O barulho do impacto daqueles que estavam congelados no ar contra o chão desperta-me para a realidade, as pessoas iriam despertar a qualquer instante e poderiam ver aquela estranha cena. Imediatamente jogo Don. Pietro contra uma das janelas do prédio mais próximo. Um padre de armadura flutuando no ar traria uma atenção indesejada. Minha mente estava em choque não apenas com tudo o que passamos e com a situação que acabávamos de enfrentar como também com minha própria atitude. Eu havia mandado alguém para a morte sem pensar duas vezes, mesmo sabendo que aquele ataque não era sua culpa. Olho para o estranho que salvou minha vida ainda no chão e sem pensar claramente me aproximo e toco em sua mão tentando curá-lo.
[off]Dado para Restauração[on]
[roll=“d20”]1[/roll]
Obrigado.
O primeiro grito de horror é ouvido seguido inúmeros outros. Eu dividia do mesmo horror que aquelas pessoas diante a tantas mortes. Embora eu tivesse um temor a mais: Que descobrissem nossa participação naquilo. Levanto e olho diretamente para Lara enquanto digo:
Precisamos sair daqui.
Com a queda da adrenalina após a derrota de Oze comecei a sentir os efeitos do frio, do cansaço, da falta de sono e da fome. Provavelmente havia um pouco de angustia e medo naquelas aquelas poucas palavras que acompanhadas de um olhar um tanto perdido mostravam como minha mente estava confusa. Eu tentava reorganizar aquelas informações e sentimentos, mas havia uma enorme diferença entre ler sobre criaturas em um livro e enfrenta-las. Em ler a descrição do Abismo e estar lá. Em pensar que aquele dia começou com uma simples busca a um livro. Busca pela qual se quer pretendia participar ativamente. Eu havia ido ao encontro de Lara apenas para repassar a informação, mas foi quando os meus problemas pessoais se misturaram com os da ordem e tudo tomou um rumo descontrolado. Irônico que um objeto inanimado pode causar tanto estrago nas mãos de alguém inconsequente ou com propósitos obscuros. A energia voltava ao normal e o telão da Times Square começa a transmitir normalmente. Em um gesto automático viro-me para o telão e começo a escutar as palavras da repórter.
Embora soubesse que aquelas palavras eram referentes a um filme qualquer, elas me fizeram lembrar porque eu não havia desistido até aquele momento. Fizeram com que me lembrasse de minhas próprias crenças. Eu nunca acreditei no poder divino ou demoníaco, mas sim no poder de nossas ações. Os outros quatro ataques chamam minha atenção. Tento reparar suas localizações. Em seguida olho ao redor e não vejo mais sinais de Ohr ou Rosiel. Aproximo-me de Lara e tento tomar cuidado para que ninguém além dela fosse capaz de me escutar.MindGame escreveu: Sophia Lazarenko - (...) talvez, no fim de tudo, o mais importante seja acreditarmos em nós. Que depende de nós melhorarmos este futuro. Acreditarmos que ele não é imutável e não engolir esta premonição apocalíptica como certa e concreta. Podemos mudar... e basta que tenhamos esperança em um mundo onde possa sim existir pessoas boas, pessoas capazes de mudar a realidade e até mesmo mudar o futuro. Pessoas capazes de criar, se não para nós, mas para nossos filhos e netos, um mundo favorável, onde as condições climáticas, religiosas, tecnológicas e biológicas não pareçam estar agindo contra a humanidade, mas em nosso favor. É um mundo pequeno, afinal de contas."
A barreira entre a Terra e o Abismo... foi enfraquecida e precisa ser restaurada... antes que novas fendas apareçam... Nos precisamos... avisar alguém.
Eu estava profundamente cansada, isso agora mostrava-se em minha voz. Claramente eu permanecia confusa e assustada, mas não podia ignorar os riscos que ainda existiam embora a única coisa que desejasse naquele momento era voltar pra casa. Tinha certeza de que não aguentaria permanecer de pé por muito mais tempo, portanto eu precisava ao menos avisar alguém. Todo aquele desespero e toda aquela raiva que estava sentindo me fez lembrar do meu último ano em Portland.
Não consigo parar de olhar ao redor. Olho para cada uma daquelas pessoas mortas. Apesar de não poder ver aquelas que sobreviveram sabia que por trás de cada grito, em todo lugar, havia um rosto aterrorizado. Eu sabia a pergunta que, até as pessoas que não estavam ali, fariam por muito tempo após esse maldito dia: “Como seguir a diante após a perda? Após tanta dor causada por um ato cruel e injusto?” Mas aquilo era muito pior do que qualquer coisa anterior. Elas jamais tiveram se quer a chance de defender-se. Eu estava horrorizada como nunca estive. Completamente entregue ao silêncio mesmo diante a tanto barulho.