Invasão - Primeira lua nova - Terceiro capítulo

A sensação de formigar é por si só inofensiva e não é desagradável. Como perceber que algo tocou sua pele de leve. Mas o irraka consegue sentir o alarme que isso causa no elodoth. Francis estava mostrando um golpe para os outros. Shaw era a cobaia. Axel observava até então. Os três no quintal da casa. Marco assistia com uma limonada na mão. Judas via da janela dedilhando um baixo sem prestar atenção. Silvia, Emillie e Joe não estavam por ali.

O que Axel sentiu? Ele sentiu como se fosse afundado em um balde gelado de pânico. Sua mente lutou imediatamente para recobrar o controle e teve sucesso. Mas por um segundo ele percebeu seu território sendo violado e só poderia ser pior se fossem seus locis sendo violados. Algum uratha entrava sem avisar e ele sabia exatamente onde. Foi esse sentimento extremo que o irraka percebeu e mais ninguém.

Shaw sentia os músculos se forçarem contra o agarro de Francis. Ele tinha muito mais técnica do que parecia. Não era um molenga ou um sem jeito como podia parecer. Nem muito menos um selvagem. Francis estava ocupado demais para perceber o que acontecia com o elodoth.

Francis? Ele lutava com um Garra Sangrenta. Ninguém ia desistir. O irraka lutava quase em silêncio. Ele escondia a própria dor e escapava entre os dedos para enfiar um pedaço de braço ou perna ossudo numa das costelas ou no nariz. Ninguém facilitava nada pro herói ali. Suor no rosto. Uma mistura selvagem de sorriso e rosnado também.

OFF:

Os quatro seguem para o lugar onde Axel sentiu a invasão. Uma praça pública bem arborizada, sem ligação com a reserva. O esportivo é o mais rápido que eles tinham. Quando o carro finalmente para eles conseguem ouvir Marco chiar de tristeza. Ele dia alguma coisa em espanhol e da tapinhas animados no carro em todos os urathas perto dele. O garoto tinha adorado a velocidade perigosa que adoraram. Ele entende o seu papel e está olhando em volta bem atento, pelo menos ele começa a olhar assim que se controla.

Os lobos seguem o plano até o ponto exato da invasão. Nada. Ninguém ali é o uratha. Mas o lugar é cheio de gente. Pessoas curtindo um dia ensolarado. Eles andam e procuram até que Francis sente o cheiro de sangue. Um rastro fresco e recente. O cahalith lambe os beiços sem nem perceber. Ele sente o gosto do sangue no ar.

Um rastro assim é difícil de manter. Mas se eles pudessem provar o sangue aí sim não teria como perder esse rastro.

Marco não entende nada do Axel diz, mas os outros entendem. Francis mostrou o sangue quando o encontrou finalmente. Uma marca de dedo em um pedaço de concreto. Shaw e Francis provam o sangue. Os dois deixam o caçador primitivo seguir a presa, um jeito de rastrear que depende de sentidos muito mais poderosos que o olfato. Eles sabem a direção. Depois disso é impossível não seguir o caminho. Eles conseguem até saber quando a presa se afasta muito em algum angulo.

Os quatro vão a pé. No começo eles andam rápido. Depois?

A feira de rua é uma bagunça cheia de gente. Barracas, apresentações e gente de fantasia. Um flautista em um monociclo passa o chapéu na frente de Shaw. Axel não é surpreendido pela coisa toda. Ele sabe que tem produtores locais de cerveja ali. Pessoas competindo pela melhor torta, o melhor porco assado e a melhor fantasia. Não era um evento típico, era uma coisa recente onde as pessoas brincavam de fazer tudo como as pessoas faziam no passado.

Francis se pergunta o que diabos um uratha decente estaria fazendo ali. Ou pior, que tipo de perversão um Anshega poderia planejar sozinho ali.

@Faor @Bravos, espero que o Raciocínio do Franco seja bom. Se o cara tiver ali, isso deve dar bom.

    
       
       
    

Ficha

Conveniente demais. Justinho demais. Axel proclama o que tá na mente do pessoal, mas precisa se guiar melhor. Precisa de uma solução - Shaw, de olho no passarinho. - sussurrou e se afastou um pouco. Na segunda vez que o flautista de monociclo passou, Franco deu um empurrão nele em cima de uma das tendas. Pessoas já começariam a olhar e gritou - Puta que pariu!! O cara caiu aqui!! Ajuda o cara tá passando mal! - por dentro ria e por fora mantinha o olho afiado. Franco aposta que as pessoas "normais" vão se interessar por esse pequeno pico de caos que chama atenção. Eles se preocupam. Eles tiram fotos. Eles se interessam. Agora quem tem mais o que fazer, quem tem uma missão a fazer ali, talvez não.

"Punheteiro Fidaputa!" Uma pessoa empurra o cara do outro lado. "Sai de cima!" Uma voz feminina. "Olha o tarado! Olha!" Alguém gritava a uns três metros dali. "Minha perna! Ahhhhh Quebroou a minha perna!" Uma voz grave esganiçada com a dor ou medo. As rizadas e os gritinhos afogaram todo o resto. Uma pessoa empurrou Francis para poder filmar. Uma garota virou de costas para o caos e com a língua para fora tirou uma selfie.

Axel segue com Marco, esperando que ele dê qualquer sinal de que algo está certo.

Shaw segue andando para longe. Por alguns momentos ele fica sem visão dá feira porque outros prédios entram no caminho, mas ele nunca perde a presa. Nunca. Era impossível. Além disso ele sabe onde estão os companheiros de alcateia.

Marco se vira rapidamente e Axel acompanha os olhos dele. O elodoth procura na multidão mesmo sabendo que Marco estava errado. Ele estava olhando entre as barracas dos participantes. O olhar de Axel corre entre elas e ainda assim vê Marco sorrir. Era Olena que olhava chocada para a bagunça.

Francis segue direto olhando. procurando alguém focado. Ele sabe a direção do alvo e o procura na multidão empurrando e sendo empurrado. Um idiota qualquer com uma armadura papelão reclama atrás dele. Francis passa em frente a um balcão com armas artesanais. Um machado com nós esculpidos no cabo e com a cabeça em forma de onda chama atenção, a lâmina tem a borda afiada preta como carvão.

Shaw sente quando Francis passa direto do alvo. Algo estava extremamente errado ali. Shaw vê Francis de costa, Francis sabia que tinha passado, mesmo assim não via o alvo. Onde estava a presa. Shaw procura Axel e Marco e os encontra, mas eles também não acharam a presa. Axel procurando a multidão enquanto força Marco a se focar.

Os três continuam se aproximando. Mais. Mais. Mais. Francis e Shaw não conseguem acreditar que a garota loira, de um metro e vinte, e vestida de princesa rosa pode ser o alvo. Mas ela está no lugar certo. Axel não consegue ver os companheiros. Um cuspidor de fogo aproveitou o momento de atenção dispersa da multidão para brincar com fogo. Bem na frente deles.

Com o "alvo" claramente indicado e com Shaw se esgueirando para encontrar melhor forma de interceptá-lo, se necessário, novamente ele se afasta para um lado, fazendo um arco em direção da garota. "Princesa Rosa para o Lobo mal", pensou, rindo para si, indo até ela com seu gingado. A todos os fins, alguém desse tamanho, deve ser uma criança... então vai ter medo.

É o que ele espera.

- Olá garotinha. Tudo bem? - disse com seu sorriso, se agachando na altura da mesma - Belo vestido, minha filha tem um igual.

Ele caiu muito mais fácil que Axel esperava. Os gritos aumentam um pouco. Mas então o homem consegue por fogo em si mesmo com uma das tochas, ele parecia estar vestindo algo bem mais combustível do que seria seguro. Marco olha em volta e tenta acompanhar o elodoth. Ele não dá nenhum sinal de que viu alguém importante. Alguém uratha.

Os olhos arregalados da garotinha ganham um ar absolutamente aterrorizado. As palavras de Francis não eram literalmente agressivas e que seja dito que ele realmente tentou sorrir. Na verdade, ela deve ter fugido mesmo é do cara em chamas, não é? Mas ela correu e as pessoas correram e o irraka não deixou ela dar mais de um passo ou dois antes de ser arrancada do chão. O barulho das pessoas e algum idiota gritando números. A cara de perdido do Marco perto demais de uma pessoa em chamas.

O cahalith e o elodoth correm atrás do irraka, que carrega facilmente o invasor. A invasora.

Tem algo cômico e também um pouco trágico naquilo tudo. O irraka prendendo a garota de roupinha rosa na parede. No beco. Não foi fácil achar algo do jeito certo, mas os fundos de um restaurante tinha o formato certo. Discreto o bastante. Axel e Francis estão logo atrás vendo aquilo. Vendo a garotinha presa na parede com as perninhas agitando a saia enfeitada, vendo o irraka maior e mais forte do que era antes a prendendo com toda seriedade que tinha. Eles estão vendo a confusão estranha que está estampada na cara dele e o horror desesperado na garotinha. Axel vê os olhos dela arregalados escorrendo lágrimas. O rosto vermelho. As mãos se agarrando desesperadas ao braço do irraka com unhas pintadas de lilas. Axel sente um peso na barriga. Ele vê Francis se virando com a boca entreaberta e a mesma confusão que Shaw mostrava.

Nada além da surpresa faz eles serem lentos demais para reagir aquilo. A surpresa e o tamanho do inimigo. O dalu era pequeno demais. Selvagem como se nas garras da fúria mortal, se engalfinhando com o irraka. Shaw e Francis tinham percebido aquilo enquanto acontecia, a sensação de que o alvo não acompanhava a menininha do jeito que deveria. Mas estava tão perto, como podia estar errado? O alvo nunca ficou longe deles. Nunca. Agora o problema era algo muito mais estranho do que antes. Uma garotinha que só não estava gritando feito uma louca porque o irraka não permitia e uma bola de fúria e garras, que acabou de passar no meio deles, tentando assassinar ele enquanto gritava sem parar.

Por sorte alguém estava literalmente pegando fogo no meio de uma multidão.

- Oh porra... - Franco mistura o praguejar sincero com uma risada desengonçada diante da cena inusitada. O plano ia de mal a pior, como um sketch de comédia britânico onde ficava cada vez mais zoado: quando foi de lobisomens fodões caçando um invasor para fazer bullying com uma criança.

Francis andava devagar após Shaw pegar a garota e sentia o arrependimento compartilhado da equipe. Mas não estava errado, estava? O nariz não mentia. Entretanto, até mesmo a confusão serviu de algo: serviu de tirar o alvo do esconderijo. Antes que pudesse falar larga essa garota aí que vai pegar mal, Shaw é alvejado.

- Oh porra! - veio as palavras de novo. Shaw nem precisou dizer, o cahalith já joga o corpo para tentar aparar o vagabundo que foi de garras e abraça-lo e impedir mais estrago. Deve ser bem sem noção, ou então complemente louco para atacar urathas no seu território... Se bem, qual a diferença? - Cê é muito burro ou muito bravo muleque pra fazer isso!!