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    A Morte e o Nascimento do Penitente

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    A Morte e o Nascimento do Penitente Empty A Morte e o Nascimento do Penitente

    Mensagem por Dovahkiin Qui Abr 18, 2024 8:08 pm






             Estava escuro e claustrofóbico. O odor de morte e terra por toda parte. Um homem tateava em busca de uma saída... embora ele não se lembrasse de como veio parar ali. Com seus dedos ele encontrava algo de textura diferente da terra fofa que o cercava por todos os lados: ossos humanos, um crânio, uma vala comum?! O pensamento parecia desesperador, pois se não encontrasse logo uma saída, o oxigênio acabaria.
    Porém, ele percebia que algo estava errado... ele não estava respirando. Na verdade, ele nem podia sentir seu coração batendo e sua pele era fria ao toque, como um cadáver. Então vinham as lembranças:

             Ele havia sido um assassino profissional, um dos melhores do mundo. Tirado de sua família brutalmente aos 3 anos de idade, tendo sua existência apagada e treinado desde então unicamente para seu ofício, ela era extremamente mortal, mestre em diversas modalidades de lutas, perito em armas brancas e de fogo, bombas e disfarces, capaz de matar de forma sutil ou bastante brutal. Uma máquina de matar sem emoções, movido unicamente por seu propósito, doutrinado pela organização que o treinou desde a mais tenra idade. Mas um dia foi o suficiente para ter suas crenças (ou a falta delas) abaladas.
             Aos 33 anos de idade, no auge de sua forma física, ele havia sido contratado para o trabalho mais importante de sua vida: assassinar o papa em pessoa. Para tal, ele estudou minuciosamente seu alvo e decidiu que a melhor forma de obter êxito era infiltrando-se no vaticano.
             Ele assassina um bispo próximo do patriarca da fé e toma seu lugar. Para melhorar o disfarce ele estuda profundamente as crenças destas pessoas, e de certa forma, aquela fé o intrigava. Era muito diferente de tudo o que haviam lhe ensinado, mas não havia tempo para se aprofundar mais, pois a missão vinha em primeiro lugar.
             Ao olhar nos olhos do santo padre, algo parecia tocá-lo, de forma que ele não era tocado desde que tirou uma vida pela primeira vez, mas ainda assim, ele não hesitava e terminava o serviço.
             Algo pesava em sua consciência (se é que ele tinha alguma) e ele sentia como se o trabalho não estivesse finalizado. Ao retornar para seus contratantes, ele foi generosamente pago, bem como elogiado por seus mentores, mas isso não era o suficiente para aliviar a estranha sensação que sentia desde que vira o brilho da vida deixar os olhos do papa. Ele tinha sonhos onde recebia 30 moedas de prata para trair o Cristo e em seguida, esmagado pela culpa, se enforcava. Sonhava com o assassinato do papa, noite após noite, e acordava suando frio.
             Então ele passava a fazer algo impensável dentro de sua organização: questionar seus superiores. Além disso, ele passou a ler livros com temática religiosa escondido. A Suma Teológica de Aquino, As Duas Cidades de Agostinho, e até mesmo o historiador alemão Ludwig von Pastor, o famoso protestante que, em certa ocasião, desafiou publicamente a Igreja Católica a abrir os seus arquivos secretos, na esperança de desmascarar seus papas heréticos e devassos, expondo-os publicamente, mas ao invés disso acabou se convertendo, pois segundo o próprio: “... eu me convenci de que a Igreja Católica é realmente uma instituição divina. Se nem Papas conseguiram destruí-la, é porque é divina mesmo!”
             Em determinadas ocasiões, ele até mesmo adentrava paróquias para assistir as missas e até mesmo chegou a repensar toda a sua vida, e em determinada ocasião, ficou um tanto intrigado em uma pregação sobre o “batismo de desejo” e o “batismo de sangue”. Isso parece ter sido a gota d’água para seus superiores que o vigiavam de perto.
             Com o tempo ele foi se tornando descuidado e na noite em que foi para a cama logo após a pregação, não acordou mais...

    ... Mas sua história não terminaria por aí. Ele via a si mesmo sendo morto por seus antigos mentores enquanto dormia, e então via sua própria alma caindo em algo que lembrava um fosso infinito de trevas e chamas. Era aquilo que os cristãos conheciam como o inferno, e ele sabia merecer toda a dor eterna infligida lá. O demônio o esperava com um largo sorriso, mas algo acontecia. Uma luz mais forte que o sol surgia no fosso de trevas, algo que parecia ferir o demônio, ao mesmo tempo que dava esperanças ao homem. Era uma presença tão radiante que o ex assassino mal tinha coragem de encarar. Mas ele ouvia sua voz poderosa e enérgica falar com ele:

             A entidade dizia ser o próprio Deus, o alfa e o ômega, o princípio e o fim, e seu poder era supremo até mesmo nos territórios de seu opositor. Ele dizia que por seus crimes, o assassino estava destinado a uma eternidade de dor e sofrimento no inferno, mas estava disposto a dar uma segunda chance ao homem. Mas ele teria de merecer esta segunda chance, salvando as almas de 70 x 7 x o número de vidas inocentes que ele havia tirado. Além disso, cada oração realizada por sua alma diminuiria seu fardo.
    E ele aceitou...


             Dentro de uma cova comum, ele percebia que aquilo tudo havia sido real e isso lhe dava ainda mais forças para cavar até conseguir sair daquele buraco. O vento noturno tocava sua pele fria e pálida e a luz gélida da lua parecia acaricia-lo pela primeira vez desde sua morte.
             Seu corpo ainda exibia os ferimentos que causaram sua morte e ele estava rodeado por lápides. Ele então caminhava sem rumo, até ver no chão um pano vermelho com uma cruz. Instintivamente, ele o agarra, olha demoradamente para ele e o amarra no próprio rosto.
             De alguma forma, ele sabia que não precisava mais de seus olhos para ver, ou de seus pulmões para respirar. A vida poderia tê-lo abandonado, mas seu corpo era movido pela própria energia divina. Ele realmente havia ganho uma segunda chance e não a desperdiçaria.
             Então ele ouvia uma voz desesperada não muito longe dali...

    Ai meu Deus! Ai meu Deus! Esconder! Tenho que me esconder!

              O ex assassino sabia que havia uma pessoa em perigo não muito longe, ali mesmo no cemitério e seguia até ela. Um raio cortava os céus logo antes da chuva começar, e ele encontrava um jovem chorando, escondido atrás de uma tumba.

    Eles mataram o cabeção! Meu Deus, que gente é essa?! Me ajuda, Senhor! Não deixa eles me matarem também!

             Então o ex assassino se revelava para ele, sabendo que tudo isso fazia parte dos desígnios divinos:

    Eu posso ajudar! Mas há um preço a pagar!

             Apavorado, o jovem respondia:

    Ai meu Deus! Quem tu é, cara?!

             E instintivamente, o ex assassino respondia:

    Sou apenas um penitente!!!

    Eu pago! Eu pago! Mas eles...

    Não se preocupe com eles! E quanto ao preço. Ore por sua vida... e por minha alma!

             E assim se iniciava a trajetória de redenção do ex assassino, agora conhecido como O Penitente.

      Data/hora atual: Qui Nov 21, 2024 6:06 am