Receber os pretendentes e aguentar os galanteios a todo momento era, de longe, uma das partes mais irritantes da vida da lady. Ainda assim, ela os tratava com muita educação e se saía muitíssimo bem na tarefa de mantê-los esperançosos de que poderiam casar-se e, com isso, herdar todas as terras e posses dos Goldwing. Ah, se ao menos soubessem a situação deplorável que a família se encontrava... De qualquer maneira, era seu dever ouvi-los e, o melhor de tudo, receber os presentes que traziam consigo. Disso não poderia reclamar.
O primeiro, Sor Codin Bryne, ou Senhor das Velas, um jovem magro de rosto ossudo e dentes protuberantes, embora não fosse dos mais desagradáveis que por ali passaram. Seus olhos pareciam muito gentis. Não lembrava de tê-lo visto antes das petições, então devia ser recém-chegado ao castelo. A julgar pela menção da Baia dos Caranguejos, era muito provável que o cavaleiro viesse por lá, talvez tivesse até algumas terras no local. Enquanto enchia Naehrys de elogios, seu escudeiro levou uma almofada com lindas joias douradas, e a julgar pela beleza, eram de puro ouro. A lady não pode conter o brilho no olhar ao vislumbrar as joias, elas certamente ficariam muito bem em seu corpo.
-Agradeço sua presença, Sor Codin Bryne, e também suas gentis palavras. São presentes lindíssimos, espero realmente estar à altura para usá-los. - Naehrys estendeu a mão para a almofada e passou a ponta dos dedos por entre os itens, em especial o prendedor de cabelo, que certamente ganharia destaque em seu cabelo louro-prateado.
"Riqueza e prosperidade da minha família, sim... Em outros tempos quem sabe, hoje Goldwing é uma casa decadente com um lord moribundo. Mas hei de mudar isto e exibir estas joias tal como Sor Codin mencionou", pensou para si mesma, enquanto tocava no prendedor. Com um sorriso sincero, ela voltou seu olhar ao cavaleiro. -
Senhor das Velas, é sua alcunha, não? Fico curiosa para saber o sentido por trás dela, creio que possamos trocar algumas palavras e me contar a sua história em algum momento. Seja bem-vindo a Pena de Ouro, permaneça conosco o tempo que achar necessário, Sor Codin. - dizendo isto, ela fez um sinal discreto para que o cavaleiro subisse e beijasse sua mão. O gesto não foi demorado, de forma de logo o segundo cavaleiro se apresentava.
Sor Darren Qorgyle, ou ''Cabeça de Ferro'', era um homem também jovem, mas de feições mais duras que o anterior. Sua barba espessa sugere que ele pareça mais velho do que realmente deveria ser. Sua voz, mais grossa, pareceu retumbar os elogios pelo salão, e Naehrys tinha que admitir que ele tinha certo charme. Assim como o cavaleiro anterior, ele devia ter recém-chegado ao castelo, pois a lady não lembrava de ter visto seu rosto antes. Como mencionava o Vale, certamente servia a alguma das casas do local, ou talvez também tivesse algumas terras, embora o nome Qorgyle remetesse a uma casa dornesa, de brasão diferente daquele que ele ostentava.
-Oh, esses devem ser os bardos que o senhor meu pai deve ter pago para exagerarem um pouco em suas palavras sobre mim. - Naehrys permitiu-se rir, sugerindo que aquelas palavras eram, obviamente, apenas uma brincadeira. Seu pai nem saia do quarto para comer, quem dirá pagar um músico para cantar sobre as belezas da filha a qual não amava. Ainda assim, daquela maneira a lady soava de maneira modesta, coisa que todo homem admirava em uma mulher de verdadeira beleza. E ela sabia que seu corpo e rosto de sangue Valiriano agradava imensamente aos homens, mas para mantê-los como admiradores, ela deveria parecer menos ciente de tal fato. -
Obrigada pela gentileza e pelas palavras, Sor Darren. Um vestido de Volantis, a primeira filha de Valíria, certamente cairá muito bem em uma pessoa com as feições de seu povo. Espero ser mesmo digna de tal presente, e que o senhor possa me ver usando-o em breve. - Falava claramente da sua pele branca, olhos púrpura e cabelo louro-prateado. Ela passou a mão pelo vestido, sentindo que seu tecido era mesmo nobre, macio e de grande valor. Com um sorriso, fez novamente um gesto discreto para que o homem se aproximasse e beijasse sua mão, como de costume.
O terceiro cavaleiro já era conhecido de Naehrys, não apenas pelo nome da casa Tollett, também do Vale, como por tê-lo visto nos corredores de Pena de Ouro, vez ou outra lançando seus galanteios à lady. Naehrys não era, nem de longe, boba. Ouvia os cochichos de suas servas sobre a beleza jovial do homem, e uma delas chegou mesmo a mencionar o que faria com ele se tivesse a oportunidade. É claro que Naehrys tinha ouvido esta última sem querer, enquanto caminhava pelos jardins, mas não pode deixar de sorrir com o comentário, mesmo não entendendo muito das "artes do amor".
Tinha que admitir, o rapaz era ousado, determinado e criativo, sua apresentação foi a mais diferenciada que Naehrys já tinha visto. A música desconhecida, não saberia dizer que tinha sido composta para a ocasião, ou se apenas nunca tinha ouvido-a. Ainda assim, juntou-se às palmas que seguiram ao seu término. Propositalmente deixou com que seus olhos ficassem marejados de emoção, e suas bochechas levemente coradas. Podia não entender das artes do amor, mas sabia muito bem as artes femininas.
Entretanto, seu coração parou por uns segundos ao vislumbrar o presente que o homem trouxera. Rosas de Inverno eram certamente lindas, e símbolo de amor e beleza. Contudo, também havia sido este presente de Rhaegar para Lyanna que dera início a uma sério de eventos que culminaram na Rebelião de Robert, anos atrás, período que os Goldwing começaram sua ruína. As palavras do homem eram muito bonitas e pareciam sinceras. Ainda assim, Naehrys levou alguns segundos para conseguir pensar em algo para dizer a ele.
-É uma coroa símbolo das pessoas mais apaixonadas, Sor Bruce, não há palavras que possam expressar como sinto-me lisonjeada com este gesto. É uma pena que esta demonstração de afeto tenha terminado de maneira tão trágica entre o príncipe Rhaegar e a senhorita Lyanna. - Naehrys deteve seu olhar na coroa de flores e, como havia feito com os outros presentes, tocou-a por alguns instantes, pensativa.
"Sor Bruce realmente sabe como agradar uma mulher, é uma pena que seja tão inocente a ponto de não se recordar as inúmeras tragédias que este símbolo trouxe...", Naehrys sorriu para o homem, sua expressão não traiu em nenhum momento os seus sentimentos. -
Agradeço sua presença, palavras e um presente que, mesmo singelo, carrega consigo tanto simbolismo. - Com o mesmo gesto discreto, ela autorizou que o cavaleiro se aproximasse e beijasse sua mão.
Com o fim dos galanteios, Naehrys dispensou todos os convidados, permanecendo sentada no cadeirão por alguns minutos, olhando todos saírem do recinto. Sabia que já passa da hora de ter um pretendente e casar, mas simplesmente não conseguia se satisfazer com as opções que lhes eram apresentadas ou lhe procuravam.
"Tolos homens, tudo o que querem é uma mulher bela para exibir junto com as posses de minha Casa... Minhas terras, minhas posses. Não aceitarei de bom grado que o nome da minha família se perca na história apenas porque eu nasci no sexo errado. Mas este é um mundo feito para homens... Devo apressar a minha ida ao Ninho e, posteriormente ir a algum torneio, de preferência em Porto Real. Não posso mais ficar sentada e escondida no Vale, esperando que um milagre aconteça.". Pensando nisto, finalmente levantou-se. Seu estômago se contorcia de fome, precisava abocanhar qualquer coisa. Depois iria visitar Cedric nas masmorras.
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