Ellywick - Edu

A humana de cabelos negros alça as sobrancelhas, um tanto quanto surpresa com a atitude demonstrada pela gnoma.
- Nossa, você é bem sincera, Elly – diz Ergo, e sorri levemente – Gosto disso. Bem, vamos deixar esta historia de moral e o que é certo ou errado para depois. Vamos nos conhecendo melhor.

As duas continuam conversando sobre amenidades, enquanto a caravana se dirige a Astrakhan. Entre os outros viajantes, alguns já estavam mais calmos, enquanto outros ainda se encontravam tensos. Já era tarde, quando no horizonte surgiu uma forma alada, que cada vez mais se aproximava.

“Isto não quer dizer boa coisa...”, comenta a necromante.

A pequena mancha ao se aproximar tomou a forma de uma mulher de cabelos negros, dois grandes chifres, com asas negras de longas penas. Rapidamente ela pousou em frente da caravana, e estava vestida com um corselete negro, portando uma espada longa.



Logo o orc chefe e seus subordinados se ajoelham.
- Lady Shederun, chefe de escolta Krothu a sua disposição.

A demonia acena com a cabeça, e avança em direção da caravana. Ela olha para todos os viajantes, observando em silencio. Então ela diz alto, para todos ouvirem.
- Desculpem minha intervenção, Nova Karzek aprecia todos viajantes e comerciantes que vem ao nosso grande império. Porém recebi informações que um elemento de alta periculosidade esta presente nesta caravana. Para evitar derramamento de sangue de inocentes, eu ordeno que se apresente.

Uma gota de suor frio corre pela testa de Ellywick descendo o seu rosto. Será que estavam falando dela? Mas não tinha feito nada, a não ser a mentira maldita para Barbara, só isso a fazia ser perigosa? Podia ser outra pessoa é provável que fosse.

A gnomo continuou parada no seu lugar e não fez nada, só observou a mulher.

A demonia alada caminha vagarosamente ao longo da caravana, fitando os integrantes com um olhar sombrio e letal. Ao passar por Elly e Ergo ela para por alguns instantes, observando as duas. “Vocês são bonitas”, comenta em tom solene.

Então repentinamente Lady Shederun saca de sua cintura um rolo de corda, que se desenrola no ar e avança em direção de um senhor idoso vestindo uma túnica cinza, que estava sentado na carroça ao lado da gnoma e da humana. Como uma cobra, a corda envolve o corpo do pobre homem, que é levado ao chão com o puxão dado pela demonia.

O senhor, de cabelos e barba branca, geme de dor e se contorce, parando ao perceber a aproximação da Lady. Ela puxa a barba do cativo com força, arrancando-a. Um disfarce. “Clérigos de Mitz não são bem-vindos, especialmente aqueles que fomentam a rebelião, Hagley Thornton. Pensava entrar incógnito, mas eu vejo a realidade com meus olhos,” diz em tom ríspido.

Depois do chefe de escolta e seus goblins prenderem o rebelde, a demonia volta a conversar com Elly e Ergo. "Gostei de vocês. Quero que participem da festa de aniversario de meu filho, Sabnar, hoje a noite, no salão de festas do castelo. Espero vocês,” diz em tom de comando, e então alça voo, seguindo em direção a cidade de Astrakhan.

Elly sentiu uma pontada no coração ao ver o homem ser capturado. Aquilo não estava certo, mas suas mãos estavam atadas. O que poderia fazer por ele? Olhou a cena toda imóvel sem mudar a sua expressão por nenhum momento.

A gnomo olha para Ergo sem entender depois da mulher-demonio ter ido embora e ter convidado e elogiado as duas.

- Tenho a impressão que não é boa ideia não irmos a essa festa. Pode ser tomado como desfeita, mas acho que devamos ter cuidado lá. É aniversario do filho dela né? Chamar mulher que ela acha bonita assim do nada. Péssima impressão que eu tenho. Devemos combinar uma historia ou não vai terminar bem pra gente - opina Ellywick para Ergo.

A gnoma olha para a figura esbelta de Ergo, que permanecia atenta observando a figura da demonia diminuir no céu. “Não mesmo,” responde para Elly, com a mão no queixo, “temos que ir a esta festa sem duvida alguma... Moro em Astrakhan já faz alguns anos, mas isto foi novidade para mim. Lady Shederun comanda a cidade, e gosta de fazer festas luxuosas, cheias de gente bonita e bem-vestida, ostentando seu poder. E seu filho é um grande mulherengo.“

A necromante, com um olhar envergonhado, toca na mão de Elly um tanto quanto hesitante. “Hmm. Se voce quiser, pode vir para minha casa. La podemos nos preparar melhor para hoje a noite”, diz, um pouco vermelha no rosto. ”Desculpe, não estou acostumada com isto. Pensava que podia lidar com isto objetivamente, mas parece que meu coração da pulos. Faz um tempo que não me relaciono com alguém, você me acha estranha?”, indaga, preocupada.

- Acho que não, ninguem lida objetivamente com relacionamentos, mesmo aqueles que acabaram de começar. Ergo só relaxe e tente aproveitar - Ellywick pega a mão de Ergo colocando os seus dedos entre os dela e a beija - Eu acho uma ótima ideia passar na sua casa antes, só não sei se vou conseguir chegar no nivel de glamour dessa festa ai.

Ergo acena com a cabeça, segurando a mão de Elly. “Você está certa, as vezes penso demais nas situações, esquecendo de saborear o momento”, diz, concordando. “Quanto as roupas, não sei se poderei ajudar, seu manequim é muito menor. Encontraremos uma solução. ”

**

A viagem continua, até que a caravana se aproxima da cidade de Astrakhan. De tamanho médio, era protegida por altos muros de cor marrom-claro, em cujos cantos estavam torres de arqueiros. No topo da amurada alguns soldados faziam ronda, provavelmente orcs.

Do lado de fora da cidade podiam-se ver algumas tendas ao pé da muralha, próximas da entrada principal. A necromante limpa o suor do rosto com um lenço, o calor da tarde era intenso. “Finalmente estamos chegando. Agora vamos passar pelo posto de inspeção, e então poderemos deixar a caravana e ir até em casa,” diz arfante. “Estou precisando de um banho urgente.”

- Inspeção? - Ellywick engoliu seco ao ouvir isso.

A gnomo tentou distrair a sua mente disso, tamborilou os dedos no seu escudo e sorriu sem graça para Ergo antes de responder sobre o comentário do banho:

- Um banho seria bom mesmo, principalmente se eu estivesse nele com você.

Enquanto isso ela ainda pensava sobre o que seu amigo lá de Galia a tinha metido. Cavucou a sua mochila e pegou o pacote que ele tinha pedido para ela trazer. Abriu ele para ver o que tinha dentro, queria saber no que estava se metendo.

O comentário de Elly faz Ergo sorrir levemente, acenando com a cabeça discretamente, e logo voltando sua atenção para a cidade mais a frente. Lá havia uma fila grande de pessoas e carroças a frente da entrada principal, e um certo tumulto. Sua expressão foi se tornando a de apreensão.



“Por algum motivo as inspeções estão mais demoradas que o normal. Pode ser que o nosso banho tenha que esperar um pouco mais.”

Pensando no que estava por vir, a gnoma resolveu abrir o pacote para ver que tipo de coisa estava carregando. O pacote pesava cerca de 5 quilos e era quadradão, ocupando bastante espaço em sua mochila. Abrindo sua tampa, viu que dentro dela estava um saco comum preto, do tamanho do pacote, amarrado por uma cordinha branca e aparentemente cheio.



Tudo isto era acompanhado pelos olhos atentos de Ergo, que se limitava apenas a observar.

- Malditos guardas e suas inspeções - diz ela um pouco ansiosa pensando em si mesmo pelada junto a Ergo.

Depois de ter aberto o saco que carregava, Ellywick olhou desconfiada para o outro saco que tinha dentro do anterior. A ideia de que se metera numa furada não parava de frequentar a sua cabeça. Mesmo sem olhar para Ergo mas sentindo o peso do seu olhar para ela a gnomo disse:

- Querida se você já me olha assim vestida, imagina quando eu tirar a roupa?

Era porque tinha feito uma promessa para seu amigo que não ia jogar aquela porcaria no chão e deixa la ali mesmo. Colocou o saco preto dentro do outro e dentro de si começou a torcer que aquilo não fosse causar problemas para ela.

Apesar da brincadeira feita por Elly, Ergo mantinha seu olhar impassível. Ela se aproxima e diz, em voz baixa: “Quando eu me envolvo com alguém, eu espero sinceridade da outra pessoa. E eu vi a preocupação com que voce abriu este pacote e retirou este saco preto. Quero que seja honesta comigo, e me diga, o que tem neste saco, e por que ficou tão preocupada com a inspeção.”

A maga estava séria, mas o tom de sua voz era de alguém prestativo.

Ellywick fica seria logo após ouvir Ergo, ela sente o golpe no seu coração pois já tinha começado a gostar de maga de verdade.

- E eu fui sincera com você sempre. Eu não sei o que aqui nesse saco, um amigo meu pediu para eu levar ele até um outro conhecido dele aqui na Benalia - Elly parou por um minuto e contou toda a sua historia envolvendo Barbara e a perseguição a nobre fazia sobre ela, assim como sua fuga para Nova Karzek.

- É isso Ergo. Olha eu gosto de você realmente e quero que algo realmente seja construido entre nós. Não estou escondendo nada de você - Diz a cleriga um pouco cabisbaixa.

Ergo ouve com atenção a historia contada por Elly, sem interrompe-la com perguntas. Ela apenas acena com a cabeça, os lábios contraídos. Ao final ela se aproxima, e coloca a palma de sua mão na face da gnoma, uma mão quente e confortadora. “Acredito na sua sinceridade. E se eu fui dura, é por que eu me importo com você. Nova Karzek pode ter mudado, mas não há perdão para aqueles que não seguem as leis. E se o que estiver carregando for proibido? Sera voce que será presa, não o seu amigo.”

Ergo beija Elly, em um contato breve dos lábios. “Nós duas sofremos muito, e não quero correr o risco de perder voce, agora que te encontrei.”

Ellywick suspira com o beijo que recebe de Ergo.

- Também não quero perder você. Fico realmente dividida sobre o que fazer, não quero ser traidora, mas também entendo que no final quem vai se dar mal sou eu. Eu vou abrir o saco preto e ver o que tem dentro, ai saberei se devo largar-lo ou não. O que você acha? - pergunta a gnomo para a maga ainda segurando a mão da mesma.

Ergo, com um olhar de simpatia, acena com a cabeça. “Faça o que deve ser feito.”

Novamente Elly pega o pacote, abre e tira o saco preto. Desata o nó da corda que o prende, e coloca sua mão dentro dele. Neste momento sente um frio percorrer sua espinha, quando percebe que aquele saco era muito maior por dentro do que por fora, que aquele saco continha muito mais coisa que o tamanho dele poderia comportar. Tateando, percebe a empunhadura de uma espada e o fio de sua lamina, a cabeça maciça de ferro de uma maça, o visor de um elmo. Armas e armaduras de um arsenal de guerra.

Ellywick sente uma gota de suor gelado descer pelas suas costas. Aquele saco continha um contrabando militar, provavelmente para armar alguma tropa dentro do reino de Nova Karzek. O que iria fazer? Trairia o seu amigo e seja lá quem estivesse esperando aquela carga? Ou se colocaria na linha de fogo por um conflito que nunca tinha concordado em participar?

Passou a mão no rosto nervosamente confusa. Era uma decisão difícil de fazer. Sentiu o seu coração pesado, mas fechou o saquinho de novo e o deixou no chão. Voltou a olhar para Ergo e afirmou:

- Não vou pagar o preço por um conflito que não é meu.

A caravana de mercadores da qual faziam parte Elly e Ergo havia parado na grande fila indiana que tinha se formado diante do posto de inspeção da cidade de Astrakhan. Viajantes e mercadores de vários locais de Dominus reuniam-se em pequenos grupos para conversar, alguns em línguas que a pequena gnoma não era capaz de compreender.

Ergo, que estava apoiada na lateral de uma carroça, aponta para o saco negro que Elly tinha deixado no chão e vai direto ao ponto. “Muito bem, e como você pensa que vai despachar este objeto? Vai simplesmente deixar no chão para que qualquer pessoa possa encontrar?”

A necromante casualmente olha para os lados, e ao cruzar o olhar com outros viajantes, percebe que os mesmos abaixam os rostos. “Querendo ou não, nós duas chamamos atenção, assim como este saco preto... Embora vários desses sujeitos não estejam interessados no objeto, e sim em nós, eles vão fazer a ligação, se alguém perguntar...”

Elly ouvindo o conselho de sua namorada vai até o lugar aonde tinha deixado o saco preto e o pega retornando depois para o lado de Ergo.

- Então não sei o que fazer mais meu amor. Estou perdida - Afirmou ela botando o saco preto dentro do saco original.

Vendo o estado de desolação da gnoma, Ergo se aproxima e se agacha, ficando na mesma altura que a companheira. Ela apoia a mão direita na face de Elly, passando os dedos por baixo dos cabelos, tentando conforta-la. “Ei, ei, não fique assim, deixe comigo. Vai dar tudo certo. Vamos passar por este problema juntas, até o fim,” diz, com a voz serena, mas forte.

O tempo passa, e o momento da decisão se aproxima. Logo chega a vez das duas passarem pela inspeção individual. Depois que Ergo declarou que estava acompanhada por Elly, as duas foram dirigidas para uma comprida mesa, onde do lado oposto ficavam os inspetores, três hobgoblins que examinavam os pertences trazidos pelos viajantes. Um deles olhou para as duas e disse, com voz grave: “O que vocês tem para declarar?”

Ergo olhou de relance para a gnoma, e então disse: “Sou Ergo Proxy, moradora de Astrakhan, tenho residência fixa, e estive em viagem para resolver problemas de família em Galia. Além disso vim acompanhar minha amiga, de nome Ellywick, vendedora de armas.”

A necromante sorri para Elly, como se dissesse, “sua vez.”

- Obrigado por me introduzir, Ergo - Ela dá uma risada ironica - Ela na verdade está timida pra dizer a verdade, nós na verdade estamos namorando. Sim sou comerciante de armas, vim estabelecer o meu negocio aqui para morar perto de Ergo.

Ellywick pega o saco no qual estavam as armas e põe em cima da mesa.

- Aqui está o meu pequeno estoque que eu trouxe para dar um inicio nos meus negócios. Não reparem não, mas a bolsa é magica. É meio dificil um gnoma trazer esse peso todo no muque, né? - sorri ela.