Ao receberem a notícia de que a mestra branca chegara, Nadhull pede licença a mestre Fah, mas este diz que irá acompanhá-los em breve, caso não se importem. Ele ia só terminar alguns documentos e já iria à Sacratíssima.
Nadhull vai na frente. Niréia estava em um banco da Nave Sacratíssima, bebendo uma xícara de taúna. Sua pele parecia um pouco mais opaca que das outras vezes, e seus cabelos não viram escova hoje. Isto a deixava um pouquinho menos atraente, embora fossem apenas detalhes.
- Bom dia mestra! Bom vê-la novamente!
- Ah, teremos um bom dia, mas só depois desta xícara...
- Mm, se não estiver muito bem podemos...
Ela o corta.
- Nada que um pouco de energético não resolva. Fique tranquilo. Acabarei antes do outro aprendiz chegar. Sente-se!
Mais uma pessoa entrava na Nave Sacratíssima, era Mestra Gaíla. Ela se aproxima.
-Ah, que bom vê-los! Que possam receber minhas bênçãos e as de meu deus! - Ela diz colocando as mãos nas testas de vocês dois, com toda simpatia aquilo era espontâneo, e não uma formalidade, ainda que ritualístico. - Você deve ser a irmã de Níron. Seja bem vinda, considere-me uma irmã mais velha. Não deveria estar comendo ou bebendo na Nave Sacratíssima.
- Oh mestra! Mil perdões! Não quis ofender as regras do templo!
- Todo bem, é um delito de pouca gravidade. Pode terminar de beber agora que já começou, não precisa sair, mas saiba que não devemos nos alimentar nas salas de culto, principalmente NESTA. Sou Gaíla, mestre espiritualista. Não se incomodará se eu ficar? - Ela se senta.
- Jamais, ser-me-á uma honra. - Se estivesse de pé, Niréia provavelmente faria uma mesura, quando Gaíla se sente as duas dão as mãos por um momento. Gaíla tinha um poder incrível de criar simpatia instantânea. Niréia termina de beber em mais dois goles, não queria abusar da permissão dada pela mestre espiritualista.
Nergal tinha acordado antes do Primeiro Chamado, mas permanecera deitado, observando e acariciando o corpo de Tinafe. Quando o didgeridoo toca, ela faz careta.
- Vamos preguiçosa? É hora de acordar.
- Pro inferno com a hora. - Ela vira para o outro lado.
Nergal da-lhe um tapinha no traseiro:
- Quer que lhe traga uma xícara de café, ou de taúna, antes de procurarmos a mestra branca?
- Eu quero uma xícara de café COM taúna. Grande, quente e sem uma gota de açúcar.
- Não faz mal misturar os dois?
- Mal eu vou fazer se tiver de levantar daqui agora. Não esqueça: uma xícara GRANDE, ou melhor, uma caneca. SEM açúcar.
Ele sorri, se veste e sai do quarto, Tinafe continua na mesma posição.
Alguns artesões tinham vindo cedo ao templo, Nergal percebe como os reparos estavam adiantados, nem parecia que a apenas dois dias, boa parte daquilo era uma amontoado de pedras e ruínas. Ele procura a cantina do templo, e eles preparam uma xícara grande de taúna com café que ele pede. Andando pelos corredores ele encontra mestre Fah. Eles se cumprimentam, depois mestre Fah diz que era bom ver que já estava ali no templo, pois ia mesmo procurá-lo.
Nergal comenta sobre levar o energético para sua mestre, e Fah diz que vai esperá-lo na biblioteca.
- Não tenha pressa, cuide bem de Tinafe, mas me procure depois que ela estiver bem cuidada. - Ele mostra a sala onde estaria.
Voltando para o quarto, Tinafe se senta para beber, fazendo uma careta.
- Está ruim?
- Terrivelmente amargo, como deveria ser!
Ela toma devagar. Depois disto pede para Nergal ficar quieto mais um tempo, e parece se "retirar" para um estado meditativo.
Nergal fica quieto, sentado a seu lado. No começo pensou que era só um momento de meditação dela, mas começa perceber que ela irradiava uma leve onda na mana negra, deveria estar forçando o fluxo. Depois de um minuto Nergal percebe que seus ferimentos estavam clareando.
Eles não somem de vez, mas era óbvio que ela fez algo para acelerar o processo regenerativo.
Tinafe suspira, voltando à realidade. Nergal estava a seu lado, quieto, mas com cara de pergunta.
- Isto é algo de demônios. Podemos usar parte de nossa energia negra para acelerar alguns processos de regeneração celular. Creio que não funcionaria com você, mas de qualquer forma é algo que eu prefiro não ter que lhe ensinar tão cedo.
Ela acaricia o rosto dela. Ainda estava cedo, eles podem namorar uns minutos.
...
Depois de um tempo, novamente abraçados, Tinafe diz:
- Mestre Fah está na porta, deve estar te esperando.
- Você ouviu ele bater?
- Não, ele é discreto demais para nos atrapalhar, mas sinto vibrações de alguém parado, na outra parede. Este templo amplifica algumas coisas, isto até é algo que posso lhe ensinar depois. Creio que seja Mestre Fah pois percebo que são vibrações mansas, e por estar esperando calmamente apoiado na parede oposta a nossa. Vá, vou me vestir, depois encontro vocês.
Nergal abre um pouco a porta, de fato Mestre Fah estava encostado na parede do outro lado do corredor.
- A mestre branca está no templo. Não bati para não lhe apressar. Mas já que está livre agora, podemos ir?
Os dois começam caminhar até a Nave Sacratíssima, nisto uma humana aparece no corredor. Pele morena, não muito alta, como todos que andavam no templo, estava desarmada, embora usasse um tipo de enfeite nos dedos parecendo uma garra.
Ela falava alto, quase gritando, algo num idioma desconhecido (talvez de Akvlando, talvez de Gaja), ele só entendia a palavra "anjo" dita mais de uma vez. Ao chegar perto ela o rodeava, estendeu a mão num gesto de quem queria tocar-lhe as asas.
Desde que entrara em Dafodil, Nergal acostumou com os olhares de surpresa ou admiração extrema em todos. Era algo incomum quando alguém o via pela primeira vez e não demonstrava assombro. Em especial as crianças agiam mais tipo esta humana estava agindo agora. A maioria dos adultos porém parecia ter certo receio de se aproximar dele. Em uma das vezes (mais especificamente quando ele estava procurando mestre Josan a primeira vez) uma senhora que parecia escrava segurou sua mão, beijando-a e suplicando algo, mas a mulheres falava Tareno e Nergal não tinha como ajudar, mesmo se quisesse. (Não narrei eventos menores por não ter tanta importância).
Depois de passado o primeiro assalto emotivo da humana, mestre Fah, que estava apenas dando um sorrisinho, a cumprimenta em Moloke (Fah e Nergal falavam em Esperanto) provavelmente ele já a conhecia, assim como já deveria conhecer quase todos que já entraram naquele templo.