On:
@Nightingale
A noite havia caído há pouco na Baróvia. Um vento úmido e gelado anunciava um inverno que se pronunciaria pelos próximos meses, fazendo com que os aldeões, já naturalmente reclusos, buscassem ainda mais o refúgio de suas casas, suas portas e janelas fechadas.
O frio, todavia, não incomodava Ventress. Sua natureza peculiar já não a obrigava a respirar ou se alimentar das formas mundanas, e o precioso anel que trazia em um dos dedos saciava sua sede de sangue.
Isso fazia com que outras preocupações tomassem conta da mente da dhampir, enquanto descansava no seu refúgio mais habitual, uma pequena cabana escondida no limiar da floresta.
A lareira jazia apagada e fria, e não havia luz ali. Não era necessária, na verdade, e Ventress preferia assim.
Em suas mãos, havia uma carta.
Cipriano, seu amigo e mentor, tinha um selo inconfundível, e sabia como fazer suas missivas chegarem até a pupila sem que mensageiros fossem vistos ou percebidos. Aquele era um talento único!
Ao romper o lacre de cera e abrir o papel cuidadosamente dobrado, a heroína começou a ler:
Minha querida Ventress,
Temo que estejamos errados sobre os resultados de sua mais proeminente aventura. Há evidências de que Strahd, de alguma forma, conseguiu escapar. Ainda não sei bem o que possa ter acontecido, mas é imperioso que você me encontre! Há questões que preciso discutir pessoalmente.
Venha em sigilo, e aproveite as sombras. Os caminhos que cruzam o rio são os mais seguros. Não confie em ninguém!
Com carinho,
Cipriano
O mentor escrevia cartas, mas raramente usava esse tom urgente. Havia uma outra mensagem, cifrada, na carta, que apenas os olhos da patrulheira eram capazes de perceber, fruto de sua amizade com Cipriano.
A menção às rotas que cruzam o rio, na verdade, davam conta do paradeiro do subscritor. Ele certamente estava alojado em um refúgio alternativo e secreto, que ficava rio acima. A menção “com carinho”, ao fim da carta, também continha uma pista. Era um código para avisar sobre um perigo iminente, que não necessariamente o descrito de forma explícita.
Ventress fica intrigada. O que faria agora?
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@Drakon_drakonis
Merda!
Era tudo o que Drakon conseguia pensar naquele momento. Embora fosse um aventureiro experiente, o bárbaro tinha passado por maus bocados, ultimamente.
Recentemente, fora contratado por um elfo de carne mole para, com um grupo de nagas, viajar para o norte, próximo da Vila do Crescente, atuar como batedor de um batalhão de orelhudos.
O dinheiro era bom, não tinha como negar. E o serviço parecia fácil.
Pelo menos até que o pessoal do Crescente decidiu mostrar que era mais atento e bom de briga do que se supunha até então. As nagas não duraram nada, e o próprio Drakon só escapou porque… Bem, porque ele ainda é o Drakon, e devorar seus inimigos em combate tem um certo efeito intimidante.
Sozinho, contudo, o norfss era de pouca valia e, por mais que fosse competente, estava exposto. Aquele contrato já era. E o ouro que viria dele, também. Pior para o elfo gorducho.
O melhor a fazer era procurar outra cidade, outro contrato, e outra peleja. O bárbaro sabia que, ao norte, havia uma vila de humanos.
A verdade era que os homens não eram confiáveis, mas eram ambiciosos e tinham ouro.
Além disso, ter adotado o nome de uma lenda de tempos passados também tinha suas vantagens. De vez em quando algum tolo o confundia com “O Drakon”, e isso rendia dividendos melhores.
A dentadura (uma armadilha de urso adaptada por fora de sua mandíbula) e os dois escudos contribuíam para isso.
Desde pouco depois de sair do ovo, Drakon já ouvia as histórias de seu homônimo e sonhava em ser como ele, um drakonis das lendas. Quando escolheu seu nome, já sabia que queria ser aventureiro e o que esperava das aventuras.
Mas agora, todo cagado de sangue, com frio e sem contrato, precisava se virar. E a cidade dos humanos parecia a melhor alternativa.
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@Sandinus
Ninguém era tão inteligente quanto Bavalkhia.
Sim. Sim.
Ninguém parecia prestar atenção nela, também… Ao menos até que fosse muito tarde.
Outrora, a pequena urgrosh tinha cavado para si um lugar no mundo. Sobreviveu a um massacre quando jovem, dominou a magia e até aprendeu a servir a Mercius!
Sua astúcia a levou a vitórias memoráveis, e o destino quis que ela sossegasse e arrumasse um marido e um filho.
Dinheiro não era problema. Para quem é inteligente como Bavalkhia, conduzir uma casa de apostas lucrativa e próspera era algo quase tão natural quanto respirar.
E daí que era a goblina quem controlava todas as probabilidades, de um jeito ou de outro? Ninguém nunca descobriu! E o melhor ouro que tem é o ouro que está nas mãos certas - as de Bavalkhia!
Mas nem toda a inteligência do mundo ia salvar a casa de apostas depois que os malditos anões brotaram do chão, como formigas, e truciradaram todas as vilas e cidades em um raio de quilômetros do negócio da Seva de Mercius.
Sem gente para apostar, sem apostas. Sem apostas, sem ouro. Sem ouro, a casa de apostas perdeu o sentido.
Artocros, seu marido bonitão, carismático e cabeça oca achou que era uma boa ideia procurar entender porque os malditos anões estavam tão furiosos assim. Dragul, seu filho não-tão-bonitão, não-tão-carismático e muito-menos-cabeça-oca acho que era uma boa ideia acompanhar o pai, para que ele não se metesse em confusão sozinho.
A cidade mais próxima - e que ainda não tinha sido atacada - ficava cerca de 50km a oeste, uma distância que pés goblins cobririam em não mais que dois ou três dias, no máximo - considerando que Dragul e Artocros eram dois preguiçosos!
Já fazia um mês que eles estavam fora, contudo. Embora Bavalkhia não fosse de se preocupar, sabia que sem a sua inteligência para guiá-los, os dois podiam estar em apuros.
Ainda mais, considerando que a cidade mais próxima era lar dos humanos. Humanos não são confiáveis.
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@gaijin386
O destino, às vezes, pregava peças.
Sir John de Ouro Rubro, outrora membro de destaque da Companhia Mercenária de Zarallo, tinha sido contratado pela casa regente da Cidade Majestosa de Misthaven para uma incursão na Floresta das Lâminas, visando a verificar se a lenda de que o Globo de Kragooth estava em uma ruína, no meio da mata, procedia.
A destemida Companhia invadiu a mata, esperando encontrar elfos e djinns furiosos e fadas zombeteiras mas, ao invés disso, foi caçada por alguma coisa. Foi despedaçada. Destruída.
Nem mesmo o destemido Capitão Roderick escapou deste terrível destino.
Apenas Sir John, O Fracassado, como já tinha sido chamado em uma taverna por aí, tinha conseguido sair com vida.
E agora, cinco anos depois, lá estava o paladino, de volta a Misthaven.
A cidade não tinha nada de “majestosa”. De verdade, era uma vila fortificada com pouco mais de 10 mil habitantes, em sua maioria humanos, sujos e mortos de fome.
Aquele lugar - até o momento e segundo Sir John sabia - era o único assentamento em quilômetros que tinha sobrevivido a uma série de ataques coordenados e massivos de anões vindos das profundezas.
Talvez ela fosse o próximo alvo. Talvez, não. Quem poderia dizer?
O fato é que Misthaven tinha um problema.
A cidade era liderada por uma família nobre, os Godfrey. Atualmente, dois irmãos, gêmeos, Zoros e Zahra, seriam os sucessores naturais do regente Zael, um aristocrata moribundo mas bastante competente.
Além disso, Zoros tinha sido prometido em casamento a Alina, uma dama elfa de beleza singular, da Vila-das-Copas, união que selaria uma paz entre os povos.
Mas Zahra não estava feliz, e isso era público. Ele queria a mão de Alina para si mesmo.
Sir John era o único paladino com algum renome (ainda que de fracassado) naquela região, e tinha sido chamado a Misthaven para mediar a disputa dos irmãos - mesmo que isso não parecesse possível.
Era início de inverno, e em breve a neve começaria a castigar a cidade. A disputa precisava ser revolvida antes disso, antes que a neve fechasse as estradas e impedisse o casamento.
Sir John teria uma audiência com o velho Zael e seus filhos na noite seguinte. Por ora, estava livre para explorar o que desejasse da Majestosa Misthaven.
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@”Xafic Zahi”
Barahir passara toda a vida a serviço da Ordem. No alto da montanha mais alta, mais ao leste, onde era possível ver o mar à distância, a Ordem vigiava os temidos Kyrin.
O patrulheiro não tinha, realmente, visto um Kyrin de verdade. Mas as histórias falavam de um exército de criaturas que usavam estratégias estranhas, e lutavam tanto contra o corpo quanto contra a mente de seus oponentes.
Esse inimigos tinham sido expulsos para o leste distante, para uma ilha longe do Continente Azul há cerca de 100 anos, durante a Grande Guerra.
Barahir também já tinha ouvido a história de como os Urgrosh se uniram sob a bandeira de Graak, o Sanguinário, e de como ele combateu com o Rei de Gelo e Fogo, e também de como os inimigos mortais depuseram as armas para combater, lado a lado, contra os kyrin.
Nos dias de hoje, contudo, isso parecia história para crianças.
O forte de Alta Montanha permaneceu vigilante por quase um século, até que a fome começou a assolar os povos urgrosh nativos daquela região.
Os recursos das montanhas do leste eram escassos, e estavam concentrado, em sua maior parte, no forte. A Ordem, que cuidava do local, resistiu bravamente durante muito tempo, mas Barahir e seus companheiros não tiveram opção senão fugir quando, finalmente, os bárbaros os sobrepujaram.
Montanha abaixo e rumo ao oeste, espreitando em silêncio por campos de urgrosh e florestas dos elfos, o patrulheiro conseguiu fugir até chegar a uma cidade, no limiar da Floresta das Lâminas.
A Majestosa Misthaven era um pequeno povoado que não contaria com metade das vidas abrigadas por Alta Montanha em seu auge, mas parecia ser a única cidade de pé depois de uma série de ataques de anões na região.
Com o inverno se aproximando e neve ameaçando fechar as estradas, era sábio buscar abrigo, mesmo para um patrulheiro experiente.
Barahir pode perceber uma certa tensão em Misthaven. Era como se todos os moradores estivessem nervosos. Os guardas cochichavam entre si, e mais de uma vez foi possível ouvir comentários sobre “O Paladino Fracassado” e uma disputa entre irmãos.
Parar e se abrigar, ou partir para outro lugar mais calmo, o que Barahir faria?