- Trilha sonora:
Era dificil imaginar o Arcanjo Gabriel como uma espécie de super soldado como o Capitão América. Via ele mais como um Dalai-Lama, mas agora tudo o que eu conhecia virou completamente do avesso, principalmente sobre mim mesma e isso era o mais difícil de engolir. Ainda assim, dava o meu melhor pra aceitar que minha vida não será mais como antes, na verdade, parece que minha vida nunca foi daquele jeito antes. Fiquei na tentação de perguntar se Denyel estava caçoando quando disse que o Arcanjo Uriel fica conversando com unicórnios, a aquela altura eu não duvidaria que ele dizia que anjos literalmente falavam com unicórnios que existiam em planos astrais.
Deixo Denyel falar sobre a tropa da linha de frente não poder ir para os lugares mais importantes, não tinha muito o que dizer sobre aquilo, se uma guerra estava sendo travada então era muito comum esse tipo de coisa acontecer. Tem que existir uma cadeia de comando, alguém precisa tomar as decisões difíceis, só esperava que nesse caso esses Superiores saibam o que estão fazendo. Atualmente eu não sei nem mesmo o que eu estou fazendo.
Depois de tudo explicado, ou pelo menos cogitado, eu fico sem chão. Me lembro imediatamente do meu trauma de infância, lembro que fui sequestrada quando criança e... Deus... não me lembro mais de muita coisa, só me lembro de ter sido resgatada pela polícia. Quase tudo da minha memória daquela noite foi apagada pelo estresse pós traumático e foi melhor assim porque foi o que me permitiu ter uma qualidade de vida normal dali pra frente, mas pelo que os dois Celestiais estavam dizendo, há muito mais naquela lacuna do que aparenta. Agora... O que mais me incomodava é que, pelo visto, eu não sou eu. Eu sou uma outra pessoa, uma criança, uma criança que era a verdadeira dona desse corpo, a verdadeira Rachel Arsem. Não dá pra esconder a minha cara vazia de quem não está engolindo aquela história numa boa. Eu não estou. Eu estava esse tempo todo vivendo a vida de outra pessoa? Andando em um corpo que não era meu, um corpo roubado, vivendo uma vida inteira que deveria ter sido vivida por Rachel Arsem, enquanto a verdadeira Rachel estava em uma espécie de purgatório, sofrendo a danação como na porra do inferno de Dante?
Eu olho pras minhas mãos e vejo que essas são minhas verdadeiras mãos e não as mãos que eu vi nos ultimos 20 anos. Minhas mãos puxam meu cabelo para trás, eu não soo, mas sinto que se estivesse no corpo de Rachel eu soaria com o nervosismo e a pressão subindo tanto que me daria vontade de vomitar.
- Preciso de um minuto.
Depois me corrijo.
- Não... Se a Rachel está em algum lugar, sofrendo, por minha causa, perdendo mais segundos preciosos dos 20 anos que ela já perdeu, então não tenho tempo a perder. Preciso tirá-la de lá e devolver pra ela o que é dela de direito e eu tomei.
Não dá pra esconder o meu pesar, meu sentimento de culpa, nem mesmo minha raiva.
- Elfon tem razão, saber disso foi uma verdadeira tortura, e agora eu tenho que dar o troco. Eu tenho uma arma, ela veio comigo do meu ultimo Sonho. Vou levá-la comigo e salvar a verdadeira Rachel. Eu... Só preciso de uma direção.
Olho para Elfon e para Denyel, esperando que eles me indicassem para onde eu deveria ir, por onde deveria começar, ou me dizerem o quão idiota e precipitada eu estava sendo por querer ir lá com uma arma metendo chumbo que nem o Rambo de baixo orçamento Celestial.