☆A FORASTEIRA☆ | Mi'larhys ☆VÊNUS☆ Mila Rhys |
Senti as dúvidas, a rejeição, a revolta revirando-se em Matt, mas também senti que espaço faria bem. Não respondi no mesmo momento — uma das lições mais preciosas que se poderia receber nas milhares de aulas com diversos tutores que pretendiam fazer de mim uma boa diplomata é que não se é obrigado a reagir instantaneamente a nada. Aquele desprezo continuava lá, permeando os sentimentos dele e amargando o laço entre nós. Mas as Sete Coroas do Trono não se fizeram em um rakna. Eu não estava com pressa.
Quando retornei das lojas, encontrei Matt com a aparência de um garoto mi'wanish comum — mas eu o reconheceria mesmo que tivesse assumido a forma de golfinho de repente. A mente de uma pessoa era algo muito mais constante que seu exterior. Ele ainda não entendia isso e estava nitidamente feliz por se ver com as formas e cores que reconhecia como suas. Eu sorri para ele, com doçura sincera.
"Manda a foto no grupo da equipe! Aqui."
Fiz "V" com os dedos, imitando Matt, e dei o sorriso mais solar que poderia. Peguei o tablet das mãos dele e digitei "Matt e Mila na praia!" na legenda, incluindo símbolos de mar e sol. Depois entreguei o tablet de volta, ressaltando que eu esperava que mais fotos e vídeos fossem feitos naquela tarde!
Matt continuava um pouco irritadiço, mas isso não me impediu de passar horas maravilhosas ao lado dele. Era basicamente como lidar com os ke'tanish — qualquer coisinha poderia levar um ke'tanish a sair no braço com alguém num bar, o que não os tornava companheiros menos divertidos. Eu e Matt comemos hambúrguer — que tinha o gosto maravilhoso que eu, por tanto tempo, imaginei que teria! — e tomamos sorvete. Não gostei tanto, mas os picolés eu amei! Eram coloridos e tinham sabores de frutas mi'wanish. Eram esplendores gelados no palito.
Não saberia dizer o que eu senti ao entrar no mar. A emoção era tanta! O sal no mar deslizando pela minha pele me fazia pensar em abraços mi'wanish — eles tinham aquele cheiro de sal e sol e água. As ondas embalavam meu corpo, me moviam como se Mi'wan quisesse me tirar para dançar. E eu queria dançar!
"Quero ir a Pueblo Alto."
Estava sentada na areia, ao lado de Matt, comendo picolé de limão. Ele era um garoto bonito naquela forma, mas muito menos do que quando parecia saído de contos-de-fadas. Era como ver uma versão menos espetacular de algo que deveria ser incrível. Quase como pedir um Big Mac acreditando na foto e receber aquele sanduíche meio xoxo numa caixinha muito menor do que a propaganda — por sorte, as séries já tinham me alertado sobre isso e eu comi um delicioso hambúrguer gigante lotado de bacon e feito artesanalmente.
"Sabia que eu achava que John Pablo fosse criança?
Até hoje de manhã. Dei um abraço nele
e o peguei cheirando meu cabelo.
E se preocupando com os pensamentos,
com medo de que eu percebesse na mente dele
coisas nas quais crianças não pensam..."
Até hoje de manhã. Dei um abraço nele
e o peguei cheirando meu cabelo.
E se preocupando com os pensamentos,
com medo de que eu percebesse na mente dele
coisas nas quais crianças não pensam..."
Havia uma risadinha na comunicação telepática e um rubor nas minha bochechas. Mordi o picolé de limão e encarei Matt.
"Não importa como parecemos por fora.
E nem como somos vistos por ninguém.
Quem somos, fica por dentro."
E nem como somos vistos por ninguém.
Quem somos, fica por dentro."
Ele provavelmente entenderia errado, todo irritadiço como estava, e eu já tinha começado a me acostumar com esse charme bélico.
"O que eu quero dizer, Matt, é que só você decide o que pode te quebrar.
Mesmo que a Natureza esteja rugindo de dor nas suas veias.
Mesmo que milhares de vozes uivem aos seus ouvidos.
Quem você é, sua essência, jamais será perdida.
Você é a rocha contra a qual as ondas se quebram.
E você não será vencido. É isso que te torna quem é.
Que te torna humano."
Mesmo que a Natureza esteja rugindo de dor nas suas veias.
Mesmo que milhares de vozes uivem aos seus ouvidos.
Quem você é, sua essência, jamais será perdida.
Você é a rocha contra a qual as ondas se quebram.
E você não será vencido. É isso que te torna quem é.
Que te torna humano."
Aquela palavra tinha um som agradável que eu achava que Matt precisava ouvir. Humano. Não importava o que o espelho mostrasse. Não importava quantas vozes escutasse. Não importava a avalanche de sensações a que era submetido. Ser telepata não era tão diferente, afinal. Porém, achava que ele não gostaria de ouvir sobre essas experiências ainda.
"E também é por isso que quero ir a Pueblo Alto!
Raízes, Matt. Sentir que as tem não te torna diferente
de ninguém. Todos temos. E algumas, dão churros!"
Raízes, Matt. Sentir que as tem não te torna diferente
de ninguém. Todos temos. E algumas, dão churros!"
Eu sorria e dava umas dançadinhas — mesmo sentada na areia. Os banhos de mar e as horas passadas ao sol haviam me deixado leve, feliz e confiante. John Pablo tinha saído com Jack e aquelas garotas e me deixado para trás, mas devia haver uma explicação perfeitamente inocente para isso. Quando nos encontrássemos na casa da família Harper, ele me contaria sobre a tarde divertida que tiveram fazendo coisas tranquilas e razoáveis.
"A moça na loja me disse que vai ter uma festa,
uma espécie de festival, com comidas e bebidas,
música e bandeirinhas. Eu não sei o que são bandeirinhas,
mas ela me disse que são coloridas! Eu amo cores!
Ela me disse que tem a ver com a igreja,
e que começou no sábado e vai só até hoje.
E ela me vendeu uma roupa e enfeites pro cabelo.
Eu vou lá, pra essa festa, essa noite!
Acho que vou ficar bonita com as flores coloridas..."
uma espécie de festival, com comidas e bebidas,
música e bandeirinhas. Eu não sei o que são bandeirinhas,
mas ela me disse que são coloridas! Eu amo cores!
Ela me disse que tem a ver com a igreja,
e que começou no sábado e vai só até hoje.
E ela me vendeu uma roupa e enfeites pro cabelo.
Eu vou lá, pra essa festa, essa noite!
Acho que vou ficar bonita com as flores coloridas..."
O cheiro do mar misturado à minha pele me deixava toda animada, como se nada mais pudesse dar errado no mundo. Deitei na areia, olhando as nuvens, e batendo os pés em chutinhos curtos, contendo um gritinho.
"Eu quero dançar! Nós, lynnish, gostamos de música
e amamos dançar! Mas aqui em Mi'wan...
... eu vi nos filmes. Tem umas danças...
É como se tentassem fazer bebês, mas de roupa!"
e amamos dançar! Mas aqui em Mi'wan...
... eu vi nos filmes. Tem umas danças...
É como se tentassem fazer bebês, mas de roupa!"
A gargalhada telepática veio fácil, acompanhada de um sorrisinho visível.
"A vida pode ser tão linda quanto deixarmos, né?
Mas... temos uma reunião para ir. Você está pronto?
Preciso comprar um pacote de marshmallows também, pra B'rel.
Vamos indo? Eu vou assim, de roupas de praia mesmo, pra reunião.
Será que tem problema? Acho que não, né?"
Mas... temos uma reunião para ir. Você está pronto?
Preciso comprar um pacote de marshmallows também, pra B'rel.
Vamos indo? Eu vou assim, de roupas de praia mesmo, pra reunião.
Será que tem problema? Acho que não, né?"
Picolé de limão era maravilhoso. Estava ansiosa para chegar em casa. E saber da tarde de todos. Da tarde de Jack e John Pablo. E da noite que viria a seguir.