Finalmente Kima tinha encontrado Alex, o que acalmou um pouco aquele coração tumultuado. Conseguiu lembrar de algumas falas de sua mãe, uma artista plástica, e que sempre tinha uma palavra amiga ara acalma-la em seus dias ruins. Não sabia se funcionaria com ele, mas tentou, algo ela tinha que fazer por ele, ainda mais depois de deduzir que o garoto devia sofrer uma cobrança muito maior que a maioria dos jovens. Não que ela soubesse como jovens reais agiam, mas era um exercício mental imaginar. O alívio que sentiu ao ver que o garoto se permitiu se visto.
"Finalmente...!"Ele se levantou subitamente e caminhou até ela. Será que ainda estava bravo e brigaria com ela de novo? Acostumada a se defender ela ergueu as mãos para atacar ou defender, mas, mais súbito que a aproximação, foi o abraço. Segundos foram necessários para ela perceber o que acontecia, foram segundos em que seu coração parou
"o que está acontecendo?" Ela começou a chorar quando ele a agradeceu por se preocupar com ele. Deu uns soquinhos de leve nas costas dele.
- É claro... que eu me... preocupo - fungava no ombro dele
- estamos todos num momento... delicado. Desculpe... se fiz algo ruim, mas eu prefiro que fale diretamente... comigo do que gritar comigo. Ainda estou me adaptando e o tempo todo com medo de errar - os espasmos do choro faziam seu peito subir e descer de forma desordenada
- e você pode... conversar com alguém... quando se sentir mal... não precisa ser comigo, mas... eu estarei aqui para... ouvir... - ela se afastou para encara-lo
- claro que te desculpo.... - ela sorriu, as bochechas vermelhas. Secou os olhos com a manga do casaco já molhado das lágrimas anteriores.
Kima estava tão envergonhada de estar tão próxima de Alex, nunca tinha estado assim, tão perto de um garoto, mas sua cabecinha e coração não tiveram tempo de confabular mais nada, pois ela tinha sentido algo estranho em sua cabeça, um leve choque, era uma chamado de Mila, urgente e furioso.
- É a Milarhys! Será que aconteceu algo?A disposição de Alex parecia voltar aos poucos e Kima se sentiu feliz por ajudado, nem que fosse um pouquinho. Acatou à proposta dele de irem voando, o que foi algo novo para ela, já que nunca tinha voado.
"Como se segura em alguém que voa?" Fez sentido ela segurar pelas gostas, segundos que fizeram o coração da garota batucar como uma banda de mil percussionistas
"ele é tão... forte..." Assim que alçou voo, Kima deu uma pequeno grito de susto, mas logo se recompôs
"que vergonha... que vergonha". O voo era muito rápido, o vento gelou 1000°C e espancava seu rosto, o ruído era... nem ela sabia explicar, um zumbido forte talvez. A pele os os cabelos da garota estavam pretos como um grafite queimado, sinal que sua resistência estava ativada para protege-la das forças físicas que agiam sobre ela naquele ínfimo instante. Como não era um passeio, tudo que ela podia ver de alto foi perdido, mas ela não se importou, pois o momento era mais urgente. Se tivesse coragem e um momento de paz, quem sabe ela não pedisse um passeio.
"Será que ele acharia algo bobo?"Pousaram com suavidade e a pele da garota foi retomando sua cor original, um bronzeado cor de canela suave. Os caracóis de sua cabeça recebiam o rosa chiclete que tanto lhe era característica, a representação máxima de quando seus poderes começaram a se manifestar, começando com apenas algumas pontas e depois explodindo para metade de suas madeixas assim que seu primeiro acesso de fúria a consumiu, o dia de sua primeira fuga, a fuga para uma realidade cruel e dolorosa, a descoberta de uma vida de mentiras e agora, uma vida de dúvidas e insegurança. Em quem confiar? Como saber o que era real ou não? Pensamento que a consumiam constantemente. Sacudiu a cabeça para espantar tais ideias e olhou para Alex à sua frente, uma ponta de esperança em seu caminho e tinha que se agarrar àquilo para não desmoronar. Passou os dedos entre os cachos para ajeita-los no lugar, afinal, um voo não deve ter feito bem para as madeixas sem vida.
- Eu... nunca tinha voado antes! Nem de avião - disse enquanto caminhavam para a porta
- Mi'larhys... A dupla encontrou Mila lá em cima e Alex correu até ela para desculpar-se sobre o que aconteceu mais cedo. Ela parecia ainda estar chateada e o desprezou seguindo até sua nave camuflada. Kima nem teve tempo de pedir desculpa também.
"Ela deve saber que sou horrível" e a garota ficou encarando as próprias unhas, visivelmente sem graça e entrou depressa. Queria sumir o quanto antes.
Sua vontade era correr para seu quarto, mas se deparou com os demais na sala e a vontade só aumentou. Cada um em seu mundinho, o que será que tinha acontecido?
- O...oi! - e caminhou para um canto da sala, não queria estar num local de muito destaque. Rostinhos tão preocupados quanto o dela
- o que aconteceu? - perguntou meio sem jeito para Hana assim que ela a chamou para a cozinha.
Elas prepararam sanduíches enquanto John preparava uma comida estrangeira que Kima não sabia o que era, mas cheirava bem e tinha uma cara ótima, assim como a de quem preparava. Hana e Pablo tinham feições diferente, ela tensa e ele relaxado, deixando Kima confusa. Mesmo assim, se sentiu útil em ajudar e levou os sanduíches para a sala.
- Eu... acho sim - respondeu a Hana
- o clima está tenso. Na escola não foi legal e parece que aqui também não. Você sabe o que aconteceu? Por que saiu correndo aquela hora? - referiu-se à fuga do refeitório.
Na sala, viu Mila se aproximar e lhe entregar uma folha de papel, um tipo de canson, aquele material ela conhecia muita bem. Sua mãe as usava com frequência para seus desenhos. E quantas vezes as duas sentaram juntas para sujar folhas com tintas? Lembranças tão boas que aumentaram as saudades de sua mãe. Como ela estaria agora? A emoção tomou conta de Kima que pôs-se a chorar. Ela leu a mensagem e abraçou Mila de repente.
- Obrigada, Mi'larhys e me desculpe por julga-la. Fui injusta com você! Eu sei como é estar longe de casa e longe de quem se ama... - segurou no ombro dela.
Ela foi para o sofá e pegou um sanduiche e uma encillada.
- Está muito bom, Pablo. Obrigada!Enquanto Jack estava sem camisa, Kima evitou olha-lo. Logo ela viu uma mulher e uma garoto... planta? Hana foi conversar com eles. O jaleco da mulher trouxe imagens e sons que a garota lutava para esquecer: gritos e choros, dor e medo, metal contra metal, o cheiro de produtos químicos queimavam suas narinas, ela fechou os olhos e sacudiu a cabeça para espantar aquelas lembranças, mas não sem deixar lágrimas desmoronarem com fúria de seus olhos. Hana começou a contar sua história para o garoto planta, seu nome era Matthew e da mulher Rebeca. Kima olhou para Hana com as informações ditas, então ela era filha de dois líderes, assim como Kima que era filha do terceiro pilar da Tríade.
"que droga". Se ela queria fazer as lágrimas pararem, agora essa era uma missão impossível. Que história triste ela tinha, tocou o coração da menina e quantos mais ali tinham histórias tristes. Até Alex que parecia ser o cara perfeito tinha um coração frágil. Ela esfregou os olhos. Sim, Kima podia entender a dor que Matt sentia e olhou para ele tentando ser forte, mas fracassou miseravelmente. Ela não tinha condições para aquilo. Até quando a Tríade iria aparecer na sua frente? E no caminho dos demais?
As palavras de Hana para Matt também tocaram Kima, serviam para ela que também lutava com suas dúvidas, angústias e medos, como era bom saber que podia contar com aquelas pessoas, jovens tão especiais quanto ela e que passavam pela mesma coisa.
- Eu não aguento mais! O que eles querem da gente? - Kima deslizou as mãos pelos cabelos
- mas a Hana está certa. Eu só confio em vocês agora... Tenho medo da Tríade e não quero ser capturada de novo... - ela suspirou e olhou para o Matt
- meu pai é o Vince, o terceiro pilar da organização - falar aquilo em voz alta era nojento e Kima se sentia suja
- eu sempre fui uma mera experiencia para aquele homem. Todo o meu crescimento foi anotado como dados científicos... etapas 1, 2 e 3... a quarta seria saber como a dor afetaria o experimento Kima01 - ela fungava e secava os olhos. Olhou para Hana sentindo a dor da garota demônio, dores tão parecidas
- eu odeio isso... sempre fui um mero rato de laboratório... me desculpem... - ela queria correr, sumir dali, mas apenas teve força para esconder o rosto entre suas mãos e se encolheu apoiando-as nos joelhos. .