Vau Ashaben - A Grande Final do Torneio

- Sinceramente, só me dei conta desta separação agora. - Janus olha de relance para a outra mesa - Mas não é sempre isto o que acontece?

Janus mantém o tom de voz baixo, mas sem sussurrar. Não queria atrair a atenção dos outros.

- Imagino que Zankharon mataria o próprio pai, de quem ele fala com tanto orgulho, para vencer o torneio, e também não tive muita simpatia por aquele elfo. Enfim, você é bem vindo para lutar ao nosso lado, Theckon, apesar destas alianças que estamos forjando serem no mínimo estranhas. Alia-se com alguém que deverá derrotar ao final de tudo.

Cenwyr disse as últimas palavras da melhor forma possível, pois não queria que o velho mago as entendesse de forma errada; elas diziam apenas o que pareciam dizer.

Grimlock também ainda não havia visto a separação, mas depois pensou um pouco mais. Faltavam competidores. Não estavam restritos àqueles dois grupos, possivelmente um terceiro já havia sido formado, a não ser que Léya e Sir Haffyn resolvam trabalhar solo...

- Não me entenda mal. Ambos queremos o título do torneio por algum motivo. Mas gostaria de manter a lealdade e honestidade como guia nesta empreitada.

- Ainda me lembro da luta que não houve entre você e Athannor, Grimlock. Pode acreditar que o eu mais desejo é não ter que me preocupar se terei um adaga em minhas costas na arena. - Janus bebe um pouco de água - Não me importo em perder, desde que seja o resultado de um duelo justo.

- Essa aliança invariavelmente será quebrada no torneio - diz o mago. - E não esperem de mim que irei aliviá-los quando isso ocorrer. Precisarei do ouro para realizar alguns projetos futuros...

A esta altura o grupo já havia tomado o café da manhã, e foi o tempo de Léya descer ao saguão, toda arrumada num elegante traje de aventureira que misturava rosa e vermelho em proporções iguais. Ela acenou para a mesa de Janus e dos outros, e sem dizer mais nada se dirigiu para fora da taverna, sorridente e com passos rápidos.

- Ela estará do nosso lado? - pergunta Theckon.

- Léya estará ao lado de Arthminos. - Janus não tinha maldade na voz, apenas falava sobre uma certeza que tinha - Ela ficou encantada com ele, e desde que o barão veio nos visitar e entreter ontem à noite, Léya não pensou muito na final do torneio. Pelo menos não é isso o que ela demonstra. Tenho certeza que ela está indo agora mesmo visitar Arthminos.

Cenwyr chama por Alfador no idioma único que os dois compartilham e se levanta.

- Senhores, com licença. Tenho assuntos a tratar antes que a luta final chegue. Nos vemos mais tarde.

Janus volta para seu quarto, pega algumas coisas e sai a cavalo pela cidade e além dela, a procura de um lugar reservado, longe de olhos e ouvidos curiosos. Encontrando um lugar, Janus se prepara e, desejando que tudo aconteça como ele imaginou, conjura uma magia que nunca precisou conjurar antes.

Grimlock acena para Janus. Depois ele também se levanta.

- Bem, acho que também é a minha hora. Gostaria de olhar o lugar onde acontecerá o torneio. Sabe onde será?

Dependendo da resposta, Grimlock vai até o local olhar para saber basicamente as dimensões. Depois vai tentar encontrar Arthminos para saber qual a data provável da final. E então vai até algum templo de aliado na região.

Grimlock sabia que o torneio aconteceria no dia de amanhã - pelo menos era o que o próprio Arthminos o comunicara - e já tinha visto a arena do torneio que ficava do mesmo lado do rio que a estalagem Cervo Branco. A arena era uma plataforma erguida a três metros do chão. Ela tinha a forma de um octógono (um lado para cada participante, talvez), e a sua extensão de um lado a outro chegava a ter uns 20 metros.

Janus, depois do café da manhã agradável com Theckon, se recolhera ao seu quarto, pegara algumas de suas coisas e se encaminhou para um bosque próximo - mas a uma distância segura - da cidade de Vau Ashaben. Lá, ele realizara a sua magia. Uma criatura, com uma armadura de placas ósseas amarronzadas e com protuberâncias em forma de esporas nas articulações e nos membros foi tomando forma na clareira do bosque. Ela possuía uma longa causa bifurcada, com duas lâminas ósseas similares a foices na extremidade, e suas asas eram pequenas mas musculosas. Muitos chifres adornavam sua cabeça, e os olhos vermelhos do dragão assustava qualquer um - menos Janus que estava acostumado a presença destes temidos seres de Faêrun.



Assim que invocado, o dragão balançou sua cabeça com as grandes presas a mostra para observar os arredores em que estava e ver se não havia inimigos por perto. Por fim seu olhar se deteve em Janus.

{Dracônico misturado com outros idiomas} - Invocador-de-Dragões - rugiu, e no balanço da causa fez um estardalhaço ao atingir uma árvore próxima. O mago sabia bem que esta espécie de dragões não era das mais amigáveis. Pelo menos o tamanho desse não igualava nenhum pouco ao de Esseanthalyx. - O que você tem para mim, invocador-de-dragões?

[dracônico]- Não sou nenhum invocador de dragões, sou um amigo e um aprendiz dos conhecimentos dos dragões. - Janus não estava nervoso pela presença do dragão, mas sim ansioso pelo que ele responderia ao ouvir sua proposta. O mago faz o possível para não demonstrar nada disso, respira fundo e continua - Meu nome é Janus Cenwyr Tia'Raeor, e gostaria de saber o seu nome e de lhe fazer uma proposta.

Cenwyr estava em pé, imóvel na frente do dragão, e havia dito para Alfador esperar a uma distância segura. O mago espera que o dragão lhe diga seu nome, ou não, caso ele se recuse, e faz sua proposta sem delongas.

[dracônico]- Amanhã, na cidade de Vau Ashaben, eu lutarei na final de um torneio que envolve competidores de toda a Terra dos Vales. Eu desejo sua ajuda para vencer esta final e conquistar seu prêmio. Como pagamento por sua ajuda, você poderá ficar com todo o tesouro do Rei Gigante Ruorkam, morto por mim e alguns companheiros à algumas semanas. - Janus retira um anel de proporções titânicas de sua bolsa, e o exibe ao dragão - Este anel é apenas um dos adornos que Ruorkan usava. Nós saímos de lá às pressas e todo o seu tesouro se mantém intocado. Além disso, se você for atento, notará que este é um anel mágico.

Cenwyr fez sua proposta sem pressa, falando com calma e clareza. Caso o dragão queira pegar o anel para examiná-lo, Janus não o impedirá, mas sim deixará que a criatura examine o anel o quanto desejar, e aguardará sua resposta em silêncio.

{Dialeto Dracônico} - Se eu o chamo de invocador-de-dragões, é por que você é um invocador-de-dragões - diz o dragão. - Sou Golrasdbadan, o Arrancador-de-Lamentos, e ninguém jamais chegará perto de minha altivez e soberania.

Janus não se impressionara: ele estava acostumado com o orgulho dos dragões. Golrasdbadan andou em passos pesados e impetuosos em direção ao mago e com as suas presas dianteiras pegou o anel do gigante, admirando aquele belíssimo objeto. Provavelmente o dragão já estava vislumbrando-o entre seu tesouro.

{Dialeto Dracônico} - Você disse que há um torneio? Se eu ajudá-lo a vencer, eu quero metade do prêmio, e nenhuma moeda a menos! E quanto ao anel, ficarei com ele como um pagamento adiantado só por eu ter vindo ao seu chamado.

[dracônico]- O prêmio do torneio são títulos e terras. Quer se tornar um lorde, Golrasdbadan? Possuir terras e servir à um lorde mais poderoso que você?

Janus sabia que não devia provocar estas criaturas como fazia agora, ainda estava com o orgulho ferido por causa da forma como Esseanthalyx o expulsara de sua casa, mas Cenwyr não estava disposto a dividir seu prêmio com um dragão como Golrasdbadan, que apesar de com certeza ser mortal em combate, não possuia um centésimo da graça e do poder do antigo tutor do mago.

[dracônico]- Se você não se importar com estas obrigações que acompanham o prêmio, eu o dividirei com você sem nenhum problema. - Janus continuava imóvel em seu lugar, sem vacilar perante a presença do dragão [dracônico]- Agora eu preciso voltar até Vau Ashaben e pensar em uma forma de levá-lo até o torneio sem violar as regras; conjurações são permitidas, mas nenhum tipo de criatura pode entrar comigo na arena. Você está convidado para vir comigo até a cidade, mas desde que possa assumir outra forma, é claro.

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O dragão vocifera como se tivesse sido insultado.
{Dialeto Dracônico} - Eu já possuo a minha própria terra, invocador-de-dragões! E nenhum título que esse torneio pode dar se equipara ao meu, o Arrancador-de-Lamentos! - Ele então aponta uma de suas garras longas a afiadas para o peito de Janus. - O trato está feito! Amanhã vou exigir o resto do tesouro do gigante, e espero que ele valha a pena. E não irei entrar na cidade suja de vocês! Ficarei sobrevoando por aqui mesmo até a hora do torneio.

Golrasdbadan então salta utilizando-se de seus poderosos membros inferiores e voa em direção ao céu celeste.

OFF:

Grimlock vê novamente a arena. Este lugar é muito pequeno, pensa. Ao menos, não haverá muito espaço para os trapaceiros.

O Feral passa o almoço em jejum em preparação para o dia de amanhã. No lugar da comida ele procura fazer algum trabalho de cura n'algum templo aliado da região, passa o tempo todo em oração conversando com Bahamut em seus pensamentos. Não havia hesitação, mas gostava de falar ao Deus suas aspirações e àquele dragão não saía de sua cabeça.

À noite janta bem e dorme cedo.

Janus sorri ao ouvir a resposta de Golrasdbadan.

[dracônico]- Nos vemos na final. Garanto que você terá algum prazer nesta luta.

Cenwyr retorna par Vau Ashaben com certo urgência, pois precisava descobrir uma forma de levar o dragão até a arena, já que conjurá-lo poderia tomar o tempo entre a vitória e a derrota ou, mais grave, entre a vida e a morte. O mago volta direto para o Cervo Branco, almoça um boa refeição, e se enfia nos livros e nos pergaminhos em seu quarto, ou em alguma biblioteca mágica, caso a cidade possua alguma e ele seja autorizado a usá-la.

Na manhã seguinte Janus voltará ao mesmo lugar para se encontrar novamente com Golrasdbadan para lhe dizer como irá levá-lo até a arena, e quando isso acontecerá.

Tanto Grimlock quanto Janus dormiram bem no Cervo Branco, e sem nenhuma novidade a mais para se preocuparem. No dia seguinte, logo cedo, o mago voltou para o bosque, onde chamou por Golrasdbadan, o dragão das presas. A criatura voava em círculos pelo céu azulado e sem nuvens - aparentemente sem se importar com vigilantes da cidade - e desceu até a clareira onde Janus o aguardava.

{Dialeto Dracônico} - O que você pensou, invocador-de-dragões? Você irá me invocar no meio do combate? - pergunta ansioso.

Janus acorda impaciente. Não havia pensado numa forma de conjurar o dragão sem que os magos à beira da arena notassem, e isso deixava apenas uma opção, que era, claramente, a mais complicada de ser colocada em prática. Como pude ser tão impulsivo? Bem, agora pague o preço por não raciocinar quando deve. Não desejando encontrar nenhum outro competidor, Cenwyr desce cedo para o desejum e parte para onde Golrasdbadan estava, deixando Alfador na estalagem. Chegando no bosque, Janus não se surpreende ao ver o dragão voando a céu aberto, sem se preocupar com quem pudesse vê-lo. Sem meias palavras, o mago diz ao dragão o que ele deverá fazer.

[dracônico]- Não irei invocá-lo. Haverá magos identificando cada magia que eu conjurar para se certificarem de que não haverá nenhuma violação das regras. Você irá simplesmente invadir a arena e atacar meus adversários. Sei como isso soa tolo, mas eu não encontrei uma maneira eficiente de levá-lo até lá sem despertar suspeitas. - Cenwyr faz uma pequena pausa, olhando profundamente nos olhos de Golrasdbadan - Eu quero deixar claro que você não deve atacar o guerreiro santo ou os dois magos que lutarão ao meu lado mais do que o suficiente para que sua chegada não seja vista com ainda mais suspeita, e lembre-se que se eu perder, você não terá nada.

Janus informa ao dragão a hora em que a luta final do torneiro se iniciará, e se Golrasdbadan não tiver nada a dizer, o mago retorna ao Cervo Branco e estuda seu grimório com calma, afim de fazer uma boa escolha de magias para a luta.

{Dialeto Dracônico} – Eu não sairei sem ganhar nada da arena, invocador-de-dragões! Eu já possuo o anel do gigante, mas quero mais! Está avisado, invocador-de-dragões! – e com estas palavras Golrasdbadan encerrou o assunto e deu às costas ao mago.



Trombetas não paravam de soar e as pessoas que vieram assistir a grande final do torneio dos Vales chegavam em grande número e aglomeravam-se ao redor da arena. Circenses foram contratados para entreter as pessoas com truques de malabarismos que envolviam tochas chamejantes, facas afiadas e argolas pesadas de ferro. Aprendizes de magos faziam objetos aparecerem e desaparecerem como um passe de mágica, e um bobo da corte era a alegria de um grupo de crianças que o assistia com os olhos vidrados e o sorriso aberto.

No lado direito da arena foi armado um campo de arco-e-flecha onde um torneio paralelo de arquearia acontecia. Qualquer um podia participar e havia uma longa fila de voluntários. Os alvos eram postos inicialmente a uma distância curta, mas a cada rodada eles eram afastados alguns metros para tornar mais difícil o desafio. O vencedor ganharia uma aljava com vinte flechas de prata. Um outro campo para um torneio de cavalaria foi armado próximo às tendas de várias cores e tamanhos que eram dos inúmeros curiosos que vieram de todas as partes da Terra dos Vales e além apenas para assistir a esta esperada final. Porém este torneio era restrito apenas àqueles que possuíam o título de cavaleiro, e o prêmio seria uma terra ao leste da cidade com algumas fazendas e um moinho.

As horas passavam cheias de expectativa. Por volta do alto sol, os grandes campeões foram chamados. Eles saíram da Estalagem do Cervo Branco em grande pompa, sendo ovacionados pela multidão que se acotovelava para vê-los melhor. Dezenas de guardas da cidade faziam uma espécie de barreira humana para protegê-los da multidão alvoroçada, e assim os campeões seguiram por um pequeno trajeto até chegarem à arena. De pé no alto de uma plataforma sobressalente, estavam alguns dos grandes líderes dos Vales. Como anfitrião, o Alto Conselheiro Haresk Malorn estava ao centro de todos eles, usando vestes que conseguiam ser elegantes mas ao mesmo tempo sem serem chamativas. O meio-elfo da lua, Theremen Ulath, estava ao seu lado direito com um sorriso amigável no rosto e distribuindo acenos para o povo. Do Vale do Arco, apenas um dos três regentes veio assistir à final: era a Espada Negra, que vestia uma capa preta com um capuz encobrindo seu rosto. Do lado esquerdo de Haresk, estava um dos sete que formavam o Conselho dos Sete Burgueses do Vale Rastelo. Era uma elfa chamada Sheera Folha Dourada, e ela estava entre as pessoas mais ricas - e por que não bonitas - de todos os Vales.  

Os campeões passaram diante dos quatro representantes dos Vales e depois subiram para a plataforma de três metros de altura que era onde o combate aconteceria. Em cima da arena estava o Barão Arthminos com a sua costumeira elegância e carisma. Ele tirou o chapéu com a pena quando os campeões subiram na plataforma, reverenciando-os, e depois tornou a colocá-lo sobre a sua cabeça. Ele agora olhava para a população à sua frente, enquanto os campeões se posicionaram às suas costas. Com a voz magicamente amplificada, ele começou o seu discurso.

- Caros cidadãos e cidadãs, senhores e senhoras, bons moços e boas moças, e todos àqueles que estão aqui neste exato momento para presenciarem um dia histórico! Vocês têm o meu agradecimento por terem esperado tão avidamente por este dia e por terem comparecido aqui para prestigiar os maiores lutares de toda a Faêrun! – as pessoas gritaram de entusiasmo. Acostumado com discursos, o barão Arthminos aguardou calmamente os gritos mais eufóricos cessarem para dar prosseguimento – Fico extremamente honrado em ter sido escolhido para fazer a apresentação de abertura do torneio, mas antes de dar seguimento a isto gostaria de falar sobre uma outra coisa, e peço desculpas aos representantes dos Vales por estar fugindo do roteiro.

Arthminos andou de um lado a outro em frente à sua enorme plateia, sem olhar para os governantes nenhuma vez para ver se eles aprovavam ou não, e começou a falar.

- Os prêmios em terras, moedas de ouro e títulos que o torneio dá são importantes, mas nada se compara a glória que o verdadeiro Campeão dos Vales alcançará!  A glória, por outro lado, é uma estrada de dois cursos, e se trilhada na direção errada pode ser fatal para quem a obteve e para àqueles que fizeram a sua fama. Meu bom povo, louvem o seu grande campeão pois ele merecerá ser louvado! Aplaudam e vibrem com ele, pois ele será uma figura importante e marcante para os onze vales! Saúdam o seu herói! - mas apenas se ele de fato for um. Não se ceguem por um título fruto de uma vitória na arena, não ovacionem o grande campeão mais do que for merecido e não aceitem qualquer coisa que lhes forem impostas. A fama exacerbada corrompe a alma até de quem possui o coração mais nobre! Eu sei que cada vale enfrenta os seus problemas particulares, mas enquanto o povo for unido por uma boa causa nenhuma vitória será impossível de ser alcançada! Mas se a causa não for tão boa assim... a destruição será rápida e completa. Era só isso que eu tinha a dizer, muito obrigado!

As pessoas não sabiam se era para aplaudir ou não. Arthminos não ficou nenhum pouco constrangido pela falta de reação das pessoas e retomou a apresentação de abertura do torneio.

- E agora chegou o momento de apresentar os competidores desta grande final, um momento que eu sei que foi muito aguardado por todos vocês! – o barão virou-se para os campeões e disse: - Quando eu os chamar, deem um passo à frente de mim e se apresentem para a plateia. – voltando a direcionar seu olhar para a multidão, ele continuou: - Para começar gostaria que vocês saudassem os campeões das Cachoeiras da Adaga, Zankharon e Léya!

O bárbaro avançou pela arena. Ele usava um largo peitoral de adamante – um material resistente encontrado em raríssimos meteoritos – e tinha uma espada de lâmina larga embainhada às suas costas. Sua cara não despertava nenhuma simpatia. Era um rosto feroz marcado por cicatrizes e com uma barba desgrenhada que descia alguns centímetros abaixo de seu queixo.

- Eu sou Zankharon, filho de Thankur e neto de Azrrazar, e o sangue de minha tribo corre quente em minhas veias! Já venci muitas lutas em minha vida, a prova disso são as cicatrizes que carrego, mas nenhuma será igual a de hoje! Darei o meu máximo na arena, morrerei se preciso for para dar a vocês o espetáculo que merecem! Deixarei os meus ancestrais orgulhosos, e isso é uma promessa!

Zankharon voltou à sua posição, e Léya avançou. Ela estava vestida com uma calça de couro e um casaco rosa, e piscou alegre para o barão Arthminos quando passou por ele. Léya então acenou para a multidão, mas não arriscou um discurso. Os próximos a serem chamados foram Blankór e Theckon. O minotauro adiantou-se arrancando comentários preconceituosos das pessoas.

- Blankór é o meu nome – o minotauro disse em seu parco idioma Comum. As pessoas começaram a vaiá-lo. – Estou aqui para conquistar esse prêmio e espero que ao final de tudo ainda possa brindar a minha vitória com o crânio dos competidores que eu derrotar.  – Ele recuou sob vaias e o mago aproximou-se.

- A vitória é tudo que eu almejo. Não pelas terras ou pelo título, e muito menos pela glória! Mas preciso do dinheiro e farei tudo o que eu puder para consegui-lo. – Foi até então o discurso mais fraco de todos. Muitos nem escutaram as palavras do mago. O barão então se apressou em chamar pelos campeões da Ponte do Arco.

- Eu sou Sir Haffin Dayan, e é um orgulho participar desta celebração. – O cavaleiro vestia uma armadura com ombreiras longas de prata e com o símbolo de Tyr o peitoral. Seu cavanhaque estava perfeitamente aparado como sempre e o cabelo longo amarrado num rabo-de-cavalo. Sua capa arroxeada que era prendida por broches nas ombreiras descia suntuosa quase até o chão. Parecia ser um verdadeiro herói saído das cantigas de crianças e das canções dos bardos, e ele foi o mais aplaudido quando se apresentou. - Farei de tudo para retribuir o carinho de vocês! - disse por fim.

Ao contrário de Sir Haffin, o elfo Serynden não disse nenhuma palavra e nem acenou para a plateia. Ele apenas se adiantou, encarou as pessoas e voltou ao seu lugar. Era agora a hora dos dois últimos campeões se apresentarem.
- Para fechar com chave de ouro o nosso time de campeões, gostaria de pedir para que os representantes de Lua Alta – Grimlock e Janus – dessem o seu passo à frente! – pediu Barão Arthminos.

Na manhã da grande final, Janus havia tomado o desjejum em seu quarto, afim de evitar distrações ou provocações vazias que só o irritariam. Alfador estava estranhamente inquieto, miando sonoro e incessantemente mesmo depois de Cerwyn ter lhe dado comida e água e aberto a porta do quarto, perguntando se ele queria sair. O gato só ficou em silêncio quando Janus deixou que Alfador subisse em seu colo, e foi assim que o mago revisou seu grimório e memorizou as magias que julgava importantes para o desafio que logo enfrentaria.

Antes de se arrumar para se encaminha para a arena, Cerwyn pega a cara que recebera do Barão Arthminós e vai até o quarto de Grimlock, batendo suavemente na porta. Depois de ouvir o companheiro dizendo para que entrasse, o mago não perde tempo com conversas.

- Bom dia, Grimlock. Espero que tenha descansado bem. - Janus estende a carta ao paladino - Recebi esta carta do Barão Arthminós e acredito que você se interesse mais por seu conteúdo do que eu. Talvez lhe dê algum sentido para lutar.

Sem nenhum desejo de uma conversa naquele momento, Janus volta para o seu quarto antes mesmo que o paladino terminasse de ler a carta. Alfador miava incansavelmente, o que irritou o mago enquanto ele se arrumava.

- Fique quieto!

Janus estava um tanto tenso durante o caminho para a arena e a tensão se transformou em ansiedade quando o mago subiu no tablado de madeira onde a luta aconteceria. As mãos de Cerwyn suavam e o mago mal prestava atenção ao que Arthminos falou depois de seu discurso inicial, correndo os olhos pelas pessoas que assistiam, pelos governantes, pelos homens colocados para fazer a segurança e, principalmente, nos magos que certamente estariam ao redor da arena. Cerwyn só voltou a si quando Arthminos chamou a ele a Grimlock para se apresentarem. Janus avançou com passos tímidos e ligeiros, acenou à platéia, fez uma leve reverência aos governantes dos Vales e retornou ao seu lugar.

Grimlock ouve Janus e permite a entrada. Recebe a carta e a lê. No fundo não era grande coisa. Ninguém queria permitir que alguém com más intenções vencesse o torneio. Até porque não poupariam esforços inescrupulosos para fazê-lo. Depois de ler ele desce e faz suas orações durante uma hora. Então faz o desjejum. E vai ao grande objetivo de seu dia. Precisava garantir que nenhum dos malignos saísse vitorioso.

Quando do chamado a apresentar, ele também não quis falar. Sabia da aversão a sua forma. Não era bem um igual ao povo, embora fosse sacerdote de uma divindade benigna. Deu um passo a frente fez uma vênia na direção da montanha gelada de onde viera e levantou o braço direito por um segundo. Depois voltou e fez uma prece mental. Tinha ciência da dificuldade do empreendimento.