, trazendo um ar de normalidade que antes o cavaleiro não havia experienciado da última vez que ali estivera. O banqueiro não se deteve em revelar seus planos para o lugar.

    Alexyus escreveu:O Jogo dos Tronos - Jone - Página 4 Ae536210
    - Ao sul da mina, coloquei escavadores para abrir a Via Montana, uma estrada em túnel aplainada e sem movimento de mineração. Quando estiver pronta, ela deverá permitir que um cavaleiro atravesse o caminho do castelo até a vila em cerca de duas horas de cavalgada, e os mercadores poderão fazer o caminho por ela em quatro ou cinco horas, mas numa via iluminada e segura. Ainda não defini se seria bom cobrar um pedágio para a passagem ou liberá-la gratuitamente para incentivar o comércio na região.

    A ressaca ainda pairava sobre a cabeça de Jone, de forma que as palavras do banqueiro pareciam sair rápidas demais de sua boca para que seu cérebro as processasse da maneira adequada. Jone sorriu e assentiu.

    - Me parece uma boa ideia, milorde.

    O cavaleiro eventualmente olhava para Inês, esperando nela alguma reação ou troca de olhares. Sabia que não aconteceria, mas durante boa parte do trajeto pegou-se olhando para ela, admirando-a secretamente.

    Ao saírem da Mina, novamente surpreendeu-se. Henry e Inês não haviam poupado esforços para iniciarem e agilizarem as obras nas Terras Felinight. Jone tentou esconder a surpresa, tentando manter uma suposta neutralidade, mas o encantamento era nítido em seu rosto. Ao apontar para a frente do Forte, Henry tornou a falar com fina propriedade.

    Alexyus escreveu:O Jogo dos Tronos - Jone - Página 4 Ae536210
    - Essa é a Praça Hill, ou a Praça da Colina no idioma westerosi. Ela será um local para celebrar a glória da Casa Felinight, e o povo da vila poderá vir a ela em datas importantes e festivas. Se quiserem fazer um festival para o povo por ocasião do casamento, ela estará pronta para ser usada. A saída ao sul dela dá para a Via Inês, que será a principal rua da vila, ligando a Via Montana à estrada que desce para o porto. Vamos a ela.

    Inês teria seu próprio nome eternizado em uma rua daquelas Terras. Fazia sentido, afinal, seria ela, cedo ou tarde, Senhora Felinight.

    Alexyus escreveu:O Jogo dos Tronos - Jone - Página 4 Ae536210
    - A Via Montana termina na Ponte Beron, um bom local para instalar um posto de controle para os que entram e saem da vila. A Via Inês começa logo depois da Ponte Beron. Em frente à Praça Hill, está a Ponte Henry, que conduz ao bairro Rugido Noturno, onde estamos instalando todas as oficinas, forjarias e indústrias.

    Os planos de Henry eram elaborados e bastante detalhados. Aos olhos de Jone tudo aquilo parecia remeter às ruas e vielas que tinha visto, muitos anos atrás, em Porto Real, ainda na Rebelião de Robert. E, por mais que alguns detalhes ainda não estivessem completamente prontos, para o Cavaleiro era quase como se estivesse em outro lugar. Seguiram ainda um bom pedaço adiante, afastando-se dali, e o banqueiro mais uma vez detalhou o que viam pelo caminho.


    Alexyus escreveu:O Jogo dos Tronos - Jone - Página 4 Ae536210
    - Aqui ficará o Mercado Breakstone, onde todos os mercadores poderão vir negociar seus produtos. Já temos alguns comerciantes fixos aqui, mas há espaço para muitos mais, tanto residentes quanto viajantes de passagem. Aquela é a Ponte Allafante, uma das maiores obras que estamos fazendo; ela conduz para o bairro Recanto das Sombras, onde os trabalhadores mais humildes ficarão. É naquele bairro que construímos as novas casas para o povo nativo, e, embora eles não tenham ficado muito felizes com o deslocamento, os nortenhos natos tem agora casas bem melhores do que tinham antes.

    O Mercado que Jone havia sido incumbido de levantar estava praticamente pronto. E graças a Henry e a Inês. O cavaleiro sentiu um misto de alívio e orgulho ao ver o lugar. Jone também não deixou de notar os trabalhadores e plebeus que estavam no outro lado do canal. Ergueu a mão, suavemente, como num cumprimento. Não esperava um retorno, era apenas um sinal para que soubessem que estava ali e os havia visto.

    Ao seguirem, logo o cavaleiro notou que estavam adentrando a um local distinto dos outros. Sua arquitetura era extremamente bem trabalhada, diferente das outras, e parecia haver um toque excessivamente autoral em cada uma delas, o qual Jone não saberia exatamente apontar.

    Alexyus escreveu:O Jogo dos Tronos - Jone - Página 4 Ae536210
    - Esse é o bairro Pedrantiga. Aqui residem nossos servos mais qualificados, entre mineiros e ferreiros nortenhos, mestres engenheiros westerosi, mercadores ricos, artistas de Essos e os comandantes dos soldados aqui sediados. É um bairro de alto padrão, com espaço para crescer e gerar muitos dividendos em impostos para a casa Felinight.

    - É realmente…bem diferente.

    Talvez não fosse a resposta que Henry esperava, mas ao menos era sincera. Não havia nenhum tom de desprezo na voz de Jone, mas provavelmente o cavaleiro ainda estivesse digerindo exatamente o que estava vendo.

    Não demorando-se muito ali, foram então para aquela que, para Jone, era disparada a maior das obras que havia visto até então, próximos da montanha norte.

    O Jogo dos Tronos - Jone - Página 4 Corte_11

    Alexyus escreveu:O Jogo dos Tronos - Jone - Página 4 Ae536210
    - Este é o maior monumento que planejamos, um presente para honrar esse matrimônio e exaltar a glória da Casa Felinight. A Côrte de Pedra será um lembrete constante e perene da dinastia Felinight. A sessão de Arthur e Inês já está pronta, e estamos finalizando a de Beron e Maria, com seus três filhos. Essa obra de arte pode ser ampliada tanto para as gerações passadas quanto para as futuras, tanto quanto a montanha seja capaz de abrigar.

    Jone olhou maravilhado pelas esculturas. Era o legado Felinight se fortalecendo ainda mais naquelas Terras em frente aos seus próprios olhos. A admiração só foi quebrada quando se deu conta que ali não haveria espaço nem mesmo a pretensão de que seu rosto fosse ali imortalizado.

    Foi como um baque. Engoliu em seco. Era como se a realidade batesse à sua porta dizendo-lhe “Jone…pobre Jone. Seu nome será esquecido pela história. As areias do tempo vão te apagar assim que seu corpo começar a ser devorado pelos vermes”. Ele olhou, sem graça, para Inês, com um sorriso desconcertante, e seguiu adiante, como se observasse mais os trabalhadores do que propriamente as obras que ali eram feitas.

    ***

    Ao voltarem para a região da Torre Mirela e Forte Arthur, boa parte do dia já havia se passado. Não à toa, estavam cansados e com fome, sendo recebidos com comida e bebida ao seu dispor. No vasto Salão, onde sentaram-se, Henry sem cerimônias tomou a palavra.

    Alexyus escreveu:O Jogo dos Tronos - Jone - Página 4 Ae536210
    - Pois bem, Sor Jone. Agora que já viu o andamento das obras aqui em Breakstone Hill, tenho certeza que minha filha Inês está tão ansiosa quanto eu para ouvir suas impressões e sugestões.

    Jone, servindo-se de uma caneca de cerveja, ergueu o copo, como se fizesse um breve brinde, antes de entorná-lo ligeiramente.

    - Bem, milorde, acho que não tenho outras palavras a dizer a não ser que estou impressionado. - a voz de Jone era lenta, como se pensasse excessivamente antes de pronunciá-las - É um projeto audacioso e, pelo que pude ver até então, muito bem executado. Eu o parabenizo. - Jone colocou a mão no próprio peito e assentiu com a cabeça, num gesto de reverência - Quanto a sugestões, creio que algumas coisas pontuais sejam necessárias. Buscando recordar-se de tudo, fez alguns apontamentos que julgou importantes - Acho que algumas bases para as guardas seriam necessárias, principalmente no Mercado, para garantir a segurança de comerciantes e compradores. E acho que Torres de Observação, na ponta de cada uma das pontes, poderiam ajudar no monitoramento e manutenção da segurança da Via. - Recostando-se na cadeira, serviu-se de um pedaço exageradamente grande da coxa de um frango, e concluiu. - Mas é o que consigo pensar no momento…a ideia de manter a segurança de todos que estão em nossas Terras. Se vamos crescer, precisamos estar prontos também para aquelas figuras que vão querer se aproveitar das pessoas e trabalhadores daqui.



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    O Jogo dos Tronos - Jone - Página 4 Empty Re: O Jogo dos Tronos - Jone

    Mensagem por thendara_selune Seg Out 28, 2024 8:50 pm

    O Jogo dos Tronos - Jone - Página 4 _f475c10
    Inês Allafante

    "Dizer que os homens podem ser teimosos como mulas seria um insulto às mulas."



    Quando Jone saiu da sala, a atmosfera ficou pesada, como se o ar tivesse sido cortado por uma lâmina. Meu pai se manteve em silêncio, com aquele olhar distante e profundo. Eu estava perplexa, mas em vez de perguntar tudo o que fervilhava na minha cabeça, inclinei-me respeitosamente e beijei sua mão antes de me retirar. O toque da pele dele contra a minha causou um arrepio, misturando temor e reverência.
    A curiosidade pulsava em meu peito, intensa, como uma onda pronta para romper a costa, mas eu sabia que no mundo do meu pai pressa e mistérios não eram aliados. Paciência era a chave para desvendar os segredos dele.

    Na manhã seguinte, acordei cedo, o corpo já consciente das responsabilidades do dia. Enquanto prendia meu cabelo ruivo em uma trança um tanto desalinhada, passei um óleo herbal na pele — uma fragrância que trazia à memória florestas densas e especiarias exóticas. A essência me envolvia como um abraço, uma lembrança do lar que eu carregava comigo. Mas o norte ainda era um território estranho; o vento cortante soprava com força, deixando minha pele exposta e meus cabelos, geralmente sedosos, ganhavam uma aspereza incômoda. Mesmo assim, ergui o queixo e ofereci um sorriso que parecia capturar a atenção de todos. Talvez fosse isso que todos esperavam da futura Senhora Felinight: que fosse forte, independente das adversidades.


    O Jogo dos Tronos - Jone - Página 4 Oig1_121




    O gatinho preto, Felpudo, ronronou e espreguiçou-se na cama, lançando-me um olhar preguiçoso. Sorri para ele, com ternura. “Volto depois, seu lindinho...” Aquele bichinho era uma grata surpresa. Desde que cheguei ao castelo, ele me havia adotado, e seu olhar atento e sereno trazia um inesperado conforto em meio a tantas mudanças.





    O Jogo dos Tronos - Jone - Página 4 Oig1_r10

    Ao passarmos pela Praça Hill, alguém mencionou a Via Inês, e um sorriso brotou em meus lábios. Aquela rua batizada em minha homenagem poderia ser meu legado, algo sólido e duradouro. Sentia-me firme, como as pedras das montanhas ao nosso redor, uma ruiva marcante, resistente às intrigas que fervilhavam por ali.
    Jone, por outro lado, não escondia seu espanto. Entre a admiração e a seriedade, havia uma sombra de melancolia — talvez até de resignação. Ele sabia que o legado da casa Felinight não incluía seu nome como o meu. Percebi ali uma oportunidade, uma ideia se formando na minha cabeça: oferecer a Lady Maria e outros aliados uma pequena dose de prestígio, calculada o suficiente para fortalecer nossa lealdade e ostentar um símbolo de poder.

    Ao voltarmos ao Forte Arthur e à Torre Mirela, o dia já estava no fim. Fomos recebidos com um banquete modesto, e, ao nos acomodarmos, meu pai pediu que Jone compartilhasse suas impressões. Observando cada detalhe com seu olhar atento, Jone sugeriu melhorias — torres de vigia, postos de guarda, detalhes que revelavam sua meticulosidade.

    Enquanto ele falava, senti o peso do que estávamos construindo. E, estranhamente, esse peso me trouxe uma sensação de leveza. No meio do discurso de Jone, ergui minha taça num brinde discreto, um sorriso escapando que ele notou, mesmo sem olhar diretamente para mim. Naquele momento, percebi que cada pedra e cada plano traçado marcava o começo de algo maior, algo que um dia eu também chamaria de meu.


    O Jogo dos Tronos - Jone - Página 4 Oig3_912



    — Sor, — comecei, firme, meu olhar oscilando entre meu pai e Jone. — Concordo que precisamos garantir a segurança dessas terras; a prosperidade atrai aproveitadores. Imagino que precisamos também de olhos e ouvidos atentos, para saber o que acontece, o que é dito em sussurros...
    Dei um gole no vinho, sentindo o calor descer pela garganta. — Seria interessante ter uma hospedaria e taverna sob tutela discreta da nossa casa, mas que nosso nome não estivesse diretamente ligado a esses lugares. Um bordel inevitavelmente surgirá aqui, e prefiro que esteja sob controle. Quero saber quem trabalha lá e ouvir o que elas ouvem.

    Era algo inevitável, mas, no mínimo, que essas mulheres fossem espertas o suficiente para trazerem informações úteis. — E que estivessem protegidas, com direitos garantidos, como qualquer outro cidadão. Não vou ignorar que os homens procuram por esses serviços. Se é assim, prefiro ter algum controle indireto. Deixe que pareça uma taverna simples, um lugar discreto, afastado da vila, onde os viajantes e homens da região possam “relaxar”.
    Pausei, dando tempo para Jone absorver tudo. Sabia que meu pai não se surpreenderia com o que eu acabara de propor. Ele conhecia bem a filha que criou, sabia que eu falava com a mente tão afiada quanto uma lâmina.

    — E,— continuei, mantendo o olhar fixo em Jone, com uma firmeza que beirava o gélido nos olhos castanhos que herdei da minha mãe — se conhecer alguém confiável para administrar isso, que selecione as profissionais com cuidado. Elas teriam um salário justo e usariam métodos para evitar gestações indesejadas. — Cruzei os braços, o queixo levemente erguido, sentindo a segurança rígida que havia cultivado ao longo dos anos.
    — Não suporto a ideia de ver crianças largadas por aí, sem ninguém. Os homens tendem a lançar ao mundo bastardos que sofrem todo tipo de mazela, como se fossem indignos aos olhos de todos. Não romantizo isso; um homem que não honra a própria semente não é digno de confiança. Afinal, quem renega o próprio sangue é capaz de coisas piores...

    Minha voz soava firme, quase indecifrável, sem qualquer crítica explícita. Havia algo curioso no tom que usei: nenhum traço de emoção ou hesitação. Fui criada pelo meu pai e meu irmão, e isso deixou marcas, moldando um lado meu mais duro, um tanto bruto e até agressivo. Quem me conhecia bem não se surpreenderia com nenhuma palavra que saíra da minha boca até ali.



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    O Jogo dos Tronos - Jone - Página 4 Empty Re: O Jogo dos Tronos - Jone

    Mensagem por El Cabron Ter Out 29, 2024 10:27 am

    O Jogo dos Tronos - Jone - Página 4 _f475c10
    Jone Felinight

    "Não, minha cara meretriz, eu não vou te levar pro castelo.
    Agora, encha meu copo e tire o vestido..."



    O Salão ainda trazia uma forte referência nortenha, sinal que os Allafante ainda não haviam mexido em sua estrutura interna. Para Jone, aquele era um bom sinal. Se por um lado tudo estava se movendo e se modificando, por outro, tudo também estava como sempre esteve. A essência Felinight ainda residia naquelas terras.
    Mas por quanto tempo?

    - Hmm. Experimentem o frango. Está delicioso.

    Em outras situações, Jone estaria com o grande pedaço de coxa em sua mão direita, enquanto a esquerda sustentaria um grande caneco de cerveja. E certamente o elogio seria dado com a boca cheia e alguns pedaços do próprio frango escapando-lhe enquanto mastiga e fala. Mas não agora. A suculenta coxa repousava em seu prato e suavemente garfo e faca faziam a tarefa de cortar e levar o alimento até sua boca.
    No entanto, a imagem que queria passar contava muito para aquele momento. Não queria passar a mensagem de que era um selvagem do Norte ou um ignóbil westerosi. Ainda mais na presença de Inês.
    Ah, a jovem Inês. Jone ainda a admirava, principalmente quando a mesma não estivesse olhando. E, quando ela ergueu a taça e sorriu, Jone precisou manter sua concentração para que nada do que planejara dizer ficasse perdido em sua mente.

    thendara_selune escreveu:— Sor, — comecei, firme, meu olhar oscilando entre meu pai e Jone. — Concordo que precisamos garantir a segurança dessas terras; a prosperidade atrai aproveitadores. Imagino que precisamos também de olhos e ouvidos atentos, para saber o que acontece, o que é dito em sussurros...
    Dei um gole no vinho, sentindo o calor descer pela garganta. — Seria interessante ter uma hospedaria e taverna sob tutela discreta da nossa casa, mas que nosso nome não estivesse diretamente ligado a esses lugares. Um bordel inevitavelmente surgirá aqui, e prefiro que esteja sob controle. Quero saber quem trabalha lá e ouvir o que elas ouvem.

    Quando ela falou, Jone parou e pôde olhá-la sem qualquer temor, reprimenda ou mesmo julgamento moral interior. Era apenas uma conversa entre dois adultos. Não havia nada de errado.
    Não havia nada de errado em olhá-la e observar a simetria perfeita de seu rosto alvo como neve. Não havia nada de errado em olhar para sua boca, em uma tonalidade cereja, contrastante à sua pele e provocante ao cavaleiro, enquanto falava. Não havia, claro, nada errado em poder olhar diretamente para seus doces olhos de avelã, não apenas em respeito, mas também para se afogar neles. Não havia nada de errado em ver as mechas de cabelo ruivo se movimentando e ora caindo em seu rosto, ora sendo arrumadas, graciosamente, para trás de sua orelha, dando a ela um toque quase divino.
    Ele teria se perdido mais, mas voltou à si mesmo e com um sorriso no rosto seguiu a conversa.

    - De acordo, milady. - Jone tomou um gole do vinho, como se para limpar a garganta - E em locais estratégicos. - o cavaleiro colocou seu prato para o lado e apoiou os cotovelos na mesa, entrelaçando os dedos - Uma taverna próxima das regiões que vem e vão em direção às Minas seria interessante. O taverneiro teria uma boa arrecadação, principalmente ao final do dia. - sorrindo, continuou explicando sua ideia - E uma hospedaria, na região próxima dos mercados, pode ajudar a desenvolver a região, embora não sejamos tão visitados, é verdade.

    Jone havia citado diretamente a taverna e a hospedaria, mas não deu qualquer opinião a respeito do bordel, apenas limitou-se às duas construções sugeridas por Inês.

    thendara_selune escreveu:— E que estivessem protegidas, com direitos garantidos, como qualquer outro cidadão. Não vou ignorar que os homens procuram por esses serviços. Se é assim, prefiro ter algum controle indireto. Deixe que pareça uma taverna simples, um lugar discreto, afastado da vila, onde os viajantes e homens da região possam “relaxar”.

    - É claro…milady.

    Jone hesitou por alguns instantes e seu estômago pareceu revirar-se. Um frio na barriga tomou conta dele, assim como a sensação de calor do pescoço para cima aumentou repentinamente.
    O que ela sabia? O que ela havia escutado? Ou pior, o que ela tinha visto?
    Ela poderia ter visto a meretriz ruiva que saiu de seus aposentos? Não…o sol sequer havia nascido quando a rameira deixou o castelo.
    E se algum servo tivesse falado algo? Ou algum plebeu?
    Não era exatamente um segredo que Jone frequentava excessivamente as tavernas e que seu quarto era um ninho de luxúria, com meretrizes, servas e plebeias passando por ali.
    Jone passou a mão pelo rosto algumas vezes e entornou em um único gole o vinho que restava em sua taça, servindo-se novamente em seguida. O sorriso ainda estava ali, estampado em seu rosto. Uma imagem de disfarce para um interior amedrontado.
    O que exatamente o Cavaleiro Felinight temia?

    thendara_selune escreveu:— E,— continuei, mantendo o olhar fixo em Jone, com uma firmeza que beirava o gélido nos olhos castanhos que herdei da minha mãe — se conhecer alguém confiável para administrar isso, que selecione as profissionais com cuidado. Elas teriam um salário justo e usariam métodos para evitar gestações indesejadas. — Cruzei os braços, o queixo levemente erguido, sentindo a segurança rígida que havia cultivado ao longo dos anos.
    — Não suporto a ideia de ver crianças largadas por aí, sem ninguém. Os homens tendem a lançar ao mundo bastardos que sofrem todo tipo de mazela, como se fossem indignos aos olhos de todos. Não romantizo isso; um homem que não honra a própria semente não é digno de confiança. Afinal, quem renega o próprio sangue é capaz de coisas piores...

    Havia alguma mensagem subliminar não captada pelo Cavaleiro ali? Não saberia dizer. Nessas horas, Jone invejava os outros irmãos.
    Beron era dono de uma inteligência emocional irretocável. Além de ser um grande estrategista, como se soubesse o movimento das peças de seu próprio tabuleiro antes delas se moverem.
    Nadia sempre fora uma mulher inteligente, mas sua inteligência estava mais voltada à livros e costumes.
    E Cornell tinha a inteligência ardilosa. Sabia ler as pessoas e como manipular suas emoções a seu favor.
    Jone, por outro lado, era apenas a Espada. Tinha estudo, mas nunca se aprofundou nisso. Enquanto os irmãos, de alguma forma, exercitaram tais valências relacionadas à mente na juventude, Jone tinha ficado ocupado demais com o calor proporcionado pelas jovens das terras Felinight e descobrindo o álcool como um inseparável amigo.

    - Em Westeros não é incomum. Não se atente a isso, milady. Os jovens “Snows” que tem por aí sempre acabam encontrando seu lugar no mundo. - disse, antes de entornar a taça de vinho.

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    O Jogo dos Tronos - Jone - Página 4 Empty Re: O Jogo dos Tronos - Jone

    Mensagem por thendara_selune Ter Out 29, 2024 12:36 pm

    O Jogo dos Tronos - Jone - Página 4 _f475c10
    Inês Allafante

    "Dizer que os homens podem ser teimosos como mulas seria um insulto às mulas."


    Sentada à mesa, eu observava a luz fria do entardecer se entrelaçar com o calor suave das velas, criando uma atmosfera que parecia sussurrar segredos e promessas. Meu pai, sempre o vigilante, mantinha um olhar afiado, seu jeito de estar presente era quase uma arte. E, como ele, eu nunca deixava escapar a chance de dissecar cada pessoa ao meu redor, como um entomólogo estudando insetos exóticos em sua coleção.


    Então, meu olhar pousou em Jone. Para a maioria, ele era apenas um cavaleiro comum, mas eu sabia que havia muito mais sob aquela superfície tranquila. Era como se uma familiaridade sutil com Esdres dançasse em seu comportamento, ou talvez fossem as camadas ocultas de sua personalidade, escondidas sob uma fachada de despreocupação. Havia ali um labirinto de segredos, cuidadosamente ocultos, que ele parecia se esforçar para manter à distância.

    Ele falava sobre a comida com um desdém quase distraído, e eu o escutava, a mente girando como uma roda, avaliando o peso de cada palavra. Quando finalmente me pronunciei, sabia que meu tom trazia um certo impacto. “Os snows são comuns, de fato, enquanto permanecem no povo, mas prefiro oferecer uma escolha justa às mulheres que oferecem seus serviços. Elas podem se tornar nossas aliadas se bem tratadas.” Minha voz soou firme, cada palavra uma pedra lançada no lago tranquilo da nossa conversa, reverberando a minha visão estratégica sobre aquelas mulheres e seu potencial em nosso meio.

    Os meus dedos tamborilavam na mesa, a textura áspera ancorando-me ao presente. Para muitos, seria apenas uma conversa banal entre adultos; para mim, era um jogo de intenções. Eu percebia o modo como Jone me observava, e o brilho de admiração em seus olhos não passava despercebido. Mas havia algo mais: um receio oculto no seu discurso, uma hesitação ao abordar o tema do bordel. Era como se aquelas palavras carregassem um peso maior para ele, um fardo que o fazia vacilar, como se temesse que eu o julgasse por elas.

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    "Talvez o Sor Jone não saiba que em Braavos, a visão sobre prostitutas é diferente," comentei, a voz leve como uma brisa morna. “Todas as prostitutas são livres; as cortesãs, inclusive, são altamente respeitadas.” Saboreei um gole de vinho, permitindo que o silêncio entre nós criasse um espaço denso para minhas palavras. Encarei-o com um sorriso provocativo, percebendo sua ligeira desconcertação quem sabe ou ele esconderia bem sua reação?
    "Claro, entendo que uma senhora respeitável aqui não poderia ter ligações diretas com esse tipo de empreendimento. Mas talvez alguém de sua confiança possa gerenciá-lo," continuei, meu tom casual como uma pena flutuando no ar. "Quem sabe uma mulher inteligente, que veja ali uma oportunidade de vida?"

    Meu semblante mantinha-se sereno, como a superfície de um lago ao entardecer, mas a provocação estava lançada, uma isca flutuando nas águas. Sabia que o Norte endurecia as pessoas, moldando-as com sua crueldade. Eu respeitava essa resiliência e admirava a força de homens como Jone, forjados no gelo e no aço. No entanto, não queria pressioná-lo demais. Havia uma linha tênue entre o jogo de palavras e o desrespeito, e eu preferia manter o equilíbrio. Sor Jone era uma figura enigmática, um homem com suas próprias sombras, e provocá-lo demais poderia arruinar o frágil vínculo que estávamos começando a construir.


    “Quanto ao que o senhor pode achar ou pensar, fique com o que lhe for mais confortável, mas peço que, Sor, não se preocupe com meu julgamento sobre a moral alheia quando se trata de viver a vida como lhe convém,” acrescentei, a voz suave como um segredo sussurrado. “O senhor é tio de Arthur e um guerreiro, alguém que sabe pesar o caráter das pessoas. Se não fosse assim, não estaria aqui desfrutando deste banquete.” Minha taça repousou sob a mesa, silenciosa como um observador discreto.



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    “Arthur me falou sobre a família, e conheço um pouco dos costumes de sua terra, logicamente, como deve perceber, sou um tanto diferente da maioria das mulheres que possa ter conhecido. Não sou uma dama tradicional, moldada pelos padrões que cercam o seu mundo. Carrego em mim um espírito indomável, algo que desafia as convenções e, talvez, isso cause um certo desconforto. Mas não me interprete mal, Sor Jone. Meu respeito por sua cultura e por aqueles que a habitam é profundo, e eu não pretendo desestabilizar as normas que regem suas vidas. Apenas convido você a ver que, mesmo entre as sombras da tradição, existem novos caminhos que podemos explorar juntos.”

    Pausei, articulando as palavras de um jeito agradável, como se desenhasse uma melodia sutil. “O povo lhe conhece, certamente tem apreço pelo Sor, acredito que até o admiram. Você é um cavaleiro, um homem forjado aos moldes do norte. O que faz longe dos olhos do povo não é da minha conta, desde que isso não resulte em danos à imagem de Arthur…” Fitei-o com a audácia de uma felina, mas essa expressão logo se desfez em um leve sorriso. “Tenho certeza de que seremos bons amigos, que o terei como um tio de coração e que poderemos aprender muito um com o outro.”

    A sala parecia respirar em uníssono com as minhas palavras, a tensão que antes pairava no ar se dissolvendo em um espaço de possibilidades e novas alianças. “Por isso mesmo, creio que você deve estar conosco, mostrando ao povo que o irmão do Lorde da casa tem estima pelo que está sendo feito aqui. Imagine o impacto de sua presença, como se pudesse popularizar nosso nome e, assim, deixar a porta entre nós e o povo aqui cada vez mais aberta. Afinal, a força de um cavaleiro não reside apenas nas batalhas que ele luta, mas também na forma como ele se conecta com aqueles ao seu redor.”

    Deixei as palavras pairarem entre nós, como um convite silencioso, um desafio. “Você tem o poder de ser uma ponte, Sor Jone, um elo entre as tradições que respeitamos e as novas oportunidades que podemos construir. O que você me diz?”  Eu sabia do valor de cada membro da casa, e Jone era o primeiro que eu precisava convencer a ser nosso aliado. O seu assentimento abriria as portas para um caminho mais seguro, um caminho que me levaria a conquistar a confiança dos demais.


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    O Jogo dos Tronos - Jone - Página 4 Empty Re: O Jogo dos Tronos - Jone

    Mensagem por El Cabron Ter Out 29, 2024 7:24 pm

    O Jogo dos Tronos - Jone - Página 4 _f475c10
    Jone Felinight

    "Não, minha cara meretriz, eu não vou te levar pro castelo.
    Agora, encha meu copo e tire o vestido..."



    A forma que Inês falava, com imponência e propriedade, davam-lhe um ar quase como se já fosse a Senhora das Terras Felinight. Jone pareceu admirá-la ainda mais quando esse pensamento surgiu em sua mente. Era uma mulher forte, na acepção da palavra. Quantas outras o Cavaleiro já havia encontrado que fossem assim? Particularmente, não se lembrava de nenhuma.
    As mulheres, em geral, eram as matriarcas responsáveis pela prole e por manterem as coisas minimamente estruturadas nos castelos, fortalezas e salões do Norte. Jone sabia que em Dorne algumas mulheres tinham o poder de lordes, mas nunca tinha visto nenhuma delas e Dorne era tão distante do Norte que o próprio cavaleiro tomava aquilo mais como mito do que como verdade.

    - Não sei se as ‘’mulheres da vida’’ são tão confiáveis assim, Lady Inês. Precisa convencer Lorde Beron que elas podem nos ser úteis…

    Suas palavras saíam mais convictas dessa vez, destoantes da hesitação que mostrou outrora. Jone sabia que lidar com qualquer pessoa que oferecesse seu serviços por ouro era sempre um ‘’jogo da balança’’, como costumava dizer. A balança sempre pendia mais para aquele que estivesse mais desesperado. Uma analogia que parecia ter alguma lógica em sua cabeça.

    - Mas posso apoiá-la, se conseguir me convencer… - disse, concluindo com um sorriso despretensioso à jovem.

    Quando Inês aprofundou-se no assunto sobre as prostitutas em Braavos, Jone sustentou o sorriso no rosto, apesar de sutis movimentos em sua cadeira talvez denunciarem seu desconforto. Não era um tema que gostaria de se envolver e, se dele dependesse, bordel nenhum teria ligação com os Felinight, nem direta ou indiretamente. O que era irônico, dado seu estilo de vida.

    - Não sei se uma mulher inteligente deveria se envolver em tais…coisas. Podem gerenciar tavernas, hospedarias ou as cozinhas dos Salões de Porto Real, se pensarem grande. Por que se envolver com prostituição? Não me parece…digno.

    Havia em Jone um certo conservadorismo que Inês provavelmente notaria, embora não necessariamente fosse se espantar. Arthur, por mais que tivesse vivido boa parte da vida em Braavos, certamente também teria tais “amarras morais”.

    - Não as condeno pela vida que levam. Mas não as admiro também.

    A jovem parecia saber medir as palavras da forma exata para tatear as reações de Jone. Com algumas palavras, já captava mais e mais da personalidade e jeito de pensar do Cavaleiro.

    thendara_selune escreveu:“Quanto ao que o senhor pode achar ou pensar, fique com o que lhe for mais confortável, mas peço que, Sor, não se preocupe com meu julgamento sobre a moral alheia quando se trata de viver a vida como lhe convém,” acrescentei, a voz suave como um segredo sussurrado. “O senhor é tio de Arthur e um guerreiro, alguém que sabe pesar o caráter das pessoas. Se não fosse assim, não estaria aqui desfrutando deste banquete.” Minha taça repousou sob a mesa, silenciosa como um observador discreto.

    Jone e Inês trocaram olhares nessa hora. O Felinight sabia exatamente quem era. Em seu âmago, não havia tanto orgulho assim. Tinha, de fato, realizado alguns feitos de respeito durante a vida, mas os fez mais para manter-se próximo à família do que propriamente por moral ou valores que carregasse. O medo de que Beron o expulsasse de suas terras, como fizera com Cornell, ou o forçasse a assumir uma responsabilidade para com a Casa, como ao casar Nadya com um aliado, permeavam sua mente.
    Não queria que a jovem soubesse de suas ‘’escapadas’’. Queria mostrar-se um homem íntegro e de valores inabaláveis. Não se tratava apenas de se apresentar como alguém moralmente superior à maioria dos homens, mas também de se colocar como digno de admiração. E, desde que a viu pela primeira vez no dia anterior, queria ser admirado por esse papel altivo, que talvez no fundo não lhe coubesse.

    thendara_selune escreveu:“Arthur me falou sobre a família, e conheço um pouco dos costumes de sua terra, logicamente, como deve perceber, sou um tanto diferente da maioria das mulheres que possa ter conhecido. Não sou uma dama tradicional, moldada pelos padrões que cercam o seu mundo. Carrego em mim um espírito indomável, algo que desafia as convenções e, talvez, isso cause um certo desconforto. Mas não me interprete mal, Sor Jone. Meu respeito por sua cultura e por aqueles que a habitam é profundo, e eu não pretendo desestabilizar as normas que regem suas vidas. Apenas convido você a ver que, mesmo entre as sombras da tradição, existem novos caminhos que podemos explorar juntos.”

    Havia um brilho feroz nela. Um convite, em cada palavra, ao proibido. A forma com que Inês falava só fazia crescer aquela sensação incômoda de que algo errado parecia estar acontecendo no peito e mente do cavaleiro. Ela era diferente e ele invejou o sobrinho por isso. Achou que uma noite de luxúria, mesmo que com outra, bastaria para tirá-la de sua mente, mas não se tratava disso, afinal. Não era apenas o desejo da carne. Não. Era algo além disso. Algo que ele, naquele momento, não parecia conseguir compreender.

    thendara_selune escreveu: “Você tem o poder de ser uma ponte, Sor Jone, um elo entre as tradições que respeitamos e as novas oportunidades que podemos construir. O que você me diz?”

    Jone sorriu de canto com uma expressão que misturava admiração e uma sombra de algo que ele não se permitiria dizer em voz alta. Com ela ao seu lado encararia o próprio Estranho, se fosse o caso, pois havia uma verdade, uma força em suas palavras. Palavras essas que o tocaram, assim como seu perfume e sua figura, de uma forma que ele relutava em admitir. Por um momento, pensou em responder de forma mais pessoal, mais honesta, em abrir uma brecha nas convenções, nas promessas e nos laços morais que o prendiam.

    - Milady, - Jone começou, como se medisse calmamente cada palavra dita a seguir - o Norte pode ser rígido, mas isso não significa que não tenha espaço para algo... inesperado. - ele se deteve. O coração pulsou mais rápido. O que diabos pensava que estava fazendo? Recalculou toda a frase rapidamente em sua mente e buscou tentar, talvez estupidamente, consertar qualquer interpretação equivocada - A verdade é que, mesmo entre essas montanhas e tradições, sempre há quem consiga enxergar o novo... E talvez seja isso que nos falte. - Jone olhou para o lado, buscando um ponto fixo qualquer naquele Salão, como se a pedra na parede distante pudesse suportar o peso que Jone guardava em si. - Estarei junto a você, Lady Inês, nos novos caminhos e no que mais precisar.

    Se antes parecia haver certa hesitação, sua frase terminava de forma convicta e forte. Jone ergueu os olhos e, por um breve instante, Inês pôde ver que o brilho anterior que o cavaleiro carregava em seus olhos parecia ter sumido. O Felinight levantou-se e segurando a taça de vinho, brindou. Havia uma seriedade dura em seu rosto agora. Com um leve aceno de cabeça, Jone olhou para Inês uma última vez antes de entornar a taça e sentar-se novamente na cadeira.


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    O Jogo dos Tronos - Jone - Página 4 Empty Re: O Jogo dos Tronos - Jone

    Mensagem por Alexyus Sáb Nov 02, 2024 12:55 pm

    DIA DA CHEGADA

    Jone escreveu:Assim que despediu-se, voltou para o Castelo dos Sussurros. Sua feição séria e fechada era de alguém cansado, pronto para o descanso, no entanto, antes mesmo que chegasse aos seus aposentos, interpelou um dos servos que geralmente o atendiam.

    - Traga um dos barris de vinho da adega ao meu quarto. - A voz de Jone, apesar de levemente arrastada, ainda denotava sua autoridade como Castelão. - E… - fez um pausa, enquanto um quase cruel sorriso foi se formando em seu rosto - mande buscar uma das meretrizes e a leve até meus aposentos.

    O servo sabia exatamente o que fazer, no entanto, antes mesmo que pudesse se virar e atender ao pedido de Jone, este fez-lhe um sinal sutil, para que aguardasse. Um último pedido, antes de sair.

    - Quero que ela seja ruiva.

    Polliver, o ajudante de ordens de Jone enquanto os principais servos estavam fora com Beron, assentiu preocupadamente para Jone:

    O Jogo dos Tronos - Jone - Página 4 Polliv10
    - Tenho alguns barris pequenos à disposição, senhor, mas os grandes barris foram trancados por ordem do senhor Henry Allafante; ele quer economizar todos os recursos até a chegada dos carregamentos com mantimentos do sul.

    Ainda mais constrangido, Polliver continuou:
    O Jogo dos Tronos - Jone - Página 4 Polliv10
    - As meretrizes que frequentavam o castelo foram para Breakstone Hill, senhor. Com tantos homens novos trabalhando e ganhando prata lá, elas acharam que lucrariam mais lá do que aqui. Mas vou ver o que posso fazer sobre isso. 

    Dois pequenos barris foram entregues nos aposentos de Jone em poucos minutos. 

    O vinho era uma bebida para os nobres mesmo no sul, mas no Norte ele era positivamente um luxo aristocrático, devido ao alto custo de importar os vinhos do sul ensolarado. Os nortenhos bebiam costumeiramente cerveja, e o vinho era reservado a ocasiões especiais. Vinho era um dos luxos que Beron limitara após a morte do pai deles, em sua cruzada para equacionar as contas da casa. Mas com o senhor da casa longe do castelo, Jone podia condescender àquele nem tão modesto desejo. 

    Após quase duas horas, quando Jone já estava embebedado com o vinho separado por Polliver, alguém bateu à porta dele e entrou.

    O Jogo dos Tronos - Jone - Página 4 Images?q=tbn:ANd9GcRNHNQmn2evZJsgIMI_QzL6EGhS24hcdsbUn0VubUbc1_7nc8TUx_m8fvcp&s=10
    - Se...senhor?

    Ela era ruiva, sem dúvida, com os cabelos adoravelmente castanho avermelhados. Não lembrava em nada a nobreza de Inês Allafante, e aparentava ser bem mais nova, mas Jone estava bêbado demais para poder fazer qualquer coisa senãodormir.

    O Jogo dos Tronos - Jone - Página 4 B24dce4d225f56c5035ff80833402d50O Jogo dos Tronos - Jone - Página 4 B24dce4d225f56c5035ff80833402d50O Jogo dos Tronos - Jone - Página 4 B24dce4d225f56c5035ff80833402d50O Jogo dos Tronos - Jone - Página 4 B24dce4d225f56c5035ff80833402d50O Jogo dos Tronos - Jone - Página 4 B24dce4d225f56c5035ff80833402d50

    DIA DA INSPEÇÃO

    Henry Allafante ouviu as considerações de Jone e Inês silenciosamente, observando os argumentos deles. Foi apenas no fim da conversa que ele se manifestou:

    O Jogo dos Tronos - Jone - Página 4 Ae536210
    - Suas ideias não são ruins, Jone Felinight. Mas no contrato de casamento, ficou especificado que eu não abordaria as questões militares dos domínios Felinight. Então tanto a construção das torres de vigia quanto o preenchimento delas com soldados ficará por conta de Inês e Arthur.

    Dirigindo-se mais à Inês do que a Jone, Henry continuou:

    O Jogo dos Tronos - Jone - Página 4 Ae536210
    - Sobre uma hospedaria e uma taverna sob o controle direto da casa, isso é uma boa ideia. Não planejamos uma cidade murada, mas a entrada da vila seria um bom lugar para a hospedaria. Uma taverna pode ficar mais perto da Praça Hill para ser frequentada pelos soldados. Quanto a um bordel...

    Allafante virou-se e acenou para Finn Swallow:

    O Jogo dos Tronos - Jone - Página 4 Ae536210
    - Capitão Finn, há um bordel na vila se não me engano, correto?

    Finn acenou afirmativamente com a cabeça:
    O Jogo dos Tronos - Jone - Página 4 Fin_sw10
    - Sim, senhor! O nome é Mapa da Mina, mas as aldeãs a chamam de Buraco das Putas. Ele fica num antigo túnel que começa atrás da Côrte de Pedra, com várias câmaras para as garotas trabalharem. A cafetina dona do lugar é Pauline Woods. As putas de lá não são as melhores do Norte, mas o nível melhorou bastante depois que as meretrizes do Castelo dos Sussurros vieram para cá depois da chegada dos operários.

    Henry acenou para que ele parassse:

    O Jogo dos Tronos - Jone - Página 4 Ae536210
    - É o suficiente. De fato, seria bom criar um bordel sobre o qual se possa ter controle. Mas isso está fora da minha área de atuação, então é outra tarefa que deixarei  por conta de vocês. 

    Quando Jone se despediu, Henry também deu boa noite a Inês e foi para os próprios aposentos.


    O Jogo dos Tronos - Jone - Página 4 B24dce4d225f56c5035ff80833402d50O Jogo dos Tronos - Jone - Página 4 B24dce4d225f56c5035ff80833402d50O Jogo dos Tronos - Jone - Página 4 B24dce4d225f56c5035ff80833402d50O Jogo dos Tronos - Jone - Página 4 B24dce4d225f56c5035ff80833402d50O Jogo dos Tronos - Jone - Página 4 B24dce4d225f56c5035ff80833402d50


    DIA SEGUINTE

    Inês estava em que quarto na torre revisando alguns papéis na biblioteca do Castelo dos Sussurros quando ouviu passos apressados no corredor. Ela ergueu o olhar ao ver uma das servas da Torre Mirela — Anna, a jovem de cabelos desgrenhados e rosto ruborizado, que parecia ter corrido até ali. Ela hesitou por um momento, fazendo uma reverência desajeitada antes de anunciar, com a voz ligeiramente trêmula:

    O Jogo dos Tronos - Jone - Página 4 Anna_j10
    - Senhora Inês... Ele chegou. Lorde Arthur acabou de chegar à Torre Mirela e... está vindo ao seu encontro.

    O ar ao redor pareceu congelar por um instante. Inês manteve o semblante sereno, mas dentro dela, emoções conflitantes se agitaram. A imagem de Arthur surgiu em sua mente, e ela não pôde evitar uma mistura de curiosidade e cautela. Ele finalmente havia chegado — o homem a quem havia sido prometida, cuja ausência a deixara por tanto tempo sozinha em um lugar que agora começava a sentir como um lar.

    Outras servas se aproximaram, lideradas por Hellen Allantis, murmurando entre si e trocando olhares curiosos e ansiosos. Hellen inclinou-se com uma expressão solene.

    O Jogo dos Tronos - Jone - Página 4 254b3410
    - Ele veio com uma pequena comitiva, senhora - ela disse - Trouxe alguns soldados, mas... parece estar sozinho para vê-la.

    Não tardou até que o próprio Arthur subisse as escadarias da Torre Mirela e entrasse correndo na direção de Inês, abraçando-a com força.

    O Jogo dos Tronos - Jone - Página 4 5580c210
    - Inês!! Que saudades de você, minha noiva! Como está se adaptando aqui?
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    O Jogo dos Tronos - Jone - Página 4 Empty Re: O Jogo dos Tronos - Jone

    Mensagem por El Cabron Seg Nov 04, 2024 11:03 am

    O Jogo dos Tronos - Jone - Página 4 _f475c10
    Jone Felinight

    "Não, minha cara meretriz, eu não vou te levar pro castelo.
    Agora, encha meu copo e tire o vestido..."





    Jone franziu levemente a testa, um misto de surpresa e curiosidade passando por seu olhar enquanto escutava as palavras de Henry. Até então, ele imaginava que todas aquelas melhorias estruturais fossem um gesto generoso para fortalecer a presença e o poder da Casa Felinight, mas não um movimento atrelado a um contrato de casamento entre Arthur e Inês.

    - Contrato?

    Virando-se para Inês com um leve sorriso para disfarçar a surpresa, Jone comentou, para pai e filha, numa tentativa de manter o tom casual e ao mesmo tempo buscar mais esclarecimentos

    - Então essas construções, todas essas melhorias, são… parte dos preparativos para a união com Arthur? - disse com uma expressão suave, mas os olhos avaliando cuidadosamente a reação de ambos.

    Havia um temor agora. O que o mais esse “contrato” dizia? O que mais estaria sendo ‘’escondido’’ dele? E sua “situação” na Casa, como ficaria no futuro? Sua posição seria impactada de alguma forma? Jone conteve qualquer reação além da nítida surpresa mas no fundo um misto de sentimentos estavam corroendo o Cavaleiro.

    - Como…exatamente é esse contrato?

    As construções, antes vistas como passos de lealdade e zelo pela Casa, assumiam agora um tom estratégico e distante dele. A pergunta, que para ele era pertinente, talvez não lhe dissesse respeito, mas, cedo ou tarde, saberia tudo o que aquele contrato implicava aos Felinight.




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    O Jogo dos Tronos - Jone - Página 4 Empty Re: O Jogo dos Tronos - Jone

    Mensagem por thendara_selune Ontem à(s) 11:11 am

    Eu o observei com calma, fitando Jone com um sorriso discreto, quase plácido, mas ao mesmo tempo letalmente perspicaz. Aquele contrato... um emaranhado de formalidades e promessas, criado para que minha honra — e a da minha família — não caíssem nas mãos de um destino tão ingrato quanto o que vi Lady Maria enfrentar. É um jogo de paciência, esse, onde o poder oscila e as peças precisam ser mantidas em ordem. Meu pai, sensato e astuto, sabia disso, e não cederia minha mão sem a devida segurança.

    Quando avancei para tomar a palavra, senti meus lábios formarem um sorriso tênue, afiado. “Sor, não somos tolos. Sabíamos que o assunto viria à tona, e melhor que seja por mim. Vejo que a família do meu noivo tem suas próprias reservas, mas deixemos uma coisa clara: estamos todos em busca de prosperidade mútua, crescimento. Se Arthur e eu prosperamos, nossas casas também o fazem.” A taça de vinho repousava em minha mão, como se fosse a extensão de um gesto ensaiado, uma pausa dramática antes do ápice de uma poesia silenciosa. Parecia que, a qualquer instante, eu começaria a recitar o mais belo dos poemas, mas em vez disso, as palavras que saíram carregavam a rigidez da burocracia — cada sílaba escandida, cada termo meticulosamente escolhido. E, ironicamente, o peso formal de cada palavra me encantava, como se dançassem no ar com um toque de lirismo que só eu percebia. Era uma pequena provocação ao mundo, uma ironia que me fazia sorrir em segredo, enquanto saboreava a situação e o vinho.
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    “Mas, Sor... talvez não saiba da inclinação de meu amado por... explorar... as fronteiras das saias das mulheres com uma sede que poderia fazer inveja ao próprio deserto de Dorne.” Meu sorriso se tornou meio cínico, revelando que eu sabia exatamente com quem estava lidando. Cada palavra carregava o peso de meu conhecimento sobre Arthur, e o que esperava dele. Não apenas meu dote estava em jogo, mas também minha dignidade. “Meu pai é um homem prudente, e ao conceder minha mão, tomou precauções. Afinal, sou amada, e meu pai e irmão são homens que sabem quando é necessário proteger. A questão é clara: amo Arthur, mas jamais aceitarei traições ou a notícia de filhos que não sejam meus.”
    Minha voz assumiu um tom gélido, afiada como uma lâmina que corta com precisão. “Então, foi elaborado um contrato,” murmurei, com a clareza de alguém que o recitara mais de uma vez em pensamento. Não havia segredo. Jone tinha o direito de saber. “O contrato declara:
    ‘Henry Allafante concorda em entregar sua filha virgem, Inês Allafante, em casamento a Arthur Felinight, herdeiro das terras da casa Felinight, sob as condições seguintes:

    - Pelo presente documento, fica estabelecido que Henry Allafante concorda em entregar sua filha virgem Inês Allafante em casamento a Arthur Felinight, herdeiro das terras da casa Felinight, sob as condições abaixo elencadas:


    - O dote estipulado pela mão da noiva será de 100.000 (cem mil) dragões de ouro, moeda corrente nos Sete Reinos de Westeros, pagos pelo patrimônio de Henry Allafante e deixado sob a guarda de Inês Allafante, cabendo a esta a administração do montante em prol da casa de seu marido.

    - Os direitos hereditários de Inês Allafante permanecerão dela, passando em sucessão para quaisquer filhos que venha a ter. Caso ela venha a falecer sem descenddentes, seus direitos reverterão ao espólio de seu pai, passando para os herdeiros por este apontados.

    - Arthur Felinight concorda com sua obrigação de salvaguardar por todos os meios possíveis a vida e o bem-estar de Inês Felinight, mantendo-se fiel ao relacionamento monogâmico e abstendo-se de gerar filhos bastardos. A multa para o descumprimento de tais obrigações será o confisco de quaisquer investimentos da família Felinight nas Sete Cidades Livres de Essos, quer estejam sob a guarda do Banco de Ferro ou não..’”

    Cada cláusula saia de minha boca com segurança, como se fosse uma lei que eu mesma estabelecera. E, em caso de algo ruim com Arthur, Esdres seria o herdeiro. Por tradição, o compromisso de Arthur passaria a ele, mas deixo claro que meu coração é de Arthur, e não me casaria com Esdres de forma alguma."

    Sorri com uma doçura que disfarçava o toque cortante de minha posição. "Agora, Sor Jone, está a par de todos os termos. Nada mais resta oculto.'



    DIA SEGUINTE


    O Jogo dos Tronos - Jone - Página 4 Oig3_j19

    A luz da manhã invadia o quarto da torre, de um jeito que fazia cada partícula de poeira no ar brilhar como estrelas. Eu estava ali, sentada à mesa, cercada por pilhas de papéis amarelados, perdida nas linhas das escrituras antigas. Meus dedos corriam distraidamente pelos papéis, e algumas mechas soltas do meu cabelo escapavam da trança e caiam sobre o rosto. Eu as colocava para trás da orelha quase sem pensar, um gesto que fazia parte de mim.

    Estava assim, envolta em silêncio, quando ouvi passos no corredor. Levantei a cabeça e ali estava Ana, a jovem serviçal da Torre Mirela, parecendo ter vindo correndo. Os cabelos desfeitos, rosto corado e a respiração ligeiramente acelerada; hesitou na porta por um instante, fez uma reverência apressada e disse, com a voz meio trêmula:

    '"— Senhora Inês… Ele chegou. Lorde Arthur acabou de chegar à Torre Mirela e… está vindo ao seu encontro."
    Naquele instante, uma onda de calor me atravessou. Senti o coração disparar, pulsando nas pontas dos dedos e no fundo da garganta. Aproximei-me de Ana, apertei suas mãos sem me importar se estavam manchadas de carvão. Deixei escapar um murmúrio, controlando a voz como quem segura as rédeas de um cavalo selvagem:

    " Que notícia maravilhosa…"
    Eu tentava manter o controle, a compostura, mas a verdade é que uma parte de mim queria correr pelos corredores, descer as escadas voando e recebê-lo com aquele riso que ele tanto conhecia. Soltei as mãos dela com uma leve pressão de gratidão, e então vi Hellen se aproximar, com seu rosto sempre calmo e inalterado. Inclinei a cabeça em agradecimento e murmurei:

    " Obrigada…"

    Logo estava rodeada pelas servas, todas ajudando a me preparar. De repente, a porta se abriu, e ele estava ali, cruzando o espaço com aquele passo firme, abraçando-me antes que eu pudesse dizer uma palavra. Sentir os braços dele ao meu redor era como voltar para algo antigo, seguro. O coração acelerou, mas me mantive, como sempre, dona das minhas próprias emoções. Sorri para ele — não pude evitar —, o tipo de sorriso que só ele arrancava de mim, aquele que os outros nunca viam.

    Quando nos afastamos, servi um pouco de vinho, e meu olhar iluminado o seguia, sem conseguir disfarçar a alegria que a sua presença me trazia. Ele me olhava, mas já sabia o que diria antes mesmo de eu abrir a boca.


    O Jogo dos Tronos - Jone - Página 4 Oig1_j14

    "Como poderia estar me adaptando aqui sem sua presença, Arthur… ' disse, minha voz suave mas firme, mantendo um tom de aparente serenidade. '"Nem sequer uma mensagem recebi de você. Pensei que tivesse esquecido de nosso compromisso…''
    Meus olhos o fitaram com uma pitada de arrogância, uma provocação que dançava no canto dos meus lábios. Um sorriso brincalhão escapou, um convite velado, e meu coração não conseguia se acalmar. Ele me conhecia, sabia que eu estava sendo provocativa, mas também sabia que eu estava feliz com sua chegada.

    "Mas as coisas estão bem por aqui, com todos " continuei, um brilho de orgulho em cada palavra. " E não vejo a hora de mostrar o que fizemos…"Eu sabia que ele entenderia o que eu não dizia. Naquele sorriso, naquela luz que se acendia em meus olhos ao fitá-lo, estava tudo que eu não precisava expressar em palavras. Ele sabia, e isso bastava.
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    Mensagem por El Cabron Ontem à(s) 6:32 pm

    O Jogo dos Tronos - Jone - Página 4 _f475c10
    Jone Felinight

    "Não, minha cara meretriz, eu não vou te levar pro castelo.
    Agora, encha meu copo e tire o vestido..."





    A elegância de Inês não se desfez quando ela, habilmente, contrapôs a surpresa de Jone com a força de suas palavras, em um argumento tão firme quanto os fundamentos do próprio Castelo dos Sussurros. Jone, no entanto, apenas olhou a bela jovem. O sorriso ainda mantinha-se firme, mas algo havia mudado na percepção que tinha tanto da bela Inês quanto de Henry.

    - Claro…quem não quer prosperar? - disse, o sorriso alongando-se em seu rosto, enquanto entornava sua taça e bebia o vinho recém servido.

    A jovem prosseguiu, desta vez falando sobre Arthur e seu lado mais devasso. O que os Felinight tinham a ver, afinal, se o herdeiro da Casa aproveitara sua juventude e vigor para fins próprios? Não seria Jone quem o criticaria. Por fim, Inês chegava à parte que interessava: o contrato, de fato.

    - …

    À medida que Inês recitava o contrato, como se fosse um trunfo que tanto ela quanto o pai carregavam, a expressão de Jone foi sendo quebrada lentamente. O sorriso se desfez e aos poucos uma sombra de incredulidade foi tomando conta de seu rosto. Com o cenho franzido, ficou voltando seus olhos tanto para Inês quanto para seu pai.

    - Que… que tipo de contrato é esse? Beron está ciente de todas essas cláusulas?

    O cavaleiro ergueu-se da mesa. O ar amistoso e cordial que Jone havia carregado até então, de um anfitrião gentil, solícito e educado, dava lugar a um homem de voz alta e firme ali.

    - Arthur concordar com isso não me espanta. Deve ter pensado com o pau quando aceitou os termos. Mas Beron…? O Velho chegou a ler esse documento? - Jone citava Asdulfor, o tio que era tão minucioso em detalhes e na proteção da Casa que Beron sempre o mantinha à par dessas situações. - No pior dos cenários, Henry Allafante - dizia com certo desdém - definirá um herdeiro para a Casa Fellinight. HA! Nem por cima de meu cadáver. Jone andava em círculos e gesticulava furiosamente a cada palavra proferida. - E uma multa para caso de infidelidade…com TODOS os investimentos da família confiscados. Vocês estão loucos! Estão nos tomando por selvagens e idiotas que vivem na neve? É isso que pensam de nós, Henry?

    Jone bradava. Sua raiva era nítida naquele momento. Seus punhos cerrados bateram firmemente na mesa quando Inês concluiu, dizendo que nada havia de oculto mais entre eles e o som seco do soco desferido por Jone contra a madeira ecoou pelo salão. Era um acordo que colocaria a Casa em uma posição de risco e de vulnerabilidade. O dote, ainda que de considerável valor, estava estritamente vinculado à administração de Inês, além de futuros direitos hereditários se tornarem, na pior das situações, diretamente ligados à Henry Allafante. Fora isso, o banqueiro já parecia agir como uma espécie de Lorde ali, tomando o comando de certas ações, inclusive do próprio Castelo dos Sussurros, como Jone testemunhara na noite anterior, quando exigiu os vinhos à Polliver. Não era, aos olhos do Cavaleiro, um acordo justo.
    Mas não era só a raiva que Jone externava. Era também o medo. Cornell talvez estivesse certo, no fim das contas? Beron havia tomado a Casa apenas para ele, como o irmão mais novo havia tentado lhe dizer? Jone pensava…talvez fizesse algum sentido… Primeiro Beron livrou-se de Cornell, o mais rebelde dos filhos, e usou Nadya para firmar uma aliança com os Redmayne, com fins exclusivos à Casa Felinight e que por consequência o beneficiariam. O que sobraria para Jone agora, tantos anos depois? Exílio? Seria mandado para a Muralha em breve? Ou teria que fugir, como fez da outra vez? Os Redmayne não o aceitariam e os Starks não tomariam partido à seu favor. Onde Beron estava com a cabeça ao aceitar tal acordo, colocando-os abaixo da bota de Henry Allafante? O que mais havia por trás de tudo isso?
    Sua mente estava tomada pela paranóia e o Cavaleiro começou a suar frio. Foi quando bradou, à plenos pulmões:

    - Capitão Finn! Finn! Polliver!

    Assim que Finn Swallon e Polliver surgissem, Jone não se deteve, e falou com voz altiva, em tom de ordem.

    - Capitão Finn…todas as obras nas Terras Felinight estão suspensas até que Lorde Beron retorne para o Castelo dos Sussurros. Qualquer grupo de trabalhadores que desobedecer essa ordem deverá ser preso.

    Voltando-se para Polliver, prosseguiu:

    - Henry Allafante e sua filha são nossos hóspedes e devem ser tratados dessa maneira. Isso significa que não possuem qualquer gerência sobre os recursos do Castelo dos Sussurros até que Lorde Beron retorne. Isso inclui alimentos e bebidas - voltou os olhos para Henry nesse momento.

    Encerrando suas ordens, dispensou Finn e Polliver e em seguida dirigiu-se à saída, mas não sem antes voltar-se para Inês e Henry, permanecendo alguns segundo a mais observando a bela jovem.

    - Sintam-se em casa… - disse em tom sério.

    O Cavaleiro então deu às costas e se encaminhou para os próprios aposentos.


    Emme
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    O Jogo dos Tronos - Jone - Página 4 Empty Re: O Jogo dos Tronos - Jone

    Mensagem por thendara_selune Ontem à(s) 9:59 pm

    Com Jone

    O Jogo dos Tronos - Jone - Página 4 Oig4_125


    Jone ainda me encara com aquela expressão rígida, lábios apertados em uma linha de desprezo, quase me desafiando a reagir. Meus olhos fixam-se em suas reações, e lanço um olhar sutil para meu pai. Conhecendo-o bem, sei que ele não moveria uma peça sequer se não tivesse algumas cartas guardadas, bem estratégicas, que só ele conhece. Ali, as ameaças pairavam, disfarçadas por rostos que acreditavam saber mais do que deviam, mas, ao fim, a última palavra era de Beron. Ele não é homem de se submeter; detesta ser questionado, principalmente quando sente que estão tentando testar sua inteligência. E Jone parecia empenhado em provocar exatamente isso.
    Molho os lábios como quem prova um veneno delicioso e deixo um sorriso ambíguo surgir sem mostrar os dentes, algo leve, mas que talvez ele não esperasse.
    Quando Jone explode, seu grito ecoa na sala, perturbando o silêncio sólido ao nosso redor. Dou um passo atrás, mas sem desviar os olhos dele. É isso que ele deseja: que eu reaja, que me exaspere. Dentro de mim, sinto minha própria tempestade girando, revolvendo-se com raiva contida, mas mantenho o controle. Sei o que ele pensa; vejo o julgamento estampado em seu olhar, aquela insinuação quase vil de que eu teria me entregado a Arthur. Apaixonada? Sem dúvida. Amo-o? Sim. Mas não sou estúpida a ponto de entregar meu corpo por capricho. Meu corpo é meu templo, uma questão de poder e domínio. Nada de moralismo nisso, apenas minha regra: a chave do que sou pertence a quem sabe como jogar — pelo meu jogo, pelas minhas regras, ou melhor, pelas regras que minha família dita.
    Enquanto Jone prossegue, ele nos retira de qualquer controle administrativo. Desde minha chegada, não interfiro na rotina do castelo dos Sussurros, primeiro por respeito a Lady Maria, depois porque entendo as dinâmicas de uma família que opera em hierarquias disfarçadas. Nunca me coloquei como superior a ninguém, mas agora está claro: Jone, Esdres e até o velho dos gatos formam uma resistência velada, um movimento para questionar o contrato e, no fim, para desafiar meu casamento.
    Sinto uma veia pulsando sutilmente em minha têmpora, um tambor interno. Mas mantenho-me calada, como um predador à espreita, observando. Não é o momento de dizer nada; o terreno está preparado, mas a verdadeira luta não será travada em público. Meu pai saberá se impor, como sempre faz. E eu, com o mesmo silêncio feroz que me caracteriza, vou esperar, atenta. Qualquer um que tentar bloquear o que desejo… bem, descobrirá que enfrenta mais do que simples jogos e palavras.
    Quando essa tormenta passar, a vitória será minha — e será doce, silenciosa, e implacável.
    Off: @Alexyus Aqui prefiro esperar a atualização, pra evitar atropelar as coisas, repostei o dia seguinte porque combina mil vezes uma reação por parte dela bem diferente de alguém que só estaria ali esperando o tempo passar, adorei a interpretação do @El Cabron , é uma grata surpresa jogar com os meninos, todo mundo da vida aos personagens a gente jogar sem ficar com receio de briga em off e falo com toda certeza é uma mesa muito boa a que você montou Alex. Todo mundo no núcleo de GoT deve ta mega satisfeito com esse joguinho e muito obrigadinha cheers






    Dia seguinte.





    Aquela manhã chegou com uma luz que invadia o quarto da torre, fazendo cada partícula de poeira brilhar como estrelas suspensas no ar. Me sentei à mesa, cercada por pilhas de papéis antigos, a mente vagando entre as linhas das escrituras enquanto pensava na explosão que Jone causou. Meus dedos corriam pelos documentos, e algumas mechas do meu cabelo, vermelhas e longas, se soltavam do penteado e caíam sobre o rosto. Instintivamente, levava-as para trás da orelha, um gesto tão meu, quase inconsciente, algo que faço sem pensar. Aquela noite fora um verdadeiro tormento – pouco sono e muitas inquietações. Conversei com Hellen e Jorah sobre o que ocorrera, pedindo que fossem discretos mas atentos a qualquer sinal de ameaça de Jone e seus soldados.
    O Jogo dos Tronos - Jone - Página 4 Oig2_j17
    A taça de vinho, que segurava com leveza, era um alívio momentâneo antes de enfrentar o dia. Coloquei-me num vestido vermelho, justo, algo que acentuava cada curva, destacava a beleza e, claro, era um lembrete de que as mulheres também guerreiam, ainda que no campo social. Escolhi um colar com um pingente de gato negro, algo que, talvez, fosse uma provocação silenciosa, uma faísca de rebeldia. Que Jone tentasse interferir em meus planos – eu era feita de uma fibra mais resistente do que ele imaginava.
    Ali, naquele quase silêncio, ouvi passos no corredor. Levantei a cabeça e vi Ana, a jovem serviçal, aparecer na porta, o rosto corado, cabelos soltos, respiração ofegante. Fez uma reverência rápida e, num tom trêmulo, anunciou:
    "— Senhora Inês… Ele chegou. Lorde Arthur está na Torre Mirela e… está vindo ao seu encontro."
    Uma onda de calor percorreu meu corpo. Senti o coração bater, um ritmo selvagem, e um sorriso quase escapou. Caminhei até Ana e segurei suas mãos manchadas de carvão, num gesto sincero e intenso.
     "Que notícia maravilhosa…", murmurei, a voz grave, aveludada, como se mantivesse as rédeas de uma alegria que ameaçava transbordar.
    Assim que me soltei de Ana, Hellen se aproximou, como sempre calma, observadora. Fiz um aceno discreto em agradecimento, mal contendo a excitação. Em seguida, as serviçais surgiram ao meu redor, ajeitando o vestido, retocando cada detalhe. E então, ele entrou. Arthur, cruzando o espaço com passos firmes. Ele me envolveu num abraço, e por um instante, o mundo se desfez; éramos só nós, como se nada mais importasse.
    Mas não era assim tão simples. Soltei-me dele, mantive a compostura. Sorri, aquele sorriso que só ele arrancava de mim, um sorriso quase secreto. Preparei-me para o jogo que se seguiria. Peguei uma taça de vinho, mas interrompi o gesto, deixando transparecer uma leve hesitação. Precisava que Arthur sentisse o peso do que viria.
    "Como poderia estar me adaptando aqui sem sua presença, Arthur..." minha voz firme, mas com uma suavidade que o fazia prestar atenção em cada palavra. "Nem sequer uma mensagem recebi de você. Pensei que tivesse esquecido de nosso compromisso... mas seus parentes não esqueceram e parecem odiar a possibilidade..."
    Observei a reação dele, provocação dançando nos cantos dos meus lábios. Ele precisava entender que eu não estava ali para ser feita de tola. Mantive o olhar firme, uma pontada de arrogância, misturada com algo próximo do desafio.
    "Não me atrevo a servi-lo... não tenho liberdade para fazê-lo. Aqui, sou meramente uma hóspede, conforme seu tio Jone, nada devo ordenar ou oferecer, senão uma passividade diante do que ele acha certo para a família." A mágoa na minha voz era genuína. "desde o começo, fui clara sobre como as coisas seriam. Amo-o tanto que, se fosse necessário, saltaria desta janela para acompanhá-lo em uma queda mortal. Não há Inês sem Arthur."
    Parei, permitindo que a raiva formigasse sob a pele sem transbordar. Ali, ajoelhada aos pés dele, tomei suas mãos entre as minhas, como se renovasse meu próprio juramento. Havia uma intensidade no meu toque, nas palavras que saíam lentamente, quase como uma confissão.
    "Mas, Arthur, chega um momento em que não se pode suportar ofensas, intrigas e insinuações. Asdulfor desconfia de meu pai, trata com desprezo o julgamento sobre o contrato que Lorde Beron deu, e até mesmo você, meu amor... Tudo em nome de uma falsa ideia de que os Allafantes desejam tomar tudo dos Felinight."
    O Jogo dos Tronos - Jone - Página 4 Oig4_j16


    Uma lágrima quente percorreu meu rosto, deslizando entre as sardas, uma pequena manifestação da fúria contida. A mão trêmula percorreu o rosto, como que para acalmar o que borbulhava internamente.
    "Esdres também não acredita em minhas intenções. Mas perdoo-o – é jovem, perdido nas próprias luxúrias. Como pode liderar uma casa se não sabe controlar o que tem dentro das calças…?"
    Soltei um suspiro, entre a raiva e o desapontamento, mas mantendo um tom calmo, quase cruel.
    "Mas Jone… Ah, seu tio, ele foi longe demais. Ontem mesmo ele ordenou a suspensão das construções, retirando de mim e de meu pai qualquer poder até que seu pai chegasse. Arthur, sua família nos insulta com tamanha desconfiança, mas o ouro… ah, o ouro, este nunca desperta suspeitas."
    Meus olhos o encararam, intensos, o rosto tingido de um vermelho de fúria bem calculada. Eu sabia exatamente o que estava fazendo, cada palavra proferida, uma fagulha. Arthur precisava ouvir, precisa entender o peso que me fora imposto.
    " Mas se quiser, Arthur, eu irei embora. Meu pai pode resolver tudo com o seu, à maneira do banco de ferro, sem que isso prejudique as inovações aqui feitas. Não quero ser a razão de uma guerra velada dentro de sua própria família."
    Parei e respirei fundo. Sabia que minhas palavras tinham o peso exato que desejava. Mantive-me ali, os olhos castanhos fixos nos dele, permitindo que tudo o que sentia se manifestasse, numa mistura de raiva, frustração e um amor que, a cada golpe que recebia, renascia mais forte e voraz. “ E apesar de achar vergonhoso faço questão de repetir da mesma maneira que seu tio Jone falou - “- Arthur concordar com isso não me espanta. Deve ter pensado com o pau quando aceitou os termos. Mas Beron…? O Velho chegou a ler esse documento? -” Então, apertei as mãos dele. 'Se ele me trata assim antes mesmo de termos nos casado, imagine o que sua família fará comigo após o casamento? Ou se meu pai se ausentar, se você precisar viajar... O que farão comigo, Arthur? Se eles não aceitam o julgamento de seu pai, senhor da casa, se desdenham da minha honra e intenções, o que mais devo esperar?'
    Pronto, que os jogos comecem. Se aquilo não resultasse em deixar Arthur furioso, e Beron também, ambos seriam taxados de tolos. Além disso, meu pai optaria por cancelar o casamento e usar o banco de ferro para levar todos à ruína, pois não teriam como pagar o que devem."Eu o amo, Arthur. Larguei tudo por você. Minha maior prova de amor foi ter lhe seguido até aqui, longe de todos que conheço, de todos que me querem bem, dependendo de sua proteção e do zelo de meu pai, que também veio até aqui para nos ajudar em tudo... Meu irmão o respeita, meu amor, mas sua família não parece querer entender nosso lado..."
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