A aurora ergueu-se em tons de vermelho do horizonte infinito de árvores da Cidade-Labirinto, despertando os que dormiam e brindando os que permaneceram acordados com a visão do Sol coroado de esplendor do Sonhar. Todas as cores eram mais vívidas ali, como se o mundo fora daquele Reino estivesse constantemente velado por uma cortina de névoa. Porém, ainda não havia qualquer som ou sinal de vida naquela área onde sonharam estar em San Miguel.
- É melhor que não comam nem bebam nada. Na Corte de Danu, receberão hospitalidade. - Anoitecer Selvagem deu ao quarteto breves instantes para se arrumarem e então começou a marcha para fora do labirinto, parando de tempo em tempo para guiar-se pelas tatuagens que tinha no braço direito, desenhando símbolos no chão ou nas pedras ao longo do caminho.
Assim, deixaram San Miguel.
O guia mudou para a forma de lobo algumas vezes durante o trajeto, servindo como batedor e depois retornando ao grupo, para mantê-los na direção certa. Não a forma de homem-lobo, que Anoitecer Selvagem chamava de
Crinos, mas a forma de lobo em si: maior e mais imponente que os animais normalmente seriam, e com um brilho de inteligência no olhar, mas em tudo era como os lobos que haveria na natureza. Ou nos filmes. Se Guinnevere e Ana tiveram vontade de passar a mão na pelagem branca como a neve do lobo, ou de abraçá-lo como um grande bicho de pelúcia, disfarçaram bem. O Ahroun (palavra que parecia significar Guerreiro) mantinha-se próximo às moças, como se temesse mais por elas que pelos rapazes. Não que algum deles pudesse culpá-lo.
A manhã já ia pelo meio e a sede era um incômodo. Caminhando em bom ritmo através de caminhos que o lobisomem via na mata fechada, o quarteto de jovens Caçadores começava a lutar com a ideia de pararem para tomar café-da-manhã. Ao menos um gole de água! Mas Anoitecer Selvagem, estivesse em forma de lobo ou de homem, rosnava a mínima menção disso. Seguiram por mais algum tempo, imaginando que, se tivessem que andar muito mais, teriam que se livrar do Garou para não morrer de desidratação. O calor era úmido e pegajoso, em contraste com a noite fria que haviam atravessado, e com o clima desértico de San Miguel. O corpo de cada um começava a dar sinais de exaustão diante de tantas mudanças.
Foi quando Anoitecer Selvagem parou, diante de uma cachoeira:
- É aqui. - entrando na água e cruzando a cortina que descia em cascata, o Garou esperou até todos entrassem na caverna, que virava a direita e abria-se em uma visão magnífica -
O Trono de Danu.- TRONO DE DANU:
A luz brilhava com vagar em mil cores ao encontrar cada gota de orvalho, cada respingo d'água, como se o próprio ar fosse um prisma fantástico. Todo o cansaço e todas as dúvidas pareceram sair dos ombros de cada um, tornando cada passo mais leve, mais livre. Em seus corações, um calor confortável aninhou-se, e na mente nasceu uma pequena melodia dos murmúrios do vento nas árvores. Os pássaros e insetos furta-cor reluziam felizes pelos céus mais azuis já vistos.
- Meio de última hora, mas... tentem não olhar demais para as elfas. E dríades. E ninfas. Não sei quais são piores, que Gaia nos defenda. - Anoitecer Selvagem arrumou a postura, endurecendo um pouco o olhar -
E não mintam. Nem omitam. Nenhuma estratagema, mesmo pequeno, é tolerado por Danu. E ela sempre sabe.Ao longo do caminho, completando o cenário idílico, iam e vinham apressados criaturas humanoides belíssimas, em roupas vaporosas, a grande maioria com corpos femininos.
Elfas. Havia alguns que nitidamente eram a contraparte masculina, esses vestidos em couro batido ou placas de metal, com espadas e arcos a postos, e olhos brilhantes e ferozes.
Elfos. Todos eram bastante altos, sendo que a menor das mulheres élficas tinha a altura de Victor e os homens ultrapassavam Gerson por mais de uma cabeça. Ao contrário das histórias de Tinker Bell, nenhum tinha asas, nenhum voava, e nem eram pequenos e delicados. Mesmo as mulheres em suas vestes vaporosas eram longilíneas, flexíveis e fortes, o que demonstrava que aquela era uma raça de guerreiros.
Havia pequenos animais semelhantes a gatos alados e coelhos híbridos, além de lobos feitos de folhas e galhos que patrulhavam o perímetro ao lado dos elfos. Ao verem Anoitecer Selvagem, o Povo Belo o cumprimentava tocando a testa e curvando a cabeça, ao que o Garou respondia de igual maneira. Entre a população, começou a correr a notícia da chegada dos Caçadores, e sussurros em uma língua desconhecida acompanhavam o grupo a medida que avançavam.
Parada diante dos grandiosos portões do castelo que se misturava à natureza local, estava
Ela. Tudo que era bom e belo convergia para ela, vestida com uma levíssima túnica branca, quase transparente, que arrastava no chão como espuma do mar aos seus pés. Galáxias giravam em suas íris, que mudavam do verde das folhas novas para o castanho dos troncos mais antigos, em uma dança de cores vivas entre as estrelas que colidiam. Os cabelos, escuros como as asas da noite, caíam suaves ao redor da figura feminina. Como se todas as risadas mais deliciosas pudessem se transformar em uma cor: essa era a cor dos lábios dela.
Como a luz sobre as folhas das árvores, como a voz de águas cristalinas, como as estrelas acima das névoas do mundo, tal era sua glória e sua beleza. E em seu rosto havia um brilho esplendoroso.- Crois Oidhche - ela olhou para Gerson -
Triad Teine - ela olhou para Guinnevere -
sejam bem-vindos! Soidhne Gealach - ela olhou para Ana -
Gun Fhiosta - ela olhou para Victor -
o Povo os recebe! Corações ao alto! O Sangue das Profeciais está diante do Trono de Danu!Os elfos (e dríades... e ninfas...) ao redor vibraram por um instante e a Mais Bela Criação do Mundo sorriu, enchendo o coração de cada um de fogo:
- Eu sou Danu, a Primeira Elfa.
OFF: Trívia - as últimas frases em itálico são de autoria de J. R. R. Tolkien e se referem à personagem Lúthien Tinuviel.