Vau Ashaben - A Grande Final do Torneio

O feral apenas olha surpreso para Janus. Será que eu estraguei vindo até aqui? Ainda pensava que Janus nutria pensamentos românticos com a moça e esta atitude não ganharia muitos pontos. Já havia pensado muito a frente, quando no futuro, iria realizar a cerimônia de casamento dos dois, após o torneio...

Mesmo assim ele se vira para o Glambur.

- E os outros competidores? Mais algum?

Grimlock tenta afastar Glim de Janus e Léya.

- O único outro competidor que eu vi lutar no torneio foi o bárbaro... - diz Glim, respondendo a pergunta do feral. - Eu esqueci o nome dele, mas nunca vi um oponente tão desafiador. Nenhum de seus oponentes duraram mais do que alguns segundos. Ele é terrível, mas nada para grandes competidores como vocês o temerem.

Já Léya se vira para Janus e diz:
- Por mim tudo bem. Vou voltar para Cervo Branco e amanhã a gente conversa.

Léya então sai caminhando pelo caminho de volta à estalagem. Glim se vira para os outros dois, surpreso pela reação da garota.
- Espero que isso não tenha sido minha culpa... Eu normalmente não sou uma má companhia, pelo menos não até a minha Arte aprontar alguma.

Janus se despediu de Léya com um aceno de cabeça. Ao ouvi a pergunta de Glim, Cenwyr balança a cabeça numa negativa.

- Não foi culpa sua, Glim. - Janus pensou em continuar e dizer sobre Arthminos, mas preferiu descobrir se Glim o conhecia. - Me diga, gnomo, você conhece o barão Arthminos? Ao que parece ele é o nosso guia e bobo da corte enquanto aguardamos a final do torneio.

- Não conheço esse barão de que o senhor fala, Janus - disse Glim. - Mas eu não curto muito os barões, essa coisa toda de nobreza e glamour. Mas por que pergunta a minha humilde opinião, senhor?

- Apenas curiosidade. - Janus imagina que Alfador ainda demoraria um pouco para voltar, já que ele sempre se distraia pelos caminhos, e decidiu extender aquela caminhada, mas desejava fazê-lo sozinho - Me desculpem se isso soará rude, mas eu desejo caminhar um pouco mais pela cidade, para conhecê-la melhor, mas desejo fazer isso sozinho. Tenho alguns pensamentos à organizar.

Janus cumprimenta Glim e Grimlock e segue pela rua em que estava e vira na próxima que surgir, para sair da vista do dois. Cenwyr caminhará até a noite ficar fria demais e então retornará ao Cervo Branco para um bom banho e o merecido descanso.

Grimlock ficara pensando se por acaso Janus não combinara com Léya escondido de se encontrarem em outro lugar e abre um sorriso quando se despede do mago com aceno de mão.

- Não vá exagerar, Mago.

O feral também não tinha mais o que fazer ali. O Gnomo era boa companhia, mas não queria mesmo entrar numa taverna com um desconhecido. Assim sendo também se despede.

- Vejo que esta também será a minha deixa. Ainda não fiz muitas coisas que queria ter feito. Vou me acomodar e me preparar para o que deve vir.
Nos vemos depois então, Mestre Glim Glambur.

Grimlock vai para a estalagem e depois para seu quarto. Lá dentro ele começa o ritual de consagração daquele lugar. Como não sabia quanto tempo ficaria nesta estalagem e certamente não havia templo de bahamut na cidade, ele pensava em criar um local que pudesse servir de oratório ao seu Deus. Ele improvisa um criado mudo, mesinha ou algo parecido para criar um oratório e coloca em cima uma imagem de Bahamut. Abençoa um pouco de água e a coloca também sobre o altar improvisado. Depois da consagração ele reza a oração das vésperas e então desce para comer. Se serve de muita comida e nenhuma bebida, tudo abençoado. Ouve quem quiser sua atenção e vai dormir cedo. Pretende acordar bem cedo e rezar num lugar calmo e bonito, obra de Bahamut.

O gnomo Glim Glambur se despede dos dois competidores com uma nova reverência, e a seguir ele se retira para a estalagem a qual estava hospedado. Já o mago Cerwyn aproveitou para conhecer o resto da aldeia enquanto seu gato não voltava. Ele viu um humilde santuário dedicado à Chauntea e administrado por uma sacerdotisa de nome Jhanira Barasstan. Cerwyn conheceu também o quartel general dos Cavaleiros do Vale da Névoa, um templo dedicado à Tyr e bem maior do que o de Chauntea, o único moinho de Vau Ashaben e várias casas de comércio e trabalho honesto. Alfador enfim retornou e Janus pôde saber que o barão Arthminos havia de fato ido para a casa do Alto Conselheiro do Vale, a maior das residências de toda a aldeia e que ficava em lado oposto da Estalagem Cervo Branco. Ao se aproximar do local, a cantoria e as sombras de pessoas dançando dava a noção da festa que estava ocorrendo no interior da casa.

Era madrugada quando Janus voltou para a estalagem dos competidores e pôde descansar em seu quarto, um quarto espaçoso e com algum luxo. Na manhã seguinte, tanto ele quanto Grimlock acordaram cedo e dispostos, mas foi Janus que viu que havia algo na soleira de sua porta. Parecia ser uma carta.

Janus acorda, agradecido pela boa noite de sono, e vê a carta, curioso. Sua curiosidade apenas aumenta quando ele vê quem a enviou. Com calma, atenção e um certo receio, Cenwyr corre seus olhos sobre o conteúdo da carta e sorri da ironia das palavras, se aquilo for verdade. Janus dobra a carta e se acomoda na escrivaninha de seu quarto, estudando seu grimório pelas primeiras horas da manhã, com Alfador em seu colo, se preparando para a grande final. O mago já pensou em um ás, mas ele é arriscado. Uma falha e a vida do mago correrá grande perigo. Cenwyr decide arriscar, e passa uma longa hora meditando sobre os ensinamentos dos dragões na voz de Esseanthalyx, afim de manter tudo fresco em sua memória. Quando termina, Janus guarda a carta entre as páginas do grimório e o guarda.

Depois de estudar por tempo suficiente e da sua meditação, Janus desce para o desjejum, cumprimentando ninguém além de Grimlock e Léya, e talvez Glim Glambour, se o gnomo estiver por lá. O mago chama o atendente mais próximo e faz seu pedido com uma voz monótona e grave.

- Pão, frutas e um prato com leite.

Grimlock acorda cedo e procura um lugar bonito. Algum lago, uma trilha de montanha, algo semelhante. Então passa as Horas da manhã bendizendo Bahamut que lhe dera a graça de se tornar seu servo. Pede pela conversão dos hereges, sobretudo Janus que havia se tornado um objetivo pessoal. Pede pela segurança do torneio e pede forças para defender os oprimidos.

Depois retorna a estalagem e pede um desjejum apropriado.

O taverneiro preparara o desjejum de todos os nobres competidores do torneio, afinal a estalagem toda estava reservada a apenas aos oito finalistas. Eles tinham, portanto, um tratamento especial, e podiam pedir quaisquer serviços a qualquer momento do dia (Janus havia ouvido o grito de Léya pedindo uma bacia de água para se banhar logo cedo naquele dia).

No refeitório, sentavam numa mesa Janus e Grimlock, enquanto numa outra qualquer estavam Blankór, Zankharom e Serynden. Aparentemente o bárbaro e o elfo conseguiram trazer o minotauro para o lado deles, o que era uma notícia um tanto alarmante, especialmente para Cerwyn. Já Léya provavelmente ainda estava se banhando em seu quarto, enquanto Sir Haffin entretia-se numa conversa animada com o taverneiro no balcão do Cervo Branco. As duas mesas foram servidas e os competidores sentados nelas se deram a comer. Sir Haffin bebia apenas uma taça de vinho no balcão enquanto continuava a contar suas histórias.

Neste momento a porta da estalagem foi aberta e entrou por ela um senhor de idade, mas respeitável. A julgar pelas suas vestes, só podia se tratar de Théckon, o oitavo e último finalista do torneio. Era evidentemente um mago.


Theckon entrou e limpou suas longas vestes, pois só agora ele reparara em como elas estavam sujas.
- Desculpem o meu atraso - disse -, tive que fazer uma viagem urgente para o Vale da Cicatriz. A situação anda crítica por lá. - Ele cumprimenta o taverneiro e se junta no balcão ao lado do cavaleiro, e logo tratar de pedir o seu desjejum também.

Grimlock vê o homem adentrar o local e sabendo que era mais um competidor ativa sua habilidade para ver o mal no coração das pessoas. Ele olha para Janus e depois para o trio. Então ele mesmo se levanta e vai até o balcão onde estava Theckon.

- Bom dia! Que as bençãos de Bahamut o acompanhem. Gostaria de me dizer o que acontece no Vale da Cicatriz? Se preferir, gostaria de sentar-se conosco?

O Feral não estava acostumado a fazer isto, mas queria mesmo saber qual o problema.

Não havia maldade no coração de Theckon. Pelo menos o feral não conseguiu identificar alguma. O velho mago, diante do convite de Grimlock, pediu para que o taverneiro tratasse de levar sua comida até a mesa onde estava sentado Janus.
- O Vale da Cicatriz está sendo castigado há pelo menos 15 anos, quando o Lorde Aumersair quis ser tão ambicioso quanto o Rei Aencar - Theckon ia explicando a situação enquanto se dirigia à mesa. Chegando lá, ele cumprimento Janus com apenas um gesto de cabeça, puxou uma cadeira, sentou-se e continuou a história. - Vocês certamente devem conhecer Aencar, o Rei do Manto, o primeiro e único homem a conseguir a união de todos os Vales. Isso foi há mais de três séculos atrás.

Theckon apoiou seu cajado na parede antes de prosseguir.
- Como ia dizendo, o Lorde Aumersair tentou repetir o feito de Aencar. No início ele teve algum êxito, dominando o Vale do Rastelo, o Vale da Pena e por um curto período de tempo, o Vale da Batalha. Mas então uma aliança inesperada dos vales restantes pôs fim a sua ambição, e ele perdeu a guerra. Por consequência disso, o Vale da Cicatriz passou a ser ocupado por forças de Cormyr - que haviam ajudado a aliança dos Vales a combater o lorde -, Sembia, e de alguns outros vales, além de sofrer também com a ocupação do Forte Zenthil. Como se não bastasse tudo isso, uma praga terrível se acometeu sobre o Vale da Cicatriz, adoecendo e matando seus habitantes. Mas o pior de tudo é que boatos nas bocas dos tolos contam que a herdeira "de direito" da família Aumersair é uma campeã dos Zentharim, o que pode desencadear em alguns problemas caso ela surja para assumir o seu lugar, que segundo dizem, é merecido.

Janus retribuiu o cumprimento do homem com outro aceno de cabeça e ouviu seu relato com um certo interesse. Se a praga que se alastra pelo Vale da Cicatriz chegar até outros Vales, e se a gravidade da doença for grande como o velho mago insinua ser, pode ser um período triste para os povos da região. Cenwyr tinha apreço por poucas coisas, e as Terras dos Vales eram uma delas.

- Dias negros, de fato. - Janus havia pedido algumas frutas para comer, a agora apreciava o sabor de diversas frutas vermelhas - Não acredito que seja mais grave do que uma herdeira Zentharimm, mas esta praga que assola o Vale da Cicatriz é uma ameaça mais imediata. Se ela se espalhar pelos Vales muitas pessoas morrerão. Ainda não encontraram uma forma de conter os sintomas?

- Os sacerdotes locais ainda não tiveram êxito nisso - responde Theckon. - Em questão de poucos dias, o metabolismo da pessoa para de funcionar corretamente e ela vem ao óbito. Alguns acreditam que se trata de uma praga mágica lançada por alguma bruxa dos Vales ou por algum mago cruel como um necromante. Bobagem dos tolos. Fui lá e não detectei nada que pudesse ser relativo a magia. - O velho mago começou a comer o ensopado de legumes que pedira ao taverneiro. - Mas me digam, como andam as coisas por aqui? Novidades? Problemas? Acabei de chegar e ainda não estou totalmente inteirado com o que está acontecendo.

Janus, quando ouve a situação da doença no Vale da Cicatriz, não muda sua expressão a ponto de chamar atenção, mas fica preocupado.

- Talvez seja uma praga que esteja além da nossa capacidade saber a origem. - Cenwyr diz estas palavras com uma naturalidade um tanto assustadora - Quem pode saber quais foram os inimigos que Lorde Aumersair pode ter conquistado? De qualquer forma, espero que o erro de um tolo não seja motivo para a morte de todos os Vales. Espero que algum sacerdote encontre logo a cura.

Janus bebe um pouco de água e continua, respondendo Theckon.

- As coisas ficaram mais preocupantes. Ou interessantes, depende com que você está conversando. Como todos sabiam, apenas uma pessoa se consagrará vencedora do torneio, mas o que poucos imaginavam, e eu acredito que na verdade ninguém imaginava isso, é que apenas uma pessoa, em ambos os estilos, se sagrará campeã. Isso significa que haverá apenas uma grande e apoteótica luta final entre homens de arma e conjuradores, que ocorrerá amanhã, e o vencedor dessa luta será o grande campeão do torneio. - Janus levava um pedaço de queijo a boca quando complementou - Ontem nós também conhecemos um sujeito encantador, o barão Arthminós.

Grimlock ouve o relato e complementa:

- Um sujeito peculiar, Arthminos. No mais algumas alianças começam a ser forjadas, há pessoas de índole duvidosa aqui que fariam o máximo para trucidar cruelmente seus adversários competidores. O que você pensa disto?

O Feral ficara preocupado com a situação. Gostaria de saber quanto tempo levaria para começar a grande final, pois ali também haviam problemas. Queria partir para o Vale da Cicatriz.

- Você conseguiu observar o paciente zero? Algum familiar? Gostaria mesmo de ir até lá e descobrir se poderia fazer algo...

Onde será que andará o Barão? Tenho perguntas sem resposta...

- Já esperava por uma mudança nas regras do torneio - diz Theckon. - Para mim estava claro que apenas um podia vencê-lo desde o inicio. Caso contrário os representantes dos Vales deveriam entregar dois prêmios em dinheiro e dois títulos de "Campeão dos Vales", o que acho que não seria muito viável. A situação econômica dos vales não anda nada boa... - O velho mago suspira. - Os problemas são muitos, e não podemos solucionar todos. O barão Arthminos? Ah, eu já ouvi falar dele, mas não o conheci pessoalmente. Parece ser uma pessoa agradável.

Eles desfrutavam do café da manhã quando foi a vez do feral falar sobre os competidores do torneio e sobre a praga que se acometia no Vale da Cicatriz.
- O que seria trucidar cruelmente um adversário? Para mim seria vencê-lo no duelo, e se estiver dentro das regras, não vejo problema. Os sacerdotes deverão estar mais uma vez apostos para intervir. Pelo menos eu não espero uma luta totalmente limpa de meus adversários na arena, todos aqui estão em busca de um objetivo, de um prêmio maior, e cada um tem os seus motivos para agir como acham que devem. Em relação ao paciente zero, fica difícil discerni-lo exatamente com a velocidade com a qual a praga propagou-se. As suspeitas recaem sobre três pessoas: num menino, numa mulher de vinte e poucos anos e num senhor de idade. Os três se encontram em óbito.

Enquanto isso na mesa ao lado o bárbaro Zankharom ria escandalosamente após ter contado alguma história que aparentemente devia ser engraçada, já que até o minotauro sisudo abriu um sorriso cheio de dentes afiados.

- Eu não me importei com a mudança de regras - Janus falava enquanto bebia um pouco de água - mas com a forma como a luta final transcorrerá. Será um completo caos...

Janus estava satisfeito. Havia dormido e comido muito bem, aproveitando ao máximo a hospitalidade do Cervo Branco. Procurou por Alfador, para saber se ele estava bem, e voltou à conversa.

- Eu não desejo lutar contra Grimlock ou qualquer outro dos homens de arma, mas não tenho escolha, e isto me incomoda muito. Por outro lado, a final iniciou-se já ontem pela noite, com os competidores buscando alianças para resistirem por mais tempo na arena. O Campeão dos Vales terá que se provar uma pessoa com talento em combate como em diplomacia também, e isso é deveras interessante. - Janus olha para o velho mago e fala com ele com um leve tom malicioso na voz - Imagino que você lutará ao lado do minotauro na final, já que ambos representam a Cidade do Vale do Rastelo.

Grimlock compreendeu o que Janus estava tramando. Ele então se vira para o velho aguardando a resposta. Ela iria guiar toda a conversa a seguir...

- Não lutarei ao lado do minotauro a menos que essa seja a determinação do torneio. - O velho mago não parecia nutrir simpatias pelo Blankór. - Escolherei os aliados certos para estar ao meu lado na arena, aquelas pessoas em que se poderão confiar até o último momento. E o minotauro não me parece ser um desses casos. Na primeira oportunidade me dá a impressão de que ele enfiaria o seu chifre nas costas daquele que firmou aliança. - Theckon olhou profundamente nos olhos de Janus e Grimlock, um de cada vez, e falou em voz baixa. - Sei onde vocês querem chegar... Não é difícil perceber que dois grupos estão sendo formados. Um está aqui nessa mesa, e o outro está na mesa vizinha... - Ele olhou para a mesa do bárbaro, do elfo e do minotauro, onde os três uma vez mais explodiam em gargalhadas estrondosas.